[blockquote align=”none” author=””]O difícil não é chegar ao topo, mas por lá permanecer.[/blockquote]
Nas duas primeiras temporadas de Chihayafuru, os jogos de Karuta e as relações entre personagens apresentaram desenvolvimentos paulatinos, mas extremamente consistentes. Aliados ao trabalho de produção top-notch, a série atingiu rapidamente um patamar de excelência, mesmo sem criar um grande hype entre os fãs de Anime.
No entanto, 50 episódios foi tempo suficiente para explorar ambas as situações e perder-se o “efeito novidade” da trama. Quando uma franquia atinge este ponto, fica difícil continuar a surpreender o espectador. A “simples” manutenção da qualidade pode já não ser suficiente. A grande barreira diante de Chihayafuru 3 era precisamente esta. Ou seja, com a mesma consistência do passado, conseguir ir ainda mais longe. Sem dúvida que o conseguiu!
O verdadeiro desabrochar de Chihayafuru
Como disse, muitos minutes de qualidade circularam por esta franquia, nas séries anteriores. Todavia, e só após a visualização de Chihayafuru 3 é possível dizer isto, a série entrou nesta Primavera a fazer aquilo que é tão típico da estação. Como uma flor, a produção desprendeu-se do que já era óptimo, mas ainda assim a amarrava, e começou a desabrochar. A mostrar um patamar superior que estava oculto. Para felicidade dos fãs, isto verificou-se em ambos os pontos centrais da trama, como explico já de seguida.
Karuta: Estabilidade e confrontos à medida
Na parte desportiva, já lá vão os tempos em que Chihaya, Taichi e Arata se iniciaram no Karuta. Eles e outras personagens, que com o tempo também ganharam tempo de antena. À semelhança de muitos desportos individuais, no início, os jogadores mais talentosos tendem a subir na “escadaria competitiva”, caso possuam algum talento, com relativa facilidade.
Tempos depois, a evolução já não é tão significativa como na fase inicial. Quer isto dizer que o atleta começa a ter fases curtas de evolução e outras, prolongadas, de aparente estagnação. No que diz respeito ao Karuta, isto representa uma estabilidade nas classes competitivas e um confronto mais regular com jogadores do mesmo nível, nas fases mais adiantadas dos torneios. Ora, este é um dos pontos mais interessantes e evolutivos de Chihayafuru 3. Muitos dos principais jogadores são também agora os grandes “actores”, existindo assim uma maior probabilidade de se encontrarem em duelos, o que se vem a verificar.
A evolução do carácter das personagens
Coincidência ou não, com o aproximar da Primavera, e do fim da série, uma nova capacidade emerge das personagens. Ou por vontade própria, ou pelos estímulos provocados pelos que as rodeiam, verifica-se uma maior expressão das personagens para o exterior. Em particular no que toca aos seus sentimentos, o que dá resultado a vários momentos de bastante tensão, surpresa, e libertação, quer da personagem em causa, quer do espectador. Mais do que nunca, é possível acompanhar o que vai nas cabeças dos protagonistas em vários momentos, tanto dentro como fora do Karuta, sendo que a parte fora do desporto merece maior destaque.
Personagens principais rotativas?!
Um outro ponto que me parece digno de salientar diz respeito à modulação que ocorre entre as várias personagens. A maneira como a mangaká e, consequentemente, a produção, gerem a importância das mesmas é de fazer inveja a muitas criações. Chihaya, Taichi e Arata nunca vão deixar de ser o trio principal, tendo em conta tudo o que foi construído até agora. Contudo, é um protagonismo que, de forma algo subtil, tantas vezes sai de cena para dar lugar a outras personagens igualmente interessantes.
Nesta terceira temporada, os jogos que decidem o Master e Queen da “nova época” de Karuta recebem uma grande atenção. Sem entrar em spoilers, lá marcam presença personagens fascinantes, como temos oportunidade de conhecer, antes e durante o torneio, que contribuem para uma grande solidez narrativa e deitam por terra uma possível saturação do espectador em relação ao trio principal.
A diferença positiva em relação a Shingeki no Kyojin
Embora neste caso me pareça pouco provável, há sempre a hipótese do espectador não se sentir interessado pelo desenrolar das vidas de Ayase, Mashima e Wataya. Enquanto eu vivo este drama em Shingeki no Kyojin, no caso de Chihayafuru, encaro-o como um factor importante para a trama continuar a figurar nas minhas obras mais admiráveis. Porque favoritismo e o reconhecimento não são a mesma coisa.
Passo a explicar. Desde o princípio, nunca esperei muito de Chihayafuru. Desconhecia o Karuta, e mesmo que agora o considere muito interessante e, no mínimo, curioso, não me agarra tanto quanto outros desportos. Ao mesmo tempo, não costumo dar prioridade a séries associadas ao Josei e ao Slice of Life, e que abordam as relações entre personagens desta forma. No entanto, nunca me consegui desprender desta obra. Desconfio que o hype que nela não encontro existe na forma de reconhecimento a este grande trabalho de Yuki Suetsugu.
Chihayafuru 3 – Arte e Animação
A Madhouse tem feito um excelente trabalho nestes aspectos desde que a série foi para o ar. Nesta última produção, que chegou mais de 6 anos depois de Chihayafuru 2, identifico ligeiras melhorias, mas não tenho memória de algum aspecto que mereça especial relevo. Portanto, desde à arte à animação, dentro e fora do Karuta, isto quer dizer que o nível de qualidade apresentado continua a ser muito elevado. As imagens que acompanham este texto falam por si.
Ainda dentro destes parâmetros, a única situação que me parece “criticável”, mas ao mesmo tempo difícil de resolver, pois isto não é o manga, diz respeito às legendas que por vezes se espalham pelo ecrã. Isto é, aqueles pensamentos que são colocados por cima das personagens mais à rectaguarda na cena, enquanto outras estão a falar. Em determinados momentos, a cena é tão rápida que fica complicado “apanhar” tudo. É demasiada informação a chegar, e acredito que os próprios japoneses (sem duplas legendas) tenham dificuldade em ler, ouvir e assimilar tudo isto em simultâneo.
Banda Sonora
Tal como a arte e a animação, a banda sonora não sofreu mudanças significativas. Neste caso, isso significa que continua no ponto ideal. Ou seja, não rouba a atenção ao que se está a passar na cena, mas se lá não estivesse, arrisco dizer que alguns momentos da narrativa perdiam substancialmente o seu brilho.
No que toca ao opening, como mencionado anteriormente, voltou a ser protagonizado, e ainda bem, pelos 99RadioService. Em relação ao ending, desta vez ficou a cargo dos Band Harassment, com o tema “Hitomebore“. Uma balada tranquila e característica de um ending tradicional, que dá voz a um vídeo focado exclusivamente nas três personagens principais, o que para alguns pode saber a pouco.
De referir também que, ao contrário do que acontece com a maioria dos animes que ocupam 2 cours, Chihayafuru 3 manteve o mesmo opening e ending do início ao fim.
Chihayafuru 3 – Juízo Final
Chihayafuru 3 tinha a tarefa complicada de ser ainda melhor que as suas antecessoras, exigindo assim grande consistência, quer das personagens, quer das peripécias associadas a este momento da sua história. Para alegria dos fãs, entrou nesta Primavera a fazer isso. A libertar-se das amarras! A desabrochar, deixando claro que pode continuar a surpreender. Com uma narrativa tão sólida desde os primórdios, suportada por um trabalho magnífico da Madhouse a todos os níveis, esta esperança parece-me ainda mais justificada, caso se confirme uma nova sequela.
Chihayafuru 3 – Trailer
https://www.youtube.com/watch?v=Gzh6bZ3Ccco
Análises
Chihayafuru 3
Em Chihayafuru 3, a franquia desprendeu-se do que já era óptimo, mas ainda assim a amarrava, e começou a desabrochar. A mostrar um patamar superior que estava oculto e parecia para lá dos limites. A evolução de ambos os pontos centrais da trama pôs fim a essa ilusão.
Os Pros
- A solidez das personagens e o desenvolvimento do seu carácter
- A evolução do Karuta
- O enredo
- A arte
- A animação
- A banda sonora
Os Contras
- Nada a registar