A curta-metragem (OVA) Death Billiards nasce no âmbito do programa da Young Animator Training Project 2013 (Anime Mirai 2013), produzida pela Madhouse.
NOTA: Esta análise contém SPOILERS
Death Billiards | A História
Dois homens, um no pico da sua juventude e o outro na esquina da idade avançada, chegam a um bar. Nenhum deles tem memória de como ali chegou, não se recordam do que aconteceu antes e, de qualquer das formas, também não imaginam o que lhes vai acontecer de seguida.
Por alguma razão, os dois empregados do bar afirmam que estes têm que jogar uma partida de bilhar. As consequências da vitória e da derrota são ambas desconhecidas, no entanto eles não podem recusar o jogo. Este tem apenas uma regra: enquanto estiverem a jogar, os jogadores devem colocar a vida em risco.
Amor à primeira vista?
Uma narrativa que nos consegue pretender no primeiro diálogo, é um elemento raro da animação contemporânea. Aquele feeling que sentimos a ver os primeiros episódios de obras como Death Note, Code Geass, Fullmetal Alchemist: Brotherhood, entre outros, é algo cada vez mais esporádico. Porém, e talvez por se ter tornado algo incomum, quando encontramos uma premissa que nos faz sentir este “feelling” nostálgico, sejamos automaticamente sugados e positivamente enclausurados naquele universo fantástico, que nos está a ser apresentado.
Tal como numa ilusão, o enredo está estruturado em três atos.
Na primeira instância: A Premissa
Isto são os elementos e pequenos conceitos que nos são fornecidos, de modo a nos absorver para dentro da teia narrativa. Como por exemplo, o facto das personagens ali presentes não se recordarem da razão pela qual se encontram naquele local. As pequenas memórias de cada um, ambas falseadas e ambas com elementos já predefinidos, mostram-nos que as personagens já se encontram mortas. A explicação de todas as regras e do jogo, aproxima-nos ainda mais da narrativa, familiarizando-nos um pouco mais com o universo que nos está a ser apresentado. E para terminar esta fase em beleza, nada melhor que um pouco de suspense e mistério:
vão ter que apostar as vossas vidas no jogo e não podem abandonar este recinto enquanto não o terminarem.
Segunda instância: algo Ordinário torna-se Extraordinário
Todos os elementos acima referidos, apesar de interessantes, eram por si só, ordinários. Em contrapartida, quando atravessamos da primeira instância para a segunda, estes elementos vão sofrendo certas alterações que nos conduzem até aos acontecimentos extraordinários.
O simples jogo de bilhar, começa desde logo a revelar-se algo que pretende interferir com o foro psicológico dos protagonistas. Por norma este jogo, consiste em 7 bolas, quem as conseguir colocar primeiro nos buracos, pode então prosseguir para a oitava bola, que lhe garante a vitória. Não obstante, aqui, as bolas possuem desenhos de órgãos, que representam os órgãos reais de cada um dos jogadores, e a oitava bola um símbolo do infinito desenhada, representando assim algo eterno que o vencedor irá receber. Apenas esta mudança de elementos é suficiente para modificar um jogo comum em algo maior, adicionando certas questões e medos aos jogadores. “Quando aquela bola desaparecer de jogo, irá o meu órgão parar de funcionar?”, “Se todas as bolas forem colocadas, morro?”.
É este tipo de pormenor que leva algo ordinário a transformar-se em algo extraordinário, é este tipo de simbolismo que transforma um simples jogo de bilhar numa troca de pensamentos e ações, cheias de leitura mútua e frenetismo louco.
Terceira instância: A Revelação
Tal como numa ilusão transformar algo em extraordinário não é, por si só, algo realmente suficiente. O mágico explica, ou mostra minimamente, as razões e os processos do ato, para esclarecer e deixar o público com mais interesse e dúvidas. Provocando assim uma enorme quantidade de reflexão posterior à ilusão.
Por um lado, já sabíamos desde o início que o jovem tinha morrido pelas mãos da namorada. E por outro, no momento que o velho referencia que a última coisa que queria fazer, antes de falecer, era comer os pickles que a mulher cozinhava (memória esta que nos mostra o idoso a comer um pickle) desvendando assim a morte do mesmo.
Os passados e vontades convergem em atos impulsivos, moldando-os numa luta que simboliza o clímax de todo o desenvolvimento narrativo.
Um conceito que exige Reflexão
Depois da última revelação, temos a explicação do ato, da ilusão propriamente dita. Por norma, um ser humano quando morre, ou vai para o céu ou para o inferno. Todavia, quando dois humanos morrem ao mesmo tempo, são convidados a entrar num limbo denominado por Quindecim. Neste local é-lhes dada a possibilidade de lutarem pelo futuro, Céu ou Inferno? E é neste julgamento que muitos moralismos, questões éticas e filosóficas são erguidas. Deverá alguém que não viveu metade da esperança média de vida ser julgado da mesma forma que alguém que teve a oportunidade de viver uma vida inteira?
De qualquer dos modos, e pelo que retirei, os dois humanos a partir do momento que entram na Queen Decim, entram em pé de igualdade, ou seja não será considerada a sua vivência anterior até ao momento. Ainda assim, os conhecimentos prévios de cada um prosseguem com eles, o que poderá ser uma mais-valia no julgamento dentro da Queen Decim.
Portanto, a probabilidade do desenrolamento de acontecimentos apontava para uma vitória fácil para o idoso, visto que este tinha experiência de vida e experiência no jogo que estava a ser jogado. Mas isto não era a única coisa que influenciava o resultado final, o jovem foi capaz de mudar o próprio destino, decido a lutar por ele, independentemente dos meios aos quais tivesse que recorrer para atingir os fins.
Isto mostra-nos, e faz-nos ainda refletir sobre o quão rápido os humanos tiram ilações erradas uns sobre os outros. As célebres “primeiras impressões” do primeiro contacto que temos com alguém. Seja por simples palavras, ou pela aparência. Como público, rapidamente deduzimos pela linguagem visual que o idoso, levou uma vida pacífica sem aborrecer ninguém pelo que deve ser rotulado para o céu, já o jovem parece-nos um rebelde arrogante, que eventualmente será julgado para o inferno.
Por fim, e fechando a análise narrativa, a empregada questiona representado-nos a nós público, quem foi para o céu? Quem foi para o inferno? Quais foram as últimas palavras do idoso? Partilhem as vossas teorias nos comentários.
Death Billiards | Um ambiente altamente credível!
Tal como o título indica, o visual está construído até ao detalhe mais microscópico, para que aumente a credibilidade da existência do Quindecim como local, como limbo, como passagem entre Céu e Inferno.
Os cenários foram desenhados com todo o tipo detalhes, elementos e objetos, que potenciam e ajudam ao entendimento da narrativa. A palete de cores, vagueia por cores azuladas e arroxeadas escuras, com alguns contrastes esverdeado claro. Isto fornece ao ambiente algo atípico, assentando a singularidade enigmática do local em que nos encontramos.
Cada frame da animação encontra-se incrivelmente polido, perpetuando uma animação sem falhas, seja nos momentos mais calmos, ou até nas coreografias mais arrojadas. O jogo de bilhar não abusa de modo algum da ficção narrativa, prosseguindo com a fidelidade da física existente no nosso mundo. A caracterização das personagens ajudou imenso ao desenvolvimento narrativo, dando as pistas, ou ilusões necessárias para o nosso entendimento visual.
A música clássica, calma e subtil, assentou que nem uma luva, agregando todos os departamentos técnicos num, intensificando deste modo a experiência.
Death Billiards | Juízo Final
O conceito de Death Billiards transborda não só originalidade, mas também muito talento. Conseguir ter uma boa ideia, muita gente consegue fazê-lo. Agora, esculpir essa ideia desta forma, poucos são os escritores com essa capacidade. Muitas são as dúvidas que ficam, mas são-nos deixadas com esse propósito, para reflexão. Já o visual anda de mãos dadas com a brilhante narrativa, criando uma experiência visual única e saborosa.
Muitas são as reflexões ou análises mais detalhadas que ficam por fazer sobre elementos específicos que tive que saltar ou abandonar para não tornar esta análise em algo ainda mais extenso. Portanto, partilhem as vossas opiniões e teorias, e quem sabe até me leve a formular uma reflexão sobre as temáticas abordadas na história de Death Billiards.
Recomendo esta obra a todos os amantes de temáticas psicológicas e de narrativas complexas. Mesmo que não apreciem muito este lado, mas se forem fãs das produções da Madhouse, devem ver, apesar de ser algo que nunca vimos esta produtora produzir, o facto de ser tão especial, faz com que devam acrescentar aos vossos reportórios de obras assistidas, produzidas provenientes desta produtora.
Trailer Death Billiards
Análises
Death Billiards
Recomendo esta obra a todos os amantes de temáticas psicológicas e de narrativas complexas. Mesmo que não apreciem muito este lado, mas se forem fãs das produções da Madhouse, devem ver, apesar de ser algo que nunca vimos esta produtora produzir, o facto de ser tão especial, faz com que devam acrescentar aos vossos reportórios de obras assistidas, produzidas provenientes desta produtora.
Os Pros
- Conceito
- Personagens
- Harmonia técnica
Os Contras
- Nada de relevante a apontar