O ano de 2014 será certamente memorável para o Japão. Particularmente para os fãs de “Rurouni Kenshin”, obra que nós por cá conhecemos melhor pelo nome “Samurai X”. Depois da adaptação para anime, transmitida entre 1996 e 1998, a obra original de Nobuhiro Watsuki recebeu, no ano transato, uma adaptação Live Action da parte mais brilhante da sua criação, o Arco de Quioto.
Com dois filmes para se tentar uma produção digna da obra original, será que este primeiro, intitulado “Rurouni Kenshin: Kyoto Inferno”, ficou na memória dos fãs por bons ou maus motivos? Já de seguida, vamos perceber como foi o arranque deste projeto deveras auspicioso.
Rurouni Kenshin Kyoto Inferno – A História
Esta é uma produção sem grande ligação ao primeiro Live Action da obra, que data de 2012.
Em Rurouni Kenshin Kyoto Inferno conseguimos perceber como era difícil para os Samurais a época retratada na história. Tudo porque, após o fim da Guerra Bakumatsu, estes viram-se obrigados a pendurar as suas espadas e a “reformar” os seus títulos de Samurai.
Numa primeira fase da Guerra, Kenshin Himura, o herói de toda a história, conquistou o título de “Battousai – Lendário Assassino de Homens”. Um nome conquistado pelas suas qualidades soberbas com a espada, na altura colocadas ao serviço do Governo. Entretanto, esse título mudou de dono, transitando para Makoto Shishio. Se Kenshin abandonou o cargo cansado do sangue derramado, Shishio sentiu-se atraiçoado depois de ter cumprido a sua missão na perfeição e os poderosos do governo terem tentado livrar-se dele. O seu aspeto físico que o diga.
Porém, Shishio sobreviveu à viagem ao Inferno que os traidores o obrigaram a fazer. Este tem aproveitado os últimos anos para “mexer os cordelinhos” nas sombras do governo, tendo em vista um assalto para tomar conta do Japão … e do mundo.
A chegada de Makoto Shishio ao grande ecrã
Todos o queriam ver … e os seus responsáveis acederam. Como se costuma dizer, há aqueles que quando se lhes dá um dedo eles pedem a mão, e aqui foi precisamente isso que se passou. Depois da transmissão do primeiro Live-Action de Rurouni Kenshin, grande parte dos fãs não hesitou em solicitar pela aparição do maior de vilão da obra. Um pedido que implicava a transmissão da épica saga de Quioto.
Pois bem, até ao momento, não há rigorosamente nada a apontar à adaptação da personagem Makoto Shishio para o cinema real. A sua presença física está dentro dos parâmetros expectáveis e a sua personalidade está incrível graças ao excelente trabalho desenvolvido em torno dos seus principais traços: a frieza e a brutalidade. Grande parte dos créditos vão, claro está, para o ator Tatsuya Fujiwara
Além do mais, quem não o conhecia não tem de esperar muito tempo para isso. Makoto Shishio aparece logo na primeira cena de Rurouni Kenshin Kyoto Inferno. Mas não é tudo! Poucos minutos mais à frente, o seu passado é contado num modo qb, a fim de encaixar facilmente no contexto desta produção.
De realçar que este filme é mais orientado para o vilão do que para o próprio Kenshin. Nem todos os antagonistas têm esta capacidade de roubar o destaque ao herói. Todavia, Shishio consegue isso nesta fase que aborda a sua ascensão depois das chamas.
Aoshi Shinomori: uma integração forçada em Kyoto Inferno?!
Quando se soube da existência do primeiro Live Action de Samurai X, o que mais se colocava em causa era o aparecimento dos protagonistas e antagonistas da primeira parte da história. De um lado, Kenshin, Sanosuke Sagara, Kaoru Kamiya, Myojin Yahiko, e o inexpectável Hajime Saitou pelo meio. Do outro, Jinei Udoh (Koji Kikkawa), Aoshi Shinomori e restantes membros do Clã Oniwabanshu.
Infelizmente, nesse primeiro projeto, Shinomori foi totalmente arrumado para canto. Todos os problemas criados a Kenshin Himura foram da autoria de Jinei Udoh e de Kanryu Takeda. Uma escolha que esteve longe de ser a melhor, quer para o presente, quer para o futuro.
Com a chega de Makoto Shishio ao ecrã, a situação em torno de Aoshi Shinomori complicou-se e nova escolha teve de ser feita. Ou esta personagem continuava ausente dos filmes, como se nunca tivesse existido, e aí o rumo da história tinha obrigatoriamente de sofrer alterações. Ou então, Aoshi caía quase que do céu neste Rurouni Kenshin Kyoto Inferno.
Para agrado dos fãs, os responsáveis pelo filme optaram pela segunda opção. Shinomori aparece em cena que nem um louco à procura de Himura e já sem os seus fiéis guerreiros Oniwabanshu. Apesar da chegada tardia ao ecrã, a personagem faz parte do grupo de pontos positivos da trama. Desde início, Aoshi dá o ar de ser alguém implacável e capaz de sacrificar tudo e todos pelo seu orgulho e demandas, características essas que acabavam por se enquadrar bem na personagem.
Kenshin, a Juppongatana, e outras personagens de relevo
Num plano mais abrangente de personagens é possível falar de mais algumas, seja pela forma como se destacam ou pelas suas peculiaridades.
Kenshin (Takeru Sato) continua muito semelhante ao do primeiro Live Action. Aquelas expressões e sons cómicos que lhe são conhecidas de outras adaptações mantêm-se e conferem divertimento a par das palermices de Sanosuke Sagara. O talento fora do comum para os combates também continua lá, sendo que desta vez Himura tem de enfrentar novos obstáculos. Desafios que colocam inocentes entre a vida e a morte (alguns seus conhecidos) e que lhe despertam a vontade de reincarnar no velho Battousai que outrora fora.
Por sua vez, Hajime Saitou (Yosuke Eguchi) passa um pouco ao lado neste segundo filme. A certa altura, a Polícia e o Governo da Era atual (Era Meiji) entram muito em contato com Himura, mas nem por isso Saitou surge com grande relevo. É uma pena o Gatotsu aparecer tão pouco. Se a profecia de Nobuhiro se concretizar, conquistará o espaço que merece no derradeiro filme da trilogia.
A fechar a secção, tenho inevitavelmente de falar da Juppongatana. Também queria falar de Okina que me encheu as medidas, mas fica para a fase mais adiantada desta análise.
De volta à Juppongatana, grupo que reúne os 10 guerreiros de eleição de Shishio, tenho a dizer que juntos dão origem ao principal fator motivacional para se ver o último filme. Isto porque apenas dois deles estiveram em ação (e que bem que estiveram!) em Rurouni Kenshin Kyoto Inferno. Só de pensar que há oito poderosos guerreiros com grandes técnicas para mostrar deixa-me em êxtase.
Chou Sawagejou (Ryosuke Miura) e Soujirou Seta são os dois que entram em ação nesta segunda longa-metragem. Chou proporciona-nos um bom bocado aquando da sua luta com Kenshin. A cena está bem adaptada em relação à obra original e as técnicas utilizadas deixam-me satisfeito.
Já Soujirou está a um outro nível. Adorei simplesmente! Parece real. Parabéns a Ryunosuke Kamiki pelo seu desempenho até agora. Que assim continue até ao final. A postura, os combates, os tempos de diálogos, excepcional! Indubitavelmente, um dos pontos mais altos de Rurouni Kenshin Kyoto Inferno.
Um enredo pré concebido com bons resultados
Ao tratar-se de uma adaptação a uma história previamente criada, seja ela de sucesso ou não, por norma os obstáculos que aparecem diante dos realizadores são outros. Barreiras essas que também dependem dos estilos preferidos de adaptação dos seus responsáveis. Alguns gostam de dar um ar da sua graça e inserir conteúdo alternativo. Um risco assumido que pode tornar o seu trabalho ainda mais belo, ou passarem a ser odiados pelos grandes fãs do projeto em causa.
Em Rurouni Kenshin Kyoto Inferno, Keishi Ohtomo esteve bem, do meu ponto de vista, quando poucas foram as vezes em que tentou alterar o curso original dos acontecimentos. Com a personalidade e os factos das personagens principais em vista, fica a ideia de que o realizador apenas se preocupou em organizar os acontecimentos do presente e as viagens ao passado da melhor maneira possível. Tudo para que fãs e desconhecedores de Rurouni Kenshin entendessem o que se estava a passar. Penso que o terá conseguido. Afina de contas, não me pareceu complicado seguir o fio da história.
Antes de avançar, destaco ainda os diálogos, pois também contribuíram muito para este bom desempenho. Todavia, enquanto conhecedor da história, não deixo de ser minimamente suspeito nestas minhas declarações. O meu subconsciente não me permite ser mais íntegro.
Bons momentos de ação justificaram a reputação da história
O que poderia ser dito deste filme caso as cenas de ação fracassassem? Apesar da história por si só ser de grande nível, uma falha desta importância nunca salvaria tamanha produção. Como deu para perceber nas palavras anteriores, também neste ramo o trabalho desenvolvido em Rurouni Kenshin Kyoto Inferno foi positivo. Mais do que isso até! Hajime Saitou poucos embates teve, mas Kenshin fartou-se de envergar a espada e nunca vacilou perante o espectador.
No entanto, nem Himura nem Shishio (que pouco ou nada fez por isso) estiveram envolvidos no grande duelo da produção. Esse ficou reservado para a terceira longa-metragem. Quem tomou esse lugar foi o confronto entre Aoshi Shinomori e Okina (Min Tanaka). Magnífico! Desde os movimentos realizados às armas utilizadas, e do ambiente de fundo aos diálogos e posturas dos dois combatentes. Foi fantástico e a melhor maneira de (quase!) concluir esta primeira metade da Saga de Quioto.
Adaptação dos ambientes para a realidade? Missão cumprida!
Cumpriu bem! Penso que não há melhor maneira de definir este aspeto da obra.
Esta é uma história de Samurais. Ou seja, não há cá poderes especiais nem nada que se pareça. Tudo prevalece pela força da espada e das Artes Marciais. Assim como as habilidades dos protagonistas são minimamente reais, também as casas e a cultura que envolve Rurouni Kenshin é simples e tipicamente nipónica. Por outras palavras, fazer essa transição para o grande ecrã não deve ter sido propriamente um desafio.
Uma banda sonora em crescimento
Um aspeto que melhorou francamente em relação à produção de estreia. Sem sombra de dúvida! Se no primeiro filme era difícil reparar que havia banda sonora, em Rurouni Kenshin Kyoto Inferno houve um esforço claro dos seus responsáveis em fazê-la notar.
Destaque para as cenas mais relevantes, onde é mais perceptível esta melhoria. As badaladas são boas para os ouvidos de qualquer um e, como não podia deixar de ser, acabam por enriquecer os momentos onde marcam presença.
Rurouni Kenshin Kyoto Inferno – Juízo Final
Em jeito de conclusão, de referir que são mais de duas horas de filme dignas da obra que este projeto da Warner Bros. adaptou. Parabéns a Keishi Ohtomo, Satoshi Fukushima, elenco e restantes trabalhadores.
Os fãs vão adorar, e mesmo quem desconhece o trabalho de Nobuhiro Watsuki não precisa de ver o primeiro Live-Action ou qualquer outro tipo de conteúdo relacionado com a obra para perceber o que se passa em Rurouni Kenshin Kyoto Inferno.
Com uma história extremamente cativante, atores fantásticos, cenas de ação memoráveis e uma banda sonora que começa a desabrochar torna-se impossível não aconselhar este filme que peca por pouco. Com tantos Live-Actions que há por aí, este é mesmo um daqueles que se deve tomar como exemplo.
Só o final sabe a pouco por fazer a ponte para os grandes acontecimentos que aí vêm. O terceiro filme promete esclarecer tudo e mais alguma coisa e entreter o público ainda mais. Sim, porque a fasquia da expectativa subiu consideravelmente após a visualização de Rurouni Kenshin Kyoto Inferno.
Para os mais distraídos, este filme estreou no Japão a 1 de agosto de 2014. Já o seu sucessor surgiu a 13 de setembro do mesmo ano, pelo que os grandes fãs não tiveram de esperar muito para assistir ao desfecho desta trilogia.
Vejam Rurouni Kenshin Kyoto Inferno! Altamente recomendado!
Quanto a “Rurouni Kenshin: The Legend Ends” também terá direito a análise no ptAnime em breve. Fiquem atentos!
Rurouni Kenshin Kyoto Inferno – Trailer
Análises
Rurouni Kenshin Kyoto Inferno
O segundo live action de Rurouni Kenshin devolve a esperança aos mais descrentes neste tipo de adaptações. Rurouni Kenshin: Kyoto Inferno prova que afinal é possível adaptar com qualidade uma obra Manga ou Anime para um ambiente real.
Os Pros
- Excelentes representações dos atores principais.
- Momentos de ação.
- Banda sonora.
- História fácil de acompanhar, seja pelos fãs ou por desconhecedores da obra original.
Os Contras
- Nada a apontar.