Atenção que toda a análise foi feita para quem viu o anime. Logo, tenham em consideração os inúmeros spoilers. Estão por vossa conta e risco!
Título: Koutetsujou no Kabaneri
Adaptação: Original
Produtora: Wit Studio
Géneros: Ação, Steampunk, Horror
Ficha Técnica: Indisponível
Koutetsujou no Kabaneri ou Kabaneri of the Iron Fortress é um dos animes da temporada de primavera no qual as pessoas despejaram muitas expetativas e esperanças de qualidade de enredo. Tal é percebido pelo staff existente por detrás da animação, responsável pelo enorme hype:
- Jouji Wada na posição de produtor, presidente do Wit Studio, encarregado de animes como Guilty Crown, Kimi ni Todoke, Psycho Pass e Shingeki no Kyojin;
- Tetsurou Araki na posição de realizador e dirigente de animes como Black Lagon, Death Note, Guilty Crown e Shingeki no Kyojin;
- Masafumi Mima como diretor de som e conhecido pelo mesmo papel em Chihayafuru, Fullmetal Alchemist, Kuroko no Basket e Shingeki no Kyojin;
- Ichiro Okouchi como guionista e criador de animes como Code Geass, Guilty Crown, Kuroshitsuji: Book of Circus e Space Dandy.
Como se pode perceber, todos os intervenientes desta animação são conhecidos e estão habituados a trabalhar entre si (algo que irá ser explorado, infra, em Koutetsujou no Kabaneri ou “Attack on Zombies”?).
Koutetsujou no Kabaneri | Opening
“Kabaneri of the Iron Fortress” – EGOIST
https://www.youtube.com/watch?v=0w-9u4SxWwc
Koutetsujou no Kabaneri | Sinopse
A narrativa ocorre na ilha Hinomoto, onde humanos são obrigados a esconder-se em fortalezas devido à ameaça constante e permanente de seres parecidos com zombies, que possuem corações de aço, conhecidos como Kabane. Estas criaturas têm como objetivo principal caçar humanos e infecta-los através de uma mordida. A circulação entre as várias fortalezas não é permitida e o único meio de transporte entre as estações são locomotivas armadas chamadas Hayajiro.
Koutetsujou no Kabaneri | Um hype justificado?
A história começa com uma narrativa empolgante: um protagonista sem poderes mas que quer mudar o mundo, cidades construídas em muralhas (muralhas? queria dizer estações) para salvar a humanidade de uma possível aniquilação, e um inimigo que tem como função caçar humanos (esperem… isto parece-me familiar… Eren, és tu?). Na verdade, a técnica utilizada por este anime ou mesmo por Shingeki no Kyojin (Attack on Titan) não é de todo nova, já que usar uma qualquer ameaça para destruir o planeta Terra ou para colocar em perigo a raça humana (apesar de o continente americano ser a escolha de eleição) é a receita dourada para o sucesso. Mais uma história entre muitas, mas que claramente pode ter mérito se utilizada de forma correta. É o caso?
Koutetsujou no Kabaneri | As falhas
Sem dúvida alguma, os primeiros dois episódios estão muito bem conseguidos. Tanto o desenvolvimento do enredo, como a banda sonora bem como a qualidade da animação fazem com que o espetador fique em estado de “Uau!” e queira ver a continuação.
No entanto, o resto do anime tende a decair até ganhar uma nova vida no episódio 11. Para quem viu o anime, tenham em consideração que eu não coloco em causa o tipo do protagonista apresentado. Ok, é um protagonista diferente (óptimo!) dos badass overpower que normalmente existem e que conseguem destruir meio mundo apenas por levantar um dedo. Também não estava à espera disso e a escolha de um personagem mais humano foi interessante, MAS (este menino está sempre à espreita) o seu desenvolvimento foi muito lento para um anime com 12 episódios! Aliás, o desenvolvimento da maioria dos personagens seguiu estes trilhos (Mumei, estou de olho em ti, já lá vamos).
Antes de referir o desenvolvimento das personagens, tenho a apontar no primeiro episódio a forma como o protagonista conseguiu impedir que o vírus alcançasse o cérebro (é assim que os humanos se transformam em Kabane)… É impressão minha ou o criador desta obra não sabe como o sistema circulatório funciona? (“Cátia, é uma história de ficção, podes deixar de ser tão chatinha com pormenores?” Ok, vocês têm razão não vale a pena implicar com estas coisas, melhor embarcar e ir na onda… Visualmente e dramaticamente foi uma excelente cena, e falo a sério!).
Depois temos de ter também em conta que algumas decisões durante este “Apocalipse Zombie” parecem não terem sido pensadas: vejamos, por exemplo, o episódio 7 no qual se realiza um festival quando nem dinheiro existe para alimentar em condições as pessoas a bordo da locomotiva. E pensando melhor ainda, os fogos de artifício lançados nesse festival não são um chamariz para os Kabane?
E ainda o ser “Black Smoke” que foi introduzido do nada e sem qualquer tipo de explicação lógica? E isto continuou durante todo o anime. A explicação dada ainda não é suficiente e só no final de tudo sabemos que aquilo apenas é possível pela injecção de sangue negro num Kabaneri feminino (uma pessoa com corpo Kabane mas mente humana, uma fusão dos dois mundos). Mas esse sangue negro (e o branco) vieram de onde, apareceram como? Explicações pessoal, alguém me ajuda?
E, não podia esquecer, o vilão apresentado é tão rasca que até o criador teve que o chamar de (Justin) Biba!
Convenhamos, as ações dele em destruir todas as estações/fortalezas e criar um exército sem vontade própria para lutarem para todo o sempre, por causa de “daddy issues” não pode ser levado a sério. Mesmo que aceitássemos esta justificação, que dizer das aparições mágicas dele para proferir umas barbaridades e depois fugir? Ok, eu aceito o facto de ele ser um vilão manipulador e que usa os outros para conseguir os seus intentos, mas é possível o personagem ser um bocadinho mais carismático sff?
E antes que me queiram transformar em Kabane, a ver se escrevo menos, falta-me referir a mudança de personalidade da Mumei de acordo com a direção do vento. Mumei passa disto…
Para uma personagem fraca e ingénua. E tudo bem, não fosse ela alternando entre as duas pelo menos 20x a cada episódio.
E falando de desenvolvimento de personagens, alguém se lembra deste moço? Que morreu apenas para haver um momento emocional… Que não existiu, pois a sua morte foi irrelevante. Ou alguém me vai dizer que conseguiu verter uma lágrima com esta cena?
E Ikoma conseguia regenerar-se como Kabane… Takumi, sacrificaste-te para quê?!
Mas nem tudo pode ser mau, não é verdade? Vamos às qualidades que este anime apresenta!
Koutetsujou no Kabaneri | Pontos positivos
Passei a análise toda a falar mal do anime, mas ele também possui qualidades muito boas! Sem ter atenção aos pormenores da história, Koutetsujou no Kabaneri é um anime bastante bom para se ver e se ir vendo, principalmente para quem gosta de descontrair com o sofrimento do outro (como quem diz, isto saiu mal…). Vejam o próximo gif e atrevam-se a dizer que não é fenomenal?
Sangue a voar, cabeças a serem cortadas, explosões e tudo a que temos direito… este anime oferece-nos! É bom nesse sentido. E para ajudar à pintura, a fluidez da animação é linda de se ver principalmente nos combates. Mas perceberão melhor com imagens. Espreitem aí!
O facto de terem utilizado uma técnica de animação “nova”, ou seja, com recurso a uma maquilhadora profissional, foi também um must neste aspeto.
A banda sonora também é algo fantástico que tem que se ter em conta! A música adequa-se perfeitamente ao estilo de anime e à época que retrata. Cada momento é elevado ao máximo com esta magia musical! Deixei a opening logo no início da análise como chamariz para possíveis presas (se chegaram até aqui, é porque resultou!).
Por fim, um ponto positivo a ressaltar é a transformação do protagonista Ikoma depois de tantos episódios a ser uma nódoa…
Koutetsujou no Kabaneri ou “Attack on Zombies”?
Ok, partindo do princípio que o Wit Studio e o Tetsuro Araki não pensam que os fãs do meio são inocentes ou esquecidos, podemos então assumir que as semelhanças entre Koutetsujou no Kabaneri e Attack on Titan (Shingeki no Kyojin) são intencionais. Mas então, porquê?
- O Wit Studio é detentor da licença para adaptar a obra de Hajime Isayama em anime. A segunda temporada da série, embora altamente aguardada, só esta semana teve fumo branco quanto à estreia. Esperava-se um lançamento em 2015/2016, algo que se percebeu desde cedo que não iria acontecer.
Seria um desperdício negocial, negligenciar toda a fanbase que anseia por Attack on Titan deixando morrer o sentimento de êxtase que o anime deixou em tantas pessoas. As ideias estão lá, mas a adaptação não pode continuar, o que fazer?
Bom, que tal reunir uma das grandes mentes de realização de animes de ação, Tetsuro Araki (Death Note, Highschool of the Dead, Guilty Crown e Attack on Titan), juntando-o a um experiente contador de histórias originais como Ichiro Okouchi e, finalizando com o homem responsável pelos designs de personagem de Attack on Titan, Asano Kyoji (também diretor de animação chefe de Psycho Pass), para construir um conceito original que assente nas mesmas ideias de AoT, de maneira a dar aos fãs da obra algo para degustar enquanto esperam, ao mesmo tempo que o próprio jovem estúdio gera lucro, antes de poder prosseguir a sua ode (até ao momento)?
A união destas pessoas remete para o segundo ponto, onde prometo ser mais comedido:
- Olhando para o historial de Tetsuro Araki, não é difícil de imaginar que ele é talvez uma das pessoas que mais anseia pela segunda temporada de AoT. O seu estilo é inconfundível e tenta sempre inovar a forma de mostrar ao público certos elementos nas obras que tem a braços. Está amaldiçoado com o espectro do “não realizarás sequelas”, depois de nem HotD, nem Guilty Crown terem recebido segundas temporadas.
Se isto faz sentido, faz também sentido que o seu gosto de elevar os padrões de storytelling e de desvirtuar convenções, estivessem ansiosos por aparecer para “brincar” na segunda temporada de AoT. Não tendo sido possível, parece-me credível que ele tenha abraçado a ideia de Kabaneri como tela para pintar novos conceitos a explorar, posteriormente, em AoT, fazendo do primeiro uma espécie de test drive para futuras inovações em anime.
Teoria desenvolvida por Pedro Costa
Koutetsujou no Kabaneri | Juízo Final
Após tudo o que foi exposto, é fácil de ver o que eu acho desta obra. Podia ter sido uma coisa muito boa e acabou por ser o que foi. Mais um anime que teve o seu “tempo de antena”, todavia com pouca longevidade.
Koutetsujou no Kabaneri não é um anime que eu recomendaria a alguém que quisesse algo com pés e cabeça. Para isso recomendo Rainbow, Kino no Tabi ou ainda Steins Gate. No entanto, não lhe retiro o mérito que possui em entreter! Mas… é só.
Análises
Koutetsujou no Kabaneri
Uma obra com muitas lacunas narrativas mas que ainda assim consegue captar a atenção.
Os Pros
- Produção Visual
- Banda Sonora
Os Contras
- Enredo
- Personagens