Para começar de forma clara, isto é algo que já abordei tanto na minha análise ao prólogo, como nas minhas primeiras impressões da série, Fate/Stay night Unlimited Blade Works não é um remake nem continuação de obras anteriores. É a adaptação de uma das três possíveis rotas narrativas que são jogáveis no Visual Novel. Se formos considerar isto um remake, poderá então ser tratado como um remake do filme dos estúdios Deen, que aborda (ou tenta abordar) esta mesma rota, embora tenha sido realizada de forma muito atrapalhada.
Fate stay night Unlimited Blade Works | Enredo
A adaptação antes de iniciar a história de um modo mais concreto, não se importa de carregar o pesado mas bonito fardo de produzir dois episódios (com 40 minutos de duração cada), apenas para introduzir as duas personagens principais de uma forma mais natural. Cada episódio encontra-se ligado a uma das personagens principais em específico. Enquanto as introduz, aproveita para apresentar aos novos visitantes (público) grande parte dos conceitos e elementos históricos que a narrativa de “Fate” alberga, construindo deste modo todas as bases e pilares necessários deste universo.
Todo o desenvolvimento narrativo encontra-se estruturado através de segmentos minuciosos, que por vezes são interpretados de forma errada como desenvolvimento lento e aborrecido. Porém, pretendem abordar tudo sem deixar nada para trás, com uma profundidade notória na maior parte das camadas do enredo. Isto permite um maior desenvolvimento e caracterização de personagens, fornecendo deste modo muita informação vital para a compreensão e coesão de todos os elementos que constroem a história.
A progressão é cuidada, conduzindo os acontecimentos de forma encadeada, evitando que tropecem uns nos outros. A densidade e carga dramática encontram-se muito bem exploradas, principalmente nos últimos episódios. Os diálogos, apesar de longos, estão na sua maioria bem escritos, o que nos leva a ser absorvidos pelas conversas, desde as mais simples às mais complexas.
Guerra não é só batalha! – Caracterização de personagens também faz parte da progressão narrativa
Muita gente se queixou da componente mais Slice of Life do enredo, que acabou por ser inserida em alguns momentos da introdução, do desenvolvimento, e também com alguma incidência na conclusão da narrativa. Porém, considero esta componente algo de extrema importância, pois permite interação entre personagens abrindo espaço para que se possa acrescentar um pouco mais de camadas de caracterização, não só às personagens mas também às relações das mesmas. É também com estes momentos que temos oportunidade de ver as personalidades a serem tecidas com mais relevo. Acaba por dar um tom mais real, pois guerra não é só batalha. Se possível, mesmo em guerra, os envolvidos aproveitam a calma que lhes é concedida antes da tempestade. E são exatamente estes leves momentos, que quando nos são arrancados, nos levam a apreciar e a viver o leve mas denso drama com mais intensidade.
Os pontos negativos
Não obstante a tudo que já foi referido, o departamento narrativo não é completamente perfeito (longe disso), e é esta uma das fortes razões pela qual a obra não é pontuada com uma quantia mais elevada. Alguns momentos, como pequenas conversas ou certos eventos, afastam-nos um pouco da ação. Determinados acontecimentos, como por exemplo, o fato de Shirou correr risco de vida constante, mas nunca lhe acontecer realmente algo de grave, são certos pormenores que perpetuam um desconforto na falta de realismo que transmitem. E quando voltamos a ver Shirou em perigo, deixámos de conseguir sentir medo de que aconteça algo de grave à personagem.
A profundidade narrativa não é nada de outro mundo, pelo que se a história não fosse acompanhada pelas bonitas cores técnicas, no geral a obra obteria um resultado deveras mais fraco. Nem todas as personagens são de grande calibre, nem todas são exploradas com o mesmo rigor e maturidade. A personagem principal é uma das que, como já referi em alguns pontos, sofre deste síndrome, ainda que este aspeto possa ser limado na sequela (ou pelo menos assim se espera).
Por fim, este é apenas um dos poucos exemplos que nos afastam de uma cotação mais elevada, que serão mais ou menos considerados como algo negativo, sendo que alguns dependerão do gosto e perspetiva pessoal de cada espetador.
Fate stay night Unlimited Blade Works | Ambiente
Esta obra é, indiscutivelmente, o melhor anime no departamento técnico do ano de 2014, entregando-nos um maravilhoso banquete visual para as nossas pupilas. A Ufotable não falha em qualquer aspeto, executando tudo de forma brilhante ao mínimo pormenor, deixando por fim os estúdios que possuem grandes orçamentos na vergonha.
Começando pela composição cénica e cinematografia. Estes dois andam de mãos dadas na produção visual. Todos os cenários estão devidamente preenchidos, a estética está composta por uma incrível palete de cores, regulada através de equilibrados gradientes e iluminação adequada. Estes elementos tornam as cores mais vivas, reais e intensas. Todas as cenas são capturadas com muita noção visual, dando-nos sempre a sensação inconsciente de estarmos a ver algo que foi filmado. Muitas das cenas recriam o efeito causado por uma filmagem realizada sem tripé, aproximando-nos ainda mais da ação.
A coreografia de cada cena de ação e de cada batalha encontra-se ao mais alto nível, um poderio que ainda não tinha tido o prazer de assistir numa obra de anime, com uma qualidade de nível mais facilmente encontrado nas produções cinematográficas de anime. Estes artistas fizeram um trabalho inigualável ao conseguirem capturar a essência, magia e velocidade das lutas dos épicos espíritos heróicos. A conjugação da maravilhosa animação 2D desenhada à mão, com a bem esculpida animação 3D, dá génese a sequências de frames polidas e a segmentos de ação fluídos preenchidos de partículas mágicas.
O design de som, não pode ser esquecido. A força com que o telintar de ferro é traduzido, os embates, ou até os sons mais ambientais, intensificam toda e qualquer cena de Fate. A música encontra-se muito bem composta, no entanto existem algumas falhas na sua alocação, que são compensadas no último episódio, quando nos brindam com a mítica “The Illusion”, que é basicamente a marca sonora de toda a franquia.
Fate stay night Unlimited Blade Works | Juízo Final
Esta obra pode ser enganosamente interpretada como apenas mais um obra de “porrada”, com uma linha narrativa nada complexa. É também, erroneamente interpretada como uma obra erótica, onde os pares românticos (ou trios) são o foco principal. Porém, também não me atrevo a afirmar que é uma narrativa com uma complexidade absurda, mas consegue, sem dificuldade, manter-se acima da média no que lhe diz respeito. Tanto Fate/Zero como Fate/Stay night abordam temas como lealdade, o que significa “ocupar o lugar de um Rei” bem como a definição de herói e o quanto este pode sofrer alterações ao longo das gerações. De qualquer dos modos, o núcleo narrativo é predominantemente sobre o confronto de ideais que cada personagem carrega para a batalha, aquilo que as faz lutar, ou até aquilo que as pode levar a aniquilar o inimigo ou não.
Ainda assim, convém não esquecer que esta é a primeira parte da história, logo é a introdução de tudo e mais alguma coisa, e como já referi, estes pormenores e problemáticas podem não se encontrar muito demarcados, daí ter que considerar este aspeto algo mais relativo e menos factual. Em contrapartida, a segunda temporada irá esclarecer sem dúvida este aspeto.
O ponto mais forte, (além do visual), de toda esta obra é o seu equilíbrio. A forma como gerem todos os departamentos, cria uma harmonia incrível, entre a exposição visual e narrativa, dando origem a uma das obras mais brilhantes da animação japonesa da última década (dentro do género). Toda a narrativa é construída com muita perícia, os diálogos mais importantes estão (na sua maioria) bem formulados, a informação só é fornecida quando é realmente necessária, não esgotando o público com detalhes desnecessários ou que podem mais tarde ser esquecidos.
The Review
Fate stay night Unlimited Blade Works 2014
A forma como gerem todos os departamentos, cria uma harmonia incrível, entre a exposição visual e narrativa, dando origem a uma das obras mais brilhantes da animação japonesa da última década (dentro do género).
PROS
- Produção Visual
- Batalhas
CONS
- Existem pontos narrativos que podiam estar mais sólidos
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