Numa tentativa de misturar o duo habitual: romance/slice of life ao sobrenatural, a P.A. Works presenteou-nos com Glasslip durante a temporada do verão passado. Na altura, a estreia da série deixou bons indicadores. No entanto, com o passar das semanas a produção teve dificuldade em justificar essa mesma qualidade inicial como se vai perceber nesta análise.
Glasslip | Enredo
Forçar dinamismo numa história nem sempre dá bom resultado!
Glasslip é o típico slice of life que, neste caso, acompanha a vida de seis estudantes em pleno verão. Cinco deles já se conheciam anteriormente, pelo que o destaque recai no aparecimento de Kakeru Okikura na região, personagem que vai modificar o destino traçado de alguns membros do grupo, seja de forma direta ou indireta.
Até aqui tudo bem, pois a obra seguia os passos tradicionais dos géneros identificados. Todavia, o principal problema do anime surgiu com a tentativa de se dinamizar o estilo escolhido. De forma a tornar as coisas diferentes, os responsáveis por Glasslip quiseram inserir os “fragmentos do futuro” que, como o nome indica, permitiam ver alguns acontecimentos ainda por realizar. Esta tentativa de marcar a diferença saiu “pior que a encomenda”. Os episódios foram passando e estas visões, que apenas surgiam nas mentes de Kakeru e Touko Fukami, (a grande protagonista!) não eram explicadas. O porquê de só duas personagens terem o dom da visão, o porquê de nem tudo o que aparecia nas visões se concretizar, o que eram os “fragmentos do futuro” na realidade, enfim, uma panóplia de questões que ainda hoje continuam sem resposta, já depois da conclusão da obra.
Quando a própria simplicidade do enredo já é pobre …
Os “fragmentos do futuro” definitivamente não foram uma boa premissa, mas mesmo que o fossem a obtenção de bons resultados seria complicada à mesma. Isto porque a parte mais básica da construção desta trama nunca conseguiu passar para o lado do espectador aquilo que se esperava, isto é, emoção, sentimento e paixão. No sexteto protagonista em que umas personagens têm mais destaque do que outras, um conjunto de relações amorosas ou comportamentos com vista a isso mesmo ganham forma. Porém, nenhuma delas exibe intensidade emocional. Tudo decorre de forma muito pachorrenta e desenxabida que por vezes até é difícil manter a atenção na obra.
Olhando de forma mais atenta para as personagens, veja-se a relação entre Kakeru e Touko que passavam mais tempo a falar dos fragmentos e a orientarem as suas vidas nesse sentido do que a desfrutarem dos dias de verão fabulosos e a agirem de forma a tornarem-se mais íntimos. Bem, se daqui ainda resultaram pequenas coisas, então do mal o menos. Ao excluirem-se estes dois, sobram as duplas Yukinari/Yanagi que depois de andarem às “turras” por paixonetas diferentes mereciam um desfecho mais conclusivo, qualquer ele que fosse, e Hiro/Sachi. Este último casal então é que pouco ou nada ofereceu à série. Em 80% das cenas onde surge, Sachi está sempre acompanhada por um livro. A rapariga dá mais atenção e importância a este tipo de objetos do que ao seu apaixonado ou até mesmo a Touko, com quem tem uma amizade forte, pelo que desta “devoradora” de livros nunca se esperou nada de interessante.
Glasslip | Ambiente
Uma conceção gráfica de luxo!
Na altura em que fiz as primeiras impressões à série conferi-lhe uma boa classificação, pois o enredo ainda estava muito verde enquanto que os planos de fundo das cenas já saltavam à vista de qualquer um. Aqui deixo os meus sinceros parabéns a quem trabalhou no desenvolvimento desta área da produção, pois os resultados são dignos de fazerem inveja a muitas obras. As paisagens das montanhas e restantes espaços verdes assim como as zonas citadinas por onde circulam os protagonistas estão fabulosas. O mesmo se pode dizer da concepção das personagens. Cheias de estilo! O vestuário e a diversidade de cores assentam que nem uma luva em todas elas. Os movimentos/animação das personagens também não deixam nada a desejar.
As melodias de Glasslip são para os ouvidos de qualquer um!
Se na parte do desenho a P.A. Works fez um grande trabalho, é também um dever da minha parte destacar a banda sonora. As badaladas suaves e relaxantes que tocam durante os episódios são de grande nível, com especial destaque para aquelas em que entra o piano em ação. Um dos melhores momentos é mesmo quando a mãe de Kakeru decide tocar um dos seus recitais para a família de Touko. Excecional!
O relevo que a música tem direito durante os vários capítulos de Glasslip não é tão acentuado no ending da obra. Já o opening é um daqueles momentos em que se junta a elevada qualidade das principais caraterísticas ambientais, ou seja: música, desenho e animação de alto nível.
Glasslip | Juízo Final
Glasslip é daquelas obras capazes do melhor e do pior em simultâneo. Se a obra nos apresenta um enredo de tão pouca qualidade que até dá dó, do outro lado há um trabalho desenvolvido magnífico no que à música reproduzida durante o anime diz respeito, tal como na conceção das paisagens da região onde todas as peripécias se desenrolam.
Ao juntar-se tudo isto percebe-se que o responsável pela criação desta história e seus ajudantes não tiveram capacidade para acompanhar o talento e o trabalho desenvolvido pelas outras partes do projeto. Neste caso, não havia mesmo conceções gráficas e melodias capazes de salvarem o guião elaborado. Quando se começou a falar nos “fragmentos do futuro”, uma comparação com o filme “The Girl Who Leapt Through Time“ era previsível. Infelizmente, não chegou a haver comparação possível.
Sinceramente, não me parece que alguém vá ver Glasslip apenas e só para apreciar o plano de fundo e seus aspetos envolventes, pelo que acabo por considerar esta produção uma perda de tempo, num tom bastante injusto para alguns dos trabalhadores deste projeto.
Análises
Glasslip
Dotado de excelentes trabalhos artísticos e de guiões muito fracos, Glasslip transformou-se numa obra capaz do melhor e do pior em simultâneo.
Os Pros
- Produção Visual
- Banda Sonora
Os Contras
- Personagens
- Enredo