Cat Street | Análise Manga

Título: Cat Street
Autor: Yoko Kamio
Revista: Bessatsu Margaret
Editora: Shueisha
Géneros: Drama, Romance
Demografia: Shoujo

 

 

Cat Street | Enredo

Com um título bastante sugestivo, Cat Street apresenta-nos um conceito utópico e não muito original na literatura, sobre jovens que vivem à margem da sociedade. A protagonista é Keito Aoyama, de 16 anos, e é através da problemática sustentada pela mesma que o universo é-nos apresentado. Keito apresenta graves problemas de interação pessoal e uma notória depressão fruto de um “incidente” quando era ainda uma criança. Uma coincidência faz com que o seu caminho cruze com El Liston, uma escola gratuita e de entrada livre para jovens especiais que “não têm lugar para onde ir”.

 

 

– Cat Street e o contexto social japonês –

O Japão possui uma taxa bastante elevada de suicídios fruto da pressão escolar e bullying existente nas escolas japonesas. As mazelas provocadas pelo bullying (seja ele físico ou psicológico), levam à marginalização e abandono escolar de muitos jovens, que apesar de possuírem enormes capacidades e um potencial incalculável, ficam pelo caminho num mundo com que não sabem lidar.

E é aqui que entra a escola gratuita e de ensino livre El Liston. Numa primeira instância a escola é o motor da narrativa, conferindo movimento aos protagonistas e criando um ambiente de utopia que serve de plataforma para que a derradeira história seja desenvolvida.

 

 

Cat Street | As personagens

O pináculo da obra está na essência das personagens. A forma como se cruzam não foge ao cliché de mais um manga shoujo, no entanto, o cerne não está no como mas no que este conjunto tão peculiar de personagens consegue fazer. Realço a ideia, cada um possui os seus problemas sociais, ou seja, o que nos é apresentado é algo atípico, que ao longo da narrativa é contrastado com o “normal” da sociedade. Contudo, o normal da sociedade, o que ostracizou os quatro jovens não possui só pontos negativos, e é nesse ponto que a obra brilha: o demonstrar a realidade dos problemas e como devemos lidar com eles. Cat Street é como que um guia para jovens que sofrem/sofreram de bullying ou simplesmente não conseguem encontrar um lugar neste mundo, não possuem capacidades sociais que lhes permitam uma convivência “normal”.

 

 

– O romance –

Cat Street trata-se de um shoujo, e como tal não é de estranhar que o romance seja parte integrante do enredo. No entanto, o drama despoletado por este ponto não é o tema central da obra, é apenas mais um degrau na escadaria do crescimento e aceitação pessoal. Ainda assim, as relações amorosas de Cat Street são bastante doces e sobretudo bastante naturais, completamente enquadradas no universo da obra. O grande defeito reside na arquitetura com que esta é trabalhada a partir de certo momento.

A narrativa perde o foco sobre o objetivo primordial e concentra-se unicamente em torno deste tema, alterando de forma brusca e um pouco forçada o pináculo da história.

 

 

Cat Street | Ambiente

O design das personagens é claramente shoujo. Com um traço forte e faces muito redondas e “perfeitas”, as personagens femininas transpiram fragilidade, enquanto que os homens, com faces mais aguçadas e estruturas físicas bem desenvolvidas, esbanjam charme e masculinidade. É uma obra para jovens raparigas e não esconde o seu objetivo.

 

 

Ainda assim, torna-se agradável aos olhos de todos graças à harmonia entre cenário, personagens e narrativa. O cenário não é o ponto mais desenvolvido da obra, sendo o destaque deslocado para as personagens e suas expressões. O enredo é reafirmado pelas expressões das personagens, sendo o clímax atingido quando narrativa e ilustração colidem gloriosamente.

 

 

Cat Street | Juízo Final

A ligação que a obra tenta fomentar é conseguida com mais ou menos eficácia dependendo da empatia entre o leitor e as personagens. Não é uma obra leve em conteúdo dramático, apesar de utópica na sua essência, os temas que aborda são reais, e os sentimentos e problemas são expostos sem filtro.

A limitação emocional das personagens é um dos pontos que mais nos cativa, contudo, essa mesma limitação emocional pode aborrecer em certo ponto os espetadores não tão fãs a dramas adolescentes. Do ponto de vista narrativo tem as suas falhas, a partir de certo ponto tudo parece andar demasiado rápido e sem o enquadramento ideal, no entanto, do ponto de vista geral acredito que se mantenha acima da média.

Para quem gostar de obras que explorem o desenvolvimento pessoal de jovens até à idade adulta, como Honey and Clover, acredito que vá gostar desta obra (apesar de estar muito aquém do nível de Honey and Clover).