O ptAnime está de volta às análises, desta vez para vos apresentar mais uma obra transmitida no verão passado. Bastante desajustada aos estilos tradicionais das séries que costumam aparecer no mundo do Anime, Watashi ga Motenai no wa Dou Kangaetemo Omaera ga Warui! (também conhecida por “WATAMOTE”) foi uma surpresa inesperada na temporada. Resta saber se este efeito foi positivo ou negativo para o sucesso da produção.
WATAMOTE – A História
Tomoko Kuroki é uma jovem estudante de 15 anos que agora começa a frequentar o ensino secundário. Uma mudança que a distanciou da sua grande amiga, Yuu Naruse, uma vez que se transferiram para estabelecimentos de ensino diferentes.
Kuroki está muito esperançosa nesta nova fase da adolescência e da sua vida estudantil, pois espera ser popular, arranjar um namorado e desfrutar de experiências típicas dos jovens da sua idade. Contudo, tudo isto não passa de um mero sonho para Tomoko, pois a rapariga está longe de ter o perfil para atingir estes objetivos. Para além de não ser atrativa fisicamente, a suposta protagonista da história é muito tímida e introvertida, o que a leva a cair na perfeita ignorância por parte dos seus novos colegas de turma e não só! Estes traços caraterísticos são demais evidentes quando vemos Tomoko a tentar comunicar com alguma pessoa, pois a dificuldade em falar é enorme.
Apesar desta sua maneira de ser, Tomoko mostra-se muitas vezes determinada em atingir os seus objetivos, ou seja, conquistar amigos, tornar-se popular, etc. Infelizmente para ela, os seus planos acabam muitas vezes por saírem completamente furados. Será que alguma vez vai conseguir mudar para melhor esta situação desagradável em que se encontra?
WATAMOTE – Ambiente e Enredo
Quando disse na introdução ao artigo que WATAMOTE era diferente daquilo a que estamos habituados a ver, disse-o por uma razão muito simples. Se for pesquisar em qualquer site os estilos associados a esta série, encontro em todos (ou quase!) a palavra “comédia“. Pois bem, parece-me a mim que a produção está longe de ser cómica.
Tomoko é a típica adolescente vítima de exclusão social. Em todas as escolas do mundo real, esta situação é comum a alguns dos estudantes que as frequentam e a rapariga é apenas mais um exemplo. Todavia, os seus criadores não hesitaram um momento no exagero, ou melhor, na dureza que conferiram à personagem. Não há mesmo nada que corra bem na vida da rapariga, por muito que esta tente mudar o rumo das coisas (por vezes com atitudes estúpidas é certo), levando-nos, espetadores, a sentir pena de Kuroki, ao contrário da suposta comicidade que deveria existir. Como adulto, poucas situações engraçadas encontro em WATAMOTE, e as que encontro não estão relacionadas com a discriminação da jovem. Colocando-me no lugar dos adolescentes dos dias de hoje, penso que nem eles, que até costumam ter prazer em discriminar algumas pessoas da sua idade (acham divertido), se vão rir com a vida da personagem que nem alvo de chacota consegue ser por outras personagens ou pelo público da série. Tomoko tem dificuldade em dar a entender que gosta de socializar e, como se não bastasse, todas as suas tentativas de mudar isso não têm sucesso.
Avançando agora para outros parâmetros, como de certa forma já deu para entender, WATAMOTE não apresenta propriamente um enredo, um fio de história, uma vez que todos os episódios se centram nas tentativas da protagonista em mudar o rumo da sua vida. Ideia, aplicação da ideia, resultados obtidos: assim se pode definir a estrutura dos doze capítulos que compõem este anime.
Quanto à banda sonora, esta passa completamente despercebida com o avançar dos episódios. Em termos musicais, só mesmo de salientar a música do Opening que até é algo agradável.
Voltando ao assunto principal da história, ou seja, à exclusão social de que Kuroki é alvo, convém referir que esta situação não é apenas realçada pelo problema em si, como também pela forma como os produtores da série decidiram construir os ambientes que rodeiam a personagem e os efeitos que por vezes aplicam no seu corpo. Os tons negros e cinzentos são uma constante, o que só vem prejudicar ainda mais o suposto divertimento que algumas das cenas deviam proporcionar em nós, espetadores.
WATAMOTE – As Personagens
À semelhança do número de episódios, também o elenco é extremamente curto, mais ainda do que o habitual. A destacar aqui, só mesmo Tomoko, Yuu Naruse e Tomoki Kuroki.
Para além de tudo o que já foi dito sobre a protagonista, de acrescentar o outro lado da sua vida, isto é, o vício que tem por jogos de computador/consola. A jovem passa muito do seu tempo livre fechada em casa a jogar ou a ver televisão, uma consequência do problema social de que é alvo, pois é normal perder a vontade de sair à rua e fazer novos amigos dada a falta deles. Os convites para isso também são quase inexistentes.
Yuu Naruse, grande amiga de Tomoko, vive uma situação bastante diferente. Parece-me correto afirmar que tal se deve, acima de tudo, à sua beleza exterior, como a própria Kuroki está sempre a dizer para si mesma. Naruse surge muitas vezes em cena para ser questionada por Tomoko sobre os problemas diários e as mudanças efetuadas na sua vida. Em grande parte dos casos, as respostas dadas são totalmente inesperadas, deixando Kuroki sem qualquer hipótese de obter ajuda por parte da amiga.
Tomoki Kuroki é o irmão mais novo de Tomoko e aquele que em casa lida com os problemas da irmã. Se ao falar com Yuu, a conversa fica muitas vezes a meio, com Tomoki estas costumam ir mais longe, ainda que o rapaz nem sempre consiga ajudar a irmã. Apesar de mais novo, as suas atitudes e comportamentos fazem-no parecer o mais velho dos irmãos. Sem dúvida alguma que a sua popularidade também é bem maior que a da irmã.
WATAMOTE – Juízo Final
Em suma, se se quiserem sensibilizar com aquilo que sofre uma jovem vítima de exclusão social, esta série poderá ser de alguma utilidade para vocês, caros leitores. Por outro lado, se como acontece na maioria dos animes, procuram aqui encontrar algum divertimento e passar um bom bocado, então descartem de imediato WATAMOTE, pois está longe de ter esse perfil, quando se calhar até era o pretendido.
A não ser a razão apontada em cima, não vejo qualquer outra para darem uma oportunidade a esta produção que, noutro sentido, apenas se vai tornar aborrecida e enfadonha, ficando vocês à espera de ver o tempo passar. A não ser que encontrem a tal vertente cómica que eu tive dificuldade em “descortinar”. Mesmo ao nível das personagens, não há nenhuma capaz de vos suscitar interesse e de vos dar vontade de querer ver como se vai comportar a seguir, até porque Tomoko é o foco principal em quase todos os segundos de história.
Sem mais nada a acrescentar, segue-se o trailer da série. Independentemente de discordarem ou concordarem com a análise/opinião aqui apresentada, caso já tenham visto WATAMOTE então não deixem de partilhar a vossa opinião sobre a obra.
WATAMOTE – Trailer
Análises
WATAMOTE
Uma série desenvolvida com o intuito de divertir, mas cujo carácter que possui torna-a a muito difícil de ser encarada por essa perspectiva.
Os Pros
- A sensibilização (não intencionada) para o sofrimento que assola alguns jovens durante a sua adolescência.
Os Contras
- O ambiente (supostamente) cómico é totalmente aniquilado, quer pelo que acontece na vida Tomoko Kuroki, quer pelos ambientes demasiado escuros e carregados que compõem boa parte das cenas.
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