Com quase uma década de existência, ef: A Tale of Memories é a adaptação animada da primeira parte de uma visual novel intitulada de ef: A Fairy Tale of the Two. A verdade é que a visual novel fez um sucesso imenso no ano do lançamento, então posteriormente, em 2007 a Shaft decidiu levar a história para o pequeno ecrã.
Nota: Não levem isto como uma avaliação da visual novel para anime. Esta análise falará apenas do anime como uma “peça” independente.
ef A Tale of Memories | Enredo e Personagens
EF conta-nos a história de cinco pessoas diferentes em simultâneo. De episódio para episódio o foco principal muda e cada personagem tem o seu momento de destaque. Todos os protagonistas estão de alguma maneira ligados, mas existem duas narrativas paralelas.
A primeira “parte” da história gira em torno de Hirono Hiro, um estudante que desenha manga shoujo. Numa fria noite de Natal, uma estranha mulher diz-lhe que alguém muito importante vai aparecer no seu caminho. Este alguém é Miyamura Miyako. Depois de se conhecerem de uma maneira inusitada, os dois acabam por estabelecer uma relação de amizade. Contudo, nem tudo é perfeito e existem fantasmas do passado que teimam em vir ao de cima.
A segunda narrativa segue Asou Renji. Outro estudante que um certo dia conhece Shindou Chihiro numa estação de comboios abandonada. Ao mesmo tempo que a jovem é simpática e doce, esta carrega consigo um grande fardo que Renji terá de suportar se quiser ficar com ela.
Para mim, EF é primeiramente um Slice of Life no seu estado fundamental. Adolescentes, ambiente escolar e paixões juvenis. Estas são as primeiras características que detectamos. Perante isto, o que tem EF de diferente? Honestamente, o anime não me parece possuir um diferencial muito notório. Contudo é aquilo: a premissa pode ser repetitiva, mas se as personagens forem bem desenvolvidas e o enredo coerente, o anime deixa de ser “só mais um”.
O ponto forte de EF é ao mesmo tempo o seu ponto fraco. Como isto será possível?
O facto de termos duas histórias a decorrer ao mesmo tempo e de várias personagens a serem abordadas em simultâneo é algo interessante. Uma coisa que valorizo bastante num anime é a capacidade de me identificar com os protagonistas. Ou seja, no meio de cinco “heróis” algum terá mais a ver com vocês. Temos portanto, várias personalidades e diversos pontos de vista.
Porém é bom relembrar que EF só tem doze episódios e que a segunda temporada se foca noutros personagens. Portanto, explorar de maneira homogénea cinco protagonistas em apenas 1 cour (12 episódios) é uma tarefa árdua e praticamente impossível. Por mais que haja uma boa direção e um roteiro coeso, eu não acredito em milagres. Ou seja, algum ponto do anime ia sofrer com isso.
A exposição narrativa de EF é interessante e faz-nos querer saber mais. Mesmo sendo uma obra com tendência para ter um ritmo lento, o anime passa a voar. E uma jogada muito bem feita da Shaft foi acabar todos os episódios com um final impactante. Às vezes o episódio em si era leve, contudo acabava de forma bruta e impiedosa. Sinceramente não gostava de ter acompanhado este anime semanalmente. A questão é que EF tem uma história que tenta apelar pelo nosso lado mais sentimental e em muitas situações consegue. No entanto os dramas são todos superficiais, nenhum deles é aprofundado como deveria. Nós sentimos empatia pelo personagem, porém é tudo demasiado rápido. E nem todos os protagonistas tiveram um backstory.
Vou dar como a exemplo a Kei. No anime as atitudes dela em relação à amizade colorida/paixão do Hiro e da Myako passaram os níveis do aceitável. Ela demonstrou imensos ciúmes e fez coisas realmente cruéis. E o anime tentou explicar o porquê, contudo não deu para entender exatamente o comportamento dela. Por este tipo de factos, algumas das personagens de EF não se tornam apelativas. O Hiro não passa de um protagonista comum e a Kei não passa de uma adolescente com uma veia de Yuno. A Myako é uma rapariga interessante e sabemos que teve um passado difícil. Conseguimos entender o motivo das suas atitudes, no entanto o backstory dela podia ter sido muito mais intenso.
A Chihiro foi a minha personagem favorita. Talvez por ser uma heroína numa circunstância bem atípica – que não posso explicar por ser spoiler – e por ser diferente do que estamos habituados. Mas lá está. Não houve uma explicação do passado dela. O Renji, mesmo não tendo um backstory por aí além, subiu na minha consideração pela maneira como lidou com as adversidades de Chihiro.
Não me entendam mal, a história de EF está longe de ser má. É uma narrativa com uma construção de roteiro boa, tendo em conta que são apenas episódios. E está carregada de mensagens importantes. Principalmente no que diz respeito ao romance. Mostra-nos como o amor pode ser difícil e complicado. E que quando duas pessoas realmente se amam, as adversidades podem ser combatidas.
ef A Tale of Memories | As comparações com Clannad
Muito se especula se EF terá sido um golpe direito da Minori (estúdio que fez a VN) contra Clannad, a VN da Key. Drama, ambiente escolar e romance – eram estes os pontos em comum. Ambas foram lançadas no mesmo ano. No que diz respeito ao material original, EF: A Fairy Tale of the Two vendeu bem mais que Clannad.
Quando falamos da adaptação animada, vale lembrar as duas primeiras temporadas de ambos saíram na mesma altura (coincidências a mais a meu ver). Quem viu a primeira temporada de Clannad sabe que, tirando o arco da Fuko, foi apenas “enchimento de linguiça” e que só em After Story as coisas realmente ficam tensas. Quem acompanhou as duas obras na época, certamente preferiu EF. Contudo, tendo em conta as duas obras completas, EF não chega aos pés de Clannad. Não vou opinar sobre as VN’s porque isso está longe da minha área de conforto, mas em termos de anime, o nível de qualidade que os separa é inegável. Recomendo mais Clannad a quem primeiro viu EF do que EF a quem começou por ver Clannad.
ef A Tale of Memories | Ambiente
Shaft é Shaft. Para quem já possui uma bagagem sobre anime, sabe que este estúdio é muito bom. E um estúdio que entrega animes sempre com uma qualidade técnica acima da média. Pessoalmente, nunca vi uma obra deles que deixasse a desejar neste quesito.
EF tem quase dez anos e obviamente percebe-se que é um anime antigo. Contudo, para a época imagino que o anime deva ser dos melhores visualmente. A Shaft tem algumas peculiaridades na sua produção visual que são inconfundíveis. A meu ver é um tipo de técnica que nem toda a gente está habituada. Eu adoro. O facto de mudarem frequentemente de plano, usarem o vulto dos personagens misturado com o plano de fundo são marcas registadas do estúdio.
A arte e o design das personagens em si provêm muito da visual novel. As personagens são bonitas e esbeltas. O traço é preciso e detalhado. Os cenários têm sempre um toque sobrenatural e brilhante.
A banda sonora é tão boa quanto a produção visual – vamos ignorar o facto de eu ter ficado viciada na opening. Novamente repito: a Shaft já fez animes que para mim têm das melhores bandas sonoras (Ex: Madoka Magica). EF não seria diferente, música de drama e apropriada face aos momentos.
ef A Tale of Memories | Juízo final
Em suma, posso afirmar que EF tem, no geral, mais pontos positivos do que negativos. Porém eles existem e retiram alguma qualidade ao enredo. Como drama, este anime poderá ser uma opção viável. Mas digo-vos sinceramente: só quem tem coração muito mole é que se vai realmente emocionar. Se vocês são pessoas mais frias e críticas, acho melhor passarem longe de EF. Acho que podemos dizer que este é, basicamente um anime sobre amor e sobre os desafios que este coloca no nosso caminho. Para quem gosta de romance, será provavelmente uma boa escolha.
Está longe de ser uma obra perfeita, contudo a história diferenciada e a produção visual ajudam a que seja um anime mais completo.
Análises
ef A Tale of Memories
Está longe de ser uma obra perfeita, contudo a história diferenciada e a produção visual ajudam a que seja um anime mais completo.
Os Pros
- Enredo
- Mensagens contidas na narrativa
Os Contras
- Pouco tempo para desenvolver as personagens
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