Nós, “otakus”, vivemos numa cultura muito baseada em consumir. É sempre sobre ver as novas séries, acompanhar as temporadas e seguir as séries de que toda a gente fala. Por causa disto podemos muitas vezes ver, em certos fãs, uma falta de vontade em ver séries mais antigas por serem consideradas “exageradas” e “melodramáticas” comparadas com agora ou, muitas vezes, pelo seu look e animação mais velhos. Assim, dei-me a mim mesmo o trabalho de vos informar sobre coisas velhas que decidiram ignorar. Hoje temos Gunbuster.
Gunbuster é uma OVA produzida pelo estúdio Gainax (Só de ver o nome, muitos de vós já devem estar a perceber no que se meteram), o primeiro trabalho do realizador Hideaki Anno (Evangelion), feito em 1988. Porque é que eu falei no ano? Bem deixem-me por isto de forma que percebam:
CUIDADO! SÃO OS ANOS 80!
GAAAAH! RAPARIGAS EM LEOTARDS! MONTAGENS DE EXERCÍCIO! ESTA CENA!
Gunbuster – Análise | Enredo
A Terra está a ser atacada por insetos do espaço… Os jovens treinam numa Academia com Mechas na esperança de poderem ir para o espaço e ajudar a salvar a Terra… Aqui entra a nossa protagonista Noriko Takaya que, apesar das suas dificuldades a conduzir mechas, procura seguir as pegadas do seu pai, um almirante que morreu numa das primeiras batalhas contra os insetos. Com ela estão Kazumi Amano, uma rapariga mais velha e habilidosa, e Koichiro Ohta (daqui para a frente referido como Coach), um ex-soldado que foi salvo pelo pai da Noriko e que agora a vai treinar para ela guiar o Gunbuster, o Mecha mais poderoso até agora criado.
Portanto desta sinopse vocês devem estar a pensar que a OVA divide-se entre o espaço e a Academia. Estão enganados. O primeiro episódios passa-se na Academia e daí é ir para o espaço para mais treino e outras aventuras. A história é básica e cliché (ir ao espaço, vencer os monstros e gritar os nomes dos ataques que o Mecha faz), mas na altura (preparem-se para ouvir isto bastante) estes clichés estavam a ser criados e usados pela primeira vez, por isso acho que podemos desculpá-la. No entanto, apesar de todos os clichés, há uma ideia interessante que raramente vi explorada: sempre que viajam à velocidade da luz, o tempo avança de forma diferente. Por isso, o que para a Noriko são umas horas, na Terra são meses ou anos. Isto é uma ideia muito interessante, que eles até usam de forma bastante surpreendente em certas ocasiões.
Acho também apropriado mencionar aqui a estrutura, porque é pouco comum. Normalmente, em histórias destas, o Mecha principal aparece/ é usado logo no primeiro episódio para lutar contra os inimigos da série. Aqui não é assim. Gunbuster tem 6 episódio e durante 3 não vemos nem o inimigo contra quem estão a lutar nem o Mecha que dá nome à série. É puramente coisas com as personagens e construir o mundo. Isto… Foi uma óptima ideia que eu gostava de ver em mais sítios, porque constrói a expetativa e emoção para vermos os Insetos Espaciais e o Gunbuster. A série é como uma criança que tem um brinquedo muito muito fixe escondido atrás das costas e que quer mostrar a toda a gente.
Gunbuster | Personagens
O centro desta anime é a Noriko, disso não há dúvida. A série inteira é dedicada ao progresso dela de uma rapariga insegura e inepta a trabalhar com máquinas a uma badass confiante capaz de salvar o planeta. O resto das personagens tem um desenvolvimento decente, relações mudam, coisas avançam. O típico para uma história destas. Aliás com um tempo tão reduzido, até é impressionante terem conseguido tirar esta caracterização toda das personagens. Há apenas uma queixa que eu tenho com uma personagem chamada Jung Freud. Não, a sério. Ela chama-se Jung Freud.
Independentemente do nome, o problema desta personagem está na sua falta de consistência. Primeiro parece ser uma rival para a Kazumi, depois torna-se amiga das duas raparigas de forma abrasiva, quase como se fosse uma farsa para as trair mas na verdade não, elas são amigas. Só que mais tarde, quando vê a Noriko treinar parece invejosa e desafia-a para lutarem no espaço, mas no final são todas melhores amigas. Fiquei mesmo desapontado porque o design dela até é fixe e havia o potencial para ela ser uma Valkyrie Bitch. Foi um desperdício, na minha opinião.
Gunbuster | Produção Visual
A animação, para a altura, é boa. O orçamento é claramente guardado para as cenas de ação mas ainda assim a animação é fluída e não há problemas. Se bem que não aconselho verem em 1080p, porque esta é uma anime dos anos 80 e com essa resolução dá para ver as “costuras”, por assim dizer. O episódio que se destaca é o último, por razões que não posso explicar para não estragar a surpresa, mas há partes lá (o “murro final”) que quase parecem ter sido animadas agora. Em termos de design, há claramente muita influência de outros produtos de ficção científica de que os criadores gostavam (Falamos da Gainax afinal).
O design dos Mechas desaponta-me. São genéricos de mais para meu gosto.
O Gunbuster em si é fixe. Preferia outra cor, mas ele tem um ar bastante bom. Uma coisa a apontar que é espetacular: 90% das vezes que ele aparece, é nesta pose.
Esta… é a melhor pose de sempre. Se eu conseguir um Mecha ele vai aparecer sempre assim.
Gunbuster | Banda Sonora e Som
Aqui não há muito a dizer. A Música de Abertura é, como já puderam constatar, maravilhosamente anos 80 e a música de fundo acompanha esse padrão. Muito sintetizador. A atuação é igualmente boa. A Noriko Hidaka (que interpreta a Noriko) destaca-se. Consegue equilibrar os momentos emocionais mais pesados com a atitude positiva da personagem.
Gunbuster | Pensamentos Finais
Gunbuster é uma das primeiras coisas produzidas pela Gainax e mostra muitos dos seus melhores traços. As homenagens, a sinceridade, a diversão, etc. Por isso, sinto-me à vontade em recomendar vivamente esta OVA que, apesar de já estar a mostrar a idade com a animação, ainda é uma boa história com ideias interessantes e personagens que é difícil não adorar. E Robôs Gigantes. Isso certamente não magoa.
Análises
Gunbuster
Apesar de já ter alguma idade, Gunbuster permanece um clássico de Mecha e uma anime excelente, com grande ação e uma história e personagens fixes.