Na temporada de inverno deste ano, a franquia Kamisama Hajimemashita recebeu a sua segunda temporada, ou melhor dizendo, a continuação direta da primeira parte do anime baseado na obra de Julietta Suzuki. A doce produção dos estúdios Dentsu e TMS Entertainment parece seguir as mesmas linhas de design e produção da primeira parte, será suficiente para conquistar e manter os fãs?
História
No decorrer dos acontecimentos da temporada passada, Nanami continua o legado deixado por Mikage. Nomeada deusa do templo, a jovem acaba envolvida numa série de acontecimentos sobrenaturais, onde a sua cabeça é constantemente desejada por Youkais e deuses do outro mundo. Para piorar a situação, a jovem é completamente apaixonada pelo seu familiar, Tomoe.
Em Kamisama Hajimemashita 2, a mais recente deusa-humana terá que enfrentar duras provas, sob a alçada do deus Otohiko, a fim de adquirir o reconhecimento dos outros deuses e continuar a viver no templo, com o seu amado Tomoe.
Desde o início do primeiro episódio, somos confrontados com novas personagens e acontecimentos intimamente associados ao passado de Tomoe. As pontas soltas deixadas no final da prequela foram usadas como base narrativa quer da relação entre os dois protagonistas, quer na criação de novas histórias e inserção de novas personagens no universo Kamisama Hajimemashita.
Com imensa satisfação, constatamos que numa fase inicial, nada mudou na relação entre deusa e familiar, fornecendo ao espetador a familiar sensação de continuidade da história, como se a mesma nunca tivesse parado. Seguindo o agradável presságio transmitido nos primeiros episódios, a obra segue a demanda estabelecida pela manga original.
O sucesso da mesma não é fruto do acaso, a genialidade com que o enredo começa a ser montado é lentamente transmitida. Os demais intervenientes começam a ser meticulosamente trabalhados, por entre situações que acabam por apresentar ao expetador os vários alicerces do folclore japonês.
Apesar dos problemas e sentimentos não correspondidos entre Nanami e Tomoe, os dois encontram-se mais ligados que nunca. As atitudes super-protetoras do jovem youkai não são novidade, no entanto novos interesses e sentimentos começaram a surgir na fria e insensível raposa. Será possível os sentimentos de Tomoe terem mudado?
Ao longo de todas as aventuras e pináculos mais ou menos dramáticos, somos embrenhados por pequenas peças de um grande puzzle. Mascarada pelo brilho e sensualidade cliché das personagens tipo representadas na série, a temática é apresentada à medida que que são lançadas as peças, desde as singelas conclusões de Nanami aos jogos psicológicos do Mizuki. O que deveria ser o ex-líbris da obra adquire uma tonalidade de crítica face à reduzida desenvoltura de determinados momentos ou à quebra narrativa causada pelo enorme espaço entre temporadas, numa obra que deveria ser continuada e não repartida.
Ambiente
O desenho simples, com traços demarcados do género shoujo alerta os mais distraídos do tema fulcral da animação. Repleta de tons por vezes demasiado brilhantes, o cenário assume uma luminosidade filtrada, preenchida pelos tons claro e primaveris, uma clara representação da pureza e divindade de Nanami. O sentimento de paz e harmonia impresso pelo ambiente leve e simples era fortemente reforçado na presença da protagonista, realçando por vezes de forma francamente dispensável a aura divinal da mesma.
Contrariamente à primeira temporada, os cenários aconchegantes, repletos de luz e tonalidades claras, passaram a dividir o pódio do design fornecido pela franquia, em que a névoa e negrume do mundo ligado a Akito e Tomoe assumiam um destaque progressivo e sucessivamente mais demarcado. As cenas ligadas ao passado adquirem uma tonalidade escura e sanguinária, enriquecendo as monstruosas cenas de chacinas e violência.
As extravagâncias na conceção das personagens é um marco desta obra. As personagens femininas, com faces doces e rosadas e olhos exageradamente grandes compõem um design apelativo, dentro das criações do género. Quanto aos personagens masculinos, as caraterísticas mais particulares dão destaque e favorecem o reconhecimento visual neste universo fortemente enriquecido por personagens masculinas tipo.
O recurso a frames alusivos a pensamentos ou momentos mais caricatos marcou presença constante nesta segunda temporada da franquia, contudo o tempo dedicado aos frames comparativamente à temporada passada diminuiu, em vez de largos segundos de imagens paradas ou a gesticular um inner sem sentido algum, servindo o seu real propósito: amenizar a situação e divertir o público.
A banda sonora com os seus ritmos leves e suaves passa muitas vezes despercebida, no entanto as melodias acabam por enriquecer as cenas de maior emoção.
Juízo Final
Longe das luzes da ribalta e do fanatismo, Kamisama Hajimemashita 2 adotou uma presença discreta na temporada anterior. Com um ambiente exuberante aos olhares mais descrentes, poucos são os elementos que cativam à visualização de mais um suposto cliché de romance shoujo youkai recheado de personagens tipo e frames dedicados ao fan-service romântico.
Contudo, não se deixem enganar pelas aparências, longe do romance convencional, é-nos oferecido um desenvolvimento surpreendente, repleto de finas teias narrativas ligadas por um ponto, Nanami. O principal objetivo da narrativa centra-se nas relações humanas, na efemeridade do momento e o confronto entre tempo e sentimento pessoal, com especial destaque no egoísmo amoroso. Temas complexos dificilmente apercebidos devido à própria natureza da obra. Baseada num manga de longo curso e adaptada para pequenas temporadas, faculta a quem assiste uma perspetiva e absorção completamente díspar e ultrajada comparativamente a quem possuiu uma primeira leitura da obra original.
Dito isto, Kamisama Hajimemashita 2 exige a visualização da temporada anterior. É imprescindível assistir à primeira parte da série para conseguir, quer acompanhar a mesma, quer entender os elementos que surgem soltos ao longo da animação e que somente têm significado para quem assistiu à prequela.
Em suma, aconselho a obra a todos os fãs da franquia bem como os aficionados por um bom romance. A leveza contrastada com a profundidade dos objetivos impostos pela produção original, criam um ambiente onde o relaxamento e doçura tropeçam em pequenos grandes momentos, que nos fazem apaixonar quer pela narrativa quer pelos vários casais que se vão formando ao longo da animação.
Queres saber mais sobre a franquia?
Primeiras impressões Kamisama Hajimemashita 2
Kamisama Hajimemashita Primeira Temporada
Análises
Kamisama Hajimemashita 2
A continuação de uma série em sucessiva evolução quer do ponto de vista narrativo como visual.
Os Pros
- Enredo;
- Personagens cada vez mais interessantes.
Os Contras
- Necessidade de uma continuação.