Talvez a melhor forma de iniciar esta observação assente em perguntas muito básicas, que raramente são colocadas com uma frequência quotidiana. Quem nunca matou uma formiga, um pequeno ponto preto que passa por nós, e porque sim, lá lhe colocamos o dedo em cima. Pensamos na facilidade com que encerramos aquela vida? Pensamos sequer que naquele momento matamos um ser vivo? Quem nunca matou algo que considerou (inconscientemente) como inferior só porque estava a incomodar ligeiramente? Quantas vezes na história da humanidade, o ser humano tomou medidas menos graciosas, que no entanto consideramos inofensivas e claro vantajosas, no momento do extermínio de pragas que ameaçaram o nosso habitat e alimento? Quando erradicamos estas espécies, que na maioria são insetos, refletimos sobre a sua morte? Sentimos remorsos? Hesitamos?
Tendo tudo isto em conta, vamos considerar a aterrorizante ideia de um dia sermos evadidos por uma espécie superior a nós, que facilmente nos retirava do topo da cadeira alimentar. Esta mesma espécie declarou após análise do planeta Terra, que nós (seres racionais) nos tornámos numa ameaça que coloca em causa o bom funcionamento do ecossistema mundial. Como tal, a decisão básica, a espécie Homo Sapiens Sapiens tem que ser erradicada, para que deste modo se evite o fim fatídico da destruição do Planeta Terra, e consequentemente do universo.
Na perspetiva desta espécie superior não passamos de pequenos insetos, que estão progressivamente em processo de contaminação de um dos melhores planetas das redondezas. E agora com os dois lados expostos está na altura de refletir um dos pontos fulcrais que Kiseijuu nos dá espaço para abordar: até que ponto, e com que grau de hipocrisia podemos nós julgar estes seres que vieram apenas sulfatar o quintal?
Não me interpretem mal, não estou a tentar demonstrar nenhuma leve camada de hipocrisia pessoal, nem estou a falar da criação de uma utopia onde não necessitemos de matar para viver, a cadeia alimentar tem que existir para que um ecossistema esteja em equilíbrio. Este é um assunto um pouco dicotómico, assim como são a maioria dos assuntos refletidos pelo “ser pensante” que habita na Terra. Portanto, deixando os extremismos num saco bem lacrado, quero com tudo isto transmitir que devemos começar a caminhar como ser superior que somos e menos como uma praga coletiva.
Isto serve de ponte ao título da obra – Kiseijuu, que por sua vez significa Parasita, que numa primeira interpretação nos pode levar a pensar no “inimigo” que invade a Terra logo no primeiro episódio. Estes organismos aparentemente primitivos, definitivamente comportam-se através de paradigmas parasitas, dado que vivem com recurso a outros organismos retirando-lhes o necessário para a sua sobrevivência. Apesar de ser uma obra de ficção científica, a realidade é genuína, e com isto vamos refletir novamente, se estamos a ser atacados por estarmos a criar instabilidade num ecossistema a nível geral, não seremos nós também uns parasitas, ou melhor, os parasitas?
A solução passa pela procura do equilíbrio, que é aquilo que um parasita não faz, uma vez que age como organismo egoísta. Nós temos que começar a contrariar cada vez mais esta definição, e encontrar uma forma de dar ao planeta aquilo que lhe retiramos. A nossa definição coletiva de sociedade tem que ser reformulada a nível comportamental, para que catalise uma evolução que se propague nos mais variados sistemas políticos, económicos, judiciais, etc, para que deixemos de ser um Parasita, para que tenhamos realmente razões para governar o topo da cadeira alimentar.
Enquanto esperámos que as massas se conduzam a um equilíbrio saudável para com o planeta, voltemos ao ponto de partida: quem nunca matou uma formiga?