Death Parade é uma adaptação de uma curta-metragem (OVA) denominada por Death Billiards, que nasceu no âmbito do programa da Young Animator Training Project 2013 (Anime Mirai 2013), produzida pela Madhouse. É aconselhada (mas não obrigatória) a sua visualização antes de iniciarem a vossa viagem em Death Parade.
Opening:
Bradioo – “Flyers”
Death Parade | Bem-vindos a Quindecim
Existem muitas obras que se debruçam sobre a vida, ao mesmo passo que existem muitas obras que desenvolvem a temática sobre a arte de tirar uma. Porém, são raras as que incidem sobre o pós-vida, sobre a morte, sobre as suas consequências e o seu significado. Death Parade vai ainda um pouco mais longe ao tentar criar uma realidade onde podemos observar, como se comportaria um ser-humano se tivesse que enfrentar por breves momentos, o facto de que já não se encontra mais no mundo dos vivos.
Toda esta estrutura da psicologia humana, é-nos fornecida de forma detalhada através de uma refinada escrita narrativa. A conjugação da premissa invulgar com a exposição bem executada, absorve-nos de forma automática e inconsciente. Leva-nos enquanto público a sair do elevador, a entrar em Quindecim, com muito cavalheirismo puxam-nos a cadeira, sentam-nos e questionam-nos o que deseja-mos para beber, transformando-nos em reféns de uma experiência rara de encontrar.
A caracterização e desenvolvimento de personagens são genuínos e realizados através de ações, palavras, diálogos e flashbacks estrategicamente bem posicionados ao longo de cada episódio. Isto leva a uma construção de personagens mais rápida e ao mesmo tempo mais real, conseguindo que em pouco tempo nos transmitam a credibilidade da existência (em carne e osso) de determinada personagem. Estes elementos aplicam-se ao elenco principal, mas essencialmente às duas personagens que variam de episódio para episódio, ou seja, aos julgados. É de louvar que em vinte minutos consigam a proeza de: introduzir as personagens, desenvolver-lhe os contornos necessários, criar confronto entre duas personalidades maduras e distintas, e por fim desenhar uma conclusão sólida. O epílogo de cada episódio deixa ainda uma infinidade de problemáticas a gravitar, para que o público as possa degustar pelo tempo que for necessário de modo atingir um julgamento próprio.
Death Parade | Um universo inexplorado
Como provavelmente já foi concluído pela elogiada construção episódica, Death Parade brilha mais forte quando nos apresenta o esqueleto de histórias isoladas. O valor da obra atinge o seu pico máximo quando julga e nos coloca a julgar os mais variados tipos de Humanidade existentes no nosso mundo, deixando claro, muitos por apresentar.
Em contrapartida, somos contemplados (feliz e infelizmente) por uma expansão de um universo único. Inicialmente conhecemos apenas Quindecim, no entanto, com a progressão do enredo vamos ganhando noção que existe um mundo infinito à volta daquele bar, deixando-nos mesmo com a perspetiva que este é apenas uma unha do que existe no mundo dos mortos. Além disto, recebemos ainda a introdução de múltiplas personagens interessantes, com estatutos e poderes misteriosos.
O problema de tudo isto foi mesmo ter sido inserido quando não existia tempo suficiente para o desenvolver e muito menos para o concluir. Mostram-nos diversos cantos gostosos, mas em vez de nos alimentarem com eles, deixam-nos longe e com muita água na boca. Este é o ponto mais fraco de toda a obra, criando um desequilíbrio desproporcional tendo em conta todo o restante panorama da mesma. Esta viveria melhor e de forma mais alta se se tivesse focado mais nos julgamentos, levando-os mais longe.
Esta parte narrativa poderia, obviamente, ser inserida no caso de existir longevidade suficiente para que fosse desenvolvida da forma que merece.
Death Parade | Ambiente
Por muito fabulosa que seja a escrita desta obra, sozinha não conseguiria ter o mesmo poderio que tem como obra total. A apresentação é um ponto fulcral quando a narrativa se passa num mundo que não existe na nossa realidade, e que raramente ou nunca esteve presente nos nossos imaginários por via de outras obras. Esta grande imersão resulta da polivalência harmoniosa do visual, que é encontrada em todos os departamentos relativos à produção técnica.
Ao atravessar a ombreira da porta deste novo mundo, deparamo-nos com uma palete sombriamente colorida através de cores frias, onde predominam os roxos, azuis e cinzentos, transmitindo o senso de morte, não de forma horripilante mas sim convidativa. Apesar de predominar o senso de frieza, não cria desconexão no relacionamento público-obra, sendo completamente agradável às pupilas.
Os cenários possuem uma composição adequada, que quando fundida com a palete de cores, cria os pilares necessários para a primeira grande imersão. A banda sonora tem várias faixas boas para cada momento, e outras tantas que dificilmente deixarão a nossa memória. Marcam-nos pela sua composição orquestrada com mestria, e principalmente pelo seu oportunismo em cada cena, intensificando naturalmente a essência pretendida em cada uma.
Com cada instrumento no seu lugar, precisamos de um Maestro que consiga ligar todos estes pontos que, de forma isolada, não funcionariam com a mesma intensidade. A realização de Yuzuru Tachikawa (também criador original da obra), guiou-nos o olhar para onde pretendia, deu-nos as pistas, as ligações para que tudo fosse passível de ser compreendido, e principalmente de ser refletido. Se existe uma concordância afinada, deve-se a este grande artista, que apesar de se estar a estrear conseguiu tirar partido de todos os departamentos técnicos e transmiti-lo ao público.
Death Parade | Juízo Final
Ainda que o mundo de Death Parade se encontre incompleto, e que exista um claro desequilibro entre a construção de linha narrativa e estrutura episódica, e mesmo que a obra não passe por muitos casos possíveis de serem julgados e de gerarem uma intensa carga dramática, assim como uma enorme discórdia entre os julgamentos, forneceu-nos uma resma diversa de casos que deverá ser considerada. Estes, através de uma cinematografia sublime, um design de personagens sólido e dinamicamente rigoroso, cores e iluminação no ponto, uma banda sonora audível vezes sem conta, com uma narrativa que prolifera emoção e reflexão, levam-me a questionar: estão à espera de quê para carregar no primeiro episódio?
Independentemente dos pontos negativos que a obra possa demonstrar ocasionalmente, tornou-se de forma inexorável uma das melhores obras de 2015, entrando de imediato para aquela lista obrigatória de títulos que não podem deixar de lado. É claro que para fãs de psicologia, análise humana e fantasia bem recriada, esta é uma obra maravilhosa.
Por outro lado, se não aprecias obras muito complexas, onde cada detalhe e cada frame conta como peça de um puzzle maior, então é possível que esta obra não seja assim tão imperativa quanto isso.
Análises
Death Parade
Independentemente dos pontos negativos que a obra possa demonstrar ocasionalmente, tornou-se de forma inexorável uma das melhores obras de 2015, entrando de imediato para aquela lista obrigatória de títulos que não podem deixar de lado. É claro que para fãs de psicologia, análise humana e fantasia bem recriada, esta é uma obra maravilhosa.
Os Pros
- Conceito
- Harmonia técnica
Os Contras
- Falta de desenvolvimento de alguns pontos narrativos