Izumi Shinichi é um jovem de 17 anos que vive com os pais numa vizinhança localizada em Tóquio. Certa noite enquanto este dormia, um organismo semelhante a uma minhoca invadiu o quarto dele, introduzindo-se na sua mão direita, tal como um parasita no seu conceito mais puro. Shinichi agiu incrivelmente rápido, usando o cabo dos auriculares para criar um nó apertado no braço, impedindo que o parasita viajasse pelo resto do corpo. Desta forma, a estranha minhoca ficou confinada ao espaço da mão direita, o que por sua vez impediu que o parasita se alimentasse do cérebro dele.
Assim sendo, Shinichi e o parasita começaram a partilhar o mesmo corpo, mas com duas partes intelectuais completamente independentes. Rapidamente descobrem que ele não é o único parasita a tomar posse de seres vivos terrestres, o que leva à eventual e obrigatória cooperação dos dois, de forma a sobreviverem.
Kiseijuu | Os dois lados do Enredo
Colocando a definição de estrutura narrativa no seu formato mais básico, vamos considerar que é constituída por conceito e execução. Começando então pelo conceito, a premissa é interessante o suficiente para nos prender a atenção desde logo. Desenvolve-se com uma clara gestão do ritmo, inserindo pausadamente na conjuntura narrativa as temáticas de foro psicológico, existencial, emocional e filosófico, criando de imediato a vontade de realizar introspeção e análise perante a nossa situação atual no que diz respeito à sociedade. Estes tópicos vão sendo bem desenvolvidos através de acontecimentos credíveis e bem delineados, desde a introdução da narrativa até mais ou menos metade do desenvolvimento. Grande parte da escrita nesta parte da narrativa é inteligente, e deixa-nos com água na boca de episódio para episódio.
Porém, quando o anime atravessa da margem do conceito para a margem que tem como requisito a execução, toda esta qualidade apetitosa começa a perder-se de forma geral. O núcleo da premissa começa a gerar uma teia de acontecimentos que possuem uma ligação fraca entre eles, perdendo o fio condutor principal dando origem a arcs ramificados. Estes, por sua vez, foram criados apenas com o propósito de levar a narrativa para a frente, de modo a abordar o conteúdo que pretendiam. Ou seja, aqui denota-se onde os escritores planeavam chegar, mas sem saberem muito bem qual a melhor forma de como o atingir, sendo que muitas coisas acontecem sem grande explicação, ou sem a grande credibilidade que nos foi mostrada na primeira parte da narrativa.
Com um conceito brilhante conduzido por uma execução desequilibrada, não obtemos uma obra má, nada disso. Kiseijuu situa-se muito bem acima da média, sendo facilmente uma das melhores obras que nos foram apresentadas durante o ano de 2014, ao longo das quatro temporadas. Não obstante, apesar de todos contornos primordiais cozinharem uma ideia geral complexa, esta falha em ser concluída com o mesmo grau de profundidade.
Mas o que tudo isto realmente significa?
Significa que, como pintura geral, Kiseijuu falha em expressar-se da melhor forma. Significa que apesar de concluir algumas peças e de nos deixar em grande processo de reflexão, falha na conclusão e explicação de muitas outras peças que vão deixar as mentes mais sedentas desconsoladas. Significa que Kiseijuu não é construído por episódios em que os vinte minutos são memoráveis, de maneira que a força de Kiseijuu encontra-se em determinadas personagens, determinados diálogos e determinados momentos, inseridos em todos os episódios e que por fim enaltecem a obra.
Kiseijuu | O desenvolvimento de uma Dualidade
As personagens principais conquistam facilmente o público criando a ligação necessária para a transmissão de todos os temas. Este é talvez o ponto mais forte, e ao mesmo tempo, o ponto mais fraco de toda a obra. O ponto mais forte encontra-se no título desta componente. Sem o incrível tratamento que as duas personagens principais receberam, Izumi e Migi, a dualidade e capacidade de criação de conflito natural não seria possível da forma que foi. Estes dois extremos foram os responsáveis por todo o potencial que a obra acarreta.
Os dois lados da moeda estendem-se, infelizmente, ao departamento das personagens. Ainda que Izumi e Migi tenham recebido uma boa caracterização, o mesmo não se pode afirmar das personagens com quem interagem. Estas ficam-se por algo mais básico, sendo que grande parte das vezes que vemos Izumi a dialogar, por exemplo, com a Satomi ou com a Kano, sente-se facilmente que é uma conversa mais vazia e repetitiva.
Para dar um bom exemplo que facilmente demonstra o quão más estas e outras personagens se encontram chega mencionar um nome: Tamya Ryouko! Grande parte dos melhores momentos da obra existem porque esta personagem existe. O bom desenvolvimento de carácter desta personagem, permitiu a criação dos melhores momentos de reflexão e carga dramática que a obra nos pôde oferecer. Se nos atrever-mos a pensar na obra sem ela, atingimos a fácil conclusão de que perde mais de metade do valor.
Ambiente
A produção visual foi realizada pela Madhouse e, considerando que é um estúdio deste calibre, que se costuma adequar muito bem aos ambientes que produz, fiquei surpreso com o extremismo entre adequado e inadequado que demonstrou.
O desenho em geral apesar de ter sido modernizado e modificado relativamente ao material fonte, conseguiu manter parte da essência do traço das obras deste género dos anos 80. O nível de animação é sólido, e bastante fluído na maior parte das cenas que requerem uma qualidade superior, sendo por vezes notadas pequenas quedas no que diz respeito à sua coesão (mas nada de muito significativo). Isto é observável pela qualidade incrível que nos é apresentada no primeiro episódio, mas que decai rapidamente para algo mais próximo do mediano nos restantes, uma vez que só volta a este nível se a sequência em questão o tiver como requisito. Peca pelo uso pobre e preguiçoso de 3D em multidões, mas que é facilmente desculpável tendo em conta os restantes pontos positivos.
Uma característica muito importante, e aquilo que estávamos com atenção em, é a credibilidade de produção de design e animação no que diz respeito aos Kiseijuu. Sendo este um dos elementos com mais relevo na narrativa, exigi-se logo à partida uma maior dedicação na sua produção. O aspeto singular, os movimentos peculiares, e o design de som orgânico, conferiram a estes seres uma essência naturalmente assustadora.
A banda sonora é na sua maioria muito boa, sendo que umas das maiores dúvidas se alocava no facto de terem escolhido dubstep como tom maioritário. A dúvida manteve e dissipou-se, isto porque temos realmente ocasiões oportunas em que o dubstep foi um estranho sucesso, e noutras que nos retirou por completo a imersão.
Um envelhecimento bem conservado – Juízo Final
É de bastante importância deixar bem claro que esta história foi escrita nos finais dos anos 80, mais precisamente em 1989. Deve ainda ser notada a atualidade dos tópicos abordados, o quão bem eles funcionam e se integram no estado do mundo atual. Kiseijuu é uma reflexão sobre a humanidade e sobre o que significa ser um Humano, o que me leva a pensar que apesar de tudo, toda a filosofia desta obra será sempre algo atual, não importando a época em que nos encontramos.
Apesar de ser uma obra desequilibrada em todos os departamentos, é um título que se encontra bem acima da média em todos eles. Por estas e por todas as razões referidas ao longo da análise, foi considerada por júris profissionais e pela comunidade como uma das melhores obras presentes nos reportórios referentes ao ano de 2014 e, claro, uma obra que deverá constar nos vossos.
Os menos fãs de ficção científica poderão sentir-se um pouco reticentes se irão ou não gostar de Kiseijuu, se a devem ou não ver. A verdade é que a ficção científica presente na obra serve apenas de fio condutor para algo muito maior, sendo que tudo é retratado com a maior credibilidade possível, dando espaço para que os menos fanáticos pelo género a possam apreciar.
Análises
Kiseijuu Sei no Kakuritsu
Os menos fãs de ficção científica poderão sentir-se um pouco reticentes se irão ou não gostar de Kiseijuu, se a devem ou não ver. A verdade é que a ficção científica presente na obra serve apenas de fio condutor para algo muito maior, sendo que tudo é retratado com a maior credibilidade possível, dando espaço para que os menos fanáticos pelo género a possam apreciar.
Os Pros
- Execução visual dos parasitas
- Conceito e premissa
- Elenco principal
Os Contras
- Partes da execução narrativa
- Falta de Oportunismo da banda sonora em determinados momentos