O canal japonês NHK-G recentemente passou um programa especial que visava comemorar os cerca de 50 anos de anime mecha.
Este tinha como formato segmentos nas quais uma celebridade apresentava uma década específica de mecha. A presente década é representada por Mobile Suit Gundam Iron-Blooded Orphans. A primeira década do novo milénio foi representado por Fafner in the Azure, Code Geass e Gurren Lagann. Os anos 90 foram representados por Neon Genesis Evangelion e The Kings of Braves GaoGaiGar. Os anos 80 contaram com a representação de Armored Trooper VOTOMS e The Super Dimension Fortress Macross. A década de 70 foi representada por Mobile Suit Gundam, Grandizer e Mazinger Z. Para terminar, os anos 60 foram representados por Astro Boy e Tetsujin-28 GO. Isto culminou num segmento a promover a série Atom: The Beginning, uma adaptação anime de um manga prequela de Astro Boy. Esta adaptação irá passar no serviço de streaming da Amazon Strike.
Engenheiros e Cientistas falam sobre Mecha e Robôs
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De notável, foi dado comentário por parte de profissionais em variadas áreas científicas. Foram instâncias curiosas na qual a vida imita a arte. Como exemplo, Teriyuki Iwasaka, um gerente importante na empresa Maeda Corporation, falou acerca de um projeto na qual se planeia reproduzir o hangar subterrâneo que alberga Mazinger Z.
Mais especificamente, ele é responsável por estimar o mais corretamente possível o custo que adviria de tal empreendimento. Através de um modelo mecânico funcional, semelhante ao diorama do objeto em questão que foi exibido na bancada da Toei Animation na AnimeJapan 2017, Iwasaka estima que o projeto teria uma duração de cerca de 6 anos e 5 meses e teria um custo de 7.2 biliões de yen (à volta de 561 milhões de euros). De relevante para esta curiosidade, Maeda Corporation era suposto por esta ideia em prática para o Parque de Atrações Toshimaen. Porém, apenas se tratava de uma piada de Dia das Mentiras.
Também presente no programa esteve o Professor Satoshi Kurihara da Universidade de Eletro-Comunicações de Tóquio, que partilhou com a audiência a forma como a série Mobile Suit Gundam influenciou o seu trabalho científico. Este professor trabalha na área de investigação de inteligência artificial.
Ao analisar o cockpit do titular Gundam, Kurihara observa que apenas existem duas alavancas que servem de controlo para o piloto. Ele retira disto que o Gundam seria incapaz de ser controlado devidamente a não ser que o piloto fosse auxiliado por um sistema operativo avançado. Esta é, de facto, uma observação validada pela própria série, pois uma das grandes vantagens que o Gundam tem sobre os seus adversários é um computador de bordo único. Este é capaz de processar informação militar de tal forma a planear o melhor curso de ação e adaptar-se ao oponente seguinte. Isto foi ainda mais explorado através do ZERO System em Gundam Wing.
Kurihara ainda elabora dizendo que o interface muda e evolui consoante a passagem do tempo. Ele refere a séries posteriores cronologicamente in universo como Turn A Gundam e Gundam Unicorn, que recorrem a sistemas informáticos gradualmente mais complexos. O cientista conclui a sua contribuição observando que tais representações de tecnologia hipotética em Gundam e outras séries dentro do género mecha servem de excelentes referências para, no futuro, se vir a desenvolver algo de semelhante na realidade.
Mais para a frente no programa, foi entrevistado o Professor Koichi Osuka da Universidade de Osaka. Este desenvolveu o robô que foi construído para a nave espacial Hayabusa 2. Ele adicionou ao anterior comentário acerca da inteligência artificial, a necessidade de um operador humano de forma a tornar realidade a visão mecha, criando a melhor sinergia possível. De forma a exemplificar isto, refere a letra do tema de Mazinger Z. Especificamente quando diz que a coragem de Mazinger só se torna possível quando um coração humano lhe é dado. Uma amostra de imaginação visual que famosamente impulsiona a busca do Homem de Lata no Feiticeiro de Oz.
Atom: The Beginning
Depois de quase 40 anos de Gundam e Mazinger, a nova geração que cresceu debaixo da sua sombra agora está numa posição para fazer algo de semelhante. De acordo com o realizador de anime Ryōsuke Takahashi, um grande auxílio deve-se à atitude japonesa perante a tecnologia. O realizador observa que os japoneses tem uma maior confiança e aceitação face ao progresso científico e tecnológico. Esta imagem ocorre em oposição ao ocidente, que cultiva uma mentalidade suspeita sobre o mesmo. Ele complementa esta observação com o exemplo do paradigma cinemático de Hollywood que dá precedência e importância ao elemento humano sobre o mecânico.
Esta meditação acerca do contraste cultural entre o oriente e o ocidente acaba por ser algo de verdade. Isto observa-se, mais do que qualquer outro, no cinema mais mainstream. Filmes como The Terminator, Robocop e esta mais recente adaptação live-action de Ghost in the Shell demonstram um profundo rejeitar da crescente fusão do ser humano e a sua tecnologia. Um generalidade nascida de uma assumida dicotomia entre a carne do ser humano e o metal da máquina, respetivamente representantes do calor da emoção em oposição à fria eficiência. Takahashi termina o seu discurso comentando que se trata de uma diferença cultural.
Um dos apresentadores do programa, o especialista no Japão Tristan Brunet, ainda adicionou ao anterior comentário com a observação que, mesmo quando a América cria obras que os envolvam, mecha apenas é visto como ferramenta no ocidente. Isto ocorre em oposição, por exemplo, ao caso de Amuro Ray que, quando entra no seu Gundam, transcende de tal for a tornar-se algo de maior. Isto parece ser uma referência à ideia japonesa de henshin na qual uma personagem se torna numa versão mais poderosa de si.
O programa termina de uma forma algo de melancólica. O Professor Hitoshi Matsubara da Future University Hakodade explica que, apesar de Astroboy ser um robô virtuoso num duelo infatigável contra as forças do mal, ainda tem algumas preocupações. Isto nasce da percepção do nosso mundo cujos habitantes apenas olham para o robô como uma máquina sem alma. O robô de Atom: The Beginning, uma espécie de percursor do icónico Astro Boy baptizado de A106, tenta apreciar a beleza que o ser humano vê no fogo-de-artifício, mas vê-se incapaz disso pois apenas consegue interpretar o que vê como simples explosões. Como tal, Matsubara acredita que o objetivo da pesquisa em inteligência artificial não deverá ser criar uma ferramenta ou escravo, mas algo como A106.
Um amigo.
Fonte: Anime Now!