A segunda temporada surgiu em 2008, ou seja, após um ano do término da sua antecedente. Muitas foram as questões deixadas por responder na temporada anterior, o que deu origem não só a um crescimento constante de teorias, bem como a uma ansiedade enorme pela chegada da nova produção. Dito isto, a sequela carregava às costas um nível considerável de expectativas, o que por consequência cria uma certa pressão sobre o processo de produção, e claro, uma percepção um pouco deslocada da realidade proveniente do público no momento da visualização.
Terá Code Geass: Lelouch of the Rebellion R2 o que é necessário para satisfazer os fãs?
Code Geass Lelouch of the Rebellion R2 | Enredo
Um paralelismo narrativo entre temporadas
O final da primeira temporada armazenou teias densas de acontecimentos, arestas por limar e enigmas por desvendar. Quando finalmente temos a oportunidade de assistir ao primeiro episódio, a história não se desenvolve a partir do momento em que nos deixou, contudo, isto não tem como definição algo negativo. Bem pelo contrário, não foram pelo caminho mais óbvio, criando uma reviravolta no sentido contrário. Por consequência, é gerada uma atenção quase compulsiva sobre a obra, o que nos cativa e nos faz querer ver mais e mais da introdução da segunda temporada.
A estrutura narrativa entre temporadas é incrivelmente semelhante. Nos primeiros episódios da primeira temporada, vemos Lelouch na sua vida banal, o estabelecimento do seu contacto com C.C. e o seu eventual contrato com a mesma para obtenção do Geass. Este contrato foi realizado numa situação da qual Lelouch não sairia vivo e ao obter o Geass consegue desembaraçar-se da mesma. Code Geass Lelouch of the Rebellion R2 inicia-se no mesmo formato, reinventa-se com originalidade, deixando-nos embrenhados numa sensação de satisfação e nostalgia.
Qual a temporada melhor a nível de enredo?
Vou ser temporariamente injusto e dar um pequena análise sobre a história de cada temporada de forma isolada. Tudo acontece com mais naturalidade na primeira temporada, é progressiva na medida em que todas as peças fazem sentido e impulsionam os eventos seguintes, é mais calculada e exponencial. Já a sua sequela, apesar de não ficar nada atrás, tem alguns problemas que não podem passar ao lado, nem deixarem de ser mencionados. A construção narrativa de toda a sequela, transporta os seus altos e baixos.
Nota-se claramente que sabiam exatamente o que fazer com a introdução e conclusão, mas já o desenvolvimento tem alguns aspetos que deixam a desejar. As personagens conduzem, na sua maioria, um bom desenvolvimento, uma vez que foram todas muito bem introduzidas na primeira temporada. No entanto, existem momentos em que perdem a sua personalidade e consistência, desviando-se um pouco daquilo em que acreditam para fermentar eventos que acontecem claramente por pura conveniência, de modo a nos empurrarem diretos a um dos finais mais bem construídos na história do Anime/Manga.
Concluindo então, qual a melhor temporada em termos de escrita? A minha resposta é: não existe uma melhor. A primeira temporada é executada com uma melhor essência e consistência, enquanto que a segunda nos dá mais ação e uma sensação de desfecho extremamente satisfatório. O que, como um todo (pois é assim que a narrativa deve ser vista), se torna em algo excepcional, apesar de todos os aspetos negativos já mencionados.
Ainda não vi Code Geass, porque não gosto de Mechas!
Deve ser este o argumento mais recorrente quando qualquer um de nós recomenda esta obra a alguém, ou até aquele que se lê mais por dentro das comunidades.
Não. Code Geass não é um anime sobre mechas, nem estes são um tema principal e/ou secundário. Esta obra, como um todo, é um tabuleiro de xadrez. É neste que, jogada a jogada, vemos todos os eventos a fluírem através de batalhas entre mechas. Porém, estes não passam de peças de um jogo, de uma metáfora representativa, de uma personificação das peças literais de um jogo de xadrez. Onde foram colocados robots, poderiam ter sido colocado outro tipo de armas, que provavelmente se tornariam mais um entrave para outro tipo de público.
Code Geass transmite-nos idealismos e moralismos, através dos diálogos construídos a partir do confronto entre duas personalidades fortes. Conceitos políticos existentes em tempos de guerra e a sua governação. Mostra-nos a forma como cada ação (até a mais pequena) tem consequências desastrosas e colossais num ambiente envolto numa guerra mundial. Entrega-nos a causa-efeito dos relacionamentos sociais, sejam eles provenientes de laços familiares ou não-familiares e quanto estes nos podem mover quando não o faríamos por nós próprios. Deambula de uma forma bastante correta sobre a corrente dos acontecimentos, ou seja, vai-nos mostrando o quanto uma ação, movimento ou pensamento de um passado distante, pode ser uma semente tão forte que poderá moldar um futuro a nível mundial.
Code Geass Lelouch of the Rebellion R2 | Ambiente
O visual mantém bastante bem a estrutura que nos mostrou na prequela. Ainda assim, conseguiu melhorar levemente em quase todos os aspetos técnicos, sendo mais notável a evolução na animação. Isto deve-se também ao fato de que na sequela, durante o desenvolvimento, temos episódios mais focados em combate e ação pura, portanto, faz sentido que todas estas características tenham tido a sua devida atenção.
O design de personagens, em ambas as temporadas, foi completamente criado pelas Clamp, e apesar de se encontrar muito bem definido e desenhado, torna-se provavelmente o pior aspeto de Code Geass a nível visual. Volto a repetir, o design está muito bom, o que mostra a qualidade e experiência proveniente das Clamp, todavia, a escolha deste traço de desenho (Shoujo) para esta narrativa (Seinen), foi algo que lhes saiu um bocadinho ao lado. Isto porque, se estamos a ver uma história com elementos tão reais, tão poderosos, com uma elevada densidade dramática, necessitamos de designs mais realistas, como por exemplo, um design mais à margem de Death Note. A escolha deste design faz com que a percepção da audiência seja afastada daquele mundo, desligando-nos várias vezes a sensação de realismo.
A banda sonora merece uma enorme salva de palmas. Temos uma grande panóplia de faixas sonoras, com diversidade e que são adequadamente alocadas nos respetivos momentos. Não existe uma que não intensifique o impacto causado pela carga dramática, pelos momentos épicos, ou até mesmo pelos momentos mais leves e que, por fim, não dos deixe uma vontade enorme de ouvir após terminar o anime.
Code Geass Lelouch of the Rebellion R2 | Juízo Final
Concluindo e sublinhando o que já afirmei, a obra não é perfeita, tem as suas falhas, algumas coisas toleram-se melhores que as outras, e outras dependerão única e exclusivamente do gosto de cada um. Porém, é inexorável que Code Geass é uma das melhores obras contemporâneas e com certeza que em breve se transformará num clássico.
Dito isto, a obra recomenda-se por completo a qualquer fã de anime, especialmente aos fãs de Seinen, e aos fãs e apreciadores de narrativas inteligentes, densas e complexas.
Análises
Code Geass Lelouch of the Rebellion R2
Recomendação máxima a quem gostou da primeira temporada.
Os Pros
- Paralelismo entre temporadas
- Sequências de ação
- Banda sonora
- Final e conclusão da obra
Os Contras
- Alguns pontos narrativos funcionam por conveniência
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