Disclaimer:
Sou uma pessoa com problemas em lidar com a raiva e acabo por entrar em longas rants sobre os mais variados temas que se calhar não interessam nem ao menino Jesus. Pois bem, em vez de deixar que isso me consuma, vou partilhar com vocês as a minhas “úlceras e aneurismas à espera de acontecer”. Isto são coisas que me incomodam a mim, não quer dizer que eu esteja certo e que as histórias tenham que seguir o meu rumo, muito provavelmente eu é que estou mal e não devia ver ou ler ou etc.
Desisto de Shokugeki no Soma – Um Pedro No Sapato
Ao apanhar capítulos mais recentes de Shokugeki no Soma, depois de meses a deixar acumular, apercebi-me que aquele que considerava ser a minha maior espinha encravada da narrativa desde o início do manga, continua presente: não há real perigo quando o protagonista está envolvido, aliás não há reais consequências de todo!
Há mais falhas, e gritantes na obra, mas o retrato do protagonista é a “colina onde decidi padecer”.
O Soma não perde, nunca! Não vacila e não treme, não verdadeiramente. O meu arc favorito do manga continua a ser o período de estágio quando ele esteve sob a asa do Shinomiya e o vemos a vergar e a ter que evoluir. Mas overall, ele não encontra verdadeiros obstáculos.
Eu sei o porquê, mas isso não me ajuda na “deglutição”. O Soma é o tipo de protagonista a que eu chamo de: ‘hidden tensai’, génio escondido. O protagonista que é estupidamente bom, mas como as outras personagens não o conhecem subestimam-no, seja por tamanho, idade ou background e depois levam na boca.
Conhecem mais protagonistas assim?
Aliás, o background do Soma é uma clonagem de outro protagonista de um anime que eu gosto: Prince of Tennis. O Yukihira Soma é para a cozinha o que o Echizen Ryoma é para o ténis:
- Ambos são filhos de génios do meio, que quebraram barreiras e estontearam o mundo, e que subitamente desapareceram do court/cozinha por desgaste ou falta de fogo e viram no nutrir do talento do seu filho a sua maior paixão.
- Os filhos são absurdamente bons mas nunca derrotaram os pais e esse é o seu objetivo.
- São então lançados nas antigas escolas dos seus progenitores, onde vão encontrar gente talentosa e com eles crescer, sendo permanentemente subestimados e derrotando toda a gente no caminho.
- Em ambos os casos ninguém sabe que são filhos de quem são e é uma “surpreendente revelação” para as restantes personagens, à qual se segue “ahhh, agora faz sentido o talento”.
Exatamente igual! E, só para sublinhar, o mais recente plot point de Soma ter um irmão “ainda melhor que ele” que o pai escondeu, é também o enredo de um filme de Prince of Tennis.
A sério que caímos na trope do irmão surpresa? Sou o único que fica incomodado com isto?
Atenção, tal como referi no início, as falhas de Shokugeki no Soma não se restringem apenas ao protagonista, mas custa ter uma personagem que até é engraçada, as vezes Luffy-like e Goku-like (nada de novo em shonen), ser o foco de uma obra que se centra em desafios, os quais ele nunca vai perder, pelo menos não realmente. Para mim, o ponto final pode ter sido quando revelaram o “irmão” (there is another), mas eu já estava a contar os dias para abandonar o manga quando o arc anterior foi concluído da forma que foi.
Central Arc assumiu-se como a parte “épica” da obra, até à data, no qual tudo foi virado do avesso e cuja resolução dependia de um Régiment de Cuisine. Conceptualmente interessante e, embora a forma como foi concluída já estivesse mais que traçada, fiquei com grande dissabor na boca sobretudo pelos “despojos da guerra”. À conclusão do seu primeiro ano em Totsuki, e sem um final da obra à vista, Yukihira Soma é 1st Seat da Elite of Ten e Erina é nomeada diretora da Academia… WHAT!?
Portanto, as personagens atingiram o pico… e agora? Mais stakes que não se vão concretizar, nem representar perigo real? Foco no romance? Nada disto me parece “apetitoso”. Eu sei que não me devia queixar e que isso é fácil quando comparado com a escrita de um manga, mas… Porque não deixar o Soma amargar por nunca ter derrotado o Tsukasa e ter de lidar com isso? Usar isso como motivação para fazer com que ele evolua e cresça? Não… Derrota-se. E agora seguindo a onda do bigger and badder temos a inserção de um irmão do nada que é “tão bom que até derrotou o pai”!
Desculpem mas desisto.
Eu à procura de uma imagem com o Soma e o “Super Irmão” e esbarro nisto. Oookay… Ainda bem que parei de ler!
Só porque quero descarregar mais um pouco, aqui vai uma lista de acontecimentos no manga que particularmente me fizeram comichão (para alguns destes, comichão é um eufemismo):
- Training Camp Arc: O Primeiro Shokugeki de Megumi – Este confronto, sobretudo o que o provoca e a sua resolução, vão ser elogiados mais abaixo, contudo tenho que falar de um pequeno detalhe posterior ao duelo. A cena que me irrita é a de Soma, sozinho deixando-se abater pela angústia de não ter derrotado Shinomiya, dando um soco na parede, sendo observado por Gin que refere que tal sentimento o vai ajudar a crescer como chef (bullshit). Eu sei que isto é picuinhas da minha parte mas a meu ver revela uma arrogância de Soma, que pode ser vista, aqui e ali, ao longo do manga, mas emudece à sombra da titã da arrogância que é a Erina. Porque motivo achava ele que seria possível derrotar um chef como o Shinomiya, ainda para mais num duelo que não era o seu?
- 43rd Annual Tōtsuki Autumn Election Arc – Aqui estão as derrotas de Soma! Primeiro colocam-no num bloco com concorrentes fortes mostrando que ele tem adversários à altura e até aqui tudo bem. Ele e Kurokiba empatam com 93 pontos e perdem para a Hayama com 94. Que derrota devastadora… Depois chegamos às meias finais onde Soma passa pelo Mimasaka, o Hayama empata com o Kurokiba e isso leva a uma final a três?! UHHHHH vingança pelo resultado no bloco… E Hayama vence! A forma como falam parece algo decisivo mas tendo em conta os empates, pontuações prévias e o trio de amigos que daqui resulta parece-me algo muito mais próximo. O que me irrita aqui? Não é o Soma, mas o facto de Kurokiba ser mostrado ao nível dos outros dois, mas depois ser agrupado com a claque de apoio durante o resto do manga…
- Sem associação a arcs, mas serei eu o único a achar que na “rivalidade” Takumi vs Soma, apenas o Takumi vê Soma como um real adversário enquanto o outro o ignora? Eu sei que a obra faz este tratamento a princípio como meme, contudo mais tarde, com a evolução do Takumi, parece que deixam transparecer que a rivalidade existe, o que para mim é bullshit porque o Soma, por muito que diga, não olha para o Aldini como seu igual… mas devia.
Até aqui estes pontos incomodavam mas não me impediam de genuinamente gostar da obra e sim, até gostar do Soma na maioria dos casos. Mas eis que começa o Central Arc e pronto, f****!
- À entrada para este arc a Erina ocupava o 10th Seat da Elite of Ten e o Soma tinha vencido dois confrontos contra membros da Elite: um direto contra Eizan (9th Seat) e um não-direto contra Kuga (8th Seat) relativamente ao lucro das suas bancas no Moon Festival Arc (bom arc já agora). Isto é importante sublinhar para comparar com a absurdidade com que termina este Central Arc, a qual eu já referi acima.
- Até ao Régiment de Cuisine o arc é competente, mesmo passando por cima do facto que toda a gente que se opõe à Central perde, com excepção de Soma que, por obra do destino, se vê num frente a frente decisivo contra um “cinzento” Hayama e tem a possibilidade de finalmente se vingar da derrota prévia e avançar a plot.
Já que, com o protagonista expulso de uma escola com tantos alunos dotados, como a obra provou várias vezes, esta ia seguramente perder-se sem o nosso herói… Dá para sentir o sarcasmo?
- Chegado o Régiment de Cuisine começa a parvoíce! Porque é que o Soma é que vai derrotar a Nene com o seu ingrediente de especialidade? Pior: eles fazem parecer que o Soma tem azar em tirar um papel aleatório com soba como ingrediente do desafio… O que me irrita nisto? Primeiro, eles pisam e repisam o quão exigente e complexo é o processo de fazer bom soba. A mestria, anos e anos de treino, conhecimento através das gerações, algo apenas alcançável por verdadeiros artesãos, nos quais a obra insere a Nene. Segundo, tendo ela uma profunda tensão que com o Isshiki, com raízes num passado conjunto, porque não fazer o duelo entre eles e lidar com isso diretamente, em vez de o fazerem posteriormente com ele ou ela nas sidelines? Porquê Soma derrotar alguém com um ingrediente cheio de história e que domina a vida do adversário desde o início?
- Depois, vira o disco e toca o mesmo: Soma derrota Sōmei, o qual à data do desafio era o 4th Seat da Elite of Ten. Um “samurai” que ataca a cozinha com uma disciplina incrível; mais um fenomenal artesão que está no seu último ano da prestigiada e “espartana” Totsuki Academy. Eu entendo aqui a derrota porque a história forçou este tipo de resoluções. Contudo, é difícil engolir que um curso intensivo de culinária durante uns dias no comboio, mesmo tendo tutorias de Gin e Jōichirō, tenha elevado tanto as capacidades desta gente. Mas só de alguns: Erina e Soma. God Tongue ou não, Erina é a 10th Seat e de repente já consegue derrotar a 3rd Seat, graças ao imparável “poder da amizade”. Eu entendo que me possam julgar por dizer isto e eu sei que o crescimento da Erina é pessoal e que a nível de capacidade ela é tipo wow, mas ela estava no lugar que estava por algum motivo e não me parece que, on a given day, ela fosse capaz de derrotar alguém da Elite acima do Kuga, ainda para mais na especialidade desse chefe como acontece com a Momo.
Outra side note antes de falar do duelo final: é uma academia, três anos de aulas e provas de superação exigentes e se alguma coisa este Régiment de Cuisine provou foi que anos de experiência na Academia não importam… Ok então!
- Soma e Erina derrotam Rindō e Tsukasa. Odeio isto, mesmo! Claro que tinha que ser este o final dado as consequências da derrota, mas porra. Até me faz falar mal! E não, não me atenua a irritação o Soma não ter diretamente derrotado o Tsukasa, porque a Erina fazê-lo e dizerem que se deveu à coesão com o appetizer do Soma e, novamente, ao “poder da amizade”, é linguagem de mau shonen. Ela pode ter progredido muito a nível pessoal, mas nada do que a obra nos mostrou até ali, fazia antever que a vitória dos protagonistas seria possível. E eu defendo isto com um simples argumento: a Rindō e o Tsukasa são inseparáveis desde novinhos e a Erina e o Soma por muita “tesão”, peço desculpa, tensão e química que tenham, não passam de repente a ser o Lima e o Jonas da Tōtsuki Academy.
Sinto que fiz um exorcismo a mim mesmo com toda esta torrente de palavras. Se chegaram até aqui, muito obrigado por fazerem este percurso comigo. Eu só sinto este nível de irritação por coisas que gosto. Se não me apelassem e não me deixassem apaixonado, eu iria ignorar e não escreveria com tanto fervor. Posto isto, quero deixar-vos com algumas das coisas que realmente gostei em Shokugeki no Soma:
Personagens Favoritas:
- Shinomiya Kojirō – Genuinamente a minha personagem favorita da obra. A sua introdução fez-me odiá-lo, como era o objetivo, e terminei o arc como o seu maior fã, depois da revelação/recordação que a prova do prato de Megumi desencadeou. O Stagiere Arc colocou sobre ele o holofote que eu queria e foi o principal motivo para ser o meu arc favorito. O segundo motivo foi ver Soma evoluir sob a sua tutelagem. E mesmo no Central Arc, em full circle, ele regressa para ajudar a Megumi.
Felizmente a obra apresenta vários flashback o que nos permite descobrir mais sobre personagens do passado. Posto isto:
- Dōjima Gin – O Gin é awesome desde a introdução e assume o papel de mentor/sensei mais do que qualquer outro adulto na obra. O seu passado no Polaris Star Dorm com Saiba Jōichirō e a forma como ele viveu a ascensão e colapso do amigo, são memórias que recordo com carinho.
- Saiba/Yukihira Jōichirō – É badass, sendo também, como já referi, o Echizen Nanjirou. Não fosse o seu passado profundamente interessante, sobretudo a justificação que o levou a abandonar a academia e o mundo da cuisine, ele seria apenas um clone de Nanjirou e “apenas” a parede que Soma quer derrubar.
- Hinako Inui – Um dos melhores comedic reliefs do manga. Aparece a espaços, mas todas as cenas dela com os seus senpai pertencentes à 79ª geração -Shinomiya e Mizuhara – são dignas de serem recordadas, assim como as suas interações com os alunos da 92ª geração.
Passemos à juventude. Primeiro as senhoras:
- Kobayashi Rindou – Excelente design, ela é um caso de psiquiatria e adoro a especialidade dela serem ingredientes exóticos, o que a faz viajar pelo mundo à sua procura/descoberta. Pena ser do terceiro ano e ter já abandonado a academia. Volta Rindou-senpai.
- Arato Hisako – Em dois momentos passou de uma simples lacaia a gemer “Erina-sama” para uma personagem genuinamente interessante: na 43rd Annual Tōtsuki Autumn Election revela-se uma excelente chef medicinal sendo derrubada pele eventual vencedor, Hayama Akira; a partir do Stagiere Arc quando começa a dar-se com Soma.
- Hōjō Miyoko – É com muito pena minha que tenhamos visto tão pouco desta personagem até à data. Contudo, a sua introdução foi tão forte que o apreço que tenho por ela reverbera desde a Autumn Election.
- Tadokoro Megumi – O meu caso com a Megumi é amor/ódio, ou melhor, respeito/ódio. Comecei por achá-la piegas e irritante (continua a sê-lo), mas a sua progressão é honesta e genuína, tal como o seu estilo de culinária é acolhedor e maternal. O seu 10th Seat na atual Elite of Ten é dos poucos que faz sentido.
Passemos aos boys:
- Takumi Aldini – Numa outra vida, Takumi poderia ser o protagonista da sua própria obra. Um pouco como Vegeta e Goku, Takumi chega com um background semelhante ao de Soma. Aparece arrogante e confecciona na sua mente uma rivalidade com Soma que ao início parece simplesmente ridícula, mas que ao longo do manga começa a fazer mais e mais sentido. A progressão de Takumi é excelente a meu ver e talvez a única personagem da 92ª geração que tem um forte crescimento enquanto personagem, repleto de quedas e superações. Menção Honrosa para o seu maninho, Isami Aldini.
- Isshiki Satoshi – Começou por ser o excêntrico senpai nudista do Polaris Star Dorm mas rapidamente me colocou a pulga atrás da orelha ao saber que era o 7th Seat da Elite of Ten. Demorou até sabermos porquê, mas não desapontou. A revelação do passado de Isshiki é boa e está ligado ao tal “confronto” com Kinokuni Nene que referi acima. Divertido e um monstro na cozinha, Isshiki é para mim um dos pilares mestre escondidos da obra.
- Saitō Sōmei – Este não fácil de justificar com elementos ao longo da obra, uma vez que apenas é focado durante o Régiment de Cuisine. Contudo, eu adoro samurais e código samurai portanto o padrão para gostar de Somei era já bastante elevado. Gosto do seu design, gosto da sua atitude de honrado guerreiro, a sua especialidade é sushi… Que mais há a dizer!
- Terunori Kuga – Kuga-senpai começou por ser apenas uma cool diva com traje de Ip Man e uma horda de carequinhas ao seu dispor. Teria ficado pela personagem cool da qual apreciava sempre que aparecia, não fosse ter com Tsukasa o conflito que eu queria que Soma tivesse: a amargura de nunca ter vencido o 1st Seat e pior, nunca ter sido reconhecido por ele.
- Tsukasa Eishi – Acho a personalidade cativante e divertida e acho as suas habilidades deslumbrantes. Eu sei que muitas das personagens apresentam o cunho de “chef-like”, mas a par de Shinomiya apenas Tsukasa emana a aura de um verdadeiro chef de cuisine.
- Yukihira Soma – Ya, ele está na lista. Eu não me preocuparia tanto em desmantelá-lo senão gostasse dele e não visse algo mais do que aquilo que foi mostrado. Ao contrário de outros protagonistas do género, o Soma tem uma personalidade fácil de gostar e é relatable. É um distraído, sem senso comum, idiota sem noção que aumenta as suas habilidades com recurso a brute force, em vez de cuidadosa ponderação e estudo. A sua experiência no mundo real dá-lhe um instinto incrível e, caso a obra não fizesse dele o Super-Homem, a base estava bem estabelecida para um protagonista com uma genuína progressão de altos e baixos, recheada de comoventes superações de obstáculos.
E é isto. Espero que tenham gostado. Se sim, por favor façam-se ouvir caso queiram ler sobre as minhas irritações.
Até breve…
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