“Aya to Majo/Aya e a Feiticeira” – É este o nome do mais recente filme elaborado pelo, tão aclamado, Studio Ghibli. Estreado, no Japão, a 27 de Agosto do presente ano, “Aya to Majo” já está na boca do povo desde que saiu o seu trailer. Contudo, não será tanto pela positiva.
Porquê? Vamos tentar ajudar a encontrar parte da resposta neste curto artigo.
Ghibli e os Miyazaki Adeus Hayao Bem-Vindo Goro
O legado de Hayao Miyazaki
O animador, roteirista, cineasta, escritor e artista de mangá, não tardou a dar reconhecimento ao nome Ghibli e a ser conhecido, um pouco por toda a parte, após escrever e dirigir os clássicos “Tenkuu no Shiro Laputa/Castelo no Céu” (1986), “Tonari no Totoro/O meu vizinho Totoro” (1988), entre outros. Após quase 30 anos de carreira, Hayao Miyazaki decidiu reformar-se, mas o estúdio precisava perdurar, visto que haviam construído o Museu Ghibli e era necessário garantir o seu sucesso.
Foi então que surgiu a ideia de colocar Goro Miyazaki, filho de Hayao Miyazaki, como sucessor. Goro, até então, havia dirigido dois filmes Ghibli que fizeram bastante sucesso: “Kokuriko-zaka kara/A Colina das Papoilas” e “Gedo Senki/Contos de Terramar”.
Porém, Hayao Miyazaki não estava disposto a ceder o seu lugar a alguém “com gosto amador” (dito pelo próprio). Pai e filho ficaram sem falar durante anos, até que, por fim, Hayao Miyazaki cedeu e entregou a direção do filme “Aya to Majo” ao filho, dizendo (e passo a citar):
“Faz como entenderes”. (Auch!)
A concorrência de Goro
Quem gosta de Ghibli, por certo, já ouviu falar no Studio Ponoc e, garantidamente, já teve oportunidade de ver os respetivos trabalhos. Algo que se pode notar de imediato é a semelhança na animação (paisagens muito bem trabalhadas, pausas na ação, feições e expressões dos personagens, escolha musical, entre outras).
E porquê? A resposta é Yoshiaki Nishimura, o antigo produtor dos filmes Ghibli. Assim que Hayao Miyazaki anunciou a sua reforma, Yoshiaki Nishimura, juntamente com alguns animadores do Studio Ghibli, resolveram “fazer as malas” e formar o Studio Ponoc, em 2015.
Não surpreendeu que, após sair a primeira animação de Goro Miyazaki, os fãs não tardaram a fazer comparações, criando rumores sobre a decisão da entrega de Ghibli a Goro e não a Yoshiaki.
Análise ao filme de Goro Miyazaki
A história passa-se, maioritariamente, dentro da casa para onde Aya é levada e, a partir deste ponto, o filme cinge-se às “traquinices” da mesma. Talvez isto faça mais sentido após sabermos que Goro teve a intenção de voltar a atenção dos espectadores para os personagens e não para o plano envolvente (algo que, tipicamente, Hayao Miyazaki nunca descurava).
É um filme bastante musical e que pretende remeter, nas palavras de Goro, para a mente das crianças e a forma como elas olham para o mundo dos adultos. Apesar de ser uma bonita mensagem, o filme ficou muito aquém do esperado pelo público.
Segundo vários críticos desta arte, um dos principais motivos centra-se no uso da animação 3D, nunca antes usada no Studio Ghibli. Aliado à grande aposta deste tipo de animação, muito usada hoje em dia, a falta de dinheiro para o pagamento de salários a cartoonistas no Japão poderá, também, estar na origem desta escolha artística, segundo os especialistas.
Ghibli e os Miyazaki Adeus Hayao Bem-Vindo Goro
O último suspiro de Hayao Miyazaki
Fãs do “pai do Ghibli”, não desanimem! Hayao Miyazaki vai-nos presentear com o seu último filme: “Kimi-tachi wa dou ikiru ka/Como vives tu?”, com estreia marcada para o ano de 2022. Ansiosos?
Opinião pessoal – Aya e a Feiticeira
Após ver o filme, encontrei, apenas, resquícios da base de Hayao Miyazaki. Se me tivessem perguntado, diria que este filme não era Studio Ghibli.
Sendo que Hayao Miyazaki é um dos fundadores do Studio Ghibli, é natural que se faça a associação. Miyazaki criou algo único e intemporal. Para quem não conhece a animação do Studio Ghibli, eu recomendo a espreitar. Sou uma fã incondicional do artista, por diversos motivos. Miyazaki consegue, de certa forma, colocar uma alma em cada personagem e os cenários envolventes, bem como a banda sonora escolhida, são de cortar a respiração! Contudo, aquilo que mais aprecio, continuam a ser as mensagens inerentes em cada filme. Hayao Miyazaki tenta sempre transmitir uma conduta moral, um sentido de ética.
Porém, voltando ao seu sucessor, quer queiramos, quer não, os tempos mudam e o 3D veio para ficar. É altamente provável que este seja o caminho para o futuro do Studio Ghibli, visto terem de agradar às novas gerações. Para isso, está cá Goro Miyazaki. Quem sabe venha a surpreender?
Para terminar, digo apenas o seguinte: recordarei sempre o Studio Ghibli de Hayao Miyazaki com muito carinho. Irei chorar, novamente, a rever “O Túmulo dos Pirilampos”; cantarei “Tororo! Totoro!” uma e outra vez; e nunca serão demasiadas as vezes que verei a princesa Mononoke salvar a majestosa floresta, a pequena Chihiro sentada no comboio, junto ao espírito sem face, num cenário tão calmo que quase me adormece, ou a bruxinha Kiki a voar na sua vassoura, com o seu gato Jiji. Ficarão no meu coração estes e tantos outros personagens, tão caricatos e maravilhosos, como todos os que saíram da fantástica mente de Hayao Miyazaki.
Sayounara, Miyazaki-sama.
Fontes: Japan Forward, ArtNews, The Guardian, Comic Book