O realizador Makoto Shinkai tem um problema, um grande problema. O seu filme “místico de adolescentes que trocam de corpo”, Kimi no Na wa. (Your name.), tornou-se um sucesso tão grande que está a começar a preocupá-lo.
“Não é saudável”, diz o jovem realizador. “Eu não penso que mais pessoas devam vê-lo.”
Makoto Shinkai – Kimi no Na wa e o Sucesso Indesejado – Temor de vencer:
Todas as semanas aproxima-se ao estatuto de maior filme animado Japonês de todos os tempos. E agora fala-se nos Oscars. “Espero mesmo que não vença”, diz ele.
Seria engraçado se Shinkai-sensei não estivesse seriamente a tentar sair do circuito promocional e regressar ao trabalho. Apenas quer seguir para a sua próxima história sobre adolescentes Japoneses e tecnologia. Mas o pequeno filme animado tornou-se um imparável juggernaut cultural na Ásia, e agora está a vencer prémios nos Estados Unidos e Europa.
Makoto Shinkai – Kimi no Na wa e o Sucesso Indesejado – “O Novo Miyazaki”:
Um em cada sete Japoneses, já pagaram para ver a sua brilhantemente tecida história de amor sobrenatural sobre um rapaz e uma rapariga que trocam de corpo, quando um cometa está preste a atingir a Terra.
Inevitavelmente, isto levou a que Shinkai-sensei, de 43 anos, fosse apelidado de “o novo Miyazaki” – o sucessor natural, do agora retirado mestre animador, Hayao Miyazaki, cujo clássico de 2001, Spirited Away (Sen to Chihiro no Kamikakushi), que é ainda o mais bem sucedido filme Japonês de sempre. Contudo, a comparação faz com que o diminutivo Shinkai-sensei, fique ainda mais desconfortável.
“Claro que fico feliz quando as pessoas mencionam o seu nome e o meu no mesmo fôlego. É como um sonho. Mas eu sei que estão a sobre-elogiar Kimi no Na wa., porque não estou, absolutamente, ao nível de Miyazaki.”
“Honestamente, eu não quero mesmo que Miyazaki o veja, porque ele vai ver todas as suas falhas.”
Makoto Shinkai – Kimi no Na wa e o Sucesso Indesejado – Longe da Perfeição:
Apesar das excitantes críticas, Sinkai-sensei insiste que o filme não é tão bom quanto podia ser – uma refrescante nova abordagem, do homem que o devia estar a promover.
“Existiram coisas que não conseguimos fazer”, ele disse, explicando que a sua equipa de animadores, liderada por um dos melhores discípulos de Miyazaki, Masahi Ando, queria continuar a trabalhar nele mas, com o dinheiro a escassear viu-se obrigado a parar a produção.”
“Para mim está incompleto, desequilibrado. O enredo está OK mas o filme não é de todo perfeito. Dois anos não bastaram.”
Mas Shinkai-sensei sabia que tinha um sucesso nas suas mãos, quando o mostrou em Los Angeles antes da sua estreia em Tokyo.
“A audiência riu, e depois soluçou… Eu tinha desenhado um gráfico, quando o estava a fazer, sobre como a audiência poderia reagir, e foi exatamente assim.”
“Obviamente, fiquei feliz ao ver que funcionou mas, ao mesmo tempo, eu temi que tivesse funcionado demasiado bem. Disse a mim mesmo, ‘Fogo, se calhar exagerei’.”
Makoto Shinkai – Kimi no Na wa e o Sucesso Indesejado – Comédia e Memória:
Mais que tudo, o motor do filme é a comédia que Shinkai-sensei extrai da situação hilariante de troca de sexos, com a sua gag recorrente do rapaz acordar, horrorizado, no corpo de uma rapariga, e contudo não conseguir parar de sentir os seios dela.
“Eu queria falar sobre a forma como vemos atualmente a sexualidade, mas de uma maneira engraçada”, disse ele.
O ying e yang não terminam aí. A história decorre entre a bela e montanhosa região de Nagano, onde o realizador cresceu, e a megapolis hiper moderna de Tokyo.
Adicionalmente, brinca com a tensão, de adolescentes desesperados por trocar as suas pequenas vilas pela grande cidade, e que, contudo, sentem-se arrebatados pela beleza das antigas tradições Japonesas.
“É um filme sobre memória, mas também sobre perder memórias”, disse Shinkai-sensei, que adaptou a história do seu próprio novel. “É sobre memória individual e memória colectiva, o esquecer de uma certa moralidade e sentido de tradição”.
Makoto Shinkai – Kimi no Na wa e o Sucesso Indesejado – “Fantasma e Monge”:
Apesar de estar resignado com o facto da comparação com Miyazaki o assombrar para sempre, ele insiste que eles são muito diferentes. Para o provar, pediu ao grupo de J-rock, Radwimps – cuja música podem ver provocar tinnitus (zumbido) ao velho mestre – para fazer a banda sonora. Shinkai-sensei insiste, ainda, que apesar da “química entre Ando” e o seu outro artista principal, Masayoshi Tanaka, ter sido a chave para o sucesso do filme, a sua equipa não é um reboot do famoso Studio Ghibli de Miyazaki.
“Eu, verdadeiramente, nunca senti qualquer influência artística de Miyazaki em Ando. Se existe uma influência, é mais na sua atitude que no seu trabalho”, ele disse.
“Quando Ando chega ao estúdio, pega na sua caneta mesmo antes de ir buscar uma chávena de chá, e permanece sentado até ao último comboio da noite.”
“Ele mal come, apenas mordisca pequenas bolas de arroz na sua secretária. Ele raramente vai à casa de banho. Quando o vejo, vejo um monge num mosteiro, e digo a mim mesmo que, talvez, seja assim que as pessoas trabalham no Studio Ghibli.”
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Fonte: South China Morning Post