Nana foi um anime que fez um sucesso imenso na época em que foi lançado, e mesmo que hoje passe mais despercebido, é uma obra adorada por muitos. Desde que comecei a ver anime regularmente, sempre me recomendaram Nana. Contudo eu sempre o adiei – por motivos que vou referir mais à frente. Mas finalmente chegou o momento de o analisarmos.
Nana | Enredo e personagens
Nana conta-nos a história de duas raparigas de vinte anos chamadas Nana. No momento em que o anime começa ambas se encontram num comboio em direção a Tóquio. Quantas coincidências, não é mesmo? Apesar de todos os aspetos que têm em comum, as suas personalidades não poderiam ser mais diferentes. Nana Osaki é uma jovem cantora determinada e focada, Nana Komatsu (vamos-lhe chamar Hachi como ficou conhecida no anime) é uma menina doce, gentil e sonhadora demais. Como se por obra do destino, depois de se conhecerem ficam a morar juntas sabendo apenas o nome uma da outra.
Quem lê as minhas análises sabe que, normalmente, adoro Slice of Life. Nana é mais um daqueles animes de vida quotidiana. Porém é uma obra transversal a qualquer país. A maioria dos animes deste naipe mostram o dia-a-dia de personagens num contexto japonês: escola típica, romances tímidos e pensar em sexo é coisa de tarado. Vivendo do outro lado do mundo, é difícil eu saber se os jovens nipônicos são assim (ou eram em 2000 quando o mangá foi lançado). A verdade é que Nana causou bastante polêmica na época e os pais dos adolescentes não gostaram nem um pouco da história. Porquê?
Primeiro ponto: as protagonistas não são adolescentes e sim jovens adultas que saíram da sua cidade natal para viver em Tóquio.
Segundo ponto: a Nana e metade das personagens fumam e fumam imenso. E o que mais choca, fazem sexo. Todos os casais fazem sexo e várias vezes ao longo do anime.
Não me levem a mal, mas Nana mostra a realidade nua e crua. As pessoas podem fazer sexo no primeiro encontro e não há nada de errado nisso. Faz parte da natureza humana no seu estado fundamental. Sinceramente, não fiquei” traumatizada” ao assistir o anime. Fiquei mais ligada ao enredo, uma vez que vi semelhanças brutais com a minha realidade.
Nana tem uma narrativa linear e crua. Tem um ponto de começo, mas torna-se difícil saber quando terá um término. Quando um problema é resolvido, outro dez vezes pior surge. Não existem mistérios ou pontas soltas. O que nos mantém agarrados ao anime é a ânsia de sabermos o que irá acontecer, como é que as personagens vão sair daquela alhada.
O facto do anime ser longo, também ajuda a adorar Nana. No fundo a obra é a jornada de duas raparigas em busca dos seus sonhos. Porém, nem tudo é fácil. Se no início Tóquio parecia um conto de fadas, a realidade encontrada foi um poço de amarguras. Em 47 episódios a narrativa consegue aprofundar imenso até as personagens secundárias.
A razão de eu adorar as personagens é o mesmo motivo para me ter apaixonado pelo enredo: realismo e humanidade. Estas têm qualidades e defeitos, e muitas vezes são as características negativas que predominam. Vamos usar como exemplo a Hachi. Muitos a achavam a irritante e “fácil”. Afinal ela dormiu com três personagens no espaço de seis meses. E daí? Ela queria ser amada e era instável sentimentalmente. Contudo era gentil e dedicada aos amigos. Esta é a principal mensagem de Nana: ninguém é melhor que ninguém independentemente de estatuto ou posses. Ou vais atrás dos teus sonhos, ou ficas para trás.
Até aqui só pontos positivos a apontar, não é mesmo? Nana a nível de enredo é quase perfeito, mas tem lacunas. Nomeadamente o facto de algumas cenas serem arrastadas o máximo tempo possível. O anime não precisava de 47 episódios para contar o que era preciso.
Nana | Ambiente
É complicado falar da arte de Nana. Primeiro pelo facto de ser um anime com quase uma década, segundo por nunca terem lançado o anime em Blu-ray. O design magro e alto das personagens provém do material original e quanto a isso não há muito o que dizer. O derradeiro problema é que a Madhouse em 2006 não era o que é hoje. O uso de imagens estáticas é um recurso frequentemente utilizado, os cortes são pouco cuidados e animação está longe de ser fluída.
E a desculpa do anime ser antigo está fora de questão. Existem obras do mesmo ano com qualidade visual. Kanon 2006 da KyoAni por exemplo, que tem um ambiente que até hoje considero dos melhores.
A nível da banda sonora Nana é provavelmente dos melhores animes. O facto do enredo ja estar diretamente ligado à música ajuda bastante. Nana tem músicas para tudo: para chorar, para dançar, para rir e por aí vai. Só quem é surdo pode negar a qualidade da mesma.
Nana | Juízo final e possibilidade de uma continuação
O real problema de Nana é não ter um fim propriamente dito. O anime encerra numa parte onde algumas questões são resolvidas, porém existe uma data de pontos que ficam em aberto. Quem quiser continuar a acompanhar a jornada das personagens pode sempre ler o mangá e começar a partir de onde o anime acaba (capítulo 42). Porém mesmo no mangá a história não está concluída. A autora parou há sete anos devido a problemas de saúde. Passado tanto tempo acredito que na verdade Nana não vá encontrar um encerramento. Em relação a uma segunda temporada, existe sim material que chegue, só que para isso acabaria-se essa segunda parte a meio de um momento crítico.
Nana tornou-se dos meus animes favoritos e daqueles que mais me arrependo por ter demorado tanto tempo para o assistir. Tendo em conta todos os pontos que mencionei, é notório que este anime é uma obra muito completa. Acredito que Nana vá agradar à maioria dos espectadores, mesmo aos mais exigentes pela quantidade absurda de mensagens como a importância de lutar pelos nossos sonhos, a necessidade de fazer sacrifícios e a probabilidade de o amor não ser o suficiente para estar com outra pessoa.
Análises
Nana
Música, álcool, drogas e sexo. Sejam bem-vindos ao mundo real.
Os Pros
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Os Contras
- Não tem um fim