E ei-lo, o arc central da 2.ª temporada de BEASTARS: a resolução do “animalicídio” de Tem. Está na altura de nos juntar-mos ao Legosi e jogar uma espécie de Cluedo com os carnívoros da Cherryton Academy!
A somar a isto, nesta opinião temos, obviamente, que tocar na nova adição ao roster de personagens e, agora que foi mostrado, no que raio anda o Louis a fazer fora da escola – caminho tenebroso indeed!
BEASTARS 2.ª Temporada – EP2 | Opinião
Directores Assemble: A importância de um(a) BEASTAR!
O episódio arranca logo com uma espécie de “reunião para decidir o futuro do mundo”, que parece saída dos filmes/séries/histórias. Não está muito longe da verdade, mas aqui a decisão em mãos tem implicações mais subtis que a decisão de reunir os Avengers, aprovar bombardeamentos ou iniciar evacuações em massa.
A reunião dos directores das várias escolas deste “mundo narrativo”, e em particular esta que conta com gente na galeria, traz para cima da mesa a nomeação de um BEASTAR. Confesso que não estou completamente ciente dos detalhes, se é que alguns, que a primeira temporada abordou sobre o que é um BEASTAR. E, longe de mim estragar qualquer secção da obra, mas achei que seria bom, até para contextualizar o fantástico discurso do Director da Cherryton Academy, falar sobre o que é um BEASTAR, ou o seu papel nesta sociedade “animal”.
Chamar ao anime escolhido como BEASTAR de herói, seria extremamente redutor do que é de facto o seu papel. Acaba por ser um termo aludido na obra e até usado neste episódio pelos dois directores em debate, porque reúne as características mais gerais do que seria um símbolo para a população, facilitando assim o entendimento dos jovens leitores – o público alvo da revista na qual a Itagaki-sensei conseguiu publicar a sua história.
Mas, mais do que actos de heroísmo (e esses também existem), a figura do/da BEASTAR existe para dar coesão e estabilidade ao mundo. Tem que ser uma figura que, embora se encontre no lado carnívoro ou herbívoro da barricada (em termos latos) consiga “escutar” o outro lado, entender as suas preocupações e, através das suas acções, apaziguar uma sociedade que tem imensos instintos inerentes a borbulhar por debaixo das “máscaras” da convivência entre espécies.
Obviamente, colocar um único animal nesta posição pressupõe que seja alguém com características muito particulares, maduros e com um “estofo” que permita arcar com tamanha responsabilidade. Daí a grande resistência do Director Gon em pressionar o Louis a regressar à escola. Nós, enquanto espectadores/leitores, estamos a par do estado mental e da jornada para a maturidade que o Louis está a levar e somar a isso a pressão de ser um BEASTAR, um símbolo de uma sociedade que ele agora vê como insincera, seria receita para o desastre. E quem fala no Louis fala nos restantes animais da sua faixa etária, que têm que lidar, simultaneamente, com as mudanças que a adolescência traz à sua psique, às quais se acrescentam a evolução dos instintos de cada tipo de animal que comportam uma dura jornada para aprender a lidar com eles (algo que estará em destaque também nesta temporada).
Espero ter-me conseguido explicar e até ter demonstrado que a cena introdutória do episódio, aparentemente uma reunião proforma, se reveste de contornos bastante interessantes, mesmo que várias destas coisas só se tornem evidentes posteriormente.
Rokume: uma nova personagem com uma alma “familiar”
Agora que a segurança da Cherryton Academy apareceu em todo o seu esplendor, já posso fazer as referências que ardentemente queria fazer na opinião ao primeiro episódio da nova temporada. Digam-me lá Potterheads a ver BEASTARS, assistir ao Legosi a ouvir sons pelas paredes e sabendo agora que a Rokume é uma cobra gigante, não vos dá grandes vibes de Harry Potter e a Câmara dos Segredos? Não? Foi só a mim? Sendo duas obras que adoro, posso estar a ver coisas onde elas não estão.
Mas bem, Rokume, que introdução marcante não acharam? Além da sua presença imponente, gosto de como a Itagaki-sensei se serviu do que seria uma natural insegurança com o corpo, para colocar esta personagem a operar nas sombras até esta ser necessária para a narrativa, sem que a sua ausência até então seja questionada.
Pode-se dizer que ela entra para desencadear os eventos do arc da presente temporada e não é nada de admirar que ela mantenha o Legosi debaixo de olho. É um lobo “diferente” que aparenta ter um fascínio por uma coelha anã e pertencia ao mesmo clube escolar da vítima mortal do crime hediondo que lhe compete resolver. Claro que à primeira vista ele lhe pareça candidato óbvio a suspeito número #1, mas a sua performance na peça de teatro despertou nela uma curiosidade particular no potencial latente do nosso Legosi.
Ainda assim, o que a compele a recrutá-lo para desvendar o mistério da morte de Tem, é a pura empatia de Legosi relativamente aos “problemas das cobras” e a sua genuína curiosidade com o seu corpo escamado – sem spoilar, a questão do corpo escamado, não da Rokume, é uma nota interessante para algo posterior nesta obra :P). Legosi is a sweet wolf boy!
Mas, às tantas, estou eu hipnotizado a ouvir a Rokume a falar (estilo Kaa em O Livro da Selva), e a sua voz e entoação começa-me a soar estranhamente familiar. Pauso o episódio, vou ao MyAnimeList e constato, com triunfo e genuína alegria, que o seiyuu que dá voz à grande cascavel, deu voz anos antes a outra grande “cobra” do mundo anime: OROCHIMARU!
Ri-me claro, e não tardei em traçar paralelismos entre as duas personagens e onde esbarrei eu? Então se a Rokume está a galar o Legosi, fascinada com o seu potencial e a encorajá-lo a “desbloqueá-lo”, isso não faz do nosso lobo uma espécie de Sasuke? Pobre Legosi, mas achei a associação tão coincidente que tenho que a partilhar com vocês!
Mas eu vejo referências em todo o lado?! Legosi e Nicholas Cage
A diferença que um episódio faz. Se antes naquele mesmo dia Legosi ponderava um caminho de inação, agora está a dar os primeiros passos naquele que será o real percurso para “ficar mais forte” de maneira a entender/controlar os seus impulsos e poder ser com Haru um perfeito exemplo da coexistência entre carnívoros e herbívoros. O caminho será ainda longo e tortuoso e a resolução do caso do Tem será já uma grande provação!
Mas, tal como Legosi “diz”, chegou a altura dele “se responsabilizar pela sua própria força” ou, mais simples ainda, tal como Nicholas Cage disse enquanto Ben Gates no filme National Treasure:
Se existe algo errado, aqueles que têm a capacidade para agir, têm a responsabilidade de agir.
Foi muito bom vê-lo dar esse passo de sinceridade para consigo mesmo e para com o Louis-senpai (algo mesmo importante para o Legosi). A recompensa por esse passo é a pista que a Rokume lhe dá, a qual eu confirmo tratar-se mesmo de uma pista!
Mas tudo isto foi o culimar do episódio e quis logo começar por esta parte para abordar o “elefante na secção” que foi o subtítulo que eu dei!
Bem antes disso, temos um primeiro encontro entre o Legosi e a Rokume que resulta na proposta dela para que ele vista o “casaco de inspector”. E, tal como falei brevemente acima, nesse primeiro encontro vemos o nosso protagonista passar de suspeito a espécime com futuro ilimitado graças a ele ser o good boy que ele é! Ele “conquista” a Rokume com sua personalidade naturalmente sincera, empática e gentil e a sua postura desprovida de segundas intenções (atentem na cena em que ele interrompe a grande cobra para tirar a roupa da máquina, porque senão ficaria a cheira mal).
Depois disto, vemos a sua nervosa, mas engraçadíssima tentativa de ser um verdadeiro investigador, de bloco de notas em punho, a tentar conversar/questionar com um alpaca rodeado pelo seu rebanho de amigos. Tu tentaste Legosi.
E que dizer do canguru pervertido? Pondo de lado tudo o que levou até ali, foi extremamente satisfatório ver o Legosi a aplicar o treino que o Gouhin-san lhe deu! A pouco e pouco, o “corpo estudantil” começa a ver o nosso wolf boy como os seus amigos e nós, espectadores, o vemos, e isso deixa-me com um sorriso nos lábios.
Louis: Verdade na Escuridão
Eu bem dizia que o caminho era negro, mas quantos de vocês esperam ver o Louis a liderar os Shishigumi? Mais detalhes serão revelados com o tempo, mas o que o levou a enveredar por tal caminho parece claro e tem pistas que remontam à primeira temporada.
Tentando fugir do horrível passado, tendo fugir de ser uma “presa”, Louis tudo fez para ser o modelo perfeito a seguir, um modelo de força capaz de “dominar” até mesmo os carnívoros que rodeiam. Claro que vimos toda essa máscara e crença cair por terra de forma bem clara na primeira temporada. Daí as suas discussões com Legosi, cuja rejeição da sua própria natureza de animal naturalmente dominante, eram como uma facada para Louis que ativamente lutava para não ser mais uma presa.
Daí também o pedido de desculpas que está no ramo que deixou ao Tem. Sente-se culpado pela morte do alpaca, não por ser diretamente responsável, mas porque sentia que era seu dever manter seguros todos os que o rodeiam, sobretudo no clube de drama, e lhe faltou a verdadeira força para isso.
Fast forward para o 12.º episódio de BEASTARS e vemos um Louis desesperado e com um claro desejo de morte, a regressar ao local que é sinónimo com os seus pesadelos, e a ser, pela primeira vez (e pensaria ele a última), forte, ao rebentar os miolos ao líder dos Shishigumi.
Ainda sem detalhes de como ficou o líder, o facto dele assumir o papel sem qualquer hesitação, mesmo dentro de uma loja de carne de veado (daaaaamn!), são a prova do seu renascimento! Ele será um vencedor, ele é um vencedor, ele não vai fechar os olhos à verdade mais tenebrosa daquele mundo, ele não será engolido (figurativa e literalmente). E, fogo, ele parece mesmo alto boss da mafia naquele fato! Será que este caminho tem todas as respostas que ele precisa? A ver vamos, mas tal como com Legosi na investigação o caso da morte de Tem, esta temporada será igualmente marcante para o Louis-senpai. Fiquem atentos!
BEASTARS 2.ª Temporada – EP2 | A Magia prá lá da Cortina
E sim, eu sei que um GIF optimizado não faz justiça à mestria aqui presente!
Neste ponto não me vou alongar: tudo o que elogiei para o episódio 1, mantém-se para este episódio. Ainda assim, a somar aos rasgados elogios que dei anteriormente, tenho algumas coisa a acrescentar:
♥ A adição de mais uma curiosa personagem com uma aliciante performance vocal – Rokume – a um elenco que não sabe o que é uma má performance e que tem à cabeça as imperdíveis atuações de Chikahiro Kobayashi enquanto Legosi, Yuuki Ono enquanto Louis e Sayaka Senbongi enquanto Haru.
♥ Notei ainda, e pode ser apenas sensação minha, que a animação pelo estúdio Orange está ainda melhor que na primeira temporada. O que eu percebo de animação é pouco, e pior é a minha capacidade de expressão, mas acho mesmo que os membros do staff aprimoraram a animação vanguardista que empregaram na temporada passada e este episódio tem vários momentos que, para mim, são prova disso mesmo.
Termino este ponto reafirmando o meu profundo agradecimento a todos os envolvidos que estão a tornar possível esta maravilhosa adaptação da obra de Itagaki-sensei.
Diz que são uma espécie de Considerações Finais:
Com a narrativa da nova temporada a dar uns decisivos primeiros passos e mantendo o nível de bagagem emocional que eu já trazia do manga e da temporada passada, é caso para dizer que este segundo episódio mantém a adaptação no trilho ideal. Ao mesmo tempo, aqui e ali, vai polindo e encerando aspectos do anime que só me apercebo após uma cuidada introspecção do porquê me sentir impactado de forma ligeiramente diferente.
Espero que não seja uma experiência única, mas atentem, por exemplo, na sequência final do episódio, quando o Louis deixa o “talho” e prossegue no seu veículo. A confluência de elementos nessa cena, como a banda sonora, fotografia, iluminação, coloração e atuação vocal, deixaram-me a pensar, aquando da primeira visualização: uau, que cena cool. Louis tá feito um yakuza boss!. Mas, desde então não parei de pensar na cena e na forma como o cuidado especial do staff para com ela é que proporcionou esse sentimento visceral de espectador bem satisfeito.
Sinto que dei uma volta um bocado grande para dizer: BEASTARS continua fantástico. Quer narrativamente, quer tecnicamente, continua a ser uma experiência pela qual aguardo com o maior prazer semana após semana e desejo, do fundo do meu coração, que os animadores e responsáveis pelo anime estejam a divertir-se tanto a fazê-lo, como eu a assisti-lo.
Venha o episódio 3!
Fanboy Zone:
- Prioridades não é Legosi? xD
- Um meme que se faz sozinho: um canguru que pratica boxe:
- Isto é, literalmente, a minha ideia do cenário perfeito para mergulhar na leitura:
- Este segmento, nesta perspectiva, com a voz do Louis e a banda sonora por tás… ó, daqui! (vocês sabem o gesto):