Existirá maior desafio que criar um shoujo onde o horror e o terror sejam protagonistas? Em 2007, a J.C.Staff tentou tornar isto possível ao adaptar o manga intitulado de Ghost Hunt, de Shiho Inada e Fuyumi Ono. Em apenas 25 episódios de pura audácia, arriscaram criar uma verdadeira série de terror e romance, terão alcançado os ambiciosos objetivos?
A História de Ghost Hunt
Histórias de terror estão na moda entre os adolescentes, e no grupo de amigas da Taniyama Mai não é exceção. O clube de multimédia da escola, Mai reúne-se com as amigas para mais um ritual de terror: cada uma conta uma história ou lenda urbana de terror, e no final fazem a contagem de elementos do grupo… a pessoa a mais é o fantasma. Nessa tarde, o ritual termina de forma inesperada, em vez de as quatro pessoas com que se iniciou, terminou com mais uma… um belo e misterioso rapaz.
Mai foi a única que não ficou rendida aos encantos e sorriso falso do “novo aluno”, quais serão os reais objetivos de Shibuya Kazuya?
Uma série de terror
Desde os primeiros segundos da animação somos embriagados por um clima de terror e dúvida, onde nada é o que parece. A introdução do tema não deixa margens para dúvidas: é um anime com foco no mistério e suspense. O terror inerente ao género é trabalhado de forma isolada, sendo cada caso um novo objeto de horror.
A narrativa principal gira à volta da Shibuya Psychic Research, uma organização de pesquisa e resolução de casos de foro paranormal ou suspeita de. O seu presidente, Shibuya Kazuya, ou Naru, como é chamado por Mai, investiga os casos em que é contratado. Ao contrário do habitual em obras deste registo, a análise é minuciosa com recurso a uma série de sofisticados equipamentos e conceitos reais. Em suma, todos os fenómenos são avaliados e interpretados criteriosamente, podendo nem sempre sequer estar associados a fantasmas ou atividades paranormais.
Realidade vs Ficção
Os termos técnicos presentes são sem dúvida uma mais valia e algo de extremo relevo na série. Com um tema tão comum, a roçar o banal, a originalidade é difícil de alcançar, ainda por cima quando tudo sobre o tema parece já existir. É aí onde a genialidade de Ghost Hunt entra: todos os fenómenos são escrupulosamente justificados e explicados, desde os vários tipos de atividade paranormal, às habilidades mais humanas e científicas não provadas, como a telecinésia.
O material de pesquisa da organização é, também ele, real e devidamente descrito, desde câmaras de elevada velocidade e de infra-vermelhos, a gravadores, termógrafos, todos criteriosamente dispostos, organizados e avaliados.
A sensação de familiarização provida por tais elementos aumenta a interação entre público e obra, a envolvência cresce, o que resulta numa total compenetração no enredo. As consequências são evidentes: umas boas doses de sustos, terror, e alguns gritos a saírem indiscriminados ao longo de toda a obra.
Uma história de amor?
Para além da demografia shoujo, o romance pertence à lista imensa de caraterísticas exploradas nesta obra. Aliado às carismáticas personagens, o resultado não podia ser mais divertido e simultâneamente misterioso e apaixonante, sendo com certeza um dos marcos narrativos e dos maiores enigmas deixados por resolver.
Os protagonistas Naru e Mai surgem como par mais provável no grupo de investigadores. A relação entre o narcisista arrogante e a céptica simplista , aparenta seguir a mesma linha cliché induzida pelas personagens tipo que os mesmos representam. Sem grande surpresa constatamos a evolução da relação de ódio de Mai sobre os atos de desprezo e sinceridade excessiva de Naru, para algo mais sobre o olhar da mesma.
Todavia este não é o foco da obra, sendo maravilhosamente enquadrado no seu desenvolvimento, quer na criação de momentos de comédia e amenização da tensão desenvolvida, quer nos sonhos paranormais de Mai, onde “Naru” aparece para a guiar.
Um ambiente de arrepiar
Uma excelente associação entre som e imagem são fulcrais para produções deste género. Uma imagem mais negra, um desvanecer suave, o som de madeira a ranger lentamente a se propagar pelo local, o telemóvel a tocar sobre o silêncio arrebatador, ou o grito das profundezas do corredor escuro, cenas tão familiares para os grandes apreciadores do género, mas ainda assim de presença obrigatória.
Os estúdios em questao não deixaram nada passar em branco. Numa fantástica adaptação do manga, souberam tirar partido da forte narrativa e criar um ambiente envolvente e propício a valentes sustos. Atrevo-me a dizer que algumas das cenas do manga foram francamente melhoradas no pequeno ecrã.
O folclore japonês associado ao misticismo de algumas lendas, conhecidas a nível global (em especial no ocidente) foram aproveitados em pleno. Um dos aspetos de louvar na arte gráfica da obra são as mudanças de perspetiva entre terceira e primeira pessoa, contemplando o espetador com uma verdadeira experiência sensorial.
A fluidez da produção mesclada com o jogo de cores escuras e tons desvanecidos intensifica o enredo, já por si forte e envolvente. O design incrivelmente polido torna a obra num verdadeiro espetáculo visual, impossível de deixar indiferente qualquer amante de bom anime.
Uma experiência audio-visual única!
O som de fitas a reproduzir aquando acontecimentos passados, o som cinematográfico ligado aos momentos de maior tensão e mistério, a melodia arrepiante que serve de introdução a cada novo caso, os gritos e ruídos tão bem reproduzidos e implementados, que cremos que vêm diretos do além, nada é deixado ao acaso nesta obra.
Sem grandes melodias, a banda sonora prima pela reforço das emoções a serem transmitidas e/ou potenciadas pela cena em questão.
Juízo Final
Se estão cansados de assistir sempre ao mesmo género ou estrutura narrativa atual, Ghost Hunt surge como uma verdadeira lufada de ar fresco nos vossos reportórios de animação. Diferente e original, conquista o espetador desde o primeiro segundo, seja ele fã ou não de horror e paranormal. Apesar de especialmente indicado para os amantes do sobrenatural e suspense, não deixa indiferente quem quer que se atreva a descobrir e aprofundar os seus conhecimentos neste género tão peculiar.
Na verdade é um anime para todos! A produção envolve comédia, romance, drama, mistério, terror, suspense, uma verdadeira salada narrativa tão bem conseguida que nos conquista por todos os ingredientes nela presentes, como se tudo junto culmina-se num cocktail perfeito de emoções e sensações de arrebatar até os corações mais fortes.
Será tudo óptimo nesta produção? Infelizmente, a franquia detém um ponto negativo bastante significativo: a necessidade da continuação da produção. Muitos foram os enigmas deixados por resolver, e sendo a obra uma série de longo curso, o vazio deixado com o seu termino é, sem dúvida, o aspeto mais negativo da animação.
Análises
Ghost Hunt
Uma experiência audio-visual a não perder!
Os Pros
- Enredo;
- Ambiente;
- Forma como é gravado.
Os Contras
- Pormenores sobre as personagens que não foram desenvolvidos.