Se ainda não leram o prólogo desta jornada, comecem aqui:
Lixo em Gundam 08th MS Team – A Reeducação de um fã de Anime
Eu provavelmente faria alguma espécie de piada sobre o tempo que me levou a escrever isto, mas dada a qualidade do anime em questão, o problema não derivou tanto do tempo como da vontade.
Caso não se lembrem, eu analisei a primeira metade da série Mobile Suit Gundam 08th MS Team e saí com boa impressão dela. Tinha explorações interessantes sobre a guerra que poderiam ter sido desenvolvidas para alguma coisa mesmo espetacular nesta segunda metade. Acho que podem deduzir o que é que aconteceu.
Foi uma coisa verdadeiramente fascinante porque acho que nunca vi uma anime cair a pique com só um episódio. Estou a falar a sério, 08th MS Team fez um salto olímpico para o fundo, do episódio 6 para o episódio 7, e nem foi preciso assim tanto.
No primeiro episódio, o Shiro conheceu a Aina e houve ali um interesse mútuo, mas foi uma coisa que ficou mais no fundo e que era mais uma espécie de curiosidade. Bem, no fim do episódio 6 eles reencontram-se, passam o episódio 7 juntos e estão impossivelmente apaixonados um pelo outro, ao ponto de deitarem fora os seus deveres. É… pouco convincente, para ser caridoso.
A coisa arrebita um bocadinho com o episódio 8, que se foca um bocado mais em questões como a relação entre combatentes e civis de lados diferentes, e tem uma boa tensão com alguns dos pilotos a tentarem manter as coisas calmas, outros a serem preconceituosos. É um episódio que causa aquela sensação de “Bomba Prestes a Explodir”, qualquer coisa pode atear o fogo.
Mas o episódio 9 começa a mostrar as rachadelas da mudança, com a Karen, uma personagem que na primeira parte foi mostrada como mais estóica e reservada, a demonstrar uma quantidade melodramática de preocupação por outro personagem juntamente com outras mudanças ligeiras de personagens. Pior de todos, foi o irmão da Aina que na primeira parte é mostrado como dedicado ao projeto, mas mesmo assim um homem simpático e que trata bem a sua irmã… E que agora é basicamente um supervilão que não vê hora para começar um daqueles genocídios à antiga.
A deterioração do 08th MS Team é um bocadinho como ter um parente com Alzheimer. Estava tudo bem, melhor que bem, espetacular. E um dia esquecem-se de onde estão as chaves… Ou que não era preciso comprar água, porque já compraram ontem… Depois as coisas pioram, e começam a ficar paranóicos, acham que andam a ser assaltados e que uma carteira desaparecida é motivo de desconfiar dos outros. Até que chega o dia em que vão ter que ficar sempre na cama, sem saberem o próprio nome ou quem vocês são e começam a tratar-vos mal, a chamarem-vos nomes e a cuspirem-vos na cara. Imaginem isso mas com anime.
Os últimos 3 episódios são o equivalente de cuspidela na cara desta série, em que tudo o que foi cuidadosamente estabelecido na primeira metade é dobrado e retorcido para entrar numa história de amor estúpida que basicamente grita “OPÁ A GENTE SÓ SE QUER AMAR DEIXEM-NOS ESTAR”. A sério, acho que nunca vi uma anime em que passei os últimos dois episódios a suspirar em frustração e a sussurrar asneiras ao ecrã. O episódio 11 em particular parece que condensa coisas que deviam ter acontecido ao longo de 5 ou 6 episódios e causa um tom quase esquizofrénico à criatura. Tinha graça, se não fosse tão mau.
Porque é que a anime caiu desta maneira? Bem, pode ter a ver com um número de fatores, mas diria que a melhor aposta tem a ver com a mudança de realizadores. O realizador da primeira metade da série (até ao episódio 6) foi um homem chamado Takeyuki Kanda, que infelizmente morreu num acidente de carro antes da série estar completa (O 08th MS Team é uma OVA que foi lançada aos bocados ao longo de três anos) deixando o trabalho ao Umanosuke Iida que, segundo as indicações, estava mais interessado no enredo romântico do que nas partes da guerra… Numa série sobre guerra…
Excelentes decisões por tudo quanto é sítio
A série termina no episódio 12, um dos maiores desperdícios de tempo que já vi, um anti-clímax total que eu quase considerei parar a meio e vir fazer esta análise sem o ter visto. Vi-o todo, não se preocupem, mas garanto que nada do que escrevi mudava se não tivesse.
Há alguma coisa que se aproveite? A animação continua boa. As máquinas são especialmente detalhadas, movendo-se com peso e gravidade, e a ação é muito fluída e bem feita com atenção aos detalhes. Apesar da destruição dos personagens, pelo menos ainda temos isso.
Esta batalha é provavelmente o ponto alto da animação na série. Pena já estarmos no estrume por esta altura.
Em conclusão… Para uma crónica que era suposto trazer-me de volta para anime, esta primeira experiência foi um falhanço desastroso mas que conseguiu mentalizar-me dos falhanços e qualidades de anime.
Na primeira parte, temos animação fantástica e uma atmosfera mais relaxada e menos “apressada” que muitas séries americanas, uma coisa mais focada numa ideia do que em avançar uma história super complexa. Na segunda metade, temos um melodrama cliché sobre amor separado pela guerra, em que é tudo enorme e bombástico e acidentalmente engraçado.
Para onde vamos daqui? Boa pergunta…