Há muito que queria escrever sobre BEASTARS. E, embora a minha intenção fosse falar da obra como um todo, focando-me inicialmente no manga fantástico que Paru Itagaki escreveu, a verdade é que o tempo foi passando e as palavras que queria transmitir foram ficando trancadas nos recantos da minha mente, toldadas por tudo o resto que compõe a vida.
Ainda assim li avidamente o manga até ao seu bonito final e, mesmo que queira falar sobre ele num artigo ou formato mais apropriado, decidi aproveitar o facto do regresso da adaptação anime coincidir com o início do novo ano para abordar BEASTARS semanalmente através de opiniões episódicas.
É estranho falar sobre a segunda temporada antes de falar sobre a sua maravilhosa antecessora? Um bocado. Mas, não está esquecida. Findadas estas opiniões semanais, tenciono “re-devorar” toda a primeira temporada e rasgá-la de elogios no artigo que tanto merece.
Posto isto e antes de avançarmos para a opinião ao episódio 1 desta nova temporada, quero só deixar uma pequena nota sobre como estes artigos serão elaborados:
- Dado já ter lido todo o manga, seria muito complicado fingir surpresa nos acontecimentos narrativos desta e, espero, subsequentes temporadas. Por isso, para tentar chamar-vos para o mundo de BEASTARS poderei recorrer a aspectos mais técnicos ou de representação e não tanto a “especulações narrativas” ou “para onde se encaminha a personagem X”.
Os próximos “capítulos” não terão uma introdução tão fastidiosa, prometo. Vamos então falar do 1.º episódio da 2.ª temporada, ou melhor, o 13º episódio geral de BEASTARS?
BEASTARS 2.ª Temporada – EP1 | Opinião
O Lobo e Eu
Apesar de há muito ansiar poder escrever sobre BEASTARS, essa ânsia é acompanhada de uma imensa pressão para escrever de forma a fazer jus à obra. A sensação esmagadora de responsabilidade sobre mim, intensifica a minha insegurança natural e limita-me o discurso e a capacidade de pensar com clareza. Felizmente, tratando-se de BEASTARS, não estou sozinho. Se há alguém que me pode entender e espelhar a minha forma de sentir e pensar é o Legosi.
Aliás, esse foi um dos maiores atrativos da obra, a ligação quase instantânea com o nosso protagonista que tanto pensa, tanto se debate com o que deve fazer ou não, e tanto agoniza com a sua acção e inação. Curioso é que muito da sua forma de ser vem da própria criadora do manga, Paru Itagaki. Ela projectou parte de si no Legosi e, agora, eu vejo nele o meu reflexo.
E como está isto ligado ao episódio em si? Bom, tal como eu me sinto perdido em pensamentos sobre como devo conduzir esta opinião, também o Legosi está perdido em pensamentos sobre que caminho seguir para “ficar mais forte”, tal como ele prometeu a Haru e, falando nela, está igualmente perdido por não entender em que ponto está a relação.
Legosi: “Where is my Mind”
Aproveitando que toquei no ponto da relação, vou já saltar para a cena do Legosi e da Haru nas escadas externas da academia. Parecendo que não, a ternurenta cena diz muito sobre o estado atual da relação e sobre o ponto de vista de cada um. Temos uma Haru com receio de expor a sua relação em “campo aberto” devido a todas as complicações que daí adviriam. Ela já está a levar com mais bocas por causa dos rumores de ter passado a noite com um lobo, se eles expusessem abertamente a sua relação, o bullying seria pior e de uma pressão insustentável.
Se se lembram da primeira temporada, a Haru dava a outra face perante o assédio que sofria, dando até respostas a altura. Mas aqui, eu creio, seria diferente, porque o bullying deixaria de a afectar apenas a ela, e afectaria também alguém do qual ela gosta muito: Legosi.
Mas o nosso aluado lobo está totalmente à nora, de tal forma que nem pensou que o motivo dos seus encontros às escondidas fosse esse, já que ele quer simplesmente estar com ela, provavelmente nem se apercebendo dos demais. Assim que ela levanta o assunto para lhe explicar, ele fica ansioso por protegê-la e ouve o que ela diz, mas parece nem se aperceber das carícias que ela imediata e naturalmente faz para o sossegar. É por isso que quando está sozinho na cena seguinte, está totalmente desnorteado porque não entende se eles andam ou não. Ai Legosi, Legosi…
Eu sei o que é ter a cabeça sempre a mil e a “mastigar” tudo, mas moço, chill e abre bem esses olhos! “Não sejas como eu”, dizia eu para mim, e ele vai e sublinha a sua inação desde que prometeu à Haru “ficar mais forte”. Eu nunca fiz tal ousada promessa shonen-style a ninguém, mas sei bem o que é definir um objectivo, fazer uma promessa e ver os dias serem engolidos por inação, seja por não saber como proceder (que é o caso do Legosi), seja por insegurança paralisante.
É por isso que o Legosi é a companhia perfeita para mim e, se por vezes te sentes assim, também a será para ti. Recomendo que atentes bem na jornada dele, porque o amadurecimento de Legosi poderá dar a perspectiva que falta para desbloqueares pensamentos e sentimentos que te prendam na tua própria mente. (Ignorem é as questões exclusivas a lobo, a menos que sejam lobisomens, claro…)
Deixando de lado a psicologia e voltando ao anime, a narrativa serve-se desta estagnação de Legosi e do novo rumo de Juno e Louis para, em conjunto com o Enredo A do episódio – a “assombração” do local onde Tem foi morto, o “monstro dos seis olhos” e o som que apenas Legosi parece ouvir – apresentar “sorrateiramente” o arc desta temporada (o qual se tornará mais aparente em posteriores episódios).
Em termos da “assombração” pouco há a dizer que o episódio não mostre, sem spoilar o que claramente é uma revelação para o 2.º episódio. Sobre o novo rumo das personagens que referi e como isso se intersecta com o caminho de Legosi nesta temporada, já posso dizer algo mais.
Louis, o Rei Caído
Primeiro, Louis. A nossa última imagem dele no episódio 12 foi no “quartel-general” dos Shishigumi após rebentar os miolos do seu líder. Dado como desaparecido durante dois meses, Louis simplesmente aparece, entrega uma carta de “demissão” do clube de drama e deixa Legosi com as enigmáticas palavras:
Parece que a escuridão e luz trocaram de posição, Legosi. Dá o teu melhor para sobreviver sob a luz difusa.
Louis está claramente a olhar para um horizonte completamente diferente daquele que o impelia na primeira temporada, um horizonte que está obviamente ligado ao seu paradeiro dos últimos meses e à forma como saiu vivo do “covil dos leões”. Quando fala na luz difusa, refere-se claramente ao percurso para ser BEASTAR, via popularidade, sob os holofotes no ambiente protegido da Cherryton Academy. Quando fala na escuridão e luz, penso ter a ver com o facto de, no “mundo real”, estar agora a seguir um percurso mais questionável, mas mais significativo, que aquele que tentou seguir na escola, sob todas as suas máscaras. O caminho “pelo lado negro” também pode estar associado ao seu tenebroso passado, o qual sempre o assombrou e veio ao de cima na primeira temporada.
A troca de posições que ele refere, penso que está ligada simplesmente ao facto do seu novo rumo despertar nele algo mais “negro” que toda a arrojada e predatória postura que Legosi mostrou a espaços na primeira temporada, à medida que ia cimentando os seus sentimentos pela Haru e sobre as relações carnívoros-herbívoros.
Veremos certamente o que Louis anda a fazer e como chegou ate aí nos próximos capítulos. Saberemos também se o que estou a dizer tem fundamento ou é apenas palha. xD
Juno, o holofote chama por ti:
Sob o holofote surge agora, e claramente em boa posição para ser proposta a BEASTAR, a carnívora Juno.
Esta, com uma performance sentida e apaixonante no Meteor Festival (episódio 12), conseguiu de certa forma aproximar mais herbívoros e carnívoros. Tal foi conseguido ao afirmativamente expressar-se enquanto ser carnívoro (basicamente o oposto de Legosi). Primeiro, através da dança, exibindo sem pudor a sua fisionomia dominante e, depois, através do discurso no qual chama Legosi ao palco, sublinhando a sua coragem como carnívoro, ao arriscar a vida para salvar um estudante herbívoro (a Haru).
No presente episódio, Legosi presencia não apenas a retirada de Louis para “um caminho de escuridão”, como é testemunha da subida de Juno ao patamar previamente ocupado pelo confiante herbívoro. É isso que dá aso à sua reflexão enquanto limpa a casa de banho perto do final do episódio. Depois de matutar, chega à conclusão que qualquer reservado que quer fazer a diferença chegaria e, claro, está errada: será que o melhor que eu posso fazer é não fazer nada?
Mas, brilhantemente, o anime pontua a chegada a esta conclusão com o misterioso som que ele tem ouvido durante todo o episódio. Som este que serve quase como um canto de sereia, um canto que o levará por um caminho de ação, por um caminho onde conseguirá ficar genuinamente mais forte e de várias maneiras.
BEASTARS 2.ª Temporada – EP1 | A Magia prá lá da Cortina
É com grande felicidade que constatei que, com o regresso do anime, vieram também todos os aspectos técnicos que tão feliz e comovido me deixaram na primeira temporada. O fantástico elenco vocal e a apaixonada equipa de produção no estúdio Orange voltaram com tudo e, do ponto de vista visual, interpretativo e auditivo, o anime está top tier!
Sei que uma animação 2.5D não é para toda a gente. Sei que a ausência do tão adorado sakuga muitas vezes é motivo para não elevar a animação de um anime ao patamar dos “deuses”, mas a animação é mais do que fluidez. Não me vou alongar aqui, já que o prefiro fazer na análise à primeira temporada ,mas digamos que há um motivo muito forte pelo qual os movimentos das personagens parecem tão naturais, e tal só seria possível nesta escala usando CG e ao mais alto nível, por pessoas na vanguarda e apaixonadas pelo material fonte.
A outra componente que está de mãos dadas com essa movimentação, é a interpretação vocal. Deve ser o anime no qual menos sinto que exista um guião, tal a, peço desculpa a repetição, naturalidade com que as falas são proferidas. Parecem personagens reais a terem conversas reais. Algo que também só é possível graças a uma gravação de áudio peculiar, mas que encaixa que nem uma luva na obra de Paru Itagaki.
Já que estamos no assunto áudio, dois apontamentos: banda sonora e opening. A banda sonora continua bela, bela, bela… excepto quando tem que adensar e escurecer, ficando atmosfericamente brilhante. Quanto ao opening, tanto o tema musical pelo duo YOASOBI, “Kaibusu” (“Monstro”), como a fenomenal componente visual – cujo MV oficial até apresenta arte de Itagaki-sensei – já o colocaram pregado no meu coração e cabeça (alerta earworm). E, embora de uma maneira completamente diferente do genial da primeira temporada, este OP é mais uma prova de que os envolvidos estão profundamente envolvidos em BEASTARS, já que nem nos temas de abertura se descuram.
- Opening:
- MV Oficial:
Diz que são uma espécie de Considerações Finais:
Em jeito de despedida, deixem-me dizer-vos que estou completamente ciente de que esta opinião já vem com algum atraso. Mas é mesmo complicado para mim verbalizar o que eu vejo em BEASTARS e nada me daria mais alegria que saber que, de alguma forma, as minhas palavras vos despertaram o interesse de ver a série ou ler o manga.
Mas, agora que consegui finalizar a opinião do 13.º episódio, sinto que as subsequentes sairão a um ritmo mais atempado. Fiquem atentos, sobretudo porque no episódio 14º (ou 2º da 2.ª temporada) as engrenagens do enredo começam a mover-se e teremos sem dúvida muito para falar.
Espero que tenham gostado e até já!
Fanboy Zone:
- Pseudo chuva de estrelas e chill com a malta:
- Um gesto vale mais que mil palavras:
- Legosi Wick:
- Oh shit! Que raio é aquilo? (digo eu fingindo não saber e contendo-me para fazer a piada potteriana mais óbvia de sempre)