Se ainda não leram o prólogo desta jornada, comecem aqui:
Assim, vocês recebem conteúdo e eu sinto-me mais motivado a trabalhar.
Ah! Ah! Ah!
É o que eu ganho por estar no último ano da faculdade e anunciar, em plena época de exames e trabalhos, “ eU vOU cOmEçAr A vEr AnImE oUtRa vEz!!11!!11!!”.
Portanto, um pouco depois de originalmente anunciado, temos o início oficial da ReEducação de um Fã de Anime… em que eu ignorei completamente a ordem e a lista feita e vou falar de uma série diferente. Isto vai correr mesmo bem, já dá para ver.
Gundam, Vietnam e Cliché em Gundam 08th MS Team
Na lista original que fiz (assumindo que seria o meu último passeio pelo mundo da animação japonesa) tentei incluir alguns franchises que me interessavam, mas que eu ainda não tinha experimentado. No caso do Gundam, pensei em tentar a minha sorte com os três filmes que resumiam a história da primeira temporada, mas em vez disso acabei a ver os primeiros seis episódios de 08th MS Team.
É do meu entender que o 08th MS Team é ligeiramente diferente da maior parte das séries Gundam porque em vez de ser um épico espacial, é uma história mais pequena e pessoal passada no Vietnam (ou seja, firmemente em terra), por isso eu posso ter ficado com uma ideia totalmente diferente daquilo que Gundam é suposto ser. Resumindo, a história é sobre um grupo de soldados da Federação (que, se percebi bem, é o governo da Terra) que lutam contra soldados de Zeon (que, se percebi bem, é um governo de colónias que se querem tornar independentes/ tomar conta da Terra) por controlo das várias zonas do Vietnam, enquanto se desenvolve um enredo sobre alguma arma secreta de Zeon que pode virar a guerra a favor deles.
Foi interessante ter começado a minha viagem com esta anime, porque incorpora elementos que eu não costumo ver neste meio juntamente com clichés que vejo em montes de animes.
As personagens desta equipa não são os seres mais complexos à face da Terra, desde o líder entusiasmado e cheio de vontade de lutar até à criança que está a fazer de sidekick/mascote, toda a gente aqui é bastante comum… mas o resto do mundo/as circunstâncias que os rodeiam são muito diferentes.
Primeiro, como a série se passa na Terra em vez de no Espaço, passa a haver uma grande preocupação com manobrabilidade e utilização da geografia local. Como é que os Gundams se movem, como é que se podem esconder entre a floresta densa, como é que lidam com rios, etc.
Esta série procura ser mais realista do que o habitual e é aqui que entra o conflito entre o mundo e os personagens.
Eu mencionei que os personagens são uns clichés enormes, o que inicialmente era esquisito, até que percebi que o novo ambiente onde eles se inserem interrompe a vida deles. Isto aplica-se em particular a dois personagens, o Eledore e o Michel. O Eledore é um compositor (ou letrista, ou cantor, não é muito explícito) e enquanto está na guerra, uma das músicas dele vai finalmente passar na rádio… só que ele pode nem conseguir ouvir a canção por várias razões, desde estar em missão até estar morto.
O Michel é um caso ainda mais triste porque, ao contrário do Eledore, ele quer estar lá e passa o tempo dele a escrever à namorada, BB. O problema é que a BB está progressivamente mais preocupada com ele e teme o dia em que as cartas parem de chegar questionando, num dos momentos mais emocionais da série, se não seria menos doloroso deixá-lo. E foi mais ou menos por esta altura que a série “clicou” comigo porque percebi que, apesar de já ter visto muitos destes clichés, o novo contexto deu-lhes uma dinâmica interessante.
Apesar de saber o tipo de personagem que o Michel é (o tipo baixo, que serve de apoio ao protagonista e vai ganhando uma espécie de respeito por ele, ainda que inicialmente não goste dele)… eu fiquei emocionado com a impotência dele face à sua situação, quando ele não consegue escrever de volta à BB por estar a meio de uma missão.
Atmosfera é algo que muitas animes têm dificuldade a estabelecer, mas esta série chega a uma coisa que eu não vejo muito: o tédio da guerra.
De todas as coisas, boas e más, que posso apontar a esta série, a que mais me agarrou foi a representação da frustração com a guerra, não pelo horror, mas pelos períodos entre a ação. Esta atmosfera é bem definida no tal episódio em que o Michel quer escrever as cartas e não consegue, não por causa de estar a meio de combate intenso ou uma missão super importante, mas porque está à espera. De quê? Nem eles sabem, mas sabem que têm que ficar plantados no mesmo lugar na vaga esperança de que volte a aparecer. Não há ação, nem heroísmo, mas há… esperar. E esperar. E esperar mais, se for necessário. Há uma grande sensação de desalento com a situação, só que em vez de ser pelos horrores da guerra, é pelo travão que a guerra se torna nas vidas das pessoas. Sim, o Michel estava entusiasmado por poder ir e não é como se ele tenha deixado de acreditar na guerra, mas as complicações começam a entrar e a entrar rápido.
Esta atmosfera que eu mencionei é suportada pela animação que só faz com que muita da anime medíocre que vi pareça ainda pior. Sim, as cenas de ação são todas incríveis e os Gundams são super detalhados, mas o que me apanha sobre esta série são os detalhes pequenos que eles não tinham que pôr lá, mas puseram de qualquer maneira.
Dois saltam à vista: quando o protagonista, Shiro, encontra pela primeira vez a “Master Chief” (era assim que estava nas legendas e não sei qual é o equivalente português) Karen, que já está no campo, e vê que ela é uma pessoa muito séria, ele abotoa subtilmente um botão no seu uniforme. É uma coisa pequena, mas é um detalhezinho que reforça o Shiro, não só pela atitude mais despreocupada dele, mas também porque ele percebe que a Karen não está lá para brincadeiras.
Esta é uma coisa esquisita de apontar, mas um cliché visual que já vi frequentemente em muitas animes é um plano num personagem, com umas fotos no fundo, seguido de um plano aproximado dessas fotos. E diria que em todas as vezes que vi essa imagem, as fotos no fundo nunca tinham detalhes nenhuns.
Por exemplo, tivesse sido tirada num sítio com o céu azul, então a foto era toda azul. É uma coisa comum e não me causa muito transtorno porque fazer uma anime leva tempo e se o maior problema visual de uma série for “não dá para ver aquele detalhe pequeno no fundo” também não é por isso que dou 0 estrelas à animação. Mas as fotos distantes no 08th MS Team acontecem quando o Michel está a escrever à BB, e nós vemos as fotos dela no fundo… mas com detalhes. É possível que tenham feito isto porque nunca mostram um plano aproximado das fotos e por isso apanhamos o que podemos ao longe, mas mesmo assim é uma coisa que eu nunca vi e dá-me a capacidade de dizer, mesmo sem nunca a ter visto, que a BB tem óculos.
Acabei de começar esta jornada por anime e diria que já a comecei bem. Temos aqui uma série que utiliza elementos familiares num novo contexto, com ação e drama interpessoal, sem ir demasiado longe para se tornar num melodrama (se bem que tenho alguma ideia do resto da série e suspeito que isso não vai durar) e, pela primeira vez há já algum tempo, estou INTERESSADO e ENTUSIASMADO por continuar a ver esta série.
Eu sei… também estou assustado. Bem, com sorte e mesmo com as mudanças que sei que aí vêm, isto há de continuar a ser bom.
Ainda não voltei a estar viciado em anime, mas veremos.
Segunda parte:
Lixo em Gundam 08th MS Team – A Reeducação de um fã de Anime
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