Lançada em 2017, a série japonesa Kakegurui é um dos maiores sucessos do catálogo de anime da Netflix. O anime tornou-se tão popular, dentro e fora do Japão, que já teve direito ao seu próprio live-action. Se nunca viste um episódio de Kakegurui, só precisas de saber que se trata de uma série onde a cultura de jogo desempenha um papel fundamental. Baseia-se nas aventuras de uma jovem prodígio dos jogos de sorte, que chega a uma escola onde existe uma hierarquia muito rígida entre os alunos. Aqueles que conseguem obter melhores resultados no jogo acabam por dominar e controlar aqueles que perdem, numa espécie de alegoria política que lança fortes críticas à organização da sociedade capitalista. Sabemos certamente que Kakegurui se inspirou na cultura de jogo do Japão, que conta com uma rica e contagiante história.
Mas qual é a importância que os jogos de sorte e azar têm no contexto da sociedade japonesa? E de que modo evolui a cultura de jogo nipónica ao longo dos anos?
Casinos deram lugar aos salões de pachinko
No início do século XX, o governo japonês tomou a decisão de banir os casinos. No entanto, os jogos de sorte e azar nunca deixaram de fazer parte do dia-a-dia dos cidadãos japoneses. Em 2016 e 2018, novos decretos de lei passaram a autorizar a exploração da actividade do jogo em determinadas áreas do território japonês, fazendo com que fosse possível voltar a imaginar um grande casino no Japão. Estima-se que a partir de 2025, os primeiros casinos japoneses dos últimos 100 anos possam vir a ser inaugurados a tempo da World Expo de Osaka. Os decretos-lei de 2016 e 2018 foram promulgados devido a um forte incentivo popular.
Por outras palavras, os japoneses são um povo que não resiste aos jogos de sorte… De resto, os jogos de sorte nunca foram realmente banidos no Japão. A ausência de casinos foi colmatada pela criação de uma lotaria nacional e por uma forte indústria de jogo offshore, caracterizada pelo fluxo turístico que levou milhões de japoneses a experimentar os casinos da ilha de Macau, dos resorts das Bahamas, ou da cidade de Las Vegas. Mas, acima de tudo, os jogos de sorte continuaram a fazer parte da rotina dos cidadãos japoneses, graças a um fenómeno tipicamente nipónico: as casas de pachinko.
Um fenómeno 100% japonês
É mesmo preciso visitar uma cidade japonesa para entrar num salão de pachinko. Explicar a um ocidental o que é uma casa de pachinko pode parecer complicado, mas é na verdade muito simples. Na sua essência, os jogos de pachinko são semelhantes a slots, máquinas de jogo que distribuem prémios de forma arbitrária e que costumam exigir apostas de baixo custo. As máquinas de pachinko são muito parecidas com as Slots Online em que milhares de cidadãos europeus jogam todos os dias. Segundo a SRIJ, mais de 400 mil portugueses tentaram a sua sorte numa slot online no último trimestre de 2020. No Japão, o fenómeno das máquinas de pachinko conta com ainda mais adeptos.
As casas de pachinko são caracterizadas pelo seu aspecto único: assemelham-se mais a um salão de máquinas arcade do que a um casino ocidental. No entanto, são tão populares em cidades como Tóquio e Osaka que se traduzem numa indústria de milhões. Só em 2018, mais de 200 mil milhões de dólares foram investidos em salões de pachinko, fazendo das máquinas de sorte japonesas um dos passatempos favoritos da população local. Os japoneses são mesmo descritos como sendo “obcecados” pelas máquinas de pachinko, que fazem parte da vida nocturna local há mais de um século.
Casinos online têm vindo a substituir as casas de pachinko
Ainda que apostar em máquinas de pachinko continue a ser uma das actividades favoritas dos japoneses, a popularidade destes jogos clássicos tem vindo a diminuir ao longo dos últimos anos. A difusão de sites de casino online é talvez o factor predominante por detrás deste fenómeno.
Ao contrário do que acontecia na primeira década do século XXI, os japoneses já adquiriram o hábito de apostar e jogar através dos seus computadores e telemóveis. É uma forma de passar o tempo que não envolve sair de casa ou lidar com o preconceito que ainda é muitas vezes associado à cultura dos jogos de sorte no Japão.
As casas de pachinko são legais no Japão por não se basearem num sistema de prémios monetários. As máquinas de pachinko não distribuem prémios, mas antes vouchers que podem ser trocados por diversos objectos, por mais tempo na máquina, ou mesmo por cash. São por isso uma indústria alternativa à indústria dos casinos mas que, com uma ou outra pequena diferença, acaba por funcionar da mesma maneira que qualquer casino ocidental.
Tal como o sucesso de Kakegurui comprova, os japoneses são um povo extremamente dedicado aos jogos de sorte e azar: um cenário que não deverá mudar nos próximos anos.