“A Fragrância da Primeira Flor” é uma minissérie original taiwanesa de drama, realizada por Angel Ihan Teng e lançada em 2021, que aborda os conflitos entre a comunidade LGBTQI+ e os estereótipos tradicionais a partir de duas mulheres.
Esta minissérie será distribuída em Portugal pela plataforma Filmin, estreando em exclusivo a 14 de Junho de 2022.
A Fragrância da Primeira Flor- Análise
“A Fragrância da Primeira Flor” aborda as questões sobre a orientação sexual de uma forma subtil e ao mesmo tempo intensa, a partir do relacionamento de Tingting e Yi-min, que vivem na cidade moderna de Taiwan, local onde o casamento entre pessoas do mesmo sexo é legal.
O reencontro
Num primeiro momento, a história começa com o reencontro entre as duas mulheres, precisamente durante um casamento entre um casal heterossexual e um casal homossexual, entre duas mulheres. Logo de seguida, há a sua apresentação e a forma como se conheceram, tanto a partir do presente, como também a partir dos acontecimentos do passado.
A reunião das duas apresenta-nos o dilema existente entre estas: o facto de haver questões sobre a sexualidade que não foram resolvidas na adolescência, por parte do medo e receio que Yi-min sentia em se assumir na sociedade, mesmo sendo óbvio os sentimentos de Tingting. Gostei do facto de ao longo da minissérie haver uma intercalação temporal, entre os acontecimentos vividos na adolescência e na fase adulta.
Aceitação da orientação sexual vs pressão da sociedade e estereótipos
Achei a ideia da minissérie bem estruturada ao nível da apresentação da comunidade LGBTQI+ a partir de duas mulheres, onde se pode ver como estas se comportam de forma diferente quando estão juntas, mas também a interação das mesmas com a sociedade e a família.
As duas mulheres tentam discutir vários tópicos sobre a sexualidade e a identidade de género, tanto na fase da adolescência, como na fase adulta. Visto que só podem contar uma com a outra na compreensão deste tema, estas abordam factos como o amar uma pessoa do mesmo sexo ou as diferenças entre o sexo feminino e masculino.
Na minha opinião, esta minissérie é bastante atual e aconselhável tanto para jovens como adultos, pois reflete os problemas em termos de compreensão e aceitação da sexualidade de um indivíduo na sociedade. Isso é refletido na relação entre Yi-min e Tingting, onde existe uma falta de comunicação entre as duas para o entendimento sobre o assunto.
A falta de comunicação pode ser algo transversal a todos os relacionamentos, independentemente da orientação sexual. No entanto, isso adquire características diferentes no relacionamento entre as protagonistas, em comparação com a relação entre Yi-min e o marido.
É interessante ver Tingting a interagir com Yi-ming guiando-a neste contexto e explicando-lhe verbalmente e através do contacto físico, como se estabelece uma aproximação com o mesmo sexo. De notar que o espaço individual é algo muito valorizado na cultura asiática, existe o respeito pelo indivíduo e um maior distanciamento corporal nas relações interpessoais.
Todavia, nota-se que o facto de “sair fora da caixa” e assumir uma orientação sexual (mesmo quando já é aceite o casamento entre o mesmo sexo no país), ainda é difícil para Tingting e Yi-min, visto que estas cresceram com uma pressão exercida pela sociedade.
É bastante interessante ver em diversos momentos da minissérie o modo como através do olhar e de certos toques físicos, as duas vão tentando aos poucos quebrar o gelo e assumir a sua sexualidade. Mesmo com os problemas de comunicação e desentendimentos que vão surgindo.
Existem estereótipos tradicionais e lemas com que Yi-min se depara, como “tens de trabalhar, para ter uma casa, casares e ter filhos” ou “é normal namorar com um rapaz, porque todas as minhas colegas do liceu também namoram um“, que pressionam a personagem a seguir o caminho que a sociedade lhe impõe.
É interessante ver como as duas mulheres agora na fase adulta tendem a ter dificuldades em assumir em público a sua orientação sexual, escondendo-a das suas famílias ou assumindo relacionamentos com outros homens.
Exploração do tema no seio familiar
A abordagem e exploração da orientação sexual no seio familiar é feita, em grande parte, a partir do marido de Yi-min e menos abrangente a partir da família de Tingting. Achei que havia potencial para explorar mais a opinião familiar, principalmente dos pais de cada uma das personagens principais, para termos uma ideia de como estes reagiriam perante esta questão sobre o amor por uma pessoa do mesmo sexo.
Todavia, acho que para uma minissérie fizeram um bom trabalho, ao demonstrar como Yi-min confia em Tingting, deixando-a conviver com o seu filho. Ou a forma como se comporta em frente do marido, quando a Tingting está presente. São pormenores como estes que tornam a narrativa mais interessante e tensa e, ao mesmo tempo, permitem transmitir ao espectador os sentimentos da personagem.
Papel da mulher na sociedade asiática
Nesta minissérie também está bastante presente a exemplificação do papel da mulher na sociedade asiática e como esta se insere no seio familiar. A partir da relação entre Yi-min e o marido são explorados pontos como a importância da mulher no papel de mãe ou dona de casa, onde esta tem um papel importante nas tarefas da casa.
A Fragrância da Primeira Flor – Análise
Juízo Final
No meu ponto de vista “A Fragância da Primeira Flor” trata-se de uma minissérie que explora a procura, a compreensão e o caminho para a aceitação da sexualidade individual. É o exemplo cru a partir da história de amor entre Tingting e Yi-min da forma como a sociedade tem um peso sobre a liberdade individual de cada pessoa.
É, sem sombra de dúvidas, uma minissérie apropriada para jovens e adultos que estejam ainda com dificuldades em assumir a sua orientação sexual, ou com problemas em perceber o que sentem em relação ao “outro” e como se posicionam na sociedade.
Mais informações:
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Análises
A Fragrância da Primeira Flor
“A Fragrância da Primeira Flor” aborda as questões sobre a orientação sexual de uma forma subtil e ao mesmo tempo intensa, a partir do relacionamento de Tingting e Yi-min, que vivem na cidade moderna de Taiwan, e onde é legal o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Os Pros
- Abordagem da sexualidade na adolescência e vida adulta;
- Exemplificação da pressão social e dos estereótipos tradicionais no individuo.
Os Contras
- Falta de mais abordagem do tema no seio familiar.