Findada a transmissão do anime “Kaze ga Tsuyoku Fuiteiru”, também conhecido pelo nome “Run with the Wind”, chegou a altura de apresentar a minha análise final a esta produção. Depois de um artigo de primeiras impressões com muitas dúvidas ainda a pairarem no ar sobre este projeto, mas com a premissa da história já bastante clara, eis agora a opinião final e objetiva (e sem grandes spoilers!) a esta adaptação de mais um livro de Shion Miura.
Uma premissa original, cómica e atrativa
Como ficará perceptível ao longo deste artigo, Kaze ga Tsuyoku Fuiteiru é muito mais do que um anime de desporto. O drama entranhado nos vários acontecimentos não pode de maneira nenhuma ser desconsiderado em relação ao tema principal.
A história é sobre um clube de atletismo? Sim! O conteúdo promocional da produção incide no atletismo? Sim! Todavia, é a premissa altamente inesperada que põe o espectador em sentido e lhe coloca a hipótese de estar diante de uma obra que segue pisadas diferentes das mais tradicionais.
O Clube de Atletismo da Universidade de Kansei renasce quando vários estudantes assinam papéis que julgam dizer respeito ao contrato de arrendamento da residência onde vão morar, mas que na verdade correspondem à sua filiação ao clube. Quem os tramou é quem lhes faz a grande revelação! E agora? A maioria deles nem sabe correr …
O acompanhamento equilibrado das personagens
O grupo de atletismo em foco é constituído por 10 atletas. Isto quer dizer que a produção tem 23 episódios para falar sobre todos eles, a par de mais algumas personagens interessantes extra-clube de Kansei. Embora pareça escasso, a verdade é que este tempo de transmissão foi suficiente para nos inteirarmos com o carácter e a mentalidade de cada uma delas.
Melhor ainda! Este aprofundamento da maneira de ser e de estar de cada um é feito a dois tempos. Na parte inicial e final da trama. A segunda é a mais interessante, mas não vou adiantar mais nada para não entrar em spoilers! A reter? A consistência da construção e desenvolvimento de cada um destes atletas. Alguns deles com traços bem distintos.
Haiji Kiyose – A personagem com mais impacto
Kakeru Kurahara pode ser o principal protagonista da história em termos desportivos. Contudo, Haiji é certamente a personagem mais completa e com maior impacto. Quer no espectador, quer no elenco que o rodeia. O seu esquema para formar uma equipa de atletismo é apenas o primeiro momento de grande exaltação. Com o desenrolar da trama, torna-se cada vez mais evidente a sua perspicácia, capacidade de liderança, arsenal de frases de incentivo e motivação e, em paralelo com tudo isto, um igual nível de preocupação com todos os membros da “sua” equipa.
Sem desvalorizar o restante elenco principal, todo ele bem explorado – fazendo até lembrar Haikyuu!! – Haiji encontra-se num outro patamar de qualidade. Sozinho, Haiji Kiyose é motivo mais que suficiente para esta história valer a pena. De facto, é das melhores coisas que esta obra tem para nos oferecer! Por duas grandes razões:
- Pela maneira como consegue dar a volta aos colegas de residência, depois de os enganar com a assinatura.
- Pelos seus comportamentos e atitudes, que vão conquistando o respeito e a admiração dos seus companheiros, fazendo-os permanecer no clube (por obrigação numa primeira fase, mas por vontade numa segunda).
Já que chamei Haikyuu!! para os termos de comparação, não posso deixar de referir que Kakeru parece o irmão gémeo de Tobio Kageyama.
Uma obra que balança realismo com ficção
Este é um aspeto de grande interesse e curiosidade para quem pratica e acompanha atletismo. Ao mesmo tempo, poderá passar completamente ao lado de quem vir o anime sem noções dos ritmos a que as várias personagens correm nas provas. Isto porque os melhores corredores da trama apresentam ritmos de elite mundial, o que de certa forma faz sentido.
Porém, o lote de atletas mais amador apresenta uma evolução irreal. Num curto espaço de tempo, este grupo começa a correr provas a ritmos muito próximos do nível profissional. Ritmos para os quais precisariam de muito tempo para os alcançar. Perante esta situação, o espectador mais atento fica de sobrolho erguido. Pormenores que não escapam a quem é apaixonado pelo atletismo.
Arte e Animação
O primeiro episódio deixou logo claro que a componente visual de Kaze ga Tsuyoku Fuiteiru seria de grande nível. Os episódios seguintes confirmaram isso mesmo.
A Production I.G voltou a fazer um excelente trabalho com as personagens e as paisagens dos vários locais. Quer do ponto de vista do desenho, quer da parte da coloração. Uma enorme diversidade de tons vivos e alegres que combinam na perfeição com o espírito do atletismo e os momentos chave vividos em cada episódio.
Relativamente à animação, volto a frisar a importância do estilo original de movimento de cada atleta, o que vai de encontro à realidade. Para lá da corrida, esta parte de produção não teve um trabalho muito exigente, o que condicionou a sua oportunidade de destaque.
Apesar disso, e talvez com a pressão de mostrar que sabe fazer as coisas, este gabinete do estúdio de animação decidiu atribuir uns efeitos especiais a Kurahara Kakeru. Um trabalho com o objetivo de mostrar a ligação fluída que é possível estabelecer entre o corpo e a mente durante o exercício, como se a corrida e o ser humano fossem um só! Uma abordagem interessante, mas não diria deslumbrante.
Banda Sonora
Muito suave e melodiosa. Se não tocasse, o espectador sentiria certamente a falta dela. Como marca presença através de uma ligação intuitiva com a história, a banda sonora torna a produção ainda mais encantadora, mas de uma forma muito discreta. Pura arte! Assim costuma ser com aqueles que encontram a verdadeira satisfação no desenvolvimento do seu trabalho e não nos louros que poderiam reclamar por esse seu ofício.
Em termos de openings e endings, Run with the Wind efetuou uma aposta muito tradicional. Dois vídeos de abertura acompanhados por músicas bastante animadas (UNISON SQUARE GARDEN e Q-MHZ feat Mitsuhiro Hidaka, respetivamente). Dois de encerramento badalados por músicas tranquilas de Taichi Mukai. Aqui o que vale mesmo realçar são os visuais, mais uma vez capazes de causarem inveja a qualquer estúdio rival.
Juízo Final
Resumindo, Kaze ga Tsuyoku Fuiteiru tem vários motivos de interesse, capazes de agarrarem qualquer tipo de espectador. Seja pela parte desportiva, pela riqueza das personagens, pelos seus visuais, ou até mesmo pela existência de conteúdo fanservice feminino que poderá ser uma atração extra para determinados grupos.
Sem spoilers, de referir que o seu final poderia ser mais esclarecedor.
Em relação ao desenvolvimento do anime, os primeiros episódios são altamente impactantes, sendo impossível ao espectador passar indiferente.
Em contrapartida, esta subida da fasquia tem resultados menos positivos no segundo cour da trama. Sensivelmente a meio da série, as expectativas atingem um nível muito alto e a produção tem dificuldade em dar resposta. Não porque perde qualidade, mas devido ao crescimento descontrolado das exigências, que entretanto se tornaram quase inalcançáveis.
Mesmo antes de terminar, mais uma comparação inevitável a Haikyuu!! À sua semelhança, também Run with the Wind afirma-se como uma história cheia de vivacidade e positivismo. Dois traços de personalidade da produção que nos chegam à boleia do desporto. Neste caso em concreto, do atletismo, cuja autora do livro revelou grande conhecimento sobre a matéria, para lá da parte mais ficcional da trama. Cheguei mesmo a perguntar-me se tinha sido uma atleta a escrever a obra que deu lugar a esta adaptação. Parece que não, mas é como se fosse.
Mais palavras para quê? Produção altamente recomendada!
Kaze ga Tsuyoku Fuiteiru – Trailer
Análises
Kaze ga Tsuyoku Fuiteiru
O atletismo não podia pedir melhor representação no universo Anime do que a presente em Kaze ga Tsuyoku Fuiteiru. Esta é mais uma obra desportiva de excelência que, ao ser capaz de atrair qualquer tipo de espectador, reforça a velha máxima: Desporto é Vida!
Os Pros
- Personagens: da concepção ao desenvolvimento evidente ao longo da trama, cada uma com traços de personalidade bem distintos das restantes
- Arte Visual
- Adaptação da parte técnica do atletismo para o ecrã: nos diálogos (teoria) e nos movimentos das personagens (execução)
Os Contras
- Oscilação das expectativas criadas no espectador entre os dois cours
- Final um pouco ambíguo