A temporada de verão de 2014 está recheada de grandes produções dos mais variados géneros. Vemos uma ligeira subida nas produções do estilo shoujo e slice of life, algo não muito comum numa época onde o shounen reina nos tops de visualizações.
O estúdio Doga Kobo, familiar com obras românticas e divertidas comédias, foi o responsável pela adaptação do manga escrito e ilustrado por Izumi Tsubaki. O manga shounen que deu origem à animação é publicado desde 2011 na revista digital gratuita GanGan Online.
Gekkan Shoujo Nozaki-kun trata-se de uma comédia romântica, representante do que melhor se produz no “novo género” da linha ténue entre shounen e shoujo.
Gekkan Shoujo Nozaki-kun | A História
A narrativa tem como foco dois protagonistas: Sakura Chiyo e Nozaki Umetarou. A surpresa reside na marcante presença feminina a impulsionar a narrativa, no que aparenta ser o cerne da animação: a vida dupla de Nozaki. O apático e introvertido jovem é, em segredo, um mangaka famoso. Chiyo, secretamente apaixonada por Nozaki decide confessar-lhe os seus sentimentos contudo, o pacato rapaz é incapaz de perceber a situação, acreditando que a ruiva não passa de mais uma fã. Sucessivos mal entendidos e encontros inesperados levam à união do mangaka e da aluna do Clube de Arte, tornando-se uma verdadeira beta, um elemento fundamental no universo manga e parte da vida do autor.
Gekkan Shoujo Nozaki-kun | Enredo
O ambiente colegial é muito semelhante a qualquer outro shoujo, dividido por clubes escolares, turmas e anos. A divergência ocorre nas personagens, no carisma, originalidade e antagonismo de cada elemento que acaba por se tornar numa peça chave na produção de um manga. Temos desde colegas que servem de inspiração ao autor, o responsável pelos cenários, o responsável pelos floreados caraterísticos do género e o beta.
A premissa base é explorada por inúmeras obras, algumas delas atuais como Mangaka-san to Assistant-san to The Animation, o que deixa de lado qualquer apelativo para iniciar a obra. No entanto, o resultado final consegue surpreender até os mais céticos. Uma saga divertida que envolve romance e divertidas peripécias do mundo da criação manga.
É um anime sobre manga?
Não, de todo! Apesar do enredo girar em torno do trabalho de Nozaki, ele serve apenas como elo de ligação entre as diferentes personagens. Através dele, Chiyo aproxima-se do amado e passam a viver sobre uma agradável rotina escolar e extra-escolar. Graças ao manga, todas as pessoas necessárias para a sua criação passam a conviver diariamente, colegas que nunca se conheceram passam a ser grandes amigos, clubes escolares passam a servir de cobaias e toda a história se desenvolve.
A mensagem da animação é muito subtil e transmitida para o ecrã de forma camuflada, por entre divertidas peripécias do Mikorin e as corridas “educativas” de Hori e Kashima. O protagonista é apresentado de forma lenta e progressiva, por pequenas ações e episódios especialmente dedicados ao mesmo.
Inicialmente é visível a agonia de Chiyo ao reconhecer que tudo o que sonhou sobre o seu amado não passava de uma fantasia criada pela sua imaginação. Aos poucos vemos os sentimentos e as utopias da protagonista a tornarem-se algo sólido e real. A frustração por não conseguir mudar algo que não está errado evolui progressivamente para uma aceitação do que este lhe pode oferecer e o que ele realmente é enquanto pessoa e colega de trabalho.
A relação e descoberta é mútua. A musa inspiradora do aspirante a mangaka é nada mais, nada menos que a sua beta, no entanto, o facto passa despercebido para o mesmo. Incapaz de reconhecer as semelhanças da personagem que criou, afirma que se trata de uma original criada para o seu manga, Let’s Fall in Love.
O casal é de longe o mais explorado da série. As personagens são caraterizadas individualmente e aos pares, criando uma série de acontecimentos que impulsionam quer a narrativa do jovem mangaka, quer os acontecimentos finais. Assim, os restantes “pares românticos” surgem por intermédio de situações caricatas em volta dos devaneios de Nozaki e a sua necessidade de testar cenas, posições, cenários. Por intermédio dos seus assistentes, cria-se uma verdadeira teia de divertidos episódios, onde se descobre todas as vertentes do amor e das relações, curiosamente opostas às retratadas pelo universo shoujo.
Gekkan Shoujo Nozaki-kun | Ambiente
A qualidade técnica bem acima de média, assim como os diversos tipo de desenho, surpreenderam a maioria pouco habituada a níveis de exigência. O visual luminoso e colorido transporta-nos para um ambiente alegre, fresco e natural, relaxando o espetador e aumentando a suscetibilidade deste para as cenas seguintes.
Os cenários escolares são simples, contudo extremamente detalhados. A escola é descrita como tantas outras do Japão, denota-se uma especial atenção na produção dos clubes onde as personagens estão inseridas e nas metáforas visuais. As frames ilustrativas de situações de relevo narrativo são intensificadas por inúmeros elementos figurativos, desde som, imagem e cenários, que variam desde cores opacas, repetição de figuras geométricas ou símbolos significativos, a recortes de manga ou transposições cinematográficas.
O traço fino e rigoroso da produção é incontestável quando entramos no quarto do Nozaki e apreciamos toda a organização, sobretudo o seu trabalho na elaboração do manga. A construção das cenas, os materiais utilizados, e sobretudo o manga em si, são cuidadosamente retratados, realçando o real propósito de toda a obra. As frames associadas a momentos cómicos surgem-nos com fundo divertido, colorido, um elemento que potencia o diálogo e nos faculta um momento de divertimento com cerne na situação em si.
A fluidez do design acompanha na perfeição a inebriante história dos sete estudantes. O que seria normalmente um cliché torna-se em algo realmente agradável de assistir. Sem um momento de quebra narrativa, a construção do enredo, leve e divertida, atinge patamares dignos de grandes obras.
Quanto à banda sonora, sons simples desde instrumental, aos típicos sons cinematográficos de suspense e horror, nada é colocado ao acaso, sendo a sua presença fulcral para a fluidez e intensificação da obra. É de realçar, também, o extraordinário opening, com uma música alegre, que em tudo condiz com a animação, e sucessivas imagens de folheado manga, onde as personagens são apresentadas, que compilam todos os fatores necessários para atrair o espetador.
O trabalho dos Seiyuu (atores de voz) é uma das qualidades inerentes da adaptação. Com um elenco de luxo, conseguiu divertir e potenciar a narrativa .
Gekkan Shoujo Nozaki-kun | Juízo Final
As expetativas em relação à obra aproximavam-se da nulidade. Nem o elenco de luxo e uma produtora de renome na área conseguiram captar a atenção das massas alheias a este tipo de animação. Apesar de classificada como um shounen, a sua linha narrativa segue francamente as diretrizes e temáticas tipicamente abordadas no género shoujo. O nicho habitual da demografia shounen é substituído por um vibrante público feminino, apaixonado pelas várias linhas narrativas e personagens carismáticas.
A encruzilhada e construção de cada relação é explorada com mestria, mestria essa suficiente para nos emaranhar num universo adorável onde tudo tem uma base lógica e é conquistado de forma progressiva. O mangaka, como artista é um pouco estereotipado, com uma sensibilidade social próxima a uma criança a contrastar com uma acuidade artística e de trabalho acima da média.
Em suma, se pretenderem uma obra sobre a arte Manga, a sua estrutura e composição, este não é, sem dúvida, o anime certo para vocês. A temática é pouco explorada e por vezes ridicularizada, sendo, como referi em cima, um mero elemento de ligação. Se por outro lado, quiserem uma divertida e leve obra, com uma premissa interessante e uma construção apelativa aconselho vivamente.
Primeiras Impressões Gekkan Shoujo Nozaki-kun
Análises
Gekkan Shoujo Nozaki-kun
A temporada de verão foi repleta de grandes obras. Gekkan Shoujo Nozaki-kun foi uma delas. Descobre mais aqui sobre este shounen romântico.
Os Pros
- Construção narrativa e personagens.
Os Contras
- Premissa.