Cardfight!! Vanguard é, acima de tudo, um anime que visa promover o TCG (Trading Card Game) com o mesmo nome. Esta produção, assim como o manga, surgiram menos de um ano depois do lançamento das primeiras cartas reais do jogo, com tudo a acontecer entre inícios de 2010 e 2011. Com desenvolvimento no estúdio TMS Entertainment, a série, segundo o meu olhar, tem vida, tanto dentro do jogo como fora dele, embora não deixe de apresentar várias lacunas. Para além disso, sensivelmente a meio da trama, a introdução de um novo conceito no enredo resulta em grandes transformações na história que, provavelmente, não serão do agrado de todos os que até então tinham sido conquistados. Mais pormenores? Não sem antes dizer a frase com que se começa qualquer duelo: Stand Up! The Vanguard!
O público alvo de Cardfight!! Vanguard
A meu ver, é adequado começar esta análise por falar nos dois tipos de público a quem esta obra mais facilmente consegue apelar.
Invariavelmente, o primeiro é o grupo que inclui os aficionados pelos TCGs. De jogadores assíduos aos meramente colecionadores de cartas, dos dedicados a um só jogo aos que andam à procura de um novo TCG para experimentar, de dizer que esta produção é uma excelente porta de entrada para o universo real de Cardfight!! Vanguard, nem que seja só para matar a curiosidade sobre o produto em questão.
De facto, é notório o trabalho cuidado nos primeiros episódios, os quais são sobretudo dedicados a explicar as regras e diferentes situações de jogo, através da realização de vários duelos, evitando assim uma “tempestade de informação” num único jogo ou capítulo. Mas não é tudo! Embora os duelos se passem numa realidade alternativa, a série não alinha, pelo menos na sua primeira metade, em ideias místicas ou conceitos paranormais. As personagens, têm vidas semelhantes às nossas, cada uma com os seus problemas e com as suas carreiras académicas ou profissionais, sendo que Vanguard é apenas o desporto em evidência nesta história, havendo torneios e jogos “a feijões” entre amigos, bem como Campeonatos Regionais e Nacionais de Cardfight!! Vanguard. Desta forma, quem ficar fã do jogo, pode tirar proveito de todo este tempo dedicado ao produto da Bushiroad.
O segundo tipo de público, e olhando agora para o que esta produção oferece fora dos duelos, é o grupo que alberga adolescentes e faixas etárias inferiores. Com isto não quero dizer que a história vai desagradar ou aborrecer os mais velhos. Simplesmente, falta ao enredo a capacidade de surpreender este tipo de espectador, dada a ausência de uma maior complexidade que absorva por completo a nossa atenção. Por outro lado, o dito cujo capricha em algumas coisas mais simples que os mais velhos por vezes esquecem e que é bom lembrar.
A completar o parágrafo anterior, além da história me parecer mais atraente e emotiva para os mais novos, as personagens também apontam nesse sentido, tendo em conta que a sua grande maioria ainda está longe da idade adulta. Na verdade, cativar os mais novos parece-me relativamente fácil em Cardfight!! Vanguard, tendo em conta a riqueza de personalidades que podemos encontrar nas personagens principais desta história, bem como os problemas e as dificuldades que elas enfrentam e que nós próprios reconhecemos. Resultado? Torna-se mais fácil o adepto identificar-se com alguém do elenco e, como consequência, acompanhar a série para ver como a personagem vai ultrapassar essa barreira.
Uma mudança de rumo chamada PSYqualia
Desta forma, com uma história simples mas minimamente agradável para qualquer tipo de público, e com duelos de Vanguard bastante apelativos, a série consegue manter-se num nível de qualidade mais do que satisfatório para o seu público alvo.
Até certa altura! Sensivelmente a meio da série, com o aparecimento daquele a que podemos chamar o “vilão” da história, um conceito obscuro começa a ser desvendado e a tomar conta de boa parte do tempo de transmissão. Um poder de nome “PSYqualia”, que assume o controlo de algumas personagens e faz a história ganhar contornos surreais e de adivinhação. A meu ver, este foi um risco desnecessário que a produção correu. Não tenho informação suficiente para avaliar resultados, mas arrisco dizer que esta decisão originou mais perdas do que ganhos.
Da minha parte, embora não tenha ficado agradado com essa mudança, o interesse pelo jogo (por ver novas cartas e estratégias) não me fez desistir da produção, como aconteceu por exemplo com sequelas de Yu-Gi-Oh!. Por outro lado, preferia que a história tivesse seguido o rumo de uma “vida normal”, com a direferença de ser Cardfight!! Vanguard a ter toda a atenção que, por exemplo, o futebol tem na sociedade ocidental actual. Até porque tinha mais do que material para isso.
Cardfight!! Vanguard – O Jogo
Apesar de não ter uma grande experiência em TCGs, sinto-me capaz de falar um pouco sobre o jogo em si, com base no que vi e descobri a ver este anime e a jogar esta primeira versão de Vanguard que, posteriormente, já apresentou algumas variantes.
Este é um jogo de cartas bastante sólido e equilibrado. Quero dizer: é muito improvável que um jogador perca um duelo rapidamente, independentemente das cartas que lhe saiam nos primeiros turnos. Mesmo podendo ficar condicionado para os seguintes, regra geral, e na pior das hipóteses, terá uma boa capacidade de se defender. O equilíbrio supra referido deve-se também a uma boa distribuição de forças entre aquilo que são as decisões do jogador e as cartas que lhe saem durante as batalhas e que podem alterar o desfecho do encontro.
Outro ponto digno de referência é a grande variedade de clãs existentes que, por sua vez, permitem construir baralhos exclusivamente dedicados a um só clã. Cada clã tem uma maneira específica de derrubar o adversário, estilo esse que pode (ou não) encaixar naquele que já é próprio da personalidade do jogador. Mas há mais! Clãs para todos os gostos. Dragões, robôs, divas, anjos, cavaleiros, zombies, demónios, dinossauros, enfim, uma panóplia de seres capaz de agradar a gregos e a troianos (entenda-se: das crianças aos mais idosos, de mulheres a homens, todos conseguirão encontrar pelo menos um clã que os fascine).
Ironicamente, esta consistência do jogo também terá causado algumas dores de cabeça aos responsáveis do anime. Como esta característica impossibilita a existência de duelos com a duração de escassos minutos, a produção optou por, em alguns combates, saltar de imediato para meio de alguns duelos. Aos meus olhos, esta não foi uma má estratégia. No entanto, envolveu algumas más decisões. Especialmente durante a segunda metade do anime, alguns encontros foram parcial ou totalmente ignorados quando não o deviam ter sido. Para não evitar spoilers, fico-me por aqui no que diz respeito a este assunto.
A componente visual (do TCG e do anime)
Mesmo sem influência directa nos jogos, o aspecto visual das cartas de Cardfight!! Vanguard é mais do que digno de ser aqui mencionado. Se ainda há pouco tempo afirmei ter grande apreciação pelo design das cartas de Yu Gi Oh!, depois de me integrar com Vanguard, os meus níveis de admiração estética de TCGs ascenderam a um patamar mais elevado. Grande parte das cartas são fascinantes neste aspecto, pelo menos aos meus olhos, não sendo por acaso que, de momento, sou mais coleccionador do que jogador.
Infelizmente, este grande trabalho dos artistas nas cartas físicas não teve seguimento no visual do anime e respectiva animação. Os duelos estão bem trabalhos, com as cartas a passarem no ecrã de uma forma agradável e que permite ao espectador acompanhar o duelo com facilidade. Infelizmente, pelo meio de tudo isto, verificam-se alguns momentos em que o visual e a animação estão longe do seu melhor. Isto ganha contornos mais sérios pelo facto dos desenhos das personagens e ambientes circundantes já serem, logo à partida, bastante simples (sem grandes detalhes).
Posto isto, e depois do forte elogio aos artistas das cartas, não será estranho dizer que prefiro ver os desenhos nas cartas em vez das suas projecções no ambiente virtual, salvo raras excepções. Contudo, penso que essa apreciação é resultado dos dois factores: do excelente trabalho desenvolvido nas cartas; e do escasso nível de detalhe e estilo artístico que se verifica nos ambientes do Planeta Cray (onde habitam as criaturas do jogo e ocorrem os combates de Cardfight!! Vanguard).
JAM Project e a banda sonora
Se a componente visual revela dificuldades em manter-se num patamar satisfatório, o mesmo não se pode dizer da parte musical. A banda sonora surge sintonizada com os diferentes momentos que compõem cada episódio, não precisando para isso de ser exuberante. Até porque essa característica já está incluída nos dois openings que compõe o anime e que são protagonizados pela banda JAM Project. Com preferência pelo segundo vídeo de abertura, a verdade é que fiquei fã de ambos, os quais trazem uma maior dose de entusiasmo ao começo de cada capítulo, e até nos escassos momentos em que tocam dentro deles.
Em contraste, os endings (que são 5) apostam noutros grupos musicais e adoptam uma postura muito mais calma. À excepção de um ou outro, os seus visuais também não apresentam conteúdo propriamente cativante, pelo que tornam-se de alguma forma dispensáveis (como se já não bastasse estarem no fim do episódio), convidando o espectador a dessintonizar-se mais cedo.
Juízo Final
Resumindo, esta primeira série de Cardfight!! Vanguard mostra-se capaz de atrair a atenção dos seus dois grandes tipos de público alvo, quanto mais não seja, pelo conteúdo apresentado nos primeiros 30-40 episódios. A partir daí, a produção envereda por um caminho mais arriscado na história, altura em que a qualidade da animação já confirmou a sua intermitência. Felizmente para os seus responsáveis, o jogo (TCG) é bom. Quando a mudança de rumo se dá, por essa altura já é difícil aos fãs desligarem-se da trama, quanto mais não seja para assistirem à introdução de novas cartas e a novos duelos.
Independentemente do que se passa na história, os duelos evitam ser repetitivos, os jogadores (personagens) apresentam uma evolução consistente à medida que ganham mais experiência no jogo, e, portanto, o nível de interesse nesta vertente mantêm-se sempre num bom nível.
Como resultado, esta produção da Bushiroad torna-se merecedora da nossa atenção, quanto mais não seja até conhecermos o produto aqui promovido e, por inerência, os contornos da história que funciona como veículo publicitário de Cardfight!! Vanguard.
Trailer
Análises
Cardfight!! Vanguard
Esta primeira série de Cardfight!! Vanguard oscila bastante no espectro da qualidade naquilo é a sua história e os aspectos técnicos que lhe dão vida. Por outro lado, tem a vantagem de promover um jogo TCG muito interessante e que, por si só, assegura os parâmetros mínimos de satisfação para uma produção deste género.
Os Pros
- O TCG
- A banda sonora
- Os openings
Os Contras
- A animação
- A mudança de rumo na história, sensivelmente a meio da transmissão