Isshuukan Friends. | Análise

Isshuukan Friends., ou como é mais vulgarmente conhecido, One Week Friends, foi lançado na temporada da primavera de 2014. Este assume-se como Slice of Life na veia Shonen, o que por sua vez o torna uma obra única e isolada, numa temporada onde não existe uma produção com estas semelhanças ou caraterísticas.

Isshuukan Friends. | A História

Fujimiya Kaori encontra-se diariamente sozinha, no entanto isto não acontece realmente por escolha. Fujimiya sofre de uma condição de saúde, que atinge as memórias de um modo peculiar. Por outras palavras, e falando mais especificamente, a memória dela é afetada apenas a nível de memórias positivas, e todas as que estejam relacionadas com momentos criados com os amigos. Todas as segundas-feiras, a memória dela renova-se, apagando assim, todos os instantes felizes que experienciou.

Ainda assim, e apesar de Hase ter conhecimento de tudo isto, insiste em tornar-se amigo dela. Mesmo que isso implique ter que refazer todas as memórias dela do zero, semana após semana.

Conseguirá Hase ultrapassar a repetição rotineira?

Conseguirá Fujimiya fazer novas memórias e guardar algumas semana após semana?

Enredo

A amizade para existir necessita no mínimo de duas pessoas. Existem humanos que optam por viver em solidão, dando valor a uma certa independência. Porém, por norma, o ser humano está programado para ser social, dependente, sentir o desejo inconsciente que pede pela criação de ligação com outro ser humano. Ainda assim, a verdadeira amizade, aquela à qual não conseguimos atribuir uma quantificação, é aquela que ultrapassa o conceito natural e sólido e se transforma num conceito abstratamente sentido e inexplicável. De forma a criar este tipo de ligação, é necessária uma boa semente, e uma consequente maturação da mesma. Por vezes, esta pequena semente passa por tempestades, condições menos boas, que se forem atravessadas com sucesso, darão origem a algo muito forte e consistente.

É exatamente este o conceito abordado em One Week Friends. A ideia é explorada com muita delicadeza, sem nunca extrapolar os limites desejáveis que levariam a história por caminhos menos bons. A adversidade semeada nesta narrativa é de certa forma original e criativa. E se as nossas relações de amizade, da mais curta à mais duradoura, da menos importante à mais valiosa durasse apenas uma semana? Toda a percepção que temos sobre as nossa relações seria completamente reformulada. O quão estaríamos nós dispostos a progredir numa relação que cai na repetição, que não consegue, na verdade, avançar para um outro estágio?

De fato, é perante toda esta teia narrativa, que nos é mostrado o magnífico trabalho realizado pelo escritor. A premissa poderia ter sido levada para um campo mais melodramático, isto é certo. Ainda assim, em vez da premissa ser focada como núcleo narrativo, são antes focadas as consequências da mesma. A narrativa absorve-nos e envolve-nos, numa viagem inspiradora enquanto nos alerta constantemente sobre a efemeridade e fragilidade de uma relação, algo que para nós ou para grande parte, passa pelo inconsciente como algo definitivo. Serve, por outro lado, de calmante saudável, para um estado de espírito mais alterado. Leva-nos a viajar por temas tão simples e triviais de uma forma aprofundada.

Para uma aparente típica obra escolar, sobre “rapaz conhece rapariga”, a obra não mostra o seu esplendor. Na verdade, a premissa não só se constrói a partir de um problema de memória (o que não é algo de novo), como também se desenvolve a partir de um problema bastante rebuscado.

Em contrapartida, a exposição narrativa destas problemáticas reinventa-se a cada segundo, e é aqui que se encontra toda a originalidade. Alguns conflitos são forçados e cliché, mas acabam por ser um mínimo no meio dos diálogos escritos de forma tão genuína e verdadeira.

Ambiente

Brains Base foi o estúdio que acolheu esta obra, para ser adaptada a animação. Não sei ao certo, mas possivelmente foram os próprios estúdios que escolheram adaptar esta obra. O fato de ter sido uma produtora experiente no género slice of life, que por norma se sobressaem a nível de visual, dá a One Week Friends uma força ainda maior, tornando-se assim num dos pontos mais fortes de toda a obra.

A animação é super fluida nos mais variados aspetos. Mas, o destaque, vai para o cuidado humano (que foi onde se focaram mais). As expressões e a gesticulação do corpo humano são realistas e muito consistentes ao longo de todo o anime.

Como, por norma, no tempo de ecrã, a demonstração visual não contém muito movimento, atividade ou ação, dá espaço para gerirem o orçamento para o motor da obra, ou seja, as personagens e o ambiente que as rodeia, o que leva por consequência, a um visual envolvente e extremamente caprichado.

A palete de cores é na sua maioria preenchida por tons do outono, ou seja castanhos, amarelos escuros e alguns vermelhos mais arrojados. A escolha poderá ter sido propositada para criar uma subtil analogia. Ou seja, como estamos a falar da instabilidade das memórias, a melhor estação do ano que pode simbolizar tal, é indubitavelmente o outono, na medida que é nesta em que todo o apogeu da natureza cai (literalmente). Se foi propositado, então merece uma enorme salva de palmas pela genialidade, se não foi e sou apenas eu a pensar de mais, é um bom pormenor a ser notado.

No departamento musical também não é possível existirem queixas. A música é tão agradável e sublime, que se dilui, com toda a natureza ambiental e essência que o anime nos transmite. A escolha dos Seyuu foi claramente algo sobre o qual deram bastante atenção. Todas as vozes com tonalidades calmas e agradáveis, potenciam o ambiente que nos transmite o mesmo tipo de emoção.

Uma experiência sensorial que vos vai levar a partilhar o mesmo espaço das personagens, a sentir a brisa agradável de uma noite de primavera, o calor abafado do verão, a melancolia do outono e o frio agudo do inverno.

Isshuukan Friends. | Juízo Final

Muitos poderão apontar a falta de desenvolvimento que existiu no romance mas, relembro, esta não é uma história sobre o amor, mas sobre a amizade. O desenvolvimento vai então focar-se em tal, por muito que desejemos ver o além, ou seja, a vertente romântica. Se bem que isso fica bem subentendido para quem viu o final. Não é, de todo, por esta razão que a obra não está avaliada na sua máxima cotação. A verdade é que, a obra está realmente perto de a atingir, mas pelo caminho, como foi referido em cima, foram inseridas problemáticas mais clichés que forçaram um pouco a narrativa, tornando-a por vezes, menos natural. Não obstante, é apenas um pequeno entrave que eu considero o suficiente para não atingir a dita perfeição.

Em suma, recomendo a obra a fãs de um conteúdo mais leve, que ainda assim possua um nível considerável de desenvoltura narrativa. Se procuram algo para quebrar um pouco o ritmo, das obras mais frenéticas, que vos fazem usar o cérebro, então esta é sem dúvida alguma a obra acertada para vocês!

Isshuukan Friends | Trailer