Como reagem vocês ao hype? Quando um familiar, amigo, conhecido ou influenciador recomenda algo com fervor, atiram-se de cabeça? O FOMO abate-se sobre vocês e cedem à pressão externa para acompanhar algo em vogue?
Estas são perguntas genuínas que faço, porque a minha posição tem sofrido algumas alterações. No geral, sempre me senti repelido a ver, ler, jogar, experienciar algo, se me fosse fortemente recomendado. A excepção sempre foram as pessoas que melhor me conhecem e em cuja opinião confio.
Ainda assim, mesmo que anotasse mentalmente que tinha mais algo especial para vivenciar, não saltava imediatamente para esse barco do hype, deixando que muitas vezes anos se passassem até finalmente, no silêncio da minha bolha, pudesse apreciar as sugestões e títulos.
O que mudou? Estou a tentar combater um pouco isso e, apesar do volume dos arautos do hype, e das milhares de “conversas de café online” sobre este e aquele título, estou a tentar antecipar a criação da minha “esfera de apreciador” e poder estar um mais no in the know do que está a acontecer no mundo anime.
Posto isto, e depois de anos e anos a ver That Time I Got Reincarnated as a Slime como um dos títulos mais chamativos e populares de um género que eu ainda considero ser o poster do “quantidade acima de qualidade”, isekai, decidi um dia destes dar-lhe oportunidade, abri o Crunchyroll e, logo após a 1ª temporada depois, aqui estou em para dizer que, finalmente, já entendo o hype com That Time I Got Reincarnated as a Slime.
Nota: Entre a escrita do artigo e publicação já vi tudo de Slime que havia para ver!
Já entendo o hype com That Time I Got Reincarnated as a Slime
⚇ Slimeopse:
Satoru Mikami é o nosso protagonista, um típico assalariado de 37 anos que subiu no mundo corporativo em Tóquio e que, a par do seu “eterno” estatuto de solteiro, se encontra bem satisfeito com a sua monótona vida citadina, sendo até um senpai adorado pelos seus juniores. Contudo, num típico dia, enquanto conversava com dois dos seus kouhai, um desvairado a empunhar uma faca aparece a correr pela rua e, saltando instintivamente para proteger os seus colegas, Satoru é apunhalado ficando a esvair-se em sangue. Enquanto sua vida vai desvanecendo, ele ouve uma peculiar voz no seu subconsciente que vai registando os seus pensamentos finais de moribundo na forma de skills.
E não é que em vez de “falecer”, Satoru renasce noutro mundo e enquanto uma Slime? Uma Slime algo peculiar, muito por causa da estranha voz no seu subconsciente. O que desencadeia de facto a ação é quando Satoru, enquanto tenta sair da enorme caverna onde renasceu, se depara com Veldora, “The Storm Dragon”, um monstro do tipo Calamidade que foi selado pelo Herói daquele mundo há 300 anos. Satoru, sendo um eloquente e capaz comunicador, trava amizade/irmandade com o dragão, é rebatizado de Rimuru, e… parte à aventura neste novo mundo!
⚇ O que faz de Slime um isekai singular?
À cabeça desta obra está algo que valorizo muito em histórias fantásticas, sobretudo quando se passam em mundo imaginados, tais como mundos de fantasia medieval, ou cyberpunk, entre outros: world building.
Não é o único do género que o faz, já que recentemente temos até o exemplo de Mushoku Tensei, mas é um aspecto muito negligenciado em anime/manga de aventura com ou sem o elemento de isekai. A força do world building em Slime está na natureza diplomática do principal objetivo de Rimuru.
Essencialmente, Rimuru olha para a sua nova oportunidade de vida como nós em miúdos olhávamos para uma caixa de Legos: milhares de peças e um universo de possibilidades. Ou seja, o próprio protagonista decide ser um agente de world building num mundo onde a lore e a diversidade de personagens já são riquíssimas.
Quantos anime de fantasia nos apresentam a procura por tesouros, a contenda contra monstros, a rivalidade entre raças e pecam imenso nas formas de como variar estas avenidas narrativas. Rimuru olha para o mundo e, sendo um slime, decide tentar viver a vida mais enriquecedora e divertida possível e começa por tentar fazer das raças mais “descartadas” e “descreditadas” do mundo, uma nação de monstros ao nível das demais. Durante este processo, mostrando ao resto das civilizações, e a nós audiência, que dada a escolha, todas as raças querem viver em harmonia, desde que as suas necessidades básicas sejam supridas.
Quem é que realmente quer batalhar, sangrar e perecer, quando pode antes partilhar um belo licor e relaxar numa onsen?
Falarei a seguir, mas em Slime não faltam combates espetaculares, duelos e momentos de hype em combate, mas eu contesto que isso é o melhor da obra. O melhor, para mim, reside nos momentos de evolução, seja de personagens, seja da pequena nação de monstros. É como se Rimuru estivesse a jogar o mais elaborado de Civilization e fizesse uma run fortíssima em diplomacia, sem descurar o poder quando necessário.
Outro fator que torna Slime em algo tão único são as personagens. Sim, o Rimuru e o círculo mais próximo recebem o maior destaque, e são incríveis, mas eu já perdi a conta ao número de personagens de diferentes raças e nações que já foram apresentadas e que regressam em vários pontos de episódios ou narrativas, e mesmo em poucos segmentos conseguem mostrar-nos como a sua personalidade e design são diferentes dos demais.
O cuidado para não “deixar cair” nenhuma personagem é louvável, e sente-se que cada uma delas acompanha a evolução de Rimuru, como se ele fosse o maestro da história que não deixa nenhum dos seus músicos ficar para trás.
⚇ Rimuru: Excelente exemplo de personagem overpowered
Personagens overpowered são abundantes em anime/manga, o difícil é escrevê-las de forma a que aquilo que as torna absurdamente poderosas não seja a sua característica principal. Nesse sentido, a meu ver são poucas as personagens OP que vão além do poder para serem cool ou ficarem no meu catálogo de favoritas – destaco da minha lista Saitama e Mob (o ONE sabe como escrever OP) – para o qual convido agora Rimuru.
Como a tensão em Slime transcende o perigo em batalha – embora também exista sobretudo para personagens que não o nosso protagonista – o facto do Rimuru, com a ajuda do Great Sage, agora Raphael-san, ter cultivado o seu poder de tal forma a ser altamente adaptável e poderoso, não remove o divertido que são os combates no anime, nem retira o suspense quando de uma batalha pode resultar um conflito além fronteiras, a perda de confiança no Rimuru e na Jura-Tempest Federation, ou a morte de um adorado companheiro ou aliado.
Os poderes e a forma como são usados, seja para batalhar ou para “construir o mundo em seu redor”, são o chamariz, e a isto se junta a personalidade do nosso protagonista.
O facto de ter a mente de um experiente salaryman quase nos seus 40 anos, faz com que o humor, tomada de decisões e planeamento de Rimuru seja diferente dos demais protagonistas de obras do género. E esse acaba por ser o seu verdadeiro poder, porque por muito energia que tenha, é a sua mente e capacidade para lidar com pessoas e manobrar conversas que o fazem ascender neste mundo e o fazem derrubar obstáculos, como se cada reunião ou debate fosse uma partida de xadrez e as palavras se tornam peças num tabuleiro.
Tudo culmina então num personagem maduro q.b., com grande mente para o negócio e um objetivo nobre, que depois ainda tem um bolso mágico cheio de poderes para nos entreter, seja para nos fazer rir, seja para castigar os verdadeiros malfeitores deste mundo.
Agora que uma 4ª temporada e novo filme foram anunciados, há ainda mais Slime para assistir.
Em jeito de conclusão queria apenas fazer uma espécie de TL;DR relativamente a Tensei Shitara Slime Datta Ken:
⚇ Se querem um mundo de fantasia, cheio de paralelismos e referências ao mundo real, personagens icónicas e inesquecíveis, muita aventura e diferentes poderes, dá uma oportunidade a esta obra. Não posso falar dos novels originais ou do manga, mas o anime é um mimo e um bálsamo de energia capaz de baixar qualquer febre. O voice acting está incrível e a animação vai do muito competente ao espantoso.
Ah, e não se esqueçam que, caso se queiram juntar a mim nesta jornada de desfrutar de Slime, está tudo disponível no serviço Crunchyroll.