>>>ESTE ARTIGO CONTÉM SPOILERS!<<<
Antes demais, um sincero ‘mea culpa’. Devido a sérios contratempos e incapacidade de me organizar melhor, deixei que três episódios saíssem sem que os tivesse visto ou pudesse analisar. Posto isto, este será um artigo de opinião tripla!
Hataraku Saibou – Opinião Tripla: Episódios #5 #6 #7
O ponto positivo de um ‘erro’ destes é que me permite fazer uma apreciação ultra focada de cada episódio. Espero que seja uma leitura suave, interessante e que consiga entreter.
Hataraku Saibou – Opinião Episódio #5
Cedar… Cedar… Cedar… Cedar…
Eu já o disse uma vez e vou dizer novamente: as reações da AE3803 são genuinamente super divertida! Desculpem-me mas o pânico da moça “desperta o fun Pedro” (caso raro…).
Mas, apesar desta ser “a expressão facial do episódio” não é para mim o momento mais divertido. Esse está reservado para o Comandante Helper T Cell aquando da “invasão” estilo meteoritos de Armaggedon (‘Michael Bay’s space drama fever dream’ de 1998).
A piada para mim funciona 100% graças à seriedade com que o comandante diz a fala. Para efeitos desta opinião, revi o episódio recentemente e apesar de ter noção dela, assim a cena surgiu, não me contive. Aliás tudo o que revolve o período da envolve a área da membrana mucosa do olho é super criativa, sobretudo a questão do lago que mais tarde entra em cena com o transbordar da “barragem de lágrimas”.
Uma coisa que achei interessante após revisitar o episódio, foi constatar que desde cedo a narrativa reforça o ponto dos alergénios em si não causarem doenças nem serem nocivos para o organismo e, se virmos pelas evidências ilustradas no anime, eu diria que eles se assemelham mais a gomas de limão ambulantes bastante incomodativas. Contudo, para o enredo do episódio é importante manter esse facto no limbo e é aí que a interpretação da Memory Cell é importante.
Usar a memória celular de “invasões” prévias em formato de lendas contadas entre células das “várias gerações” foi uma boa forma que série encontrou para deixar a dúvida sobre o “vilão” do episódio e lançar a dúvida sobre o pacifismo bojudo dos alergénios. Lendas quase sempre pressupõem uma linguagem arcaica ou poetizada, o que leva a uma interpretação mais abrangente do que está a ser profetizado e assim ocultar “verdadeiros” responsáveis pelo ‘Apocalipse Alérgico’.
Gostei de terem pegado neste cavalheiro todo aprumado, como um nervoso profeta que tenta interpretar um texto alegórico, deixando-nos a questionar como é que os acontecimentos da lenda vão ser retratados e qual o seu emparelhamento com os sintomas habituais de uma reação alérgica.
Claro que para espremer um pouco mais de sumo da narrativa, o anime toma algumas liberdades criativas, como por exemplo, o jogo de culpa entre o Linfócito B e a Mast Cell. Isto é puro teatro, uma vez que a resposta alérgica acontece especificamente pela ação de ambos, embora, SIM, seja iniciada pelo ‘puto charila’. Este pedaço de Broadway de 3ª categoria teve momento particularmente infeliz: o payoff da recorrente referência ao “segundo nome” dos mastócitos – ‘Fat Cell’. E um pouco básico e muito cliché usar o insulto de chamar uma mulher de ‘gorda’ e acho que não acrescenta nada ao episódio e é propenso a facepalm. O anime é capaz de coisas bem mais subtis, inteligentes e criativas, e dá pena ver algo assim.
Quem tem alergias, ou pelo menos conhece alguém que as tenha, sabe que os seus episódios não passam por obra e graças do… vocês sabem. Para resolver um Apocalipse, isto só la vai com um Exterminador. E é talvez o melhor elogio que posso fazer à introdução do esteróide para resolver a questão. Dado que as células, salvo as estruturais, apresentam-se humanoides, faz todo o sentido que o visitante externo de composição sintética seja retratado de forma diferente. Foi sem dúvida inesperado ver a chegada da salvação pela frio metal do caos!
Excelente trabalho do anime em alertar para a toma e contrapartidas dos esteróides.
Hataraku Saibou – Opinião Episódio #6
Gostei bastante deste episódio! Além de marcar o meio da temporada, marca também uma variação na estrutura dos episódios que temos visto até à data.
Mas vamos por partes, tal como o episódio *wink wink*.
Adorei todo o segmento “regresso às origens”. Gostei da escola de internato para as células sanguíneas que ainda não maturaram, a incubadora onde são criadas e na qual surgem dentro de pokéballs. Adorei o detalhe que em vez de de escolher o seu nome, as “parteiras” têm o trabalho de escolher o tipo de célula.
Mas se acompanhas estes artigos de opinião, sabes bem um dos detalhes que mais gostei… Tivemos a Macrófago de volta, no seu trabalho de educadora, que fofa! Quero ser um Eritroblasto. Falando em eritroblastos, é um toque de génio representarem o facto destes perderem o núcleo quando maturam a eritrócito, como uma cerimónia de graduação no qual o “pompom” é retirado.
O segmento é muito fofo e aquece o coração. A AE3803 enquanto eritroblasto é super amorosa e já denota todas as características da AE3803 enquanto glóbulo vermelho: distraída, descoordenada, desastrada, mas com excelentes expressões faciais. Tudo isto me faz validar ainda mais a fantástica teoria que vi sobre ela há dias a circular no Twitter e que aqui vou partilhar:
Started watching Cells at Work! ( はたらく細胞 Hataraku Saibou )
Cousin: Red blood cell such a cute dumb dumb
Me: She constantly gets lost & has a suspiciously-shaped ahoge. She’s an abnormal RBC pic.twitter.com/qnIQf2p0I7
— Alpha Gamboa (@blackbookalpha) 11 de agosto de 2018
É uma excelente teoria olhar para a tola da AE3803 como um glóblulo vermelho característico de Anemia Falciforme. Se tal facto fosse confirmado, não me ia admirar nada!
Este segmento do passado termina, contudo, de forma mais cliché, na medida em que repisa os papéis de “destinados amantes” que a obra deu a AE3803 e U-1146. Num corpo como 37.2 triliões de células, eles esbarram um no outro frequentemente e o episódio mostra que “esbarraram” um no outro enquanto eritroblasto e mielócito, respetivamente. É cliché, é fofo porque são personagens com personalidade vincada, mas não deixa de ser algo muito batido no mundo anime e, bem, talvez por isso esteja a ser usado aqui, como almofada velha e confortável no meio de tanto jargão.
Quando todo o relembrar de passado terminou, olhei para o tempo do episódio e ainda faltavam quase 10 minutos. Pensei, que iriam encher o resto do episódio com algo relacionado com as memórias, o regresso de Pseudomonas, para recriar a cena do passado e dar um choque na lembrança da glóbulo vermelho, mas equivoquei-me… e ainda bem.
Há perigo sim, mas de uma células estranhamente mutada e desfigurada. O caso é tratado com seriedade embora, de maneira a equilibrar a balança, tenhamos à entrada mais fixe e divertida do anime, na minha opinião. A NK Cell é super badass e o seu humor violento encaixa que nem ginjas nos meus gostos. Adoro a química que ela demonstra ter com o Killer T Cell e o interplay entre eles os dois serve como uma lufada de ar fresco, antes daquilo que se antevê um próximo episódio com uma atmosfera bem mais sombria.
E foi isto que também me surpreendeu: um episódio terminar em suspense, fazendo ligação ao próximo. Novamente, gostei muito do episódio e fiquei super ansioso para ver o próximo o que, dado o meu erro, pude fazer imediatamente e não tive que esperar uma semana.
Hataraku Saibou – Opinião Episódio #7
Estava com grande expectativa em ver o episódio 7, não apenas pelo setup feito no final do episódio anterior, mas porque não consegui escapar a certos detalhes deste que circularam no Twitter. Havia algum burburinho e desconforto com a forma como determinados elementos foram retratados. E, após ter visto o episódio, compreendo perfeitamente esse desconforto e apreensão.
Quero começar já por aqui e terminar o artigo numa nota mais positiva.
Cancro. Quando comecei a ver o anime tive curiosidade como seria retratado, se é que alguma vez chegasse a ser (não li o manga, logo estava completamente às cegas). Como é já característico da obra, há muita criatividade associada à forma como ilustram a origem e comportamento das células cancerígenas. O problema está na criação da personagem: suas motivações, objetivos e emoções.
Não entrando numa profunda explicação: sim, células tumorais surgem por erros na divisão celular de células normais e é aqui que quero fazer uma tangente. A mitose cria clones da célula original, logo faria sentido que o anime ilustrasse isso. Contudo, a obra tentando manter paralelos entre vida humana e células, retrata novas cópias celulares como crianças.
Isto torna-se especialmente mau devido ao enquadramento que dão à forma como o corpo reage aos erros de divisão celular e às células tumorais. Todos os dias o nosso organismo tem ‘mecanismos’ que suprimem o desenvolvimento de potencial cancro, atuando sobretudo ao nível do ciclo de divisão celular. Isto é decididamente algo super importante e é um pouco desconcertante ver a obra retratar esses mecanismos como soldados abusadores, discriminadores que parecem atuar por malícia enquanto perseguem crianças mutadas, “que não pediram para nascer assim”, com o intuito das eliminar.
Deixa-me um pouco perplexo o porquê de tentarem humanizar a célula tumoral. Sim ela surge de um acidente, mas é completamente nociva para o organismo. Tentaram dar-lhe um motivo para ser vilã e perseguir outras células mas eu acho que “cai em saco roto”, algo que o anime sabe quando no final, depois de todo o discurso ponderado com o U-1146, ele diz que não a podem corrigir nem ajudar e que a única forma de manter o “mundo” seguro é eliminá-las – algo que também é ultra-simplificado pela obra ao fazer com que o sistema imunitário “resolva” a situação e colocando como o cenário a evitar, a metastização.
O simbolismo é fácil de entender, mas não gostei particularmente de usarem este tema para metaforicamente falarem de descriminação e abusos por parte das “forças policiais”, sobretudo com recurso a crianças, quando nem sequer faz sentido lógico que novas células sejam crianças.
Não gosto de terminar os meus artigos numa nota tão negativa se o poder evitar e, embora em parte o episódio me tenha deixado com um sabor amargo na boca, eu sei colocar as coisas em caixas diferentes e há várias coisas a elogiar aqui.
Esteticamente falando, gosto de todo o episódio. Salvo o core emocional do “vilão” e motivações e etc, a obra faz um excelente trabalho de ilustração visual de um cenário de cancro, recorrendo às “regras” estabelecidas por si:
- Gosto muito da estética estilo AKIRA que dão à célula tumoral “inicial” (para quem ainda não viu AKIRA, vejam, mas em termos recentes eu diria que posso comparar com Muscular e All For One de Boku no Hero Academia) e de todo o body horror com que retratam as células tumorais e a sua proliferação desgovernada.
- Gosto do detalhe de cada célula individual ter mecanismo de divisão celular na sua casa cujo ciclo é retratado com uma tarefa cheia de instruções e gráficos.
- Gosto da forma como retratam a localização do tumor e a forma como este desvia os nutrientes do resto do corpo para si – excelente trabalho do anime não só mostrar como a explicar os conceitos mais elementares e essenciais para entender o que está a acontecer.
- Gosto do payoff do flirt entre a NK Cell (muito badass) e o Killer T Cell.
- Gosto que a Macrófago tenha aparecido e feito novamente das suas.
Tu e o Thor, querida!!
E pronto, é isto. Sei que o artigo ficou um pouco longo e para o fim ficou o episódio mais cinzento de ser comentado, mas as coisas são assim e espero que pelo menos tenha conseguido manter-vos compenetrados nesta tríplice. Estou curioso com o episódio 8 que sai já amanha e estou a contar falar dele bem em breve.
Até já!
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