“Donten ni Warau” foi uma das apostas da Doga Kobo para o outono do ano transato. Um investimento que, pelo menos no seu arranque, mostrou ser mais promissor do que à partida se poderia pensar. Agora, com esta pequena produção já concluída, chegou à altura do veredicto final do ptAnime. Será que o trabalho de Gen Fukunaga foi consistente até ao seu final?
Donten ni Warau | Sinopse
[Apresentada no artigo de Primeiras Impressões] No décimo primeiro ano da Era Meiji, surgiu a lei que impedia qualquer pessoa de transportar consigo uma espada, o que levou lentamente ao desaparecimento dos Samurais.
Como era de esperar, nem todos eles aceitaram esta mudança de bom grado e isso refletiu-se na taxa de criminalidade no país. De forma a arranjar lugar para colocar todos os rebeldes que surgiram naquela altura, o governo criou uma prisão no meio do lago Biwa, que ficou conhecida pelo nome “Gokumonjo“.
Uma vez que alguém tinha de fazer a transportação de prisioneiros via marítima, dada a extensão do lago, os três irmãos Kumoh aceitaram o trabalho que, para além de ser mal pago, traz bastantes problemas. Afinal de contas, a transportação de reclusos para Gokumonjo é apenas uma das tarefas deste trio. Não esquecer a captura de alguns fugitivos daquela prisão e Samurais de outrora que vagueiam pela região com intenções nada amigáveis.
Como se não bastasse, está a chegar a altura de nova reincarnação do Orochi, um demónio que a cada 300 anos desce à Terra para instalar o caos e a destruição, apoderando-se para isso do corpo de um Ser Humano. Quem será a cobaia desta vez?
Laughing Under the Clouds | Um título repleto de alegria
Traduzido para o lado Ocidental, o anime herdou o título “Laughing Under de the Clouds”, que em português significa “Rir debaixo das nuvens”: um nome repleto de alegria e que retrata bem aquilo que se passa na série, capítulo após capítulo.
Muitas são as adversidades com que os Kumoh se deparam, muitos os momentos dramáticos mas, independentemente do que vai acontecendo, o sorriso está lá, escarrapachado nas caras dos irmãos. São expressões que não fogem e que de certa forma são um exemplo para nós, espectadores, pois por maiores que sejam as adversidades temos que ter esta capacidade. Um atributo que não serve de escape às circunstâncias difíceis, mas de incentivo à reação positiva que podemos ter nesses momentos, para que assim nunca surjam remorsos ou lamentações de qualquer vivência. Enfrentar os obstáculos com um (verdadeiro sorriso) na cara parece que nos coloca numa outra perspetiva que não a habitual.
Os Irmãos Kumoh: protagonismo, contraste e responsabilidades
Donten ni Warau é uma história construída em torno destes três irmãos, que decididamente merecem o protagonismo que lhes é atribuído ainda antes do arranque da trama. Não conseguem sozinhos dar emoção às partes mais intensas do enredo, mas é verdade que muito depende deles, particularmente de Tenka e de Soramaru.
Tenka é a típica personagem que adoramos desde o início ao fim. Por ser o irmão mais velho é automaticamente o responsável por cuidar dos outros dois, conseguindo fazê-lo de uma forma que encanta qualquer espectador. Na ausência dos pais, Tenka garante que nada falta à sua família, não apenas em bens materiais como na transmissão de vivências e sentimentos. Acima de tudo, destaque para a alegria e a boa disposição com que os Kumoh vivem, apesar das adversidades que os marcaram no passado.
SPOILERS | Início
Não só dentro como fora do ambiente familiar, Tenka deixa a sua marca. A população da região adora-o, assim como aos outros Kumoh, e acima de tudo respeita-o pelo seu talento para o combate. Quando há criminosos em fuga é ele quem resolve a situação com mais facilidade. O Esquadrão Yamainu, principal força governamental responsável por estagnar a criminalidade na zona, tem-no muito em conta, também por força de acontecimentos passados.
Quando há responsabilidades a assumir, Tenka está lá, sempre pronto a tomar a decisão que seja melhor para o bem da região que defende com a própria vida. A marca final parte das suas palavras, esta citação já mais será esquecida:
Feliz por ter nascido um Kumoh, por ter nascido aqui. Por essa razão é que apesar do meu desfecho não ter sido o mais feliz, eu fui capaz de rir (quando soube o que ia acontecer).
SPOILERS | Fim
Chotaru é o irmão mais novo e o mais cómico, pois cumpre literalmente aquilo que lhe dizem. Se alguém utilizar o expressão do género “vai lá fora ver se está a chover em mim”, ele na sua inocência e obediência falo da melhor maneira que conseguir, o que resulta em posturas agradavelmente divertidas.
Para além disso, é também capaz de entrar em duelo com quem quer que seja, mesmo que não tenha as habilidades dos irmãos. Não se preocupa com isso, apenas em defender os seus valores. Aproveito assim para fazer a ponte para Soramaru, o irmão do meio que também detém esse traço característico.
Mais importante do que isso, este Kumoh intermédio é de longe o que sofre uma maior evolução com o passar dos 12 episódios, seja em termos de combate ou de personalidade. Soramaru tem quase que uma obsessão em conquistar a admiração e as técnicas de combate do irmão mais velho, sendo esta a sua luta diária. O seu esforço e persistência são admiráveis.
Donten ni Warau | As constantes viagens ao passado
O núcleo dos problemas com que os irmãos Kumoh e seus aliados se deparam têm origem já do tempo dos seus primeiros antecessores. Por essa razão, conhecer o passado dos grandes protagonistas, assim como de todos aqueles que possam estar diretamente relacionados com o demónio Orochi é fundamental. A produção percebeu isso facilmente, pelo que muitas são as cenas a exibir acontecimentos transatos. Com 12/13 episódios apenas, o tempo era curto mas, felizmente, esta gestão foi bem feita e tornou-se muito mais fácil para o espectador perceber o enredo.
Gokumonjo: a maior desilusão!
Criei tanta expectativa (de certeza que não fui o único!) em torno desta prisão situada no meio do lago Biwa, e acabei tremendamente desiludido. A criação de Gokumonjo foi, sem dúvida, deveras original, para depois ter pouco ou nenhum seguimento. Poucas aventuras e mistérios se passaram por lá quando a dita cuja prometia ter muito para dar à história. Um ponto a menos para Donten ni Warau.
Ninjas, Samurais e as suas dificuldade de adaptação à nova realidade
A sinopse aborda mais diretamente os Samurais e o facto de não poderem no presente transportar consigo a sua tão amada espada. No entanto, a par deles, um problema semelhante abrange os ninjas pertencentes aos vários clãs da época. Destaque para o Clã Fuma, do qual fazem parte várias personagens interessantes que acabaram por se espalhar por vários grupos/famílias existentes na história. Uma necessidade extrema para eles, pois como é dito durante o anime por Shirasu:
Para um ninja, ser livre é viver um Inferno!
Esquadrão Yamainu: o grupo sensação!
Algumas obras conseguem incluir no seu enredo organizações, tenham elas boas ou más intenções, que nos marcam, que nos atraem, que nos deixam empolgados. Assim de repente lembro-me da Akatsuki de “Naruto”, Juppongatana de “Rurouni Kenshin” ou os Vizards de “Bleach”. Pois bem, num ponto ligeiramente mais pequeno (à semelhança deste projeto) surge o Esquadrão Yamainu. Um grupo que sempre que aparece causa boas expectativas e desperta o espectador. Pena não haver tempo para todos os membros se exibirem a bom nível.
Donten ni Warau | Uma animação em crescimento
À medida que os episódios vão passando, um maior número de cenas de ação com combates prolongados vão surgindo. Ora isso é algo que exige mais dos responsáveis de animação. Eles conseguiram sempre cumprir com as necessidades apresentadas, não deixando assim o enredo ficar “pendurado”. O desenho denota grande qualidade e consegue ser apelativo a quem olha de fora para esta obra, pelo que aqui tudo combina na perfeição.
Donten ni Warau | Uma banda sonora que fica algo a desejar
As músicas escolhidas não conseguem ter impacto em Donten ni Warau, passam algo despercebidas o que na realidade é uma pena. Com um pouco mais de atenção somos capazes de as captar. Não é que tenham sido mal escolhidas, simplesmente ficam-se por uma qualidade razoável, mantendo-se nesta linha desde o início até ao fim da transmissão da obra.
Os openings e endings são agradáveis e animados, tanto em termos musicais como visuais. Aliás, neste segundo aspeto há uma grande diversidade de cores, o que mais uma vez vem confirmar a alegria patente no título da obra e na sua sobreposição para com os momentos difíceis, tristes e negros do enredo.
Donten ni Warau | Juízo Final
Por fim, considerados todos os aspetos e fatores de relevo que foram abordados ao longo desta análise a Donten ni Warau, cabe-me dizer que a série merece ser vista, apesar de com o seu desenrolar ter ficado um pouco aquém daquilo que prometeu inicialmente. A banda sonora não conseguiu acompanhar os níveis elevados de parâmetros como o desenho e a animação, Gokumonjo foi uma verdadeira desilusão e claro, em treze episódios, por muito boa que seja feita a gestão, quando há grupos de interesse como o Esquadrão Yamainu o tempo é sempre curto para o tempo de antena que este tipo de personagens merece. Como é natural, o mais prejudicado com isto é sempre o espectador.
Apesar destes pontos negativos, muitos mais foram os positivos que enumerei neste artigo, pelo que volto a reforçar: vejam Donten ni Warau! Num ápice percorrem toda a aventura e embora não terminem a série deslumbrados, parece-me uma boa adição à vossa lista de obras visualizadas.
Análises
Donten ni Warau
Prometeu muito no início, mas não resistiu a baixar os níveis de qualidade. Ainda assim, Donten ni Warau merece a nossa atenção.
Os Pros
- Enredo
- Produção Visual
- Personagens
Os Contras
- Banda Sonora
- Poucos episódios
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