A conclusão da primeira parte de Haikyuu!! To The Top, juntamente com o prólogo desta parte 2, prometiam mais uma dúzia de episódios de grande calibre. Infelizmente, isso não se concretizou, o que é uma novidade na franquia. A produção mostrou algumas debilidades e atrasos na apresentação de pontos fortes que transitavam das prequelas, comprometendo assim a sua apreciação final.
Antes de prosseguir, de referir que esta análise contém alguns SPOILERS, necessários para referências aos protagonistas deste segundo cour, a acontecimentos precedentes, e à projecção do que vai acontecer a seguir. Todavia, todos os SPOILERS têm apenas como base a adaptação anime, pois o autor deste artigo não acompanha a obra original: o manga de Haurichi Furudate.
Karasuno vs Inarizaki
Sem delongas, começo por abordar o conteúdo principal de Haikyuu To The Top: Parte 2. O jogo entre Karasuno e Inarizaki prolongou-se por todo o cour, excepção feita a uma interrupção a meio para acompanhar Nekoma, equipa sobre a qual falarei mais à frente.
Ora, convém recordar que algo semelhante aconteceu na terceira temporada de Haikyuu!! Essa série foi totalmente dedicada ao duelo com Shiratorizawa e, portanto, estes dois momentos da produção parecem-me comparáveis. Acontece que, pelo menos a meu ver, os níveis de qualidade dos jogos oscilaram de maneira muito diferente. No jogo entre Karasuno e Shiratorizawa, verificou-se um maior equilíbrio na distribuição do hype das jogadas, o que resultou num maior entretenimento a longo prazo, e não numa recta final explosiva. Por este ponto de vista, este encontro talvez seja mais ajustado à realidade, pois, por regra, quanto mais tempo dura um encontro, maior é o desgaste físico e mental, logo, a qualidade de jogo tem tendência a baixar.
Por seu lado, o jogo entre Karasuno e Inarizaki foi bastante irregular no seu percurso. Surgiram alguns momentos interessantes pelo meio, mas notou-se alguma falta de capacidade de prender o espectador ininterruptamente ao longo de todo e cada episódio. A interrupção para Nekoma também não ajudou a isto. A grande vantagem desta “estratégia”, que se coaduna mais com uma obra ficcional – embora Haikyuu tenha muito conteúdo ajustado à realidade – foi o desfecho fabuloso que este encontro proporcionou. Os últimos 2 episódios, (em especial o penúltimo!) são arrepiantes, muito por mérito de toda a carga emocional acumulada até àquele momento e que não foi “rebentando” com o decorrer da série. De recordar que este “acumular de energia” não começou no início deste segundo cour, mas muito antes disso. Nomeadamente, nos estágios extra-Karasuno a que Kageyama e Hinata se submeteram nas suas pseudo-férias.
O jogo no court e o desenvolvimento das personagens
Mas então, e fiz a questão a mim próprio, porque é que o hype só foi verdadeiramente sentido no desfecho do encontro? O que originou isso, assim como uma falta de capacidade pouco habitual de prender o espectador ao ecrã? Numa primeira fase, identifiquei as seguintes possibilidades:
- o jogo no court e respectivas jogadas apresentadas;
- as pausas para a exploração do passado das personagens;
- a explicação dos aspectos técnicos de um jogo de voleibol;
- as emoções que tomam conta dos protagonistas no decorrer de um encontro, consoante as jogadas desenvolvidas e resultado final das mesmas;
Rapidamente, decidi excluir as duas últimas.
No ponto 3, a inclusão daquele casal espectador a analisar tudo o que se estava a passar no court – uma espécie de conferência de imprensa, com a rapariga a assumir o papel de jornalista e o rapaz de comentador especialista – pareceu-me bastante benéfica para a produção.
No ponto 4, creio que a história esteve no seu patamar habitual. O diálogo sobre a “velocidade”: da dita cuja ser fantástica e exuberante, mas não ser invencível, havendo outras estratégias que passam despercebidas e resultam igualmente bem, é um exemplo disso. Tal como a preocupação (na cabeça de jogadores e treinadores) em conquistar o ponto em determinado momento do jogo, para quebrar a confiança da equipa adversária, o seu ritmo de jogo, ou mesmo para sentenciar o seu ânimo competitivo.
Depois disto, sobrou a exploração do passado das personagens e a qualidade do jogo no court. A meu ver, os dois pontos que colocaram esta obra um pouco abaixo das expectativas criadas, e que que se relacionam com os tópicos seguintes desta análise.
Nekoma à boleia de Kenma Kozume
Concordo que se possa tratar de uma questão meramente pessoal, mas as viagens ao passado dos membros de Inarizaki, em especial dos gémeos Atsumu, não estiveram no nível elevado a que Haikyuu me habituou nestas matérias. E percebo isso claramente quando olho para o momento em que a série retirou o palco a Karasuno e Inarizaki para o conceder a Nekoma, grande rival dos “Corvos”.
Nekoma: uma equipa que se caracteriza pela força do seu colectivo, mas cujos holofotes incidiram sobretudo em Kenma Kozume. E ainda bem que assim foi! A apresentação da história e da perspectiva original com que Kenma encara as adversidades, dentro e fora dos courts, tornou tudo muito mais interessante, inclusive o próprio jogo de Nekoma que decorria em paralelo.
De facto, e de volta a Inarizaki, olho para os gémeos Atsumu como o duo chamariz de uma equipa onde encontrei mais interesse noutros elementos. Em especial, no estratega Kita Shinsuke, e em Suna Rintarou, por força da sua elasticidade e das divagações mentais no que toca aos blocos na rede.
Arte e Animação
A arte e a animação foram algo criticadas neste cour. Eu confesso que não me apercebi assim tanto dessas “falhas” … numa primeira fase. Porque, de facto, em grande parte das cenas, Haikyuu manteve um patamar de qualidade acima da média nestes aspectos, logo, porquê fazer disto um grande problema? Porém, pouco depois, cheguei à conclusão que, disfarçadamente, este terá sido o factor com maior impacto na menor qualidade do duelo a que assistimos, quando comparado com encontros anteriores de igual importância para a trama.
Passo a explicar. Por exemplo, sem grande investigação, lembro-me do impacto causado por Kentaro Kyotani (o “Mad Dog” de Aoba Johsai), quando entrou no court no frente a frente com Karasuno. Com uma jogada super simples, esta personagem causou “choque” deste lado do ecrã. Porquê? Pela diferença na forma minuciosa como esse momento foi trabalhado e inserido nesse episódio.
Num duelo longo, e contra um “tubarão” como Inarizaki, creio que faltaram mais momentos parecidos com os de Kyotani, em que a animação, mas acima de tudo a arte, tinham de se exceder. Um momento destes por episódio era o suficiente para os dois terços iniciais deste encontro serem absorvidos, semana após semana, de maneira diferente.
Banda Sonora
Uma vez que já falei no artigo de primeiras impressões sobre o opening e ending, salto directamente para a banda sonora. Esta, curiosamente, percorreu um trajecto semelhante ao da arte e animação. Por outras palavras, chegou tarde. Alegre e repleta de energia, a música ambiente, tão impactante ao longo da franquia, desta vez também só se fez realmente sentir nos últimos episódios, em conjunto com o hype das últimas jogadas do encontro, pelo que também aqui a série perdeu alguns pontos em comparação com as suas prequelas.
Conclusão
Em suma, o final de Haikyuu!! To the Top: Parte 2 é fantástico. O desfecho do encontro tem capacidade para compensar toda a espera por esse momento, porém, em termos de análise, não podem ser desconsiderados todos os outros momentos do encontro nos quais, por diversos motivos, a franquia esteve um pouco abaixo das capacidades e expectativas a que habituou o espectador. Isto significa dizer que as críticas ao longo desta análise não se traduzem num completo afundar da produção, apenas um baixar da qualidade em relação à fasquia elevada onde há muito estacionou.
Na verdade, aqui se vê a importância da consistência na qualidade do trabalho de uma franquia. Se esta fosse a série de estreia do anime, a avaliação final da obra seria mais baixa. No entanto, o passado e a consolidação das personagens – a grande maioria com direito a um tempo de antena significativo – joga muito em favor de Haikyuu. Neste momento menos bom, a relação desenvolvida entre os fãs e as personagens despoleta sentimentos que conferem uma interpretação diferente de algumas cenas (sempre para melhor!), por força daquilo que as duas partes construíram e viveram juntas nas séries anteriores. Como já foi dado a entender, o tempo de antena concedido a Nekoma também ajudou a contrabalançar este momento menos bom do projecto da Production I.G.
Concluindo, Haikyuu To The Top: Parte 2 não justificou o seu título e, portanto, solicita-se uma parte 3, a fim de que as expectativas altas que cedo se criaram – e que foram, tantas vezes, bem justificadas – voltem a ser cumpridas. Para isso, creio que o duelo escolhido não podia ser melhor. Afinal de contas, no court estarão presentes as duas equipas mais acompanhadas de toda a história.
KARASUNO FIGHT!
Trailer
https://www.youtube.com/watch?v=WkcQkw98oa4
Análises
Haikyuu!! To the Top: Parte 2
Ao contrário de todo o potencial apresentado, esta segunda parte de Haikyuu!! To the Top revelou pequenos decréscimos de qualidade em alguns aspectos, pelo que a chegada ao topo ficou adiada para a sua sequela.
Os Pros
- O final da série
- O ending
- Os aspectos técnicos e emocionais abordados no decorrer dos jogos de voleibol
- Kenma Kozume
Os Contras
- A banda sonora da franquia tardou em fazer-se sentir
- O hype do jogo entre Karasuno e Inarizaki concentrou-se quase na totalidade na recta final do encontro