Gostas de animes que foquem no mal que o ser humano pode oferecer? Interessam-te histórias cuja narrativa é calma, sinistra e gradual? Gostas ainda de animações diferentes do habitual? Então vem conhecer Aku no Hana! Não posso prometer uma excelente história mas consigo prometer uns “momentos bem passados” com uns singelos 13 episódios.
Antes de conheceres a história propriamente dita vamos dar uma vista de olhos aos pormenores técnicos que rondam esta obra:
- Como voz principal (Sawa Nakamura): Mariya Ise que interpretou Ringo Noyamano em Air Gear, Killua Zoldyck em Hunter x Hunter 2011 e ainda Nagisa Kurosawa em Sukitte Ii na yo.;
- Como voz principal (Nanako Saeki): Yoko Hisaka que interpretou Sakura Sakurakouji em Code:Breaker, Kyouko Kirigiri em Danganronpa e ainda Stephanie Dora em No Game No Life;
- Como diretor de animação: Hiroshi Nagahama que dirigiu Detroit Metal City e Mushishi;
- Como diretor da banda sonora: Kazuya Tanaka responsável no mesmo cargo em Highschool of the Dead, Mushishi e ainda Bokura ga Ita;
- Animação inovadora: Rotoscopia (mais detalhes, infra, em Produção Visual).
Aku no Hana | Sinopse
A obra inicia com Takao Kasuga, um rapaz que adora ler livros estranhos – influenciado pelo seu pai – principalmente “As Flores do Mal” de Baudeleire, o seu predileto. Para além do amor pela leitura, Takao possui uma paixão platónica por uma colega da sua turma: Nanako Saeki, considerando-a a sua musa e a sua Vénus. Certo dia, o protagonista esquece o seu tão amado livro na sala de aula e resolve voltar atrás. Contudo, Takao não encontra apenas a obra perdida… mas também as roupas de ginástica da sua Deusa, Nanako, que este num impulso rouba! Tudo estaria bem se uma rapariga estranha e (psicopata) da sua turma, Sawa Nakamura, não tivesse visto o acontecido. Para não ser descoberto, Takao submete-se aos tratamentos de Sawa e, como se imagina, a sua vida não será mais a mesma!
Aku no Hana | Enredo
Aku no Hana tem um objetivo muito claro na sua existência: mostrar a podridão humana! Desvendar que o mal existe até nas pessoas mais “calmas” quando as situações levam a isso ou quando são incentivadas a tal. Todos nós possuímos um lado negro dentro de nós, apenas podemos não saber que ele existe.
O anime pretende reconstituir ou dar um entender da obra máxima de Charles Baudeleire, “As Flores do Mal”. Aku no Hana é deste modo uma crítica à hipocrisia da sociedade e às exigências de pureza virginal misturado com a emergência sexual que exala por todos os cantos. É uma ode ao amor, à morte, ao paraíso e à sua expulsão deste, ao puro e ao erotismo, a Deus e ao diabo. É, no fundo, uma exploração das contradições da realidade.
A animação circunda estes aspetos de forma bastante gradual e sinistra. Toda a narrativa gira em torno do derrubar das paredes do protagonista Takao Kasuga, que vai deixando transparecer o seu verdadeiro eu. A essência é simplesmente esta: focar no feio, no negro, no escuro. Lembra-te que tens de ter isto assente na tua mente antes de começares a assistir Aku no Hana, de outro modo com certeza não irás apreciar da mesma forma.
Com vista a transmitir um maior suspense e tensão, o diretor Hiroshi Nagahama criou o mundo perfeito para isso (ainda mais que no manga – análise brevemente disponível): os personagens vivem no tédio, na indiferença, na insignificância. Se visualizares o primeiro episódio percebes que todo ele foi construído de modo a mostrar que a obra se desenvolve num lugar onde nada existe, onde tudo é banal para, no final deste, nos mostrar o acontecimento que irá alterar o rumo daquela tão pacata cidade – o roubo das roupas de ginástica de Nanako Saeki (lembrando que no Japão isto equivale ao roubo de peças de roupa íntima). Ou seja, tudo continuaria igual se tal não tivesse ocorrido.
É essa a beleza de Aku no Hana. Tens apenas de entrar no espírito.
Aku no Hana | A poesia de Baudelaire
Para um melhor entender deste anime decidi deixar aqui algumas informações sobre o livro e o autor que serviram de inspiração e são constantemente citadas pelo protagonista: “As Flores do Mal” de Charles Baudelaire.
- Charles Baudelaire nasceu em Paris em 1821, no local onde hoje está situada a Livraria Hachette. Ficou órfão de pai aos seis anos e passou a ser criado apenas pela sua mãe e uma enfermeira. Quis ser escritor desde muito cedo e de fato tornou-se num dos maiores poetas universais de todos os tempos. Foi um homem de emoções; entregou-se às noites parisienses no meio do álcool, droga e amores intensos de onde extraía todas as alucinações que viravam poesia. Com todos os excessos acabou por morrer aos quarenta e seis anos.
- O livro “As Flores do Mal” foi publicado em 1857 tendo sido considerado a sua obra máxima. A primeira edição consistia num volume com cem poemas e albergava uma linguagem diferente que incidia no grotesco e na crueza da realidade. Esta obra abordou temas tabus, como o lesbianismo e o satanismo, que resultou numa severa crítica do jornal “Le Figaro” acabando com a sua carreira e sendo conhecido agora como o poeta maldito. Por violar a moral e os bons costumes da época, Baudelaire foi multado e impedido de publicar seis dos seus poemas. A edição com os versos proibidos apenas foi pública em 1911, anos após a sua morte.
Aku no Hana | Personagens
Bem, a história parece ter consistência. Mas e os personagens? Estarão ao mesmo nível? Vem conhecer os principais!
Takao Kasuga é o protagonista deste anime e aquele que irá dar origem a toda a trama. É um rapaz solitário, introvertido e submerso no tédio. Odeia a sua cidade e as pessoas que lá habitam. Acha-se diferente de toda a gente, com pensamentos que ninguém compreende e leituras que ninguém conhece. É isso mesmo que estás a pensar: Takao é a típica pessoa chata e que se acha superior aos demais. Dou por mim com vontade de bater num personagem animado a ver se ele acorda para a “vida”! Por outro lado, é também interessante tentar desvendar o que se passa na sua mente e no que tal pessoa pacata esconde dentro de si.
Nanako Saeki é a musa de Takao Kasuga. É uma rapariga inteligente, sociável, querida e também bonita. Na verdade, Nanako possui as qualidades para ser um ídolo japonês. O incidente do roubo das suas roupas de ginástica irá “mexer bastante” com o seu interior. Takao irá descobrir um outro lado da sua Vénus, um lado que ela tem escondido apenas para agradar os à sua volta. Nanako demonstrará ser mais que a linda menina com boas notas, quando a flor do mal também a atingir! Não se verá uma transformação muito significativa até porque o anime não cobre grande parte do manga. Quem quiser saber mais do que ela é capaz terá que ler a obra original.
Sawa Nakamura é quem personifica a flor do mal. Ela será a principal impulsionadora de toda a história. Se Takao é a origem, Sawa é o desenvolvimento. É uma rapariga apática, estranha e fechada em si mesma. Não é popular na sua turma, aliás não possui a simpatia de ninguém. Como rebelde e impulsiva que é, causa medo e desconfiança. Sawa encontra em Takao alguém com quem pensa poder dividir as suas frustrações e tentará, a todo o custo, soltar o pervertido que existe dentro dele.
Aku no Hana | Produção Visual
Chegamos finalmente ao tópico mais controverso deste anime: a técnica de animação. O diretor Hiroshi Nagahama decidiu arriscar e produzir o anime com recurso à rotoscopia. Esta sua ação ou ia correr maravilhosamente bem ou iria ser um desastre. Foi isto mesmo o que aconteceu: os otakus dividiram-se em quem ama e quem odeia o anime. Apesar de reconhecer falhas à animação feita eu posiciono-me do lado dos que adoraram! Pode parecer estranho mas o diferente cativou-me bastante e deixou-me intrigada. Além disto, senti que o desenho deixava um ar mais adulto e mais real aos personagens coadunando-se bastante bem com a narrativa.
Opiniões pessoais à parte, quem ainda não viu Aku no Hana, ou até quem já viu, deve-se estar a perguntar mas afinal…
O que é a Rotoscopia?
Tudo começou com a invenção do rotoscópio por Max Fleischer que veio facilitar um tipo de animação bastante interessante: a rotoscopia. Nesta técnica um modelo humano é filmado ou fotografado (em sequência) e a captura feita é “desenhada” de modo a criar uma animação – mais tipicamente utilizada em desenhos animados, mas não só.
O seguinte vídeo mostra de forma mais detalhada o processo de rotoscopia.
A rotoscopia parece ser uma técnica desconhecida, contudo foi já utilizada em várias situações. Confere alguns exemplos:
- FILMES: A Guerra das Estrelas, Episódio I – VI; Branca de Neve e os Sete Anões; A Bela Adormecida; A Pequena Sereia; A Bela e o Monstro; O Rei Leão.
- VIDEOJOGOS: The Last Express; Prince of Persia; Hotel Dusk: Room 215; Flashback: The Quest for Identity; Another World;
- VIDEOCLIPS MUSICAIS: 21st Century Breakdown da banda Green Day; Breaking the Habit da banda Linkin Park; Take On Me da banda A-ha.
Como funciona a rotoscopia em Aku no Hana?
A animação em Aku no Hana apresentou bastantes problemas devido às suas falhas. Uma rotoscopia de baixa qualidade faz com que a animação seja tremida e agitada. Os críticos deste anime referenciaram bastantes vezes este facto: a tremedura dos personagens é constante! Além disso, pessoas que se encontrem uns metros mais longe da câmara não possuem quaisquer traços faciais, apresentando apenas uma “tela branca”.
Tal como expliquei em cima, a técnica de rotoscopia foi aqui aplicada da mesma forma. Primeiro filmam com modelos reais…
… e de seguida desenham sobre os frames obtidos.
Apesar dos personagens ficarem com um aspeto mais feio (uma das críticas também feitas, não que concorde), as paisagens foram muito bem conseguidas!
Como seria Aku no Hana sem rotoscopia?
Os fãs do manga odiaram a adaptação realizada no anime, considerando-se alguns até insultados pelo que fizeram com os personagens e, principalmente, por Sawa Nakamura não ser tão atraente fisicamente.
Eu sou suspeita a falar deste fator pois gostei bastante! Ao ler o manga desgostei o quão infantis todos pareciam e certos tipos de comportamentos não me pareciam “reais”. O anime forneceu uma visão mais adulta e sinistra da história e, por esse motivo, a rotoscopia para mim foi muito bem escolhida.
Para os curiosos de como poderia ser Aku no Hana sem esta animação, deixo aqui um exemplo.
Se me conseguiste aguentar até agora… fica aqui um bónus: Pokémon com rotoscopia!
Aku no Hana | Banda Sonora
A Banda Sonora é completamente adequada a este estilo. É sinistra, obscura, lenta e estranha.
Algo bastante engraçado aqui é que cada personagem principal tem uma opening própria à medida que vai ganhando importância no anime. Para além disso, todas elas são adequadas à personalidade de cada um.
Já as endings (são várias versões de uma mesma música) são a parte mais macabra de todo o anime! Fiquei com a impressão de que o diálogo era dirigido ao Takao Kasuga pela escolha das palavras.
Aku no Hana | Pontos Negativos
Tanto disse bem sobre este anime que não era possível que a pontuação dada fosse tão baixa, certo? Faltavam os aspetos negativos da obra, os quais te vou apresentar de seguida.
1- Não existe uma conclusão/segunda temporada!
Se estás à espera de ver um anime com início meio e fim, esquece! O anime termina no vácuo, simplesmente. Não falo sequer de um final aberto, mas sim de um vazio sem sentido. Além do mais, não existe uma segunda temporada ou foi enunciado a existência de uma. Resta-nos esperar ou ler o manga (o que não aconselho – explicarei depois na análise ao mesmo).
2- Último episódio desperdiçado
O último episódio apresentado é completamente utilizado para mostrar cenas passadas e algumas cenas futuras que estão já animadas. Não existe história, não existe nada. Apenas poderemos ver o que se passou e o que se eventualmente se irá passar.
3- Drama forçoso e exagerado
Entendo que o drama tenha de ser reforçado para passar um ar sinistro e de mistério, porém algumas cenas são completamente escusadas. Lembro-me de em certos episódios perder-me no que estava a acontecer e sair do espírito do anime.
Uma dica que te deixo se estás a pensar ver Aku no Hana: não vejas os episódios todos seguidos, dá-lhes algum intervalo para que o tal mistério trabalhe melhor. Quando vi da primeira vez funcionou bastante bem.
Aku no Hana | Anime ou Manga?
Para terminar os tópicos de análise a esta obra, fica a questão: qual a minha escolha?
- História – Manga: A decisão era óbvia. O anime não apresenta qualquer tipo de conclusão, o que nos obriga a ler a obra original;
- Desenho – Anime: Esta escolha foi bem complicada mas decidi ficar-me pelo anime! O traço do manga é muito bonito mas não gostei de como os personagens pareciam tão infantis. Entendo que o mangaka tenha querido isto mas a mim não me foi convincente. Já o desenho adulto pareceu-me mais real e adequado ao género. Para além disso, adorei que tivessem arriscado a fazer algo diferente como a rotoscopia;
- Atmosfera – Anime: Esta aqui também foi bastante fácil de escolher. Ao ler o manga não senti o mesmo espírito macabro que o anime transmite;
- Satisfação geral – Anime: A minha decisão foi apenas tomada após a leitura do manga e como odiei a forma como tudo se desenrolou numa certa parte e como foi concluído, acredito que a melhor experiência me tenha sido oferecida pelo anime e não pelo manga!
Aku no Hana | Juízo Final
Chegando ao final desta análise pode-se afirmar que até fiquei fã desta obra. Gostei da história, ainda que pouco explorada, da animação, pois foi algo bastante inovador de se fazer, e da banda sonora, cujas músicas ainda hoje me recordo!
Este anime é algo que não vai servir aos gostos de toda a gente. É uma obra bastante lenta; parece realmente que se arrasta nos acontecimentos mas tudo tem um porquê. Acompanha a realidade de forma muito fiel – ou alguém demonstra logo o seu lado negro na primeira (pequena) oportunidade que consiga? Não, correto? Com Aku no Hana é igual!
Para concluir, aconselho assim este anime a pessoas que gostem de narrativas um pouco “diferentes” do que aquilo que habitualmente somos bombardeados, que gostem de histórias sinistras e estranhas. E, principalmente, que gostem de animes calmos em que as coisas levam o seu tempo a desenrolar.
Deixo-te aqui um vídeo para te dar um entender do que este anime se trata. Arranjei um em que mostra o anime e o filme real ao mesmo tempo para que possam ver, uma vez mais, a rotoscopia em ação!
Análises
Aku no Hana
Um anime com uma animação inovadora e banda sonora intrigante. O enredo deixa um tanto a desejar mas consegue ser apelativo a fãs do estilo Psicológico!
Os Pros
- Banda Sonora
- Produção Visual
Os Contras
- História sem final
- Drama forçoso e exagerado