A temporada anterior foi marcada pelas gigantescas expetativas criadas em relação a algumas produções, entre elas, Hamatora The Animation.
Baseada no manga escrito por Yukino Kitajima e desenho de Yuki Kodama, a sua adaptação desde logo prometeu ser de sucesso, com Yu Wazu como designer e a utilização de “mixed-media” como design preferencial (a produção é desenvolvida a partir de diferentes técnicas visuais e artísticas).
A adaptação para o pequeno ecrã consiste numa pequena sequela de 12 episódios, lançados entre 7 de janeiro e 25 de março, deste ano.
Hamatora The Animation | A História
A história gira em torno de uma condição genética chamada de “Minimum Holders” ou “Portadores de Minimum”. “Minimum” trata-se de uma alteração do código genético que concede poderes supernaturais a quem o possui. Os poderes variam desde libertação de hormonas, a super força, super velocidade, entre outros.
O “protagonista” é uma agência de detetives, Hamatora, constituída por Minimum Holders, sediada numa mesa do café “Nowhere“. A personagem com maior destaque é um dos fundadores da agência: um jovem rapaz de estilo descontraído e headphones, de seu nome Nice.
Todos os membros da agência frequentaram a Academia Facultas, escola especializada no desenvolvimento do potencial humano. Todavia, a instituição demonstrou ser mais parecida com um laboratório de testes humanos em que as capacidades físicas e os super poderes eram testados ao máximo. No entanto, nem todos os alunos graduados com distinção eram portadores de Minimum. Art, um não portador, completou os seus estudos com distinção e rapidamente se tornou um importante investigador da polícia.
A problemática gira em torno da resolução de simples casos de detetives que culminaram numa sucessão de eventos entre dois grandes polos antagonistas: os portadores e os não portadores de Minimum.
Ambiente e Enredo
O resultado modesto do enredo contrasta com aspetos técnicos e visuais de excelência. O que começou por ser considerada uma das produções mais marcantes da temporada, desmoronou toda e qualquer expetativa logo nos primeiros episódios.
A história inicia-se com a apresentação da rotina dos nossos protagonistas, é lhes apresentado um caso, como detetives tentam resolver. Entretanto aparecem outros portadores, que por motivos desconhecidos se interligam com os contratantes. O objetivo é chegar ao confronto entre portadores de Minimum e a representante da sociedade que “defende” os não portadores, intitulada de “Associação de protecção ao bem estar e igualdade”, fazer uma propaganda anti-minimum, fruto da inveja e medo do poder adquirido pelos portadores.
Uma ideologia agradável e sempre na moda, fácil de captar a atenção por parte do publico é completamente arruinada pela forma desmedida e forçada com que a ideia é demonstrada. A sensação que detive enquanto assistia é que tudo tinha que levar a esse fim, mesmo que para isso tivessem de criar associações aleatórias entre as vítimas dos ataques do “Ladrão de Minimum” e os contratantes dos Hamatora, estando os últimos sempre no local certo e à hora certa. Como resultado: a mensagem está lá (nem que seja em forma de sumário referida por uma outra personagem para remate final do tema), mas não tem qualquer força.
O que poderia ser uma obra sublime acaba por se tornar numa sucessão de cenas e acontecimentos que surgem do nada, por vezes com justificações ridículas, comprimidas ao mínimo com o objetivo de transmitir x e y.
O ponto alto desta narrativa envolve o vilão, que mesmo demasiado psicopata demonstrou ser, sem sombra de dúvida, um génio por detrás de todos os acontecimentos. De seu nome Moral, defende a justiça humana, e aí entra o seu lado completamente psicopata: justiça seriam todos serem iguais, não obstante, tal não pode ocorrer uma vez que uns detêm Minimum e outros não. A concretização da sua ideologia somente é conseguida através do roubo do cérebro de portadores de Minimum, e posterior implantação do Minimum noutras pessoas não portadoras originalmente, mas que assim o desejam. O alvoroço começa quando Art suspeita dos planos de Moral, criando um dos melhores momentos do anime: o confronto entre estes dois génios, dois defensores da justiça e simultaneamente representantes de pólos opostos (minimum e não-minimum).
A teia criada é realmente extensa, muitos são os valores a quererem ser questionados, as mensagens a ser enviadas, as conclusões a serem tiradas. Em 12 episódios tornou-se algo impossível, confuso e despropositado.
A tentativa de desenvolver as personagens carismáticas prova-se ser desmedida e pouco coerente. Desde os flashbacks do passado de Nice, a amizade e crescimento de Birthday e Ratio ou a vida de militar de Three, todas estas caraterísticas demonstram a força e peso dessas personagens. Contudo, o que poderia ser algo de fantástico e envolvente acaba por se tornar demasiado ríspido, fugaz e incoerente. Um exemplo disso é a história de Three. Num momento vemos a tentativa de conjugar a culpa e fazer algo de bom, no momento seguinte a criação de crianças assassinas só porque se sente culpado. Algo possivelmente fruto da necessidade de tornar a história pesada ou mais envolvente termina com um desenrolar estúpido e exagerado.
Em termos de qualidades visuais e técnicas, Hamatora The Animation apresenta, sem dúvida, das animações mais bem desenvolvidas e conseguidas da temporada. O jogo de cores e traços harmoniosos contrastam com o ambiente criado aquando da ativação do Minimum, criando um ambiente mágico, como se tudo parasse ao redor da personagem à espera do seu movimento, da sua derradeira libertação. O design soberbo somente fez aumentar as expetativas em relação às batalhas e às suas qualidades visuais, que neste sentido não desiludiram nem um pouco.
Por fim, relativamente à banda sonora, demonstra ser incoerente com as cenas, não suscitando nenhuma carga emocional à cena em si.
Hamatora The Animation | As Personagens
Nice é o líder e fundador da Hamatora, e tem Murasaki como parceiro. Aparentemente descontraído, adora divertir-se e ganhar dinheiro de forma honesta. É um portador de Minimum com a caraterística de se mover à velocidade do som. A sua forma de ativação consiste no estalar de dedos. A sua existência na Academia Facultas é confidencial devido ao perigo que o mesmo representa. Na sua estadia na academia demonstra possuir uma capacidade física e intelectual acima da média, o que simultaneamente com o seu poder o torna num possível alvo por parte de outras agências, governos ou individuais escrúpulos.
O seu desagrado perante o método de avaliação da academia forçou-o a afastar-se da mesma, o que resultou na perda de controlo sobre o melhor aluno formado, desde sempre, na Academia.
Murasaki faz dupla com Nice, e em oposição a este é racional e calculista. Um génio com os pés bem assentes na terra, pragmático e sincero. A grande maioria das mensagens que este anime produz advêm dele. O seu poder baseia-se no chamado “tudo ou nada” que lhe concede uma força, rapidez e agilidade extraordinárias. Ficou em segundo lugar na Academia Facultas, atrás de Nice. O facto de nunca atingir o Nice perturba-o desde sempre, considerando-o o seu maior rival.
Hajime é uma adolescente, de aspeto infantil, que se encontra frequentemente no Nowhere Cafe a comer ou a dormir. Apesar de aparentar ser frágil e distraída, constantemente tratada com todo o zelo pelos restantes membros é, na verdade, um dos membros mais fortes e significativos da equipa. Os seus poderes ainda não foram totalmente revelados, mas crê-se que seja dos Minimum mais poderosos que abrange desde super força, auto-regeneração, aumento das suas capacidades físicas e habilidades de batalha. É uma das fundadoras de Hamatora e segue Nice para todo o lado.
Birthday é uma das mais carismáticas e divertidas personagens. Descontraído, irresponsável e garanhão, faz tudo para impressionar as raparigas o que resulta, muitas vezes, em mal entendidos. Como os restantes membros da agência é um verdadeiro génio, com qualidades de batalha soberbas e de análise consegue sobrepor-se aos passos de qualquer pessoa. Adora brincar e filosofar de forma pouco convencional com o seu amigo de infância Ratio. Trabalha em parceria com Ratio e a sua habilidade reside na manipulação da eletricidade, ativada quando morde o taser.
Ratio é um médico que ajuda esporadicamente a Hamatora e é parceiro de Birthday. Os dois não poderiam ser mais distintos. Ao contrário do colega, Ratio é responsável, racional e sério. Todavia acaba sempre por envolver-se, mesmo que indirectamente, nas confusões provocadas por Birthday.
Marginalizado desde criança pelas pessoas devido ao seu poder, era chamado de “Morte” graças à sua capacidade de avaliação da estrutura humana. A capacidade de ver doenças e prever esperanças médias de vida fizeram com que todos se afastassem do mesmo, evitando inclusive o seu olhar. Todos, excepto Birthday.
O seu poder é libertado quando retira a tala do olho, já que fica capaz de ver a infra-estrutura de qualquer pessoa, detetar fraquezas e saber os pontos exatos onde deve acertar com os punhos de aço que detém por baixo das luvas.
Hamatora The Animation | Juízo Final
Uma obra carismática e que envolve ideologias e temas controversos e sem dúvida em voga. O ser humano em toda a sua extensão é questionado e as suas acções são avaliadas e interpretadas pelos diferentes protagonistas com vista a, no final, uma moral ser retirada.
Os portadores de Minimum, constantemente provocados e marginalizados pela sociedade, podem rapidamente passar da sua condição de vítimas para agressores quando decidem atacar civis. Essa amostra da plasticidade da condição humana é referência constante ao longo de toda a série, em especial por parte de Moral.
O extremismo de Moral, muitas vezes descredibilizado pela sua loucura, denota isso mesmo: toda a condição humana e uma solução utópica, a igualdade. Neste ponto entra Nice, questionando o porquê da igualdade, o porquê da não aceitação das diferenças?
A premissa do ter e não ter é o cerne de toda a inveja humana. Um dos momentos de relevo em Hamatora The Animation envolve o antagonismo e forte contraste entre Nice e Moral. Nice não compreende a razão de partirem para a violência por tal motivo, porque simplesmente não aceitam as suas diferenças, capacidades, dons e personalidade e vivem de acordo com o que possuem? Afinal se querem melhorar, trabalhem e lutem de acordo com o seu próprio esforço. Por contradição, Moral considera exatamente o contrário, que todas as pessoas vivem e sempre viverão na inveja recorrendo aos mais variados métodos para atingirem o que pretendem. A intensidade das tensões entre os dois partidos é crescente e o culminar é atingido de forma ainda pouco explicada, claramente exigindo uma segunda temporada.
Todo o enredo aparentemente cativante perde pela falta de coerência e linha de reprodução do mesmo. A necessidade de transmitir é tanta que se sobrepõe a qualquer lógica de construção de cenas, ligação de personagens, o que torna Hamatora The Animation numa amostra filosófica do ser humano com verdadeiras “quotes” lançadas no desenrolar da produção.
A história em si é quase nula, os poderes fantásticos de cada portador não são demonstrados em pleno e de longe explicados. O que poderia ser um dos maiores sucessos da temporada passou para segundo ou terceiro plano no panorama geral.
Hamatora The Animation não é um anime que prenda o espetador ao ecrã, todo o fascínio é perdido ao fim de uns meros três episódio, apesar de melhorar substancialmente na reta final toda e qualquer avaliação é corrompida pela pobreza dos capítulos anteriores.
Análises
Hamatora The Animation
Ainda antes do início da transmissão, Hamatora The Animation prometia ser uma série de sucesso. Mas será que isso realmente aconteceu?
Os Pros
- Produção visual;
- Personagens.
Os Contras
- Enredo;
- Banda Sonora.