O site Nerdist esteve à conversa com Scarlett Johansson sobre a adaptação live-action de Ghost in the Shell. Nesta abordaram o foco temático da narrativa e a sua relação com a obra original de Masamune Shirow.
O corpo da personagem principal de Ghost in the Shell, Major Motoko Kusanagi, é maioritariamente construído por componentes cibernéticos. Na obra original, bem como na adaptação anime, este aspeto anda sempre de mãos dadas com o tema principal da obra: «o que significa ser um humano?». Será que a resposta a esta questão se encontra na construção do nosso corpo? Nas nossas mentes? O que realmente determina a humanidade?
Scarlett Johansson, nesta entrevista, falou um pouco do processo que atravessou para incorporar a personagem e como teve que lidar com o facto do corpo dela não ser feito de carne e osso.
Podemos sempre optar por tentar ser literais e interpretar um movimento corporal sem emoção, muito mecânico e padronizado. Mas, apesar dos maneirismos dela serem frios, não quero distanciar-me nem da ligação empática com a audiência, nem da experiência interior da personagem. Então trabalhei no sentido de tentar um equilíbrio profundo em diferentes vertentes.
Adicionou ainda que uma das coisas mais importantes da personagem é que tudo o que ela faz, fá-lo com intenção genuina.
Sendo ela maioritariamente cibernética, não possui aqueles típicos maneirismos comuns dos humanos: onde deixamos transparecer nervosismo, decisões, impaciência… Ela não tem nada disso, e acho que é precisamente esta a razão que molda o carácter físico dela.
Aliada a esta interpretação mais física da personagem, existe a curiosidade relativa a determinadas sequências icónicas, como por exemplo quando as personagens recorrem ao uso de tecnologia de camuflagem. Porém, nesta adaptação irão haver algumas diferenças. Enquanto que, no anime, as personagens ao utilizar esta tecnologia aparecem nuas, no live-action isso não será possível uma vez que o filme tem a cotação de PG-13. Avi Arad (produtor) explicou que apesar dela não se encontrar nua, o filme irá tentar imitar essa estética. Afirma ainda que Rupert (realizador) não quer deixar que se perca a sensualidade e sexualidade, que a franquia conseguiu manter ao longo de duas décadas e ao longo de várias adaptações.
No caso da cena em que a consciência da Major é colocada no corpo cibernético nu, não a iremos ver nua, mas também não vamos fugir desse elemento crucial.
Enquanto que a manga explora a sexualidade dela de forma bastante explícita, Johansson explica que no filme live-action esse não será o ângulo de abordagem.
Eu acho que ela está muito distanciada da sexualidade dela. Ela está no meio de uma crise de identidade… Eu acho que, provavelmente, a sexualidade para algumas pessoas surge precisamente em momentos semelhantes a este. É quando sentem falta de partes que compõe a personalidade que se perdem em algo assim.
Mas eu acho que para ela é diferente, porque ela não sabe o passado dela. Ela tem apenas uma ideia muita vaga – pelo menos foi assim que interpretamos – portanto como é que ela iria sequer saber do que gosta e do que não gosta. Além disso ela não tem um coração… ou pelo menos um coração humano. Portanto isso é mais uma peça em falta que, para muita gente está ligada à sensualidade e à sexualidade.
No anime existe uma “quase” relação entre a Major e Batou, o seu tenente. Dito isto, se essa relação possui uma atmosfera sexual ou puramente platónica é um debate recorrente. Pilou Asbæk, o ator que dá vida a Batou no filme, afirma que todas as cenas que tem com a Major, foram filmadas com várias perspetivas. Por isso, dependendo daquela que usarem na edição final poderá dar origem a algo mais concreto para um lado ou para o outro.
Depois deste segmento a Nerdist mudou ligeiramente a temática da entrevista, abordando um pouco mais a fidelidade da adaptação com ligação ao tema anterior. Johansson, que não se encontrava por dentro da narrativa da franquia, foi questionada se existe algo que venha a surpreender os fãs do anime e do manga, ao que ela respondeu:
Interpretar uma personagem tão amada é sempre uma tarefa bastante intimidante, assim o foi no caso da Black Widow [personagem que ela interpreta no Marvel Cinematic Universe]. Simplesmente pelo facto de ser uma personagem sobre a qual as pessoas já possuem opiniões e pela qual já nutrem uma ligação emocional. De certa forma tentei dar-lhe um novo início e segui os meus instintos, espero que lhe tenha dado o nível de integridade que o público espera.
Dar vida a estas páginas é um grande desafio. Não dá para ser literal, é completamente diferente. Ela não é bem uma pessoa, mas tem um cérebro humano. Portanto não dá para pegar no material fonte e dar-lhe vida tal e qual como ele é nas páginas. Uma coisa será certamente diferente, nós não estamos a criar um mundo como acontece com as bandas-desenhadas do Frank Miller, onde todos aqueles mundos ganham vida. Nós temos, de certo modo, a icónica iconografia da manga, mas acho que as pessoas vão ficar surpreendidas com a realidade crua do ambiente.
Para uma pessoa que não tem um coração humano, acho que tem muita “alma”. Pelo menos é desta forma que estamos a contar a história, e portanto é essa a nossa esperança.
Prosseguindo com a temática da estética do mundo de Ghost in the Shell, ela acrescentou:
Eu acho que estamos bastante habituados à ideia do futuro num contexto de fim do mundo, algo mais pós-apocalíptico, ou até algo muito rígido como Spike Jonze fez com o filme Her. Tudo é digitalizado, computarizado, minimalista e com ausência de personalidade.
Descreveram-me este filme como cidades construídas em cima de cidades, onde predomina o desperdício. É uma espécie de montagem de culturas que no global não tem qualquer tipo de carácter, que preenche aquele mundo com diferentes texturas e cores, é um mundo bastante rico em substância. A profundidade temática deste filme é incrível… Existem muitas camadas na forma como foi filmado e na forma como foi revestido. Acho que está visualmente delicioso.
Relativamente à forma como ela decidiu abordar a história, Johansson disse:
Eu tentei imaginar a jornada da Major sempre com ela a pensar o que foi no passado, com ela a pensar como é atualmente, e com ela a pensar naquilo que realmente foi. E é esta a história que estamos a tentar contar, esta temática toda de “marionetas”. Eu acho que é importante que a Major mostre que tem a capacidade de possuir experiências dela, e de mostrar que ela não teve uma escolha ativa no facto de se tornar naquilo que se tornou.
Em vez de lutar contra isso, ela aceitou esse facto, e transforma-se numa jovem mulher. Ela começa como uma mulher-criança, e vemo-la a transformar-se numa jovem mulher. E eu acho que parte desta transição se deve ao facto de ela aceitar quem ela realmente é. Ao longo do filme ela sofre um grande desenvolvimento, sem dúvida. Acaba por perder a inocência relativamente ao mundo, mas no fim ganha algo bem mais significante.
Esta entrevista deixou-vos mais curiosos com esta adaptação, ou nem por isso?
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Fonte: Nerdist