Com mais de 40 anos de carreira, Nobuyuki Fukumoto é hoje um dos mais respeitados, influentes, e bem-sucedidos artistas de mangá. Os seus trabalhos venderam dezenas de milhões de cópias em todo o mundo, sendo que alguns deles foram mesmo adaptados para o cinema e a televisão. Fora do Japão, Fukumoto é reconhecido principalmente por ser o autor de Akagi, um mangá publicado entre 1991 e 2018, que acabou por ser um grande sucesso também a nível internacional.
O mestre Nobuyuki Fukumoto
O início
Nascido na cidade de Yokosuka, na prefeitura de Kanagawa, o interesse de Fukumoto pelo universo mangá começou ainda em criança, altura em que leu avidamente vários mangás shonen (criados especificamente para um público mais jovem), como é bastante comum na cultura japonesa – este costuma ser, aliás, a demografia mais popular.
Para além destas histórias, o jovem Fukumoto dedicou parte da sua adolescência à prática de desportos de combate, como Karaté e o Kickboxing, numa tentativa de compensar o seu aspeto franzino. No entanto, acabaria por se formar numa outra área em nada relacionada com estes seus interesses: a Arquitectura. Chegou mesmo a trabalhar para uma empresa de construção, mas este estilo de vida não o satisfazia, e, ao fim de apenas uns meses, acabou por se despedir para seguir o seu sonho antigo de se tornar um artista de mangá.
O seu primeiro trabalho nesta indústria foi como assistente de Eiji Kazama, o que acabou por não ser uma experiência muito positiva, visto que Kazama lhe dava tarefas que pouco ou nada tinham a ver com o trabalho de um artista, por considerar que Fukumoto não tinha capacidade para desenhar. Este contratempo não impediu Fukumoto de continuar a lutar pelos seus objetivos, e, algum tempo depois, acabou mesmo por conseguir publicar a sua primeira criação Yoroshiku! Junjou Taishou, enquanto mantinha um part-time num restaurante para sobreviver. Nesta altura, Fukumoto estava ainda longe de conseguir viver exclusivamente da sua arte. O início de carreira cheio de dificuldades é muito comum entre jovens artistas, e demonstra na perfeição a força de vontade que muitas vezes é necessária para não desistirmos dos nossos sonhos.
Em 1983 a carreira de Fukumoto foi finalmente impulsionada com a conquista do prémio Outstanding Newcomer Award, uma importante distinção atribuída a artistas mangá emergentes.
O sucesso
Fukumoto começou a ganhar verdadeira notoriedade quando lançou o mangá Ten: Tenhou-doori no Kaidanji, o seu primeiro trabalho focado nos chamados jogos de azar, numa altura em que este tema estava claramente na moda dentro deste género literário. É importante referir que os jogos de azar estiveram proibidos no Japão durante largos anos, com algumas exceções específicas, entre as quais se encontram as máquinas Pachinko, e apenas muito recentemente foi aprovada uma lei que permite que casinos operem no país (por isso é de esperar que a febre dos jogos de casino online e ao vivo chegue ao Japão muito em breve). A organização criminosa japonesa Yakuza era conhecida por operar casinos ilegais em alguns pontos do Japão, e esta ligação entre a máfia e os jogos de azar acabou por ser um tema recorrente em várias obras de Fukumoto. Foi através deste pano de fundo que explorou temas mais profundos e mostrou ao mundo o seu estilo de desenho muito próprio e as detalhadas descrições psicológicas das suas personagens, que viriam a deixar uma marca forte nos seus leitores.
Alguns anos depois do lançamento de Ten, Fukumoto começou a preparar uma prequela desta sua história, que viria a ser considerada por muitos como uma das suas principais obras. Foi assim que surgiu Akagi, a mangá serializada durante 27 anos que conta a história de um rapaz que descobre o seu talento para jogar Mahjong depois de derrotar um membro da organização Yakuza.
Mas este tema dos jogos de azar não se iria esgotar aqui. Em 1996 publicou Kaiji, uma mangá que o estabeleceu como um dos maiores nomes da indústria, tendo vendido mais de 20 milhões de cópias ao longo de cerca de duas décadas. Para além do mais, esta história já gerou vários spin-offs, adaptações a cinema, anime, e até múltiplos videojogos. É seguro dizer que acabou por ser uma das histórias mangá mais influentes de sempre e estabeleceu Fukumoto como um verdadeiro mestre na sua arte.
Os fãs do universo de Ten e Akagi podem agora acompanhar Yami-Ma no Mamiya, a mais recente criação do autor, lançada em maio de 2019. Trata-se de uma sequela das obras mencionadas que promete fazer as delícias dos seus admiradores.