As ideias não param de chegar e assim é difícil de nos contermos. Hoje é um exemplo disso mesmo, já que o ptAnime vai dar início a uma rubrica nova. Com tantas frases marcantes que nos aparecem nas várias obras de Anime, porque não pegarmos em algumas e refletir sobre o seu significado? Sejam bem-vindos(as) ao espaço das “Citações e Reflexões”!
Ensinamentos sem dor e sofrimento simplesmente não existem. Sacrifícios são necessários. Não se pode ganhar nada sem primeiro se sacrificar alguma coisa. Se por acaso fores capaz de suportar essa dor e ultrapassá-la, descobrirás que agora tens um coração mais forte, apto para superar qualquer obstáculo, um coração fullmetal (totalmente de metal)
Edwar Elric (Fullmetal Alchemist: Brotherhood)
Desde logo que associar estas palavras com as da bem conhecida expressão: “o que não nos mata, torna-nos mais fortes” parece-me realmente acertado. No entanto, a citação aqui presente acaba por ser bem mais detalhada. Não só por ter incorporada a famosa Lei da Troca Equivalente, em em que é preciso dar-se algo para se receber qualquer coisa em troca, como também pelas últimas palavras “um coração fullmetal.
Analisando então primeiramente a parte do “suportar e ultrapassar da dor”, essa está obviamente direcionada para que nos tornemos mais fortes. Mas a troca de quê? O que nos exige a Lei da Troca Equivalente nesta situação? Não será um coração de carne? O nosso querido e genuíno coração, que será substituído por um de metal, para suportar a nossa dor e sofrimento, assim como das pessoas que fazem parte da nossa vida? Pensando bem, será isto realmente bom, ou um problema cada vez maior? Pergunto-me sobre o seguinte, se a nossa sensibilidade e carga emocional são suplantadas pela parte racional, não é isso que faz de nós, seres cada vez mais frios e cruéis, afetando mais uns do que outros?
Num plano mais global, pergunto-me se não terá sido este coração de metal endurecido que levou desde muito cedo as regiões supostamente “mais fortes” a rivalizarem umas com as outras, dando prioridade ao equilíbrio e à sustentabilidade da sua economia, e ignorando todos aqueles que ainda hoje morrem à fome, apesar da existência de alimentos saudáveis em abundância. Mas será que ainda há alguém que tem noção do crime que isto é hoje em dia? Infelizmente, muito poucas.
Agora numa vertente mais individual, não seria melhor “optarmos” (se é que atualmente temos possibilidade de escolha) por um coração 100% carne, do que por um que, a cada dia que passa, fruto das adversidades da vida, é cada vez mais resistente às emoções e aos sentimentos a que fica sujeito? Não só seriam mais saudáveis e transparentes as relações entre as pessoas, como por exemplo, sensibilizar criminosos para os erros que cometeram no passado e impedi-los de voltar a fazer o mesmo. Não é por isto que é tão difícil as pessoas mudarem? Ouve-se tantas vezes dizer que mudar uma pessoa é impossível, e esta é talvez a grande causa disso mesmo, por terem suportado uma dor que as endureceu, as pessoas já não estão dispostas nem mentalmente preparadas a mudar, a não ser que sejam sujeitas a um acontecimento verdadeiramente inesperado e estrondoso. Atualmente, parece que corações de carne são uma mera utopia.
Continuando, é verdade que quando saímos de um suplício, saímos mais reforçados e preparados para enfrentar as adversidades numa próxima. A questão é que aqui não se está a falar de doenças ou coisa que se pareça, mas sim do comportamento do Ser Humano no dia a dia e da sua influência no de outros Seres Humanos, algo que pode vir a afetar toda uma sociedade. “Coração fullmetal“, nunca se esqueçam!
No caso concreto da obra da qual esta citação foi retirada, e pegando apenas na parte inicial da história para evitar spoilers, Edward e Alphonse endureceram de imediato parte dos seus corações após a morte da mãe, e a maior prova disso é que logo se decidiram a queimar a casa onde viviam com todas as memórias e pertences dela lá dentro. Sem dúvida que isto demonstra força e coragem, mas não teria sido melhor recorrerem ao apoio dos seus familiares e amigos por uns tempos e ultrapassarem a dor de uma maneira diferente? Afinal não é isso que nos afeta nestas situações? A maneira como as enfrentamos e as decisões que tomámos no momento e no pós-acontecimento?
Resumindo, ao apresentar esta frase na sua obra, Hiromu Arakawa fez, a meu ver, acertadamente a leitura de como o mundo hoje em dia funciona. Não há como negá-lo, todavia, a dúvida permanece sobre a possibilidade de ultrapassarmos a dor de uma maneira que não nos levasse a endurecer os nossos corações. Não será o apoio nos mais próximos a melhor medida que podemos tomar em relação a qualquer situação que tentemos aplicar a este caso? Ou por muitas voltas que demos à cabeça, e mesmo que enfrentemos o sofrimento sem ser na nossa solidão, vamos sair dos problemas sempre mais rijos e mais insensíveis do que éramos antes? O tal aspeto a que muitos apelidam de “Lei da Vida”. Não sei se alguma vez vai ser possível contradizer esta citação, mas que a mesma dá que pensar, isso dá!
E vocês, caros leitores? O que pensam sobre isto?