À data de publicação deste artigo, passou-se 1 ano desde o lançamento do videojogo Death Stranding de Hideo Kojima. Não sei se é apenas pela minha perspetiva, mas sinto que isso aconteceu na semana passada. Sinto que neste intervalo de meses, esta pandemia que atravessamos e a divisão da sociedade quanto a assuntos como o racismo ou as eleições na América, não passam de um pesadelo que surge e se vai desvanecendo na minha memória, à medida que vou readquirindo a consciência.
Creio que já tenham notado algo de diferente neste artigo. Pois é, não estou munido com a minha faceta profissional enquanto escrevo estas palavras. Hoje estou aqui apenas para expor um pouco de mim, da forma mais natural possível. Venho mostrar-vos como no ano passado Death Stranding conseguiu munir-me de uma inspiração fenomenal que se mantém comigo até hoje, por mais que ocasionalmente ela própria adormeça e fique assim por uns dias, até ressurgir e tornar-me capaz de perseguir os meus objetivos novamente.
Eu escrevi este texto na altura do lançamento do jogo em 2019 como um desabafo, uma forma de exorcizar os sentimentos de frustração que me atormentavam. Devo confessar que as coisas não estão melhores um ano depois. Mas estão diferentes. E isso basta! Sinto-me mais confiante e capaz de enfrentar os obstáculos que vão surgindo na minha vida. Tenho recebido ‘nãos’ constantes que outrora me iriam derrotar, pôr-me de rastos e fazer-me questionar: “até que ponto vale a pena continuar a esforçar-me”. Mas não. E este não é meu! Recuso-me a ser derrotista porque tantos outros não desistiram, porque é que eu deveria fazê-lo? E esses tantos são uma inspiração para mim.
Histórias como a de Death Stranding e personalidades como Hideo Kojima têm esse poder nas pessoas. Espero que de certa forma, quem tirar uns minutinhos para ler este texto, se sinta também inspirado por mim.
Espero que possam apreciar este Desabafo Social temático de Death Stranding.
Desabafo Social – Death Stranding Especial Primeiro Aniversário
Desde criança que tenho um sonho que sobrevalece em relação a todos os outros: criar formas de permitir às pessoas uma fuga momentânea à realidade, de poderem abstraír-se dos problemas do dia-a-dia, de terem a capacidade de viver o que não podem viver na vida real. Desde que me conheço que me refugio na ficção, seja em forma de literatura, música, cinema, videojogos,… com o objetivo de conseguir obter o descanso psicológico e emocional necessário para enfrentar o que quer que aconteça na minha vida. Sei que não sou o único, afinal, essa é a função da arte: transportar as pessoas para uma realidade alternativa, deixando tudo o resto para trás.
Ultimamente, a nossa realidade tem-me atingido de uma forma diferente.
Tenho sentido na pele tudo o que tem acontecido, de bom e de mau, e tenho tentado processar tudo isso, conectar todas as coisas de forma a que façam sentido.
Têm sido de loucos os últimos tempos. Todas as minhas escolhas, as minhas decisões, trouxeram-me aqui. Por vezes, passa-me totalmente ao lado porque fiz essas escolhas. Esqueço-me. Talvez esteja na altura de dar um tempo à realidade e imergir num novo mundo ficcional. “Talvez esteja aí a força que eu preciso”, é o que penso para mim mesmo.
De tempos em tempos recebo uma nova fornada de motivação em forma de arte. A mais recente é Death Stranding, uma história do criador japonês Hideo Kojima, famoso pelos seus 30 anos de experiência na indústria. Decidi nos últimos dias explorar um pouco da sua vida e tentar perceber o que o torna tão especial para que lhe seja atribuído o título de “lenda”. E a verdade é que fui surpreendido com detalhes com os quais me identifico bastante.
Kojima é apaixonado por cinema desde criança. Era tradição na sua família reunirem-se para verem um filme todos juntos, todas as noites antes de se irem deitar. E mesmo quando este se encontrava sozinho, passava o seu tempo livre a ver televisão para se inspirar com os programas que passavam na altura e como forma de se sentir menos só. Esta paixão foi crescendo ao longo dos anos e, com ela, o desejo de se vir a tornar realizador e argumentista. Mas com a morte prematura do pai (o que resultou numa crise financeira familiar) e com a pressão da sociedade em optar por escolher uma profissão mais segura, Kojima sujeitou-se à via mais estável, começando a estudar Economia.
“A crença comum no Japão, na época, era que escolas excelentes e educação adequada levavam a empregos seguros e bem remunerados, esse era o ideal japonês: um regime que teve consequências para todos aqueles que tentaram não seguir esta ideologia, os meus sonhos de me tornar diretor de cinema entraram […] em conflito com essa regra não escrita da sociedade. Isso tornou a minha vida mais difícil e fez-me sentir sozinho e rejeitado”
– Hideo Kojima
Eu passei pelo mesmo ao longo dos anos. Uma das minhas primeiras decisões controversas perante os olhos da sociedade foi ter optado por fazer um curso profissional durante os 3 anos de liceu.
“Tens tão boas notas, é um desperdício teres escolhido seguir esse caminho”; “Os alunos de Científico-Humanístico têm mais probabilidades de vir a ter sucesso na vida.”; “Os alunos do Profissional são os renegados que não querem estudar. Porque te juntaste a eles?”
TRETAS, minha gente. Foi uma das melhores decisões que podia ter feito na vida. Eu sempre soube que queria estar envolvido com a Informática… porque é que ia adiar? Esperar 3 anos para poder entrar na Universidade e começar a estudar o que realmente pretendia quando em mim já só haviam certezas? Mas as pessoas comentaram durante anos… e hoje, graças ao facto de ter tido estes 3 anos de preparação no secundário (mais 1 do Ano Zero, outra treta que levou as pessoas a comentarem sobre a minha vida… NÃO, NÃO FIZ EXAMES! E daí?) lá consegui terminar a minha licenciatura em 3 anos. 3 longos anos. Bastante difíceis. E hoje, estou metido noutra controvérsia, para variar! E não podia estar mais orgulhoso disso. Não podia estar mais orgulhoso de mim! Estou a estudar videojogos! A junção do meu sonho de infância de criar histórias, experiências para as pessoas e a área que sempre estudei – Informática! É o melhor de dois mundos, e eu adoro o que faço. Por mais que isso seja uma piada para muita gente.
“Videojogos!? Deves estar a brincar, isso não tem futuro nenhum!”; “Que criancice! Vê se cresces!”; “Estudas jogos? Então na universidade passas as aulas a jogar?”;
Entre tantos outros comentários infelizes… mal estas pessoas sabem que os videojogos são atualmente das indústrias mais lucrativas que existem. Infelizmente, é ainda pouco desenvolvida em Portugal. Mas estou cá para ajudar a mudar isso. Eu e os meus colegas do mestrado! E tantos outros… não estamos a brincar. Estamos a lutar para ter um lugar neste mundo fazendo o que gostamos, partilhando as nossas criações com as pessoas, tornar a realidade delas um bocadinho melhor. Não é fácil, não será fácil, mas quem disse que achávamos que iria ser? Aliás, quem disse que queríamos que fosse fácil? Lá no fundo, acreditamos que um dia vamos mudar o mundo. Mas se não formos tão longe, ao menos que consigamos mudar Portugal. Precisamos desta indústria forte por cá. E temos a força para isso. Não queremos o que é fácil como grande parte das pessoas. Queremos arriscar.
Como o Kojima fez… Ele nunca desistiu do seu sonho. Com o total apoio da mãe, deixou o curso universitário que seguia e começou a estudar Desenvolvimento de Jogos Digitais. Na altura, ele começou a olhar para os videojogos como um potencial meio de contar histórias e nunca mais olhou para trás. E hoje… hoje é uma LENDA! Admiro muito gente assim. São pessoas que inspiram com as suas ações. Com a sua história de vida. O meu objetivo é poder fazer o mesmo no futuro. E vou dar o meu melhor para o conseguir.
Tudo isso, para mim, é ter a capacidade de mudar o mundo. De despoletar inspiração. De ajudar quem está perdido. De conectar o que está à deriva.
De uma forma ou de outra, é esse o meu futuro.
TOMORROW IS IN YOUR HANDS
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