Título: Gunslinger Stratos The Animation
Adaptação: Jogo
Produtora: A-1 Pictures
Géneros: Ação, Ficção Científica
Ficha Técnica: Disponível
Gunslinger Stratos The Animation | Opening
“vanilla sky” – Mashiro Ayano
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Gunslinger Stratos The Animation | Enredo
A primeira pergunta que surge na análise a este departamento é só uma: mas que enredo? Conceitos, até são alguns. Mas enredo, nem por isso. Acredito que muitos tenham ficado confusos com toda a pseudo-complexidade deste título. Porém, na verdade, ele é tudo menos complexo. Até porque complexidade narrativa não é medida pelo nível de confusão do público, ao contrário do que se possa pensar. Se, em vários momentos, se sentiram perdidos, garanto-vos que o problema não é vosso. A raiz de toda esta disfunção narrativa é proveniente da pobre exposição da história e das tentativas de explicações falhadas que, por sua vez, não têm qualquer ritmo, nem qualquer sabor a consistência.
Como grande exemplo disto temos o sétimo episódio, que é todo ele dedicado, sem pausas, à explicação toda do conceito que ninguém entendia ao longo dos seis episódios anteriores. E porque é que não se entende? Porque é realizada uma injeção de informação que deveria ter sido doseada progressivamente ao longos dos episódios anteriores. Deste modo, a forma como tudo foi feito dá-nos bastante soneira, bloqueando a capacidade dos nossos cérebros perceberem toda esta mixórdia de paradoxos temporais, que parecem complexos mas não são. São lineares, bastante simples na verdade, mas muito mal compostos, e assim parecem complexos.
– Uma tentativa de entender/explicar a história –
Este segmento pode conter SPOILERS.
Após meia temporada preenchida por episódios repetitivos, é-nos revelado que todo o conflito existente foi causado pela tecnologia e viagens temporais.
Portanto, a base para a construção e funcionamento da máquina do tempo foi encontrada numa exploração espacial, no final do nosso sistema solar, numa partícula muito especial (e conveniente). Esta partícula deu então origem aos energy cubes, que podem ser produzidos em massa com extrema facilidade. Com o avançar do tempo a máquina começou a ser utilizada para operações militares, onde descobriram um mundo semelhante numa realidade alternativa. Porém este encontro não foi algo positivo para a humanidade, pois deu origem a uma guerra. Ao tentarem evoluir as armas descobriram que ao usar os cubos para as avançar tecnologicamente, chegaram a um ponto onde a ultimate weapon é o Dead End, ou seja, a SAND.
Como é que vamos de armas com gatilhos normais para um mundo onde essas armas se fundem com os humanos e se tornam numa areia imortal? Não sei, nem ninguém sabe, porque o que importa é que foram criadas, não é? Como, quando, onde, por quem, isso já é um conceito criativo muito puxado para uma história destas. Não vale a pena procurarem a resposta, ela não existe. O núcleo da história, o Dead End, é aquilo que menos desenvolvimento e caracterização tem. Assim sendo, se vocês estão bem com uma história com estes moldes, então vão adorar Gunslinger.
Sim, é esta a história do anime. Existem aqui aspetos interessantes, como podem ver, só que não passa disso. E lembrem-se, o que aqui está é a versão simplificada e agregada, da confusa e desfragmentada narrativa.
– O cerne da Questão –
Acho que a grande percentagem de aspetos responsáveis pela má qualidade de Gunslinger é bem visível. No entanto, algo no seu núcleo me incomodava imenso. Até porque sou fã incondicional de qualquer obra que toque no assunto “viagem temporal”. De maneiras que este fanatismo sobre este tipo de narrativas já me levou a consumir muita coisa com esta abordagem. Porém e mesmo assim, algo me incomodava profundamente e eu não estava a conseguir entender o porquê (como em muita coisa deste título). Porque é que apesar de até existirem aqui conceitos interessantes, isto me dá a volta ao estômago? E foi quando comecei a pensar em todas as narrativas que já ingeri nestes moldes, e entendi que existem pelo menos dois tipos de histórias com viagens temporais.
De um lado, as que são conduzidas pelas personagens, do outro, as que são conduzidas pela história de um modo completamente independente das personagens. Ora esta segunda é mais rara, porque para isto funcionar é necessário uma originalidade e habilidade de escrita incríveis. Reinventar este género com perícia é bem mais complicado do que realmente parece. Para exemplos de narrativas conduzidas pela mecânica das personagens temos Back to the Future nos filmes e recentemente Punch Line em anime, e para exemplos de narrativas conduzidas pela mecânica da história neste ramo temos por exemplo Butterfly Effect nos filmes e Suzumiya Haruhi no Shoushitsu em anime.
E depois, ainda existem casos que conseguem executar as duas mecânicas de forma sublime como por exemplo Donnie Darko e Steins Gate. Como podem ver, não faltam iterações a abordar esta temática, alargando-se aos mais variados formatos, desde livros, cartoons, séries, enfim, por aí fora. (Depois quem quiser mais exemplos que peça nos comentários e deixo-vos uma lista).
A conclusão a que cheguei é que Gunslinger nem tem uma nem tem outra. Não se alimenta de nenhuma das mecânicas, e ao mesmo tempo tenta executar as duas. E por isso, além de ser mais do mesmo, deixa um gosto mesmo mau. Gunslinger tem aqui uma mecânica semelhante à do filme Terminator. Ou seja, a humanidade cria uma “arma” e esta revolta-se contra o seu criador. No futuro alguém resiste a esta arma, e envia alguém para o passado para esquivar a humanidade do Apocalipse. Nisto a arma vai também para o passado, de modo a evitar que a resistência consiga alterar a linha temporal e, portanto, que a concepção da arma nunca tenha acontecido. Ou seja, este molde existe, já foi usado e não é nada de novo. Até mesmo quando surgiu Terminator em 1984, a mecânica já não era original.
Mas, então porque razão Terminator se tornou num clássico contemporâneo? É simples, personagens e diálogos memoráveis. Quando a mecânica da viagem temporal é igual a tantas outras mas apenas com nomes diferentes, é necessário que as personagens estejam a esbordar carisma. Com certeza ninguém se esqueceu, nem ninguém se esquecerá, do nostalgicamente épico “I Will be Back” ou do bravo “Hasta la vista, Baby” do Arnold Schwarzenegger.
Gunslinger Stratos The Animation | Ambiente e Pensamentos finais
Relativamente ao ambiente não existe muito a dizer. Ou melhor, não existe muito a acrescentar além daquilo que afirmei/comentei nas primeiras impressões. Posso garantir-vos que o que era mau, ficou pior. Ainda assim, e em vez de insultar o departamento da produção técnica com palavras, vou deixar que eles façam isso sozinhos, deixando aqui algumas imagens e gifs sobre o assunto.
E, infelizmente, estas estão longe de serem as piores amostras.
Por fim, como já deu para perceber, recomendar esta obra é algo complicado de fazer. Mas é possível. Se existir por aí alguém que, tal como eu, tenha um grande apreço por narrativas que abordem viagens temporais, acredito que seja um título a adicionar. Não porque ele é bom, não porque é inovador, mas sim precisamente pelo contrário. A forma como Gunslinger faz tudo errado torna-o num excelente título de estudo para entender-mos porque é que este tipo de narrativas funciona, porquê que não funciona e, acima de tudo, porque é que é tão difícil de fazer uma com uma qualidade além da média.
Caso contrário, a não ser que sejam masoquistas, não vejo qualquer razão para verem Gunslinger. Fujam!
Gunslinger Stratos The Animation | Trailer
Análises
Gunslinger Stratos The Animation
Os Pros
- Não me recordo de nada
Os Contras
- Praticamente tudo