JoJo’s Bizarre Adventure (2012) é a adaptação anime do épico manga de Hirohiko Araki, com o mesmo nome. O manga iniciou a sua longa caminhada em 1986 e até à data possui uma história dividida em 8 partes.
Esta adaptação, surge em comemoração dos 25 anos da série manga e compreende as duas primeiras partes da aventura de JoJo: Phantom Blood (episódios 1-9) e Battle Tendency (episódios 10-26). Enquanto que por um lado a saga Phantom Blood já tenha sido retratada em filme, que foi lançada em 2007, Battle Tendency nunca tinha chegado aos olhos do ávido espectador de anime.
Esta adaptação conta com a produção da David Production e da Warner Bros. É importante destacar o envolvimento de Yasuko Kobayashi, que entra para o projeto JoJo para realizar a composição da série, após ter trabalhado em projetos como: Claymore, Garo: Hono no Kokuin e Attack on Titan.
Agora era aquela parte em que vinha a história de JoJo’s Bizarre Adventure, não?
JoJo é especial. O anime (e o manga também!) deve ser visto com o estado de mente correto, ou seja, quando optamos por embarcar nesta saga devemos ter a mínima noção do que vamos assistir, correndo o risco, caso contrário, de ficarmos muito desiludidos com a série.
Eu sei que dizer isto faz, logo à partida, muitas pessoas ficarem de pé atrás com o anime, mas a verdade tem que ser dita e JoJo’s Bizarre Adventure não é uma série fácil de recomendar. É necessária já alguma experiência neste nosso amor de ler manga e ver anime, para nos sentarmos e de fato apreciarmos JoJo por aquilo que ele é, e pelo objetivo para o qual foi concebido.
Posto isto, e apesar de todos os entraves, vou embarcar no desafio hercúleo de analisar esta obra e explicar o porquê de ser tão especial.
JoJo’s Bizarre Adventure | Levantando um pouco o véu da história…
Quando se fala na história de JoJo’s Bizarre Adventure há duas ideias principais a reter e que cobrem os pontos relevantes desta, sem estragar ou comprometer a visualização/leitura da obra.
A primeira é que JoJo’s Bizarre Adventure se trata de uma saga que atravessa várias gerações. Pegando nestas duas primeiras partes, assistimos a duas gerações distintas da Família Joestar. A história da Parte 1, Phantom Blood, é passada nos finais do século XIX e a da Parte 2, Battle Tendency, decorre 50 anos depois.
A segunda é o principal objetivo dos nossos protagonistas já que, em ambas as gerações, tal objetivo está associado a uma misteriosa máscara de pedra que confere poderes incríveis ao ser humano por ela possuído, transformando-o num “vampiro”.
Na Parte 1, temos a clássica batalha do bem contra o mal, da luz contra a escuridão, o duelo de ideais e, acima de tudo, o duelo de homens na pele Dio e JoJo.
Na Parte 2, temos a jornada de JoJo à descoberta da origem da misteriosa máscara e o seu embate com as “divindades” a ela associadas. Deixa de ser um duelo de preto e branco e passam a existir bastantes tons de cinza de parte a parte, algo que esmiuçarei com mais detalhe noutro ponto desta análise a JoJo’s Bizarre Adventure.
Hirohiko Araki, “Oh Captain, My Captain”!
Falar do estilo e das caraterísticas do enredo e personagens de JoJo’s Bizarre Adventure é falar de Hirohiko Araki, o autor do manga que dá origem a este anime e do qual a série “bebe” da melhor maneira, a meu ver.
A intenção de Araki-sensei com JoJo era criar uma obra tendo por base um método clássico e introduzindo elementos mais modernos e diversificados de forma singular. Esta intenção reflete-se no estilo de animação que desenvolveu para o manga e que foi bem adaptado no anime.
Araki-sensei tem por hábito desenhar de forma bastante realista, usa cenários, épocas e locais reais. Como por exemplo: em Phantom Blood (Parte 1) ele é o mais fiel possível ao ambiente londrino nos finais do século XIX, algo que se nota não só na arquitetura que representa como também nas roupas que as personagens usam.
A este “cinzento” mundo “repetido”, o Sensei explode, usando coloração completamente invulgar e “dissonante”, sobretudo quando quer representar cenas de grande tensão emocional entre personagens ou cenas de conflito interior ligadas ao subconsciente.
No anime torna-se particularmente excitante vermos JoJo com o seu belo casaco tweed castanho e o seu cabelo revolto azul de repente apresentar-se colorido, em tons de verde, olhos rosa e o fundo a passar de rosa, para azul, para verde.
É sem dúvida uma surpresa vermos estas explosões de cor, estes caleidoscópios magníficos, acompanhados por uma excelente banda sonora a marcar o tom de uma bela cena de JoJo’s Bizarre Adventure.
Outro detalhe interessante que muito me apraz ter sido adaptado no anime foi o uso das onomatopeias e interjeições, caraterísticas das obras manga, na sua font chamativa. O seu uso aqui, de forma igualmente “berrante”, ajuda muitas vezes a dar o cunho pessoal e a vincar as características particulares de JoJo’s Bizarre Adventure.
A meu ver, e voltando ao duelo entre o desenho realista versus o irrealista, esta convivência de estilos leva a que aconteça um dos mais belos exercícios de genialidade da parte do autor de JoJo.
Ao fazer settings tão realistas, nós, o espetador (ou leitor), não nos perdemos com tanta facilidade no mundo que ele criou, uma vez que o mundo existe e já foi “visitado” vezes sem conta. Com naturalidade, o nosso foco muda, quase 100%, para os protagonistas, e é aqui, nestes elementos, que Araki-sensei mais se destaca e mais se desvia do método clássico de construção narrativa.
Hirohiko Araki, pega no setting por ele gerado, deixa que ele molde ligeiramente a personagem para que se encaixe, pelo menos, na época que representa e, de seguida, liberta-as das amarras de histórias “mil vezes contadas” e experimenta vários estilos diferentes de protagonistas, fato que foi admitido pelo próprio.
Isto torna JoJo’s Bizarre Adventure uma experiência abrangente e maravilhosa.
O mesmo se passa com as particularidades das personagens. Araki-sensei, queria explorar o mundo dos superpoderes e da energia oculta, o que o levou a criar novas formas de expressar poder na sua obra, de modo a conferir o aspeto místico e de incrível aos seus protagonistas.
Nestas duas partes somos introduzidos ao Hamon ou Ripple, algo que nunca é bem entendido como funciona, mas que deriva de uma ligação entre o sujeito e a energia do sol, permitindo ao mestre realizar atos incríveis e técnicas fantásticas.
Pegando em exemplos concretos de personagens, em Phantom Blood, temos o duelo branco contra preto, bem contra mal, entre JoJo e Dio. Na primeira parte da história, Araki-sensei, quis dar um cunho pessoal ao mais velho dos clássicos.
Temos o vilão realmente vil, sem pingo de bondade ou remorso, alguém que se move pelos seus interesses pessoais, que quer dominar o mundo e todos nele, e que vê no nosso protagonista o seu mais importante rival, que tenta espezinhar com toda a razão do seu ser. Este é Dio Brando, mestre da máscara e vampiro de excelência.
Temos um herói, forçado a crescer e tornar-se capaz, de modo a poder lidar com o seu malévolo rival, um verdadeiro cavalheiro britânico, honrado, humilde, com valores e carinho, que encontra um mestre que lhe ensina uma arte oculta para defender os seus do mal emergente. Este é JoJo (Jonathan Joestar na Parte 1), aprendiz de Hamon e corajoso sem igual, alguém que faz tudo pelo bem e pelo bem estar de quem ama.
Falando um pouco do negativo, quando comparado com Parte 2 e adiante, sente-se que a Phantom Blood lhe falta “sal”, falta-lhe pacing, que a história, apesar de ter apenas 9 episódios, é demasiado lenta e sem grande estímulo. Uma das razões apontadas, com a qual eu concordo em parte e entendo o motivo, é o facto de as personagens não acrescentarem nada de novo, parece que já vimos este desenvolvimento vezes sem conta e bem é verdade.
Uma ressalva é, talvez, que apesar do anime ter saído em 2012, a obra remonta a 1986, por isso é necessário colocar-mo-nos na posição de que Phantom Blood, na altura, não seria o cliché que é agora.
Mas reitero, apesar de gostar imenso da escalada de Dio ao seu estatuto de grande vilão e de ver pela primeira vez os conceitos de Hamon e dos poderes da máscara, considero que o pacing de fato prejudica um bocado JoJo’s Bizarre Adventure e que tudo parece muito repetido, embora entenda que isso seja mais erro do meu cérebro que do anime.
Posto isto, é fácil concluir que prefiro a Part 2: Battle Tendency. Tem um desenrolar mais fluído, com mais surpresas e detalhes novos que nos prendem e nos provocam as mais variadas emoções.
O setting, em Nova Iorque nos anos 30, molda logo a forma geral de ser das personagens e, como já falei antes, aqui temos um herói com muitos tons de cinzento.
JoJo, na Parte 2, é um jovem convencido, muito presunçoso, trapalhão, muitas vezes rude e que parece um alheado da vida, que fala alto e parece um rebelde á la James Dean. Na verdade esta forma de ser, esconde o talento e inteligência incrível que JoJo possui. Em combate, com o seu inteleto e Hamon, ele consegue subverter de forma sempre fantástica e inesperada os oponentes, e sempre da forma mais arrogante possível lhes explica onde eles falharam.
Sem estragar nada, quero dizer que aqui JoJo deixa de ter um mestre para ter um brother in arms, um rival e amigo, alguém ao estilo Sasuke e Naruto que faz o nosso herói pensar, “contra ele não posso perder, tenho que ser melhor”. Esta dinâmica entre eles também contribui para dar vida à história de JoJo’s Bizarre Adventure e proporcionar boas gargalhadas.
Os vilões em Battle Tendency são sobretudo três. Três “divindades” que estão relacionados com a origem da máscara. Nenhum deles é Dio, e sinceramente nenhum conseguiria chegar a esse patamar de “badass“, mas são bons vilões, cada um com as suas particularidades distintas, envoltas num grande manto de objetivo comum e propósito.
Em particular, na Parte 2, não encontro falhas gritantes, sobretudo tendo a Parte 1 como termo comparativo, Battle Tendency apresenta melhorias significativas, tanto na arte como na delicadeza do uso das quebras de cor e desenvolvimento das personagens.
Se calhar era boa ideia terminar e dar o meu veredito!
Agora que falei um pouco de ambas as partes, quero dar umas considerações finais, umas boas e outras menos boas, sobre o anime e a obra como um todo.
JoJo’s Bizarre Adventure não é facil de digerir, o estilo particular que o envolve dificulta a visualização para o espectador anime que está a iniciar a sua caminhada por este mundo, ou pelo espectador que sabe o que quer e gosta de linhas bem traçadas.
O absurdo overacting em JoJo, a enorme quantidade de masculinidade suprema que as personagens apresentam, as linhas grossas, os corpos insuflados dos protagonistas com os seus queixos de super herói e os acontecimentos muitas vezes mal explicados, servem como barreira para a visualização da série.
Mas depois tem detalhes, como o nome das personagens, que só por si já valem a pesquisa sobre a obra. Nomes como Dio, Zeppeli, Kars, Wamuu, Esidisi, Robert Edward O. Speedwagon ficam na cabeça e tenta-se descobrir o elo de ligação e de repente… DIO, Zepplin, CARS, Wham, AC/DC e REO Speedwagon.
É como ser assaltado à noite por um peluche!
Outro detalhe que apenas referi brevemente é a banda sonora, mas é incrível, e usa todo a gama possível de estilos e nunca cansa. Até dubstep tem! Eu gosto tanto que estou sempre a ouvir os temas de abertura.
Há ainda a particularidade de o tema de encerramento ser sempre o mesmo, sendo as passagens da música diferentes consoante o segmento da história. O tema é um dos favoritos de Araki-sensei, que ele ouviu quando escreveu a obra, Roundabout dos Yes.
O meu conselho final é: VEJAM JoJo’s Bizarre Adventure! Quando sentirem que necessitam de algo novo e especial, quando quiserem ver mutações inovadoras entre cada pedaço de história, VEJAM!
Pensem o quão difícil deve ser, alterar o estilo, desenvolvimento e características das personagens e manter a obra coesa e interessante a cada passo. Imaginam isso acontecer em Naruto ou Bleach? Se entre cada arc, o Naruto e o Ichigo fossem outros e mudassem quase completamente, funcionava?
Aqui funciona, não só funciona como é viciante a forma como devoramos a parte de JoJo em que estamos e o quanto queremos ver a próxima, para ver como será o protagonista, como serão os vilões, que poderes incríveis vão aparecer.
Se mesmo depois de tudo o que disse não conseguirem ver ou não gostarem de JoJo’s Bizarre Adventure, eu entendo e quero que me digam a vossa opinião.
Se decidirem embarcar nesta bizarra aventura só digo, coragem e boa sorte!
Análises
JoJo's Bizarre Adventure - Part#1 e Part#2
O meu conselho final é: VEJAM JoJo’s Bizarre Adventure! Quando sentirem que necessitam de algo novo e especial, quando quiserem ver mutações inovadoras entre cada pedaço de história, VEJAM!
Os Pros
- Personagens principais muito cativantes, obra ambiciosa com excelente banda sonora, muito "cheese" e divertimento.
Os Contras
- Estilo e ideias de apresentação do conceito difíceis de recomendar ao fã mais casual.
- Phantom Blood arrasta-se um pouco.