Este artigo poderá gerar alguma discórdia. No entanto, sendo uma opinião pessoal, não há muito que se possa fazer. Espero conseguir passar a minha mensagem, de modo a “moldar” melhores turistas para o futuro.
Como foi Viajar para o Japão em 2024 – Opinião
“A minha segunda casa”
Sou agente de viagens há 10 anos, mas já antes de o ser tinha um fascínio por viajar. Foi a minha paixão por anime que fez com que o 1º destino na minha lista fosse o nosso querido Japão. Assim que juntei o meu primeiro ordenado, parti à aventura – sozinha – para o outro lado do Mundo.
Em Março de 2013 aterrei em Tokyo e por lá fiquei durante 1 semana. Completamente rendida aos encantos da cidade, regressei a Portugal desolada e decidi que tinha de conhecer mais daquele país. Voltei em Abril de 2017 – novamente só – percorrendo, dessa vez, um pouco do país (Tokyo, Nagoya, Kyoto, Osaka, Takayama, entre outros). Desde o primeiro instante que senti que estava em casa. Não sei explicar porquê, mas há coisas que só o coração sabe, não concordam?
Japão em 2024 – Um pesadelo começou a ganhar vida
Sempre falei muito bem do Japão aos meus clientes e amigos e continuarei a fazê-lo. No entanto, quando marquei esta última viagem – em Abril deste ano – comecei a ter pesadelos peculiares.
Visto que ia viajar na companhia do meu namorado, sonhava que os elogios que tanto fazia ao país iam todos “por água abaixo”. Havia lixo por todo o lado, as pessoas eram mal-educadas, estava tudo desorganizado, havia sempre imensos atrasos nos transportes e a comida era super fraca! Bom, podem ficar descansados porque os meus pesadelos acabaram por não se tornar reais (ainda), mas a verdade é que o Japão que vi em 2024, desiludiu-me um pouco, mas não por culpa do país em si.
Se querem saber porquê, continuem a ler. E atenção, nem tudo é mau ^^
Turismo em excesso?
É óbvio que o setor do turismo tem um papel importante hoje em dia (e eu dependo a 100% dele). Contudo, começo a ser apologista de um controlo de fronteiras para turistas (seria possível?).
Em 2013, o Japão registou 10 milhões de turistas. Em 2017 eram já mais de 28 milhões. É normal que as coisas mudem. Porém, este ano, pela primeira vez, senti-me um estorvo e, para ser sincera, confesso que tive uma ligeira vergonha de ser turista.
Havia mais lixo, sim. A lixeira ao redor do mural e estátua de Hachiko deixou-me perplexa. No entanto, o que mais me espantou, foi o desrespeito dos turistas, a todos os níveis.
Num país onde a consideração pelo outro chega até a ser prejudicial:
- o turista fala alto onde todos estão calados;
- o turista vai comendo o seu hamburguer pela rua, enquanto metade vai caindo pelo chão;
- o turista passa numa passadeira, em pleno sinal vermelho, mesmo sendo uma rua movimentada;
- o turista pega no telemóvel para fotografar um local onde, à porta, se encontra um gigantesco sinal onde se lê em inglês “não fotografar” (para quem não sabe inglês ou simplesmente não sabe ler há uma imagem indicativa);
- o turista consegue fazer com que seja necessário encerrar uma rua e erguer uma barreira para impedir uma vista.
Bem-vindos ao Japão de 2024.
Não merecemos o Japão
- Sentido de cooperação: a cultura japonesa tem os seus defeitos e o povo japonês tem os seus costumes e as suas “taras”. São um povo demasiado reprimido nas suas emoções. A nível pessoal, é natural que possa, por vezes, ser prejudicial. No entanto, isto também traz benefícios. O saber estar e esta forma de ter atenção para com os outros, confere aos japoneses o pódio no que toca a viver em comunidade. O povo japonês entende que para um bem comum é necessário cooperar. Nunca uma cidade como Tokyo conseguiria ser tão intuitiva e parecer tão pacífica – mesmo tendo o mesmo número de habitantes de Portugal inteiro – se não fosse este sentido de união.
- Qualidade acima de quantidade: em qualquer lugar, famoso ou não, há uma coisa em comum: a qualidade no atendimento e na confecção. Seja um restaurante, uma loja de porcelanas, um bar, uma loja de facas ou qualquer outro estabelecimento, somos sempre atendidos com um sorriso no rosto e um “いらっしゃいませ!” (a plenos pulmões) e tudo o que nos chega às mãos nota-se que é feito com paixão.
- A palavra “ganância” parece não existir: o tasco super pequeno em Osaka – Izakaya Toyo – é um exemplo daquilo que quero dizer com esta frase. O Sr. Toyo apareceu pela 1ª vez numa série da Netflix (“StreetFood – Asia“) em 2019. A polémica com este senhor foi tanta, que, hoje em dia, centenas de turistas procuram este local diariamente para se deliciarem. Desde então, o Sr. Toyo podia ter alargado o seu tasco para atender mais turistas e, assim, fazer mais lucro. Não o fez e, como ele, há imensos exemplos. Uma vez mais, a qualidade prevalece sobre a quantidade e a ganância.
- Os preços: comparativamente com Portugal, é um absurdo. Sabendo que o Japão é um país super desenvolvido e moderno, muita gente pensa que os preços são astronomicamente caros. Não. Um simples ramen que aqui comemos por 16€ (e consegue-se com ingredientes nacionais, portanto, isso não seria desculpa) em Tokyo custa 7€ ou menos. O valor médio de refeições nos restaurantes anda em torno dos 15€ por pessoa. As porções são mais pequenas, mas há mais variedade. Digo o mesmo para bebidas e entradas em templos, por exemplo. É tudo mais barato ou, no máximo, ao mesmo valor do que cá.
- As pequenas coisas: existem gestos e pormenores que nos ficam gravados, mas no Japão elevam o atendimento e o cuidado com o cliente a outro nível. Dou apenas uns exemplos, mas houve imensas histórias do tipo. Quando fomos comer bife Kobe, o pai do chef veio presentear-nos com um postal de fotos que ele mesmo tirava, pois era o seu hobby; um barman de Takayama adorou a minha paixão por sake e ofereceu-me um conjunto de porcelana japonesa; amei o pormenor das caixas de chicletes virem com um mini bloco de papel dentro, para colocarmos a chiclete usada de modo a podermos guardar na bolsa para deitar depois ao lixo; absolutamente TUDO o que nos é entregue em mãos para levarmos embora é embrulhado com um cuidado incrível, seja numa loja de luxo ou numa mini banca de comida numa estação de metro; isto e tanta coisa mais…
Como foi Viajar para o Japão em 2024
Quero voltar?
CLARO QUE SIM! Tenho um amor especial por este país. Pela cultura, pelos costumes, pela língua, pelo povo e o seu modo de ser. Tenho um apego especial e inexplicável por Tokyo e acho que nunca me vou cansar de visitar esta magnífica cidade.
A única coisa que desejo é que o Turismo, o setor que me mostrou a minha vocação, não estrague este maravilhoso país, que cuida tão bem dos seus turistas. A palavra “gaijin” chega até a ter uma conotação péssima, nos dias de hoje e este ano eu entendi porquê, já que até eu mesma me senti mal por ser mais um. Por um Turismo sustentável e por turistas conscientes, que respeitam o destino para onde vão!
またね, 日本 !
Ps. deixo-vos umas fotos para vos aguçar o bico!