Em colaboração com a Embaixada da República da Coreia em Portugal, para a comemoração dos 60 anos do estabelecimento de relações diplomáticas com o nosso país, a Cinemateca Portuguesa irá exibir 11 filmes sul-coreanos num ciclo de clássicos do cinema coreano, até ao próximo dia 23 de janeiro de 2021.
No blog da Cinemateca, pode-se ler que: “Os onze filmes que compõem este ciclo foram realizados entre 1948 e 1993, ou seja, entre a fundação da República da Coreia, com a divisão da península em dois estados antagónicos, nascidos da Guerra Fria, até ao início do período de plena democratização, num país cuja longa ditadura militar investira muito na educação, contrariamente à maioria dos regimes deste tipo. Este ciclo permite vislumbrar o itinerário seguido pelo cinema durante os mais de quarenta anos que medeiam entre a fundação do Estado sul-coreano e o reconhecimento internacional do cinema do país. Antes da linguagem difusa e oblíqua que caracteriza o cinema dos grandes nomes do cinema sul-coreano contemporâneo, o cinema do país seguiu outros percursos formais, que poderemos descobrir nesta retrospetiva.
Através dos diversos géneros que ilustram, todos são exemplos importantes e de alta qualidade de um vasto continente cinematográfico que permanece pouco conhecido. À exceção de Sopyonje (apresentado em março de 1999, no primeiro ciclo de cinema coreano programado na Cinemateca) todos os filmes apresentados são inéditos na Cinemateca e serão apresentados em cópias digitais.”
Abaixo poderão ver todas as informações sobre os filmes e as suas respectivas sessões.
Clássicos do Cinema Coreano na Cinemateca Portuguesa
Hanyeo
Sessões na Cinemateca:
Quinta-feira – 7 de janeiro – 20:00 | Sala M. Félix Ribeiro
Segunda-feira – 11 de janeiro – 15:00 | Sala M. Félix Ribeiro
Título em português: A Criada
De: Kim Ki-young
Com: Kim Jin-kyu, Lee Eun-sim, Ju Jeung-ryu
País: República da Coreia
Ano: 1960
Duração: 110 min
Classificação etária: M/12
legendado em inglês e eletronicamente em português
Este grande clássico do cinema coreano foi definido por Bong Joon-ho como “uma mistura de drama, melodrama e filme de horror. Também é um melodrama criminal, que lida com o desejo sexual feminino e um comentário social e político”. Nona das 23 longas-metragens assinadas por Kim Ki-Young (1919-98), o filme conta a história, baseada num facto real, de uma criada que parece sofrer de perturbações mentais e é engravidada pelo patrão. A mulher deste convence-a a rolar pela escada abaixo para interromper a gravidez. A criada submete-se, mas urde uma vingança terrível. A mise en scène, da mais alta mestria, faz com que narrativa flua, conduzida por uma câmara ágil e precisa. O filme teve o seu desenlace original, considerado demasiado chocante, alterado pela censura. Foi também objeto de um remake, em 2010, por Im Sang-soo e foi restaurado com o apoio da Fundação Scorsese, sendo finalmente visto e reconhecido pelo público internacional por aquilo que é: uma obra-prima.
Piagol
Sessões na Cinemateca:
Sexta-Feira – 8 de janeiro – 15:00 | Sala M. Félix Ribeiro
Quarta-feira – 13 de janeiro – 15:00 | Sala M. Félix Ribeiro
Título em português: Piagol
De: Lee Kang-cheon
Com: Kim Jin-Kyu, Lee Yechun, Noh Kyung-hee, Heo Jang-kang, Yoon Wang-gook
País: República da Coreia
Ano: 1955
Duração: 108 min
Classificação etária: M/12
legendado em inglês e eletronicamente em português
O título do filme designa uma localidade na Coreia. PIAGOL foi o segundo dos 28 filmes realizados por Lee Kang-cheon e pode ser definido como um filme de guerra, mais precisamente a Guerra da Coreia, um conflito terrível que chegara ao fim apenas dois anos antes e cujas feridas ainda estavam abertas. A ação começa logo a seguir ao armistício, em meio a um grupo de combatentes comunistas que cometem uma série de atrocidades. A unidade do grupo é fendida por ciúmes entre os guerrilheiros, à volta de uma das mulheres, e pela vontade de alguns de romperem com o comunismo. Sem ter a forma de um epic, de um filme sobre proezas militares, realizado com meios relativamente modestos porém totalmente dominados, PIAGOL nada tem de um filme de propaganda política caricata, o que não deixa de ser extraordinário quando se considera o contexto em que foi feito.
Geomsa-Wa Yeoseonsaeng
Sessões na Cinemateca:
Sexta-Feira – 8 de janeiro – 17:30 | Sala M. Félix Ribeiro
Terça-feira – 12 de janeiro – 15:00 | Sala M. Félix Ribeiro
Título em português: O Procurador e a Professora
De: Yoon Dae-ryong
Com: Lee Young-ae, Lee Eob-dong
País: República da Coreia
Ano: 1948
Duração: 60 min
Classificação etária: M/12
mudo, legendado eletronicamente em português
A trama narrativa deste filme pode ser descrita como um melodrama social. Um pobre órfão é protegido pela professora do liceu onde estuda. Anos mais tarde, ele torna-se procurador e a mulher é ré num processo, por ter acolhido um criminoso em fuga e ser acusada da morte do marido, que morreu acidentalmente. Mas o ponto de interesse do filme é formal. Foi rodado como um filme mudo, sobre o qual foi sobreposta uma narração em off (chamada byeon-sa), tal como esta se fazia nos tempos do cinema mudo na Coreia e em outros países (um dos irmãos de Akira Kurosawa exercia esta profissão em Tóquio): uma só voz que descreve o que se passa, comenta brevemente a ação e diz os diálogos. Este trabalho foi feito por Shi-chul, o último narrador byeon-sa em atividade. O contraste entre a placidez dos atores e o tom intenso da narrativa produz um efeito insólito e o espectador contemporâneo poderá ter uma noção bastante exata do que era a visão dos filmes mudos na Coreia.
Shijibganeun Nal
Sessões na Cinemateca:
Sábado – 9 de janeiro – 15:00 | Sala M. Félix Ribeiro
Quinta-feira – 14 de janeiro – 15:00 | Sala M. Félix Ribeiro
Título em português: O Dia do Casamento
De: Lee Byeong-il
Com: Kim Seung-ho, Kim Yu-hee, Cho Mi-ryung
País: República da Coreia
Ano: 1956
Duração: 77 min
Classificação etária: M/12
legendado eletronicamente em português
Lee Byeong-il realizou apenas três filmes, dos quais este é o segundo e foi apresentado no Festival de Berlim em 1957. Trata-se de uma divertida comédia de enganos, cujo argumento não estaria deslocado no cinema americano dos anos trinta. Um homem consegue arranjar um “bom casamento” para a sua filha, porém o intermediário para o casamento nem sequer se deu ao trabalho de encontrar o noivo. Surge um boato de que o rapaz tem uma deficiência física e o pai da noiva consegue fazer com que ele se torne noivo da criada da família. Mas quando o rapaz finalmente surge, é bem apessoado e não tem nenhuma deficiência. Desencadeia-se então uma série de divertidos acontecimentos, em que a família da jovem tenta ao mesmo tempo manter as aparências e preservar os seus interesses. O tom da narrativa é leve, o que a torna mais divertida.
Obaltan
Sessões na Cinemateca:
Sábado – 9 de janeiro – 17:30 | Sala M. Félix Ribeiro
Sexta-feira – 15 de janeiro – 15:00 | Sala M. Félix Ribeiro
Título em português: Bala sem Destino
De: Yoo Hyen-mok
Com: Kim Jin-kyu, Choi Moo-ryong, Moon Jeong-suk, Seo Al-ja
País: República da Coreia
Ano: 1961
Duração: 107 min
Classificação etária: M/12
legendado em inglês e eletronicamente em português
Como é assinalado no texto de introdução a este Ciclo, nos anos sessenta, devido às restrições à distribuição de filmes estrangeiros, muitos realizadores coreanos fizeram um número abundante de filmes. Yoo Hyen-mok, o realizador de OBALTAN, assinou nada menos de 41 filmes, dos quais este é oitavo. Trata-se de um clássico, considerado como uma das obras-primas do cinema coreano. Realizado apenas oito anos depois do fim da guerra que dividiu o país, o filme aborda a reconstrução da sociedade coreana através de um núcleo familiar, formado pela mãe idosa e que perdera a razão devido à guerra, um filho que trabalha, outro que não encontra trabalho e a filha, reduzida à condição de prostituta ocasional. A narrativa nada tem de agitada, tem um ritmo regular e uma forma complexa, num filme que também tem como personagem uma metrópole, mostrada em vários dos seus aspetos (ruas noturnas, escritórios, um bairro de lata). Uma obra sombria e magnífica, que conheceu problemas com a censura coreana à época.
Seong Chun-hyang
Sessões na Cinemateca:
Segunda-feira – 11 de janeiro – 17:30 | Sala M. Félix Ribeiro
Segunda-feira – 18 de janeiro – 15:00 | Sala M. Félix Ribeiro
Título em português: Seong Chun-hyang
De: Shin Sang-ok
Com: Choi Eun-hee , Kim Jin-kyu, Do Kum-bong
País: República da Coreia
Ano: 1961
Duração: 90 min
Classificação etária: M/12
legendado em inglês e eletronicamente em português
Shin Sang-ok tem nada menos de três dos seus filmes incluídos neste Ciclo. Realizou mais de oitenta e a sua vida foi marcada por um episódio digno de um filme de espionagem. Depois de uma prolífica carreira como produtor e realizador, ele e a sua mulher foram raptados em 1978 e levados para a Coreia do Norte, forçados a ajudar a outra metade do país a ter uma indústria de cinema. O casal ali permaneceu por oito anos, antes de fugir. Antes disso, Shin Sang-ok realizara dezenas de filmes na Coreia do Sul, o primeiro dos quais em 1952. SEONG CHUN-HYANG (por vezes designado como CHUN-HYANG) adapta um conto clássico da literatura coreana, cujo autor e data são desconhecidos. Trata-se da história de uma mulher que se casa secretamente com o amante, que a seguir parte para Seul, para fazer os seus estudos. Um poderoso magistrado quer a mulher para si, ela recusa, é presa e torturada. Mas o noivo regressa, como agente secreto, para salvá-la. Este foi o primeiro filme coreano a ter sido realizado em Cinemascope e a cores e será apresentado numa cópia magnificamente restaurada.
Sarangbang Sonnimgwa Eomeoni
Sessões na Cinemateca:
Terça-feira – 12 de janeiro – 20:00 | Sala M. Félix Ribeiro
Terça-feira – 19 de janeiro – 15:00 | Sala M. Félix Ribeiro
Título em português: A Mãe e o Hóspede
De: Shin Sang-ok
Com: Choi Eun-hee, Kim Jin-kyu, Shin Yeong-kyun, Jeon Young-sun
País: República da Coreia
Ano: 1961
Duração: 103 min
Classificação etária: M/12
legendado eletronicamente em português
Segundo dos três filmes de Shin Sang-ok a ter sido incluído neste Ciclo, SARANGBANG SONNIMGWA EOMEONI é um drama organizado à volta de mulheres. Uma miúda vive com a mãe, a avó e a criada, todas viúvas. Um dia, um antigo amigo da família instala-se ali como pensionista. A jovem nutre uma paixão platónica por ele, que por sua vez se apaixona secretamente pela mãe dela e a criança torna-se uma mensageira secreta entre os dois. Uma dilacerante história de um amor que se torna impossível devido aos preconceitos sociais contra um segundo casamento, com a vitória dos valores tradicionais.
Yeolnyeomun
Sessões na Cinemateca:
Terça-feira – 13 de janeiro – 20:00 | Sala M. Félix Ribeiro
Terça-feira – 20 de janeiro – 15:00 | Sala M. Félix Ribeiro
Título em português: Voto de Castidade
De: Shin Sang-ok
Com: Choi Eun-hee, Shin Young-kyun, Kim Dong-won, Han Eun-jin
País: República da Coreia
Ano: 1962
Duração: 100 min
Classificação etária: M/12
legendado eletronicamente em português
Décima-nona longa-metragem de Shin Sang-ok, YEOLNYEOMUN foi considerado um filme desaparecido durante alguns anos, antes de uma cópia ser encontrada e o filme ser restaurado. Trata-se de um drama situado no campo, num período indefinido, que parece ser o início do século XX. Durante os primeiros quarenta minutos, o filme, a preto e branco e em formato panorâmico, descreve o trabalho nos campos e as relações entre camponeses, antes do drama central se manifestar: uma jovem viúva da classe dominante tem uma relação com um camponês e engravida. Mas um tabu impõe a castidade às viúvas e o pai da criança é expulso de casa com o bebé. Anos depois, já adulto, o filho da mulher vem à procura dela, mas o tabu da castidade das viúvas se impõe. Apesar do tema, o filme nada tem de melodramático e conta com excelentes interpretações dos atores principais.
Chou
Sessões na Cinemateca:
Quinta-feira – 14 de janeiro – 17:30 | Sala M. Félix Ribeiro
Quinta-feira – 21 de janeiro – 15:00 | Sala M. Félix Ribeiro
Título em português: Chuva Verde
De: Jeong Jin-woo
Com: Shin Seong-il, Moon Hee
País: República da Coreia
Ano: 1966
Duração: 100 min
Classificação etária: M/12
legendado eletronicamente em português
Nascido em 1938, Jeong Jin-woo é um bom exemplo da fecundidade dos realizadores coreanos nos anos sessenta: entre 1963 e 1969, realizou nada menos de 27 longas-metragens, das quais CHOU é a nona (até 1995, ele realizaria um total de 53). Apresentado no Festival de São Francisco de 1966, feito a preto e branco e em scope, o filme é um clássico do cinema coreano sobre jovens. A situação de partida é a de uma comédia: um homem e uma mulher, ele mecânico e ela criada, fazem-se passar por personagens mais ricos do que são e têm uma ligação sentimental. Mas o tom do filme não é cómico, oscila entre o sério e o lírico. À medida que os seus encontros clandestinos se multiplicam, sempre em dias chuvosos, para que ela possa usar uma gabardine elegante e esconder a sua identidade, o par acaba por ter uma relação mais séria, que acaba por ser minada. O filme é típico da estética dos anos sessenta no modo como mostra a metrópole onde tem lugar a ação, que progride com uma fluidez quase musical.
Choihui jeungin
Sessões na Cinemateca:
Sexta-feira – 15 de janeiro – 20:00 | Sala M. Félix Ribeiro
Sexta-feira – 22 de janeiro – 20:00 | Sala M. Félix Ribeiro
Título em português: A Última Testemunha
De: Lee Doo-yong
Com: Hah Myung-joong, Choi Bool-am, Jeong Yun-hui
País: República da Coreia
Ano: 1980
Duração: 158 min
Classificação etária: M/12
legendado em inglês e eletronicamente em português
Nascido em 1942, Lee Doo-yong realizou mais de sessenta filmes, em variados géneros. Foi o introdutor do cinema “de ação” na Coreia e fez inclusive um filme em que Bruce Lee sai da tumba para lutar. CHOIHUI JEUNGIN é um thriller com uma trama simples, mas cujos desdobramentos se tornam cada vez mais complexos. Antes de ser morto, um capitão que luta contra as guerrilhas comunistas manda um mapa do tesouro à sua filha. Alguns comunistas saem em busca do mapa, ao passo que a filha do militar e o seu marido vão em busca do tesouro. A história tem complicadas ramificações e um epílogo, situado vinte anos depois do início.
Sopyonje
Sessões na Cinemateca:
Sábado – 16 de janeiro – 17:30 | Sala M. Félix Ribeiro
Sábado – 23 de janeiro – 15:00 | Sala M. Félix Ribeiro
Título em português: Sopyonje
De: Im Kwon-taek
Com: Oh Jung-hae, Kim Myung-gon, Kim Kyu-chul
País: República da Coreia
Ano: 1993
Duração: 113 min
Classificação etária: M/12
legendado eletronicamente em português
Nascido em 1936, Im Kwon-taek realizou mais de cem filmes. SOPYONJE foi um gigantesco êxito de bilheteira, atraindo mais de um milhão de espectadores só na área urbana de Seul. O filme conta a história de um grupo de intérpretes de pansori, género musical clássico coreano, com um cantor ou cantora e um percussionista, música que destila um sentimento de tristeza. O grupo sai pelas estradas e é confrontado ao choque entre o velho e o novo, entre a música que interpretam e o mundo contemporâneo. Comparando o filme aos de Chen Kaige, Manuel Cintra Ferreira observou na sua “folha”, quando o filme foi apresentado na Cinemateca, que este, “admiravelmente encenado, procura responder ao desgaste e perda de valores de um país num tempo em que a globalização parece ameaçar e destruir muitas heranças. Mas toda a construção do filme é uma resposta a esta perda de valores”.
Fonte: Cinemateca Portuguesa
Imagem de destaque: Facebook, editada por ptAnime
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