Por mais talentoso que sejas, tu, sozinho, não consegues mudar o mundo.
L Lawliett (Death Note)
Podes treinar um cão com comida. Podes comprar uma pessoa com dinheiro. Mas não há ninguém neste mundo capaz de influenciar os Lobos de Mibu. Há coisas que nunca vão mudar. Um lobo será sempre um lobo.
Saitou Hajime (Rurouni Kenshin)
Não quero saber o que a sociedade diz. Nunca me arrependi de nada que tenha feito. Vou sobreviver e fazer aquilo que quero.
Roronoa Zoro (One Piece)
Na segunda edição desta rubrica, decidi-me a recolher não uma, mas três citações de séries de Anime que, a meu ver, estão diretamente relacionadas umas com as outras, já que nelas encontro a chave do sucesso para se proceder à transformação de uma sociedade que, a cada dia que passa, se torna mais egoísta, falsa, corrupta e, acima de tudo, insensível e despreocupada com o que realmente interessa para a procriação e manutenção de Homens dignos do significado desta palavra, de gente com caráter e personalidade capazes de assumirem os comandos deste planeta. Atualmente, como o próprio Light Yagami diz em Death Note, “Este mundo está podre.“.
Após esta breve introdução, levanta-se desde logo a questão: Não as há, as grandes pessoas ? A resposta é sim, o problema é que são cada vez mais raras e, como diz na primeira citação de hoje, sozinhas não conseguem mudar o mundo. O que elas conseguem (não esquecendo os nossos antepassados) é converter o espaço que as rodeia aos seus ideais, aos seus bons valores e às suas ações. É isto que L, indiretamente, quer dizer quando faz uso das palavras em cima, e tal ficou comprovado pelo fado que atingiu o seu grande rival. Ao assumir-se como um Deus, Light foi a pouco e pouco perdendo o seu controlo emocional, a noção da gravidade dos seus atos, daí nunca ter percebido que, por muito poder que tivesse em mãos, seria incapaz de criar realmente o “Novo Mundo”. Nós, seres humanos longe dos grandes cargos institucionais e governamentais, ao olharmos para a podridão da nossa sociedade pensámos muitas vezes: “é impossível mudar isto”. Um ponto de vista perfeitamente aceitável tendo em conta que estamos orientados a pensar logo em grandes planos e que não temos poderes sobrenaturais. No entanto, é aqui que está o nosso erro. Se somos meros cidadãos de algum país, é óbvio que não temos uma equipa atrás de nós que concorde fielmente com os nossos ideais e que os ponha em prática tal e qual como desejámos. Todavia, devemos fazer uso das nossas capacidades para chamar à atenção daqueles que vivem na nossa casa e dos nossos vizinhos, ou seja, influenciar o cantinho da nossa rua com aquilo em que acreditámos ser correto.
Nos dias que correm, nós temos cantinhos do mundo a mudar, mas são poucos, muito poucos e cada vez menos aqueles que caminham na direção oposta à desta sociedade há muito conformada (e diria mesmo satisfeita!) com a sua evolução à base do egoísmo e de futilidades. Na verdade, esta satisfação é uma das principais inimigas das pessoas que tentam fazer algo de bom por este mundo. Mais grave ainda, as que a possuem tentam arrastar para esse lado as restantes, recorrendo aos mais diversos métodos, de forma a que ninguém lhes faça frente nem as incomode. Este é um processo que surge após alguém ter conquistado o seu pequeno espaço na sociedade, sendo agora mais respeitado e tendo começado a fazer mossa na vida de muitos. É nesta altura que se vê se o indivíduo em causa é um verdadeiro Lobo de Mibu ou não. Se é alguém capaz de permanecer sempre fiel àquelas que são as suas crenças e os seus princípios, por quaisquer que sejam as circunstâncias e as ameaças. Nem que isso por vezes implique ocultar a nossa real identidade por momentos, para nas alturas chave a fazer prevalecer com esplendor, como foi o caso do próprio Saitou.
Claro que ser-se um verdadeiro Lobo de Mibu é uma tarefa realmente árdua, particularmente para quem facilmente se deixa influenciar. Muitos são aqueles que (erradamente) se auto-intitulam Lobos de Mibu e que rapidamente se perdem no caminho da alcateia. Eles demonstram falta de fibra em alturas cruciais da sua caminhada com destino a uma sociedade diferente da atual, já que a partir de certa altura começam a viver influenciados pela angústia, pelo arrependimento de acontecimentos do passado e, acima de tudo, preocupados por se reverem numa minoria, esquecendo-se tantas vezes que quantidade não é sinónimo de qualidade. Apesar das circunstâncias em que vive no seu universo ficcional, Roronoa Zoro (One Piece) deve ser admirado por ter uma mentalidade totalmente oposta a esta linha de pensamento, ou seja, por seguir fielmente aquilo em que acredita e por se estar a marimbar para o que a sociedade diz. Como quem acompanha a série tem conhecimento, este modo de vida já levou Zoro a tomar atitudes verdadeiramente loucas, tendo em conta que algumas delas eram uma espécie de desafio à própria morte. Contudo, como o seu próprio capitão (Monkey D. Luffy) diz: “Se não correres riscos, não podes criar um futuro.“. Esta é a principal caraterística a colocar em perigo a existência dos Lobos de Mibu nos tempos atuais, pois poucos são aqueles que estão dispostos a correr riscos para mudarem o rumo da nossa sociedade.
Após este longo texto, é bom rever as citações escolhidas e voltar a constatar que com elas é possível refletir nos problemas atuais que influenciam as nossas vidas, apesar destas mesmas obras se passarem em épocas e realidades muito diferentes. Acima de tudo, é mais uma prova em como grande parte das produções de Anime transmitem mensagens intemporais e úteis a todos nós, não funcionando apenas como um entretenimento para as crianças. Até à próxima edição!