No ano de 2006, a J. C. Staff lançou mais uma produção que se adivinhava ser de sucesso: Zero no Tsukaima, baseada no manga da autoria de Noboru Yamaguchi e Eiji Usatsuka.
A franquia de demografia shounen, mas com o romance como foco primordial, conquistou o público com toda a sua agradável comédia e ecchi mais ou menos romântico. Apesar de muito contestada, tem lugar patente no Top Shoujos do ptAnime, posto conquistado pelo divertido e marcante romance entre os dois protagonistas, que em apenas 13 episódios desenvolveram uma relação que não deixa os amantes de um bom romance indiferentes.
História
Num mundo chamado Halkeginia, existia uma jovem maga chamada Louise. O seu nome, já por si aristocrata, confirmava a todos os cépticos e críticos, o estatuto da pior aluna da Escola de Magia Tristein. Objeto de fortes pressões, a jovem de cabelos rosa esforçava-se ao máximo para tornar-se numa maga, contudo todo e qualquer esforço, ou simples movimentar da varinha, resultava em mais uma explosão. O destino da aspirante a maga muda drasticamente na cerimónia de convocação, onde cada estudante convocaria o seu “familiar”, ser vivo mágico responsável por apoiar e defender o seu dono, para o resto da vida. Dragões, animais gigantes, espécies raras ou simples animais mágicos, o resultado foi de tudo um pouco, o que Louise não esperava é que, dentro do leque de familiares possíveis, pudesse surgir um humano.
Enredo
Confesso que a minha decisão quanto à presença desta produção no Top Shoujo deveu-se sobretudo ao peculiar romance usado como guia narrativo. Numa primeira fase, vemos o desprezo e insignificância com que Louise trata o seu mais recente servo. A citação “tratado a baixo de cão” segue contornos literais no primeiro terço da produção, apesar das mudanças progressivas e a criação inequívoca de laços, a verdade é que o limite intransponível entre servo e maga é uma constante.
Como verdadeira tsundere, a jovem maga não poupa nas demonstrações de carinho extremamente dolorosas, com fortes semelhanças a atos de sadismo sexuais, sempre com o intuito de atingir o centro da masculinidade do pobre Saito. Os seus histerismos e atos contraditórios típicos da sua condição (extremamente bem representada), servem de atenuante (por vezes exagerada) à premissa mais séria e construtiva que se inicia nesta primeira temporada.
A história apresenta duas linhas narrativas fulcrais, a guerra pela sucessão ao trono e o verdadeiro poder de Louise. Apesar de pouco desenvolvidas, apercebemos-nos que esta temporada trata-se apenas, de uma introdução e apresentação aos objetivos narrativos do autor. Sendo que todas e quaisquer dúvidas e pontas soltas esperam-se ser colmatadas nas temporadas seguintes.
O ambiente de guerra, os episódios misteriosos e as batalhas fantásticas contrastam com todo o Harem que se faz presente. Num equilíbrio próximo do perfeito, para o género, contemplamos com prazer uma encruzilhada entre momentos de comédia fácil e um desenvolvimento mais sério do enredo.
A presença de rivais amorosas da nossa protagonista é outra constante demarcada desde o primeiro episódio. Após uma breve introdução a cada possível candidata a parceira sexual do nosso concorrido protagonista, somos embriagados pela sensualidade de Kirche e pela doçura de Siesta. Infelizmente, uma das grandes falhas desta obra reside no desenvolvimento das, à partida, rivais de Louise. Muito pouco desenvolvidas enquanto personagens individuais, vemos grandes personagens serem completamente negligenciadas, ficando-se pelo potencial latente. O resultado é evidente: personagens secundárias com personalidade forte e com caraterísticas únicas, mas que em 13 episódios não conseguiram mostrar o suficiente para fomentar uma empatia ou ligação, mesmo que efémera, em nenhum ponto da história.
Com a excepção dos dois protagonistas, apenas uma das integrantes do “Harem Saito” recebeu um especial destaque, com um desenvolvimento mais aprofundado, servindo inclusive de gatilho narrativo para uma série de acontecimentos de elevada importância na história.
Ambiente
A experiência dos estúdios envolvidos repercutiu-se nesta excelente produção, a nível visual e de fluidez técnica. O visual mantém com primazia a estrutura e os padrões habituais do género envolvido. Sem grandes falhas a manchar esta primeira temporada, podemos dizer que toda a obra evoluiu de forma constante, sem grandes picos técnicos mas ainda assim muita boa no panorama geral.
Passado quase uma década desde a sua produção, as semelhanças face às produções atuais são indiscutíveis. A qualidade do traço e sobretudo a construção e fluidez das batalhas mágicas, demonstram a excelência com que o projeto foi desenvolvido, não deixando margens para dúvidas quanto à qualidade da produção na componente visual.
O design das personagem é o típico shounen aliado às figuras tipo femininas do género harem. O character design veio colmatar o déficit narrativo das personagens, que com caraterísticas visuais fortes e um design marcante, as personagens acabam sendo evidenciadas por esta componente.
No que diz respeito à banda sonora, não foge aos habituais sons bélicos ou associados a momentos de elevada tensão, sem grande originalidade ou desenvoltura. A falta de originalidade atinge igualmente o opening e o ending, que se revelam incapazes de prender o espetador quer em sonoridade como construção.
Juízo Final
As expetativas em relação à obra não devem ser muito elevadas. Após as recentes grandes produções shounen romântico, a fasquia subiu consideravelmente, nos nossos critérios para visualização de novas obras do género em questão. A verdade é que na altura em que estreou, Zero no Tsukaima, era uma produção de vanguarda, rica em todos os elementos que um amante de romance e comédia poderia desejar, contudo na atualidade, não basta ser-se “bom” para pertencer ao pódio de visualizações.
Todavia, não há nada que se possa considerar de mau nesta obra. A componente técnica bem desenvolvida, a comédia fácil mas incrivelmente agradável e bem colocada, e a construção progressiva de uma narrativa que se avizinhava ser complexa (contudo sem nunca o ser), criam um conjunto irresistível de caraterísticas que nos conquistam, episódio após episódio.
Em suma, se pretenderem uma obra simples e cativante, onde o adorável caminha lado a lado com um tsunami de gargalhadas, aconselho-vos vivamente a se deixarem emaranhar neste universo mágico. Se por outro lado, quiserem uma obra complexa e emocionante, onde a construção e complexidade narrativa assumem um papel de destaque, esta não deverá ser, de todo, a vossa escolha.
Análises
Zero no Tsukaima
Se pretenderem uma obra simples e cativante, onde o adorável caminha lado a lado com um tsunami de gargalhadas, aconselho-vos vivamente a se deixarem emaranhar neste universo mágico. Se por outro lado, quiserem uma obra complexa e emocionante, onde a construção e complexidade narrativa assumem um papel de destaque, esta não deverá ser, de todo, a vossa escolha.