Um dos traços mais conhecidos da cultura e sociedade japonesa é a importância que dão à higiene e limpeza, desde as vias públicas imaculadas até ao usar chinelos específicos para a casa-de-banho. Neste artigo vamos falar de algumas características do banho japonês (ofuro), mais especificamente dos banhos públicos – sentō.
Estes estabelecimentos estão presentes por todo o Japão, desde as cidades mais desenvolvidas às populações mais remotas. De acordo com a Tokyo Sento Association, os sentō surgiram com a chegada do Budismo ao Japão, no séc.VI. Os templos tinham zonas de banho para lavar as estátuas e para os próprios monges se banharem. Passados alguns séculos também era permitido ao público em geral usar estes banhos nos templos, e no séc. XII começaram a surgir os primeiros estabelecimentos privados para este fim. Os sentō eram extremamente populares no período Tokugawa (1603-1868), pois não era permitida a construção de salas de banho privadas devido ao risco de incêndio. Com a rápida modernização do Japão que se verificou depois deste período, o número de sentō terá diminuído, mas não se tornou menos popular. Ainda hoje muitos japoneses vão aos banhos públicos, especialmente se estes se situarem em zonas de águas termais – as famosas onsen.
Vamos imaginar então que vamos a um sentō ou uma onsen. A entrada destes locais encontra-se identificada com uma cortina que tem desenhado o hiragana ゆ (yu – água quente, 湯 em kanji). Por vezes a entrada tem duas portas, uma para o público feminino e outra para o masculino. Estas estão identificadas respectivamente com os kanji 女 (onna – mulher) e 男 (otoko – homem). Em alguns casos esta separação só existe depois de uma entrada principal.
Depois de tirarmos os sapatos à entrada, temos uma recepção onde fazemos o nosso pedido. Em alguns locais é possível alugar toalhas caso nos tenhamos esquecido de trazer as nossas próprias. É então entregue uma chave para um cacifo do balneário, onde podemos deixar as nossas coisas enquanto nos lavamos. Alguns destes estabelecimentos, especialmente os mais pequenos em zonas mais remotas, não têm cacifo – deixamos os nossos pertences em cestos “desprotegidos”, tal é a segurança e o pouco risco de alguém mexer nas nossas coisas. Também se pode pagar adiantadamente ou só depois do banho, dependendo da política do local.
Entramos, finalmente, na zona de balneário. É aqui que nos despimos e arranjamos as coisas a transportar para a zona do banho propriamente dito – uma toalha para nos enxugarmos, um pano pequeno para nos lavarmos, e quaisquer produtos que podemos vir a precisar (champô, sabonete, escova de dentes, lâmina, etc). A maioria dos locais coloca à disposição champôs e sabonete líquido sem qualquer taxa extra. É nesta altura que se deve perder a vergonha – não é permitido ir para o banho com qualquer tipo de roupa ou acessório!
Depois de tudo arranjado, é altura de entrar no banho. Esta zona está separada do balneário por portas deslizantes, de modo a manter a temperatura do banho, e tem duas partes distintas: uma com pequenas bancadas para as pessoas se lavarem e as banheiras comuns. O primeiro passo é, então, lavarmo-nos. Em cada bancada há um espelho e um chuveiro, e à sua frente um banco e alguidar de plástico. Estes últimos também podem estar armazenados a um canto e cada pessoa retira um antes de ir para o seu lugar. Sentados no banco, enchemos o alguidar com água e usamos o tal pano pequeno para lavarmos o corpo. Depois de nos lavarmos, é extremamente importante passarmos bem o corpo por água para não ficarmos com qualquer vestígio de sabão antes de irmos para a banheira comum. Quem tiver o cabelo comprido deve atá-lo para que este não toque na água. Ainda antes do próximo passo, temos de lavar o banco e alguidar que usámos, repô-los no sítio original e deixar tudo arrumado para a próxima pessoa.
Chega finalmente a altura de ficarmos de molho e relaxar! Há que ter cuidado a entrar na banheira – além do piso escorregadio, a água aqui é extremamente quente, rondando os 40 graus. Se for demasiado quente para entrar, também não há problema em ficar sentado na beira apenas com os pés na água. Não convém ficar dentro da banheira durante demasiado tempo, e tem de se ter muito cuidado ao sair – com o calor, a nossa pressão arterial baixa, podendo causar desmaios. Normalmente existe mais do que uma destas banheiras comuns – podem haver várias com temperaturas de água diferentes, interiores ou exteriores, etc. Depois de sairmos da banheira, passamos com a toalha no corpo para tirar o excesso de água antes de voltarmos ao balneário. Como a temperatura é tão elevada neste local geralmente a água que está na superfície do corpo desaparece com facilidade. Se estivermos numa onsen nem convém enxugar demasiado o corpo, pois estamos a retirar da pele os minerais presentes na água.
Posto isto, regressamos ao balneário para voltarmos a vestir-nos. Geralmente estes têm secadores que podem ser usados pelos clientes. Caso tenhamos alugado uma toalha do estabelecimento, colocamo-la num cesto próprio para o efeito e voltamos à recepção. Aqui também se vendem bebidas frescas ou gelados e existem cadeirões para as pessoas relaxarem mais um pouco e deixarem arrefecer o corpo antes de voltar para a rua.
Para além de todo o ritual já descrito, existe uma série de regras de etiqueta a ser seguidas por quem usa um banho público. Obviamente, não se deve incomodar os outros clientes fazendo barulho, atirando água, etc. Na banheira comum também não é permitido nadar e, se decidirmos levar o nosso paninho para nos cobrirmos ao ir para a água quente, este não pode entrar dentro da água (muitas vezes se vêem as pessoas com eles bem dobradinhos em cima da cabeça). A água destas banheiras deve ser sempre mantida o mais limpa possível, pois ela é partilhada por todos e só é mudada no dia seguinte.
O preço de uma ida a um sentō ou onsen varia bastante. Por exemplo, segundo dados do Sento Guide, o preço base de um sentō em Tóquio é de 460¥ (€3,67), e noutras cidades o preço é pouco inferior. Ir a uma onsen é geralmente mais caro, algumas têm como preço mínimo 1000¥ (€7,97).
Este sistema de tomar banho também é reproduzido, de certa forma, nos lares das famílias japonesas. Nas casas japonesas existem geralmente duas casas de banho – uma onde só há a sanita e um lavatório, e outra que é onde de facto se toma banho. Nesta última também temos uma pseudo-divisão entre a zona onde nos despimos/vestimos e a zona onde nos lavamos. A primeira é onde também se colocam as máquinas de lavar e secar roupa. A área do banho tem um chuveiro onde primeiro nos lavamos e, ao seu lado, a banheira onde de seguida entramos. Claro está que a água da banheira é partilhada por todos. Depois de toda a família tomar banho, regra geral ao fim do dia, a água da banheira, como está limpa, é reaproveitada para a máquina de lavar roupa. Podem verificar isto com o vídeo abaixo!
Como se toma Banho no Japão?
Agora que já apanharam esta “injecção” sobre como tomar banho japanese style, podem impressionar os japoneses com a vossa etiqueta de banho quando estiverem no País do Sol Nascente!