Atrasos na transmissão de episódios de determinadas séries tem sido um acontecimento relativamente recorrente no panorama contemporâneo da indústria anime. Na presente temporada, outono de 2016, existem já exemplos onde isto se verificou, para nomear dois temos Long Riders e Brave Witches.
Os atrasos são gerados por problemas na produção, mas qual será a razão (ou razões) por detrás deles? Este problema chamou à atenção da secção de entretenimento do Yahoo Japan e decidiram mergulhar, com a ajuda de dois profissionais, no assunto para perceber melhor o que leva a esta problemática.
https://www.youtube.com/watch?v=nZAWhe286e8
Indústria Anime – Porque é que Existem tantos Atrasos?
Foram entrevistados, o veterano diretor de animação Akiharu Ishii (Blood+, Prince of Tennis) e um gestor de séries que preferiu manter o anonimato. Eles identificaram as seguintes problemáticas:
Apesar dos (ou talvez devido aos) avanços tecnológicos, o processo de produção está cada vez mais complicado. Ishii afirma que os avanços nos designs de personagens, no movimento, no detalhe dos cenários, e nos efeitos especiais elevaram a expectativa sobre o nível de qualidade que o público espera, sobre determinada série. Sem esquecer, claro, que o estúdio tem que produzir um esboço do episódio para que os atores de voz possam começar a trabalhar.
Isto significa que o estúdio tem que animar o episódio duas vezes.
afirmou o gestor de séries.
Existe um bom número de desperdício na produção de um anime, se esta porção fosse rentabilizada os animadores poderiam receber muito mais.
afirmou Ishii.
E depois existem ainda as séries que começam atrasadas logo desde o início. Ishii mencionou que algumas produções são anunciadas de forma repentina, com inícios de transmissão completamente irrealistas. Isto significa que, a equipa de produção, em vez de estar a criar algo para uma calendarização estratégica e organizada, tem que estar constantemente a produzir em cima da data de transmissão.
Outro problema é o facto de haver uma clara escassez de animadores dentro da indústria. Esta é, sem dúvida, uma das maiores problemáticas da indústria contemporânea. Além disso, os animadores que trabalham em regime de freelance estão, muitas vezes, a trabalhar em várias séries ao mesmo tempo, o que resulta em atrasos e trabalho por acabar. Isto, por sua vez, dá origem a algo cada vez mais recorrente: os estúdios vêem-se obrigados a contratar outros estúdios, o que pode levar a uma qualidade de produção baixa, que requer muitas vezes correções, o que leva de novo a mais atrasos. E bem, os que decidem lançar na mesma o episódio vocês já sabem o que acontece.
Aliada à escassez de animadores, existe também uma falta de treino relativamente aos animadores que entram agora num estúdio. Existem muitos (empregadores) que fazem um trabalho mesmo pobre em maturar as qualidades dos recém graduados e em torná-los capazes de manobrar o trabalho pesado da indústria, sendo que alguns nem as bases. Ishii termina este assunto afirmando:
Os estúdios não passam tempo a treinar os novos animadores, e alguns deles nem dinheiro têm para lhes dar essa formação inicial.
Após identificar os principais elementos que causam distúrbios na calendarização de uma série, os dois profissionais começaram então a abordar as suas possíveis graves consequências:
- As transmissoras podem multar os estúdios com quantias que os podem levar à falência;
Normalmente as estações televisivas não multam os estúdios, no caso de falharem a calendarização contratual, até porque é complicado discernir o verdadeiro culpado de um atraso. Mas é algo que pode acontecer e que acontece. E bem, se isto acontecer num anime que tenha sido financiado através de um comité de produção, então a multa será dividida entre todos os financiadores do projeto, o que ajuda em muito a reduzir os danos colaterais do atraso.
- Os animadores, geralmente, não são culpabilizados pelos atrasos;
Mesmo que a culpa realmente seja dos animadores, a não ser que seja algo mesmo grave, dificilmente serão culpabilizados. Como foi referido acima existem poucos animadores para tantas produções, portanto se alguém culpar um animador ele irá simplesmente abandonar o estúdio e deslocar-se para outro. Além disto, grande parte dos contratos são com animadores em regime de freelance e como tal são contratos verbais, portanto mesmo que sejam culpados não existe forma de os processar de forma legal.
Apesar de ser uma triste constatação da realidade atual, é também algo muito interessante de absorver. E é como os dois profissionais afirmaram: o primeiro passo para resolver os problemas é precisamente identificá-los.
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Fonte: Otaku USA