A Comic Con trata-se de uma convenção de elevadas dimensões, com um leque variado de áreas de interesse, onde a cultura Pop é explorada no seu máximo esplendor. Em terras transatlânticas o conceito é extremamente popular, uma espécie de passadeira vermelha dos Óscares para o público comum. A resistência face ao conceito parece persistir, em Portugal. Ainda muito pouco receptivos, quer a indústria como a população em geral, encaram com estranheza um festival onde Cinema, Séries, Banda Desenhada, Jogos, Animes e Manga, são o foco primordial.
No fim de semana de 5, 6 e 7 de dezembro de 2014, pela primeira vez em terras Lusas, o sonho contemplado por muitos apenas pelo pequeno ecrã, tornou-se real. Os organizadores foram, sem dúvida, uns verdadeiros visionários audaciosos, que fizeram os possíveis para proporcionar um verdadeiro festival de magia, arte e muita animação. Paulo R. Cardoso, Melo, Pedro Cardoso, Paulo Silva, Miguel Bello e Joe Reitman foram os principais impulsionadores de um projeto que terá muito para mostrar e evoluir, provando que também no cantinho da Europa é possível fazer algo de proporções mundiais!
A Exponor foi o espaço escolhido para acolher esta primeira edição da Comic Con Portugal. A escolha não foi ao acaso, com cerca de 60 mil m² de área coberta, é o maior recinto de feiras e congressos em Portugal. A sua localização foge um pouco à regra do centralismo português, localizado em Leça da Palmeira, Matosinhos, proporciona aos nortenhos o estatuto de anfitriões do certame.
Sem menosprezar toda a organização e minuciosas divisões, o festival era organizado na sua maioria em: área de exposições, auditórios e área de artistas.
No que diz respeito aos auditórios, estes eram divididos consoante o nicho e objetivo. Sendo que o auditório A, B, Games e Comic foram destinados a palestras e apresentações, e os restantes a workshops nas mais diversas áreas, em especial Manga e Cosplay.
Encostada a um canto intermédio, por entre os grandes pavilhões onde residiam as atividades ditas principais, estava a famosa área dos artistas. Contrariamente ao habitual nas convenções, onde a arte surge como uma subdivisão de segunda classe, apreciamos em êxtase a multidão a acumular-se por entre os painéis e pequenas mesas, onde os artistas expunham, orgulhosos, os seus trabalhos. O que aparentemente seria algo secundário, tornou-se local de paragem obrigatória por entre os milhares de visitantes, extasiados pela capacidade e qualidade artística portuguesa e estrangeira.
À semelhança da dita área de exposições relativamente às restantes convenções do género era inequívoca. Dotada de um número substancial de lojas e bancas dos mais variados interesses, conseguiram abordar de forma leviana os vários nichos da cultura Pop.
Uma das questões que percorreu nas nossas mentes, em grupos de internautas e fóruns de discussão (entre outros meios), foi: mas então quais são as lojas que estarão presentes no evento? Com esta, éramos sempre levados pelo caminho inevitável: “abordarão elas todos os foros temáticos em que a Comic Con consiste?
Neste aspeto, a diversidade de oferta de conteúdo que o evento nos presenteou, é algo do qual não nos podemos queixar. Apesar da Banda Desenhada ter sido o elemento que mais sobressaiu em quantidade e qualidade, os restantes departamentos em nada ficaram atrás. Além das bancas habituais (que estamos acostumados a ver em eventos de cultura Geek nacional), estiveram presentes um outro leque de lojas que nos surpreendeu pela positiva. Merchandising para todos os gostos e feitios foi algo que não faltou. Desde o ocidente ao oriente, desde o jogo de tabuleiro ao jogo digital, desde a banda desenhada em cor à banda desenha a preto e branco, tivemos um pouco de tudo. Bancas portuguesas, bancas estrangeiras, bancas que já não víamos à algum tempo neste tipo de eventos, e das quais tivemos saudades.
A oferta aumenta de dia para dia, de evento para evento, assim como os corajosos que se aventuram neste ramo comercial, que tem tanto para evoluir no nosso país. Dito isto, se ficaram satisfeitos com os resultados neste aspeto do evento, então poderão sem dúvida, esperar algo muito melhor, maior e com uma diversidade superior, comparativamente ao que foi visto nesta primeira edição.
Atividades e muita animação?
No que diz respeito às atividades e animações, essas foram reduzidas. Com a excepção dos jogos providos à comunidade gamer, pouco restou para entreter o vasto público espalhado pelos vários recintos da Exponor. Verdade que entre as apresentações, workshops e palestras, pouco era o tempo disponível para usufruir do espaço e descontrair entre bancas, jogos e exposições. Contudo a falta de zonas de interesse como o Expo Syfy, e um maior número de atividades como Karaoke, Dança Para-Para, entre outros jogos e interações público-organização, fizeram-se sentir. De entre as poucas animações fornecidas pela organização, um dos momentos altos do evento, foi a famosa Marcha Imperial, do filme “A Guerra das Estrelas” que decorreu durante todo o fim de semana, várias vezes por dia.
Anime e Manga | Existiu ou foi só miragem?
O entusiasmo e alegria com que encaramos o evento, não se repercutiu nos nossos focos de interesse. Apesar de maravilhoso e muito bem organizado, para uma primeira vez, Anime e Manga foi algo francamente escasso. Não foi surpresa a falta de desenvolvimento deste nicho, tal como explicaram na conferência de imprensa, o objetivo este ano seria garantir as massas e o financiamento para as edições seguintes. Assim sendo, a divulgação e exploração da arte Anime e Manga foi apenas representada sobre a forma de merchandise, pequenas iniciativas de Karaoke, Workshop de Manga e Cosplay, e claro, o Cosplay representado pelas centenas de maravilhosos cosplayers.
Cosplay | Concurso “Heróis do Cosplay”
A cultura cosplay foi representada por mais um emblemático concurso de cosplay. “Heróis do Cosplay” foi organizado pela cosplayer mundialmente famosa Leonor Grácias que, com mais de 10 anos de experiência, um currículo repleto de representações internacionais e inclusive a participação no World Cosplay Summit, no Japão, tentou transmitir um pouco do fanatismo e profissionalismo de edições internacionais.
A prova consistia na apresentação e representação de mais de 28 participantes, em grupo ou formato individual, onde eram avaliadas quer a qualidade e dificuldade de confeção dos fatos, como verosimilhança com os originais.
Considerada por muitos um dos eventos mais esperados do certame, conseguiu superar as expetativas da maioria. Guiados pelo Capitão Shunsui Kyouraku, maravilhosamente representado pelo cosplayer Álvaro Veiros, somos embrenhados numa divertida exposição de arte, onde a representação caminha de mãos dadas com o trabalho manual e reprodução de obras originais.
A estranheza face à localização do concurso e a falta de destaque sobre o mesmo, foram impossíveis de ser ignoradas pelo nicho diretamente associado à caracterização de Anime. Depois de uma primeira procura no cartaz do evento, apercebemos-nos que se encontrava longe do habitual palco principal. Considerado como espetáculo ligado à cultura Comic, foi desenvolvido no Auditório Comics, que apesar das suas elevadas dimensões, foi rapidamente lotado pela vasto público, na sua maioria vestido a rigor.
Ao contrário dos anteriores eventos de culto como o Iberanime, o racio Anime, Comic e Jogos não deixou margem para dúvidas quanto aos favoritos. Os jogos tiveram especial destaque, tendo inclusive uma área distinta de classificação, como por exemplo: Melhor Cosplay de League of Legends. A abrangência do nosso nicho não se repercutiu no número de candidatos, contando apenas com dois representantes da cultura anime, uma divertida “Pikachu” e uma sedutora “Alucard“.
Os júris não foram escolhidos ao acaso, nomes sonantes como Miguel Matos, representante português na Competição Europeia de Cosplay e Susan, cosplayer holandesa com mais de 6 anos de experiência na área, fizeram parte do cartaz de jurados.
Reportagem Comic Con Portugal 2014 | Conclusão
A descrença dos media e população em geral foi completamente corrompida pela qualidade do certame. De uma forma global, as críticas são míseras face à qualidade e organização com que nos foi apresentado um primeiro evento. Aspetos a melhorar haverão sempre, alguns deles referidos em cima, contudo a panóplia de atividades, a qualidade e diversidade de oferta, e sem esquecer, como é claro, a quantidade absurda de celebridades das mais diversas áreas enriqueceram indubitavelmente a cultura e conhecimento dos milhares de visitantes. O público alheio ao peso real do que estava prestes a contemplar, acabou completamente embriagado pela arte e excentricidade cultural que lhes foi oferecida, de mão beijada, a cada curva e recanto da Exponor.
A vontade de criticar e avaliar esta primeira iniciativa da Comic Con Portugal levou-nos à criação de uma crónica especialmente dedicada para o efeito, sendo que o “juízo final” será desenvolvido num outro artigo.